segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um policial e quatro mil habitantes




Dilmércio Daleffe
Numa das esquinas da entrada de Corumbataí do Sul – município distante 46 Km de Campo Mourão – está o destacamento da Polícia Militar. Um prédio pequeno, sem muita estrutura e que ainda pertence à prefeitura. Lá dentro, apenas um policial: o Cabo Gomes. Um sujeito gentil, boa gente. É ele quem abre o local às 8h da manhã e fecha às 17h30. À frente de sua mesa, atende ao público, faz boletins de ocorrência e, quase sempre, ajuda com o bom senso da profissão a desatar os nós da população. Ou seja, aconselha e orienta populares a resolverem da melhor forma possível seus pequenos problemas cotidianos: brigas entre vizinhos ou entre casais. Gomes é assim, paciente. Até duas semanas, ele estava acompanhado de outros quatro PM´s. Mas eles foram remanejados a Barbosa Ferraz – 15 Km de Corumbataí do Sul. Gomes agora está “só”. O município de pouco mais de quatro mil habitantes mantém na cidade apenas um policial. Pra piorar, a unidade da Polícia Civil está desativada há vários anos.
O policial Alcides Gomes, ou apenas, Cabo Gomes, possui 47 anos de idade. Somente na PM são 27 anos. É bem verdade que o trabalho consiste na maior parte do tempo na orientação de pequenos conflitos. Dia desses teve que aconselhar um homem que se queixava do cachorro do vizinho. Afinal trata-se de um dos menores municípios da região. Mesmo assim, somente este ano aconteceram três homicídios – todos elucidados -, além da explosão de um caixa eletrônico. A população foi obrigada a conviver com a violência presenciada em grandes centros. Com o deslocamento dos outros policiais, populares ficaram ainda mais apreensivos.
O empresário Tiago Barreto disse que a cidade não pode ficar desta maneira. “Ficamos vulneráveis a bandidos sem a presença de mais policiais”, disse. Além disso, segundo ele, todo ano eleitoral políticos prometem mais segurança pública. “Ao invés de aumentar, acabaram com a segurança da cidade”, disse. Outra moradora que preferiu não ser identificada, ressaltou que os impostos pagos servem para ver o efetivo da polícia aumentar. “Não é isso que estamos vendo aqui na cidade”, observou. Pior ainda, segundo ela, é à noite, quando não existe policiamento de nenhuma forma. A Organização das Nações Unidas (ONU) defende a equação de um profissional para cada grupo de 250 pessoas.
Para o Major Wanderlei Castro, Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão, o remanejamento dos policiais foi necessário. Ele explica que o principal motivo é aumentar a segurança dos próprios PM´s. “Antes eles ficavam sozinhos de plantão. Com a mudança, agora fazem turnos em dois, sempre juntos”, disse. Além disso, ele tranqüiliza a população. Diz que viaturas sempre estão na cidade. Durante a reportagem, uma guarnição de Barbosa Ferraz estava no local.    
Se serve como consolo, Gomes e a cidade estão protegidos pelos braços do Cristo – monumento parecido com o Cristo Redentor levantado sobre um morro bem ao lado da unidade policial. Até o prefeito eleito, Carlos Caxão, brinca com a situação. “O Cristo vem cuidando da gente nesses últimos dias”, disse. Segundo ele, há uma semana esteve com o comando da PM em Campo Mourão solicitando a volta dos policiais remanejados. Mas sem sucesso. O futuro gestor admite que a população está assustada. “É importante que eles retornem”, afirmou. Enquanto os policiais não retornam, Gomes continua sozinho no destacamento. Pra piorar sua situação, o Palmeiras, seu time do coração, ainda foi rebaixado à segunda divisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário