quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lembranças da UEPG

Victor, Dilmércio, Ney Hermann e Jaime Mala, num churrasco no aeroporto

Alessandra, Dilmércio, Simone Franco, Lu Motta, Elis, Lu Tessaro; Sitião, Zilda Biscate, Dida, Canigia, Renata e Lu Brick


Ana Luzia, Buhrer, Dilmércio e Zilda, durante congresso dos estudantes de comunicação em Brasília

Perereca, Dilmercio, Canigia, Marlon e Sitião, durante cervejada na Capelinha

Dilmércio, Canigia e Dida nos corredores da UEPG, bloco B

Dilmércio, Canigia, Zilda, Sitião e Perereca numa formatura de jornalismo no final de 93. Pra variar tivemos que empurrar, bêbados, a porcaria do Galax da Zilda. Ficou na história.

Dilmércio e Suzanna num dos últimos dias de aula

Márcia Sandoval, Dida, Ana Luzia, Canigia, Lu Motta, Deisinha, Deizona, Raquel, Eliziane, lu Tessaro, Elis, Kátia Fernandes, Mário, Trovão, Jaime, Emerson, Victor, professora Irvana, Alessandra, Marli, Simone, Lu Brick, Aida, Kátia, Jorgelene, Paty, Lu de Deus,Renata, Taísa, Suzanna, Sandra, Fabiana e Dani. (SE eu esqueci alguém, me avisem)

Zilda, Dilmércio, Trovão. Como disse um amigo meu, durante a "colocação" de grau

Dilmercio, Taísa e a Zilda. Mais pra lá do que pra cá no bailão da despedida.

Gruber, Dilmércio, Canigia e Zilda, a caminho da "colocação"

Ana e Renata, durante acampamento no Guartelá. Higienização completa.

Em Campo mourão, num final de semana, veio uma turma grande: Macarrão, Fell, Poliana, Rasta, Nana, Marcia, Renata e Eberlê. Os outros não aparecem porque estavam no futebol.

Na entrega do Prêmio Sangue Novo, Nana, Taísa, e Suzanna. Acima, hoje o doutor especialista em ortopedia Denilson Daleffe, meu pai (seo Dilmar) e eu.

De novo a "colocação"

Cristian Rizzi e Carlos 42. Depois de tomarem todas no casamento da Zilda(Imagine só, a Zilda já casou e descasou).

Testemunhas do casório da biscate da Zilda:Canigia, 42, Bob, Cristian, Dani, Dilmércio, Dirceu, Alexandre e Buhrer.

Num final de semana em Curitiba: Dilmércio, Ana, Canigia, Trovão e o Mário

Ainda no casamento da Zilda: Macarrão, Gruber e senhora Andréa, Trovão, Canigia e Buhrer. Ninguém ficou bom. Bebemos pra tentar acreditar no que viamos. Depois de bêbados, achamos que era tudo de mentira.

Simone Suzzin, Sitião, Evane Bertholdi. As duas se formaram em 93. Nós fomos ao baile como legítimos penetras.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Os 15 anos de Carlos Eduardo


Dilmércio Daleffe e Walter Pereira

Ele tinha apenas 15 anos, jogava eximiamente tênis e ainda brincava de videogame. Mas deixou as brincadeiras de lado para atuar, segundo a família, uma única vez como bandido. Numa ação completamente equivocada por ele mesmo, foi morto na última sexta-feira com dois disparos pela polícia. Carlos Eduardo Ferreira Machado morreu à toa, possivelmente motivado pelas drogas e pela experiência de uma terceira pessoa. Era usuário de maconha. Com toda uma vida ainda pela frente, decidiu agir como assaltante. Mesmo com os ensinamentos sobre Deus, amor e trabalho passados pelos seus pais, optou pelo caminho errado. E pagou por isso. A família não recrimina a polícia. São pessoas do bem, direitas e sabem que o filho cometeu algo errado. Mas ao mesmo tempo, ainda não acreditam que perderam Carlos.

O menino vem de uma família de bons trabalhadores, honestos e pobres. Moram numa casa simples, no Lar Paraná. Um imóvel pequeno, ainda sem forro, mas com uma mesa sempre farta de alimentos. O pai, Milton, é funcionário público, vigia de um ginásio de esportes. Aos 54 anos, ainda tem que trabalhar para garantir o sustento da casa, mesmo doente. Mostra os pés bastante inchados e algumas feridas nas pernas. Tem diabetes. Trabalha desde os dez anos de idade quando atuava como engraxate na rodoviária de Ubiratã. Ensinou tudo ao filho, mas ele não o ouviu o suficiente.

Sirlei é a mãe. Tem 45 anos e começou a trabalhar ainda menina na roça. Ela perdeu um de seus quatro tesouros, o caçula – tem outras duas filhas e um outro filho. Além de dona de casa, é funcionária de um pequeno restaurante, onde é cozinheira. A angústia em seu rosto é visível. Afinal, qual a pior perda do que a morte de um filho? Sirlei possui uma voz angelical, suave, fala baixinho. Evangélica, conversava sobre maconha com Carlos. Pedia que parasse e que fosse a igreja com ela. Ele jamais aceitou o convite, dizia que não havia perdido nada lá. Mesmo assim, não era um filho do mal. Pelo contrário. Mantinha um bom relacionamento com os pais e os irmãos. Brincava com a mãe. “Ele sempre me chamava de véia. Era muito brincalhão, mas nunca nos confrontou