quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Coisas de meninos

Um dia de calor em Cascavel. Dois meninos sem pudor e sem receios. A alegria da infância é suprida por pouca coisa...









Humanos


A decadência humana, os improvisos do dia a dia, as fugas, a depressão, a sordidez da alma, a miséria...


Na sarjeta


Equilíbrio




Ceia Natal



Improviso na chuva

Arroz, feijão e esperança



Dilmércio Daleffe
No velho fogão a lenha uma pequena e surrada panela de feijão. Outra boca esquenta o arroz do meio dia. Já a mistura fica por conta do toucinho e da couve. E pra hoje é o que tem. Aliás, pra hoje e pra ceia de Natal. Afinal, Helena Sutil Donato, e o companheiro João Ketes, não sabem ao certo como seria uma verdadeira ceia natalina. Estão longe das regalias e artigos de luxo vendidos em supermercados. Na dura e crua realidade de suas vidas, o jeito é improvisar com o que têm. E eles não têm quase nada.
Helena acaba de receber R$80 do bolsa família. Com o dinheiro pagou um talão de luz e foi ao mercado. Comprou frutas, um pedaço de peixe e outros itens para a casa. Voltou feliz da vida, mas com os bolsos vazios. Diante do fogão e das panelas de longa data, diz não ligar muito para a ceia do Natal. “A comida é o de menos. Temos que nos lembrar é do espírito que o dia tem: Jesus Cristo”, lembra Helena.
Aos 70 anos de idade, João também fala do sentido do dia 25 de dezembro. “Aqui não terá nem janta direito. Mas nos lembramos daquele que nos salvou”, disse. João e Helena moram juntos e são companheiros há cinco anos. Quis o destino que se conhecessem em 2007, em Iretama. Diante das dificuldades, o casal é um retrato fiel da realidade brasileira. Vivem sem dinheiro, estão constantemente “duros” e, ainda, pagam aluguel. Pra piorar, parte da renda fica na farmácia. Ontem, o almoço se resumiu a arroz, feijão e quirera.

Papai Noel retorna à Moreira Sales

Desde o assassinato de Adalto Querinas da Costa, o homem que se vestia de Papai Noel em Moreira Sales - às vésperas do Natal de 2011 - muitas crianças ficaram traumatizadas com a notícia. Um ano depois, o bom velhinho retornou. O sonho e os desejos continuam vivos na pequena cidade.  

Dilmércio Daleffe
Há um ano, o homem que se vestia de Papai Noel à prefeitura de Moreira Sales, foi morto a facadas por uma dívida de míseros R$30. O crime ocorreu seis dias antes do Natal, no dia 19 de dezembro. Aos 39 anos, Adalto Querinas da Costa era oficialmente o mítico personagem natalino da pequena cidade. Sua morte constrangeu parte da população, em especial as crianças, que deixaram de vê-lo na pracinha central. A comoção foi total. Passado um ano, um novo Papai Noel foi contratado pelo município. Embora diga-se que crianças não esqueçam os fatos dramáticos na infância, a cidade deu a volta por cima. Agora, um novo clima natalino ressurgiu. 
O espírito natalino da população foi visível na última segunda-feira, quando a prefeitura local abriu as cerimônias de final de ano com a chegada do bom velhinho. E lá estava um novo Papai Noel. As roupas vermelhas foram retomadas desta vez por Júlio Cesar dos Santos, um simples jardineiro de 45 anos que traz no coração o desejo em ver o sorriso das crianças. “Não existe coisa melhor no mundo que ver a felicidade de uma criancinha”, afirmou. Carregado de balas e doces, ele foi recepcionado por centenas de meninos e meninas. Uma prova que os sonhos e desejos da infância ainda resistem ao tempo.
Maria Helena Adamo Andrade, da divisão de Cultura de Moreira Sales, diz que apesar da morte de Adalto ter atingido as crianças, o trauma da cidade já foi ultrapassado. “Ficou um clima desagradável na época. Mas agora é diferente”, disse. O proprietário rural Manoel da Silva, 50, também presenciou a chegada de Noel. Ao lado da esposa, ele confessa que o clima natalino do último ano foi afetado pela trágica morte de Adalto. “Ele era uma pessoa especial. Nós sofremos com sua morte. Mas quem mais sentiu foram as crianças”, disse.
Júlio, o novo Noel da cidade, alega que muitas crianças chegam até ele e, emocionadas, exclamam: “Ele não morreu não. Olha aqui o Papai Noel”. Para ele, mesmo o episódio tendo marcado a infância de muitos menores, o clima agora é outro. “Vamos dar a volta por cima. Vamos ter um ótimo Natal este ano”, acredita. Júlio receberá R$320 pela empreitada como Noel. Para as crianças do município, o dinheiro não importa. O que vale é a presença do velhinho na praça central. Noel ainda vive.   

