quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sombras escondidas sob o canavial




DILMÉRCIO DALEFFE

Josuel Ribeiro, de 32 anos, e Valdete Lopes da Silva, 48, têm muito mais em comum do que a profissão de cortadores de cana. Separados há mais de 26 anos, os dois voltaram a se reencontrar em pleno trabalho, por obra do destino, numa usina canavieira de Engenheiro Beltrão, no Paraná. Ele vem todos os dias de Barbosa Ferraz até a empresa. Ela, começou recentemente a percorrer o trecho entre Paiçandu e Engenheiro Beltrão. O que não sabiam era que a vida havia lhes reservado um raríssimo momento de felicidade: o reencontro entre mãe e filho.

Tudo começou nos primeiros dias de agosto. Sem saber do paradeiro do filho, Valdete saiu de Paiçandu – na região de Maringá - ao lado do atual marido, Nelson Leonardo da Cruz, em um ônibus fretado que seguia até a usina. Os dois haviam sido recrutados para trabalhar no corte de cana. No caminho, Nelson insinuou que Valdete iria encontrar o filho, uma vez que, antes de se separarem, moravam na região da usina. Ao invés do coletivo seguir até a sede da empresa, parou em uma frente de trabalho para apanhar alguns rurícolas. A surpresa começou ali mesmo. Dentre tantos rostos no canavial, Valdete observou que um deles se assemelhava com a feição de um irmão dela. “Os olhos dele me chamaram a atenção”, disse a mãe. Foi então que ela se aproximou de Josuel e comprovou que era mesmo o filho que procurava.

Um abraço forte e as lágrimas do reencontro comoveram os que estavam presentes. “Foi um momento especial para os dois. Algumas pessoas se emocionaram mesmo”, conta o motorista João Batista. Segundo ele, no começo Josuel não acreditou na história. No entanto, depois que viu as coincidências, acabou aceitando. “Foi uma coincidência muito grande. Acho que a vida quis assim”, disse a mãe. O fato de Josuel ser surdo e mudo, facilitou ainda mais o reconhecimento da mãe. “Eu também não sabia como ele era. Mas quando nos vimos pela última vez, ele já tinha este problema”, disse.

A HISTÓRIA

Valdete conta que deixou Barbosa Ferraz quando tinha cerca de 18 anos de idade. Na época, ela havia se separado do marido, Dirceu José Ribeiro. Assim, ela foi embora com as duas filhas. Já o marido permaneceu na cidade com Josuel e o outro filho, Moisés. Com o passar do tempo, a mãe se distanciou dos dois, ficando separada por 26 anos. Na região de Maringá, casou-se novamente, passando a viver sem nunca mais ter tido notícias dos dois filhos. Na região onde permaneceu, Josué cresceu sem a mãe, aprendeu a trabalhar e também se casou. Hoje ele tem um filho. Mesmo com um problema de deficiência, o bom humor nunca o abandonou, fazendo amigos por onde anda.

Nos últimos dois anos, Josuel começou a cortar cana-de-açúcar para a usina. Esforçado, acorda ainda de madrugada, pega um ônibus em Barbosa Ferraz e percorre cerca de 50 quilômetros até a empresa. Há poucos dias, Valdete também começou a fazer o mesmo que o filho, apesar de nem imaginar. “De uma só vez ganhei um emprego e o filho. Espero poder reencontrar Moisés em breve”, disse ela. Mais novo que Josuel, Moisés não deu mais notícias para o irmão. Mesmo assim, Valdete acredita poder encontrá-lo em breve. “A vida nos separou e já tratou de nos unir. Porque não vou rever meu outro filho?”, questiona.

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