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Inês, Ivair, Cláudia e Wagner. A solidariedade tem nome

Pessoas diferentes, com profissões distintas e que não se conhecem decidiram fazer o bem comum. Juntas, elas apadrinharam crianças carentes de Campo Mourão. Para isso, apanharam uma carta nos Correios e, comovidas com o desejo de Natal dos menos favorecidos, realizaram parte de seus sonhos: compraram os brinquedos solicitados. Mas isso não é nada comparado ao que Inês, Wagner, Ivair e Cláudia podem fazer. 
Dilmércio Daleffe


Uma bancária aposentada, um técnico em edificações, um administrador. Pessoas com profissões diferentes, desconhecidas umas das outras. Em comum apenas a vontade em ajudar. Foi assim que cada um deles apanhou uma cartinha dos Correios para ser padrinho de crianças carentes de Campo Mourão. Elas não pedem dinheiro ou artigos de luxo. Querem somente um presente, um brinquedo, algo para serem lembradas como crianças. Outras pedem roupas e sapatos. Desejam ser queridas pelo Papai Noel. Afinal, seus pais não têm recursos. Passam o ano trabalhando sem nenhuma regalia. São os heróis do dia a dia. Trabalhadores sem possibilidade de bancar o velho Noel.
Inês Tolocvko está aposentada. Já foi professora e bancária. Trabalhou muito para dar valor ao Natal e as pessoas. Um valor não monetário, mas fraternal. A exemplo de outros anos, ela também é madrinha dos Correios. Apanhou uma cartinha com bastante desejo. Tem no coração apenas a vontade em ver a felicidade do outro. “Às vezes vejo a fartura na minha mesa e penso em quem não tem nada. É por isso que ajudo”, diz. Inês é daquelas mulheres destemidas. Sabe o que quer. Mas no Natal, a comoção parece ser mais forte. “Se cada um dividisse o que sobra, a vida não seria tão difícil”, comenta. Inês comprou roupas e sapatinhos para uma criança de nove meses. Noel agradece.


Técnico em edificações, Ivair de Souza Libério também é padrinho de uma das crianças. Aos 43 anos, ele e a esposa, Cláudia, participam da campanha pelo quarto ano consecutivo. Mas não é um ritual. É apenas compaixão. Um sentimento de agradecimento pela vida que a família tem. É uma vontade de gente ajudar gente. “Fazemos nossa parte ajudando a sociedade. E não é só no Natal. Sempre colaboramos com outras pessoas”, diz Ivair. Para o casal, trata-se de uma reflexão, um espelho da filha de sete anos. Afinal, qual o pai consegue ver o bem da filha e não desejar o mesmo a uma outra criança da mesma idade? “E é por isso que escolhemos dar um brinquedo a um menino de sete anos”, revelou.


Wagner Silva é administrador. Aos 46 anos decidiu apadrinhar uma menina de dez anos pela primeira vez. A exemplo de Inês e Ivair, também carrega na alma o desejo em ajudar, em praticar o bem. Um cara simples, normal, mas que busca ser solidário a cada passo de sua vida. Casado e com um filho de 24 anos, não mede esforços para semear solidariedade. “Se vejo alguém precisando, eu ajudo mesmo”, diz. Afinal, a vida é feita de ações e reações. Faça o bem e colha o bem.


E é desta maneira que os Correios realizam sua festa de Natal. Para proporcionar alegria às crianças carentes, arrecadam os brinquedos dos padrinhos e os entregam às mesmas. Um evento digno, correto e solidário. Campanhas assim dão esperanças para acreditar que o país está melhorando. Que pessoas estão evoluindo. Que a solidariedade vem aumentando. E quem disse que a bondade não tinha face, errou. Ela tem o rosto e os nomes de Inês, Ivair, Cláudia e Wagner.          

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um policial e quatro mil habitantes




Dilmércio Daleffe
Numa das esquinas da entrada de Corumbataí do Sul – município distante 46 Km de Campo Mourão – está o destacamento da Polícia Militar. Um prédio pequeno, sem muita estrutura e que ainda pertence à prefeitura. Lá dentro, apenas um policial: o Cabo Gomes. Um sujeito gentil, boa gente. É ele quem abre o local às 8h da manhã e fecha às 17h30. À frente de sua mesa, atende ao público, faz boletins de ocorrência e, quase sempre, ajuda com o bom senso da profissão a desatar os nós da população. Ou seja, aconselha e orienta populares a resolverem da melhor forma possível seus pequenos problemas cotidianos: brigas entre vizinhos ou entre casais. Gomes é assim, paciente. Até duas semanas, ele estava acompanhado de outros quatro PM´s. Mas eles foram remanejados a Barbosa Ferraz – 15 Km de Corumbataí do Sul. Gomes agora está “só”. O município de pouco mais de quatro mil habitantes mantém na cidade apenas um policial. Pra piorar, a unidade da Polícia Civil está desativada há vários anos.
O policial Alcides Gomes, ou apenas, Cabo Gomes, possui 47 anos de idade. Somente na PM são 27 anos. É bem verdade que o trabalho consiste na maior parte do tempo na orientação de pequenos conflitos. Dia desses teve que aconselhar um homem que se queixava do cachorro do vizinho. Afinal trata-se de um dos menores municípios da região. Mesmo assim, somente este ano aconteceram três homicídios – todos elucidados -, além da explosão de um caixa eletrônico. A população foi obrigada a conviver com a violência presenciada em grandes centros. Com o deslocamento dos outros policiais, populares ficaram ainda mais apreensivos.
O empresário Tiago Barreto disse que a cidade não pode ficar desta maneira. “Ficamos vulneráveis a bandidos sem a presença de mais policiais”, disse. Além disso, segundo ele, todo ano eleitoral políticos prometem mais segurança pública. “Ao invés de aumentar, acabaram com a segurança da cidade”, disse. Outra moradora que preferiu não ser identificada, ressaltou que os impostos pagos servem para ver o efetivo da polícia aumentar. “Não é isso que estamos vendo aqui na cidade”, observou. Pior ainda, segundo ela, é à noite, quando não existe policiamento de nenhuma forma. A Organização das Nações Unidas (ONU) defende a equação de um profissional para cada grupo de 250 pessoas.
Para o Major Wanderlei Castro, Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão, o remanejamento dos policiais foi necessário. Ele explica que o principal motivo é aumentar a segurança dos próprios PM´s. “Antes eles ficavam sozinhos de plantão. Com a mudança, agora fazem turnos em dois, sempre juntos”, disse. Além disso, ele tranqüiliza a população. Diz que viaturas sempre estão na cidade. Durante a reportagem, uma guarnição de Barbosa Ferraz estava no local.    
Se serve como consolo, Gomes e a cidade estão protegidos pelos braços do Cristo – monumento parecido com o Cristo Redentor levantado sobre um morro bem ao lado da unidade policial. Até o prefeito eleito, Carlos Caxão, brinca com a situação. “O Cristo vem cuidando da gente nesses últimos dias”, disse. Segundo ele, há uma semana esteve com o comando da PM em Campo Mourão solicitando a volta dos policiais remanejados. Mas sem sucesso. O futuro gestor admite que a população está assustada. “É importante que eles retornem”, afirmou. Enquanto os policiais não retornam, Gomes continua sozinho no destacamento. Pra piorar sua situação, o Palmeiras, seu time do coração, ainda foi rebaixado à segunda divisão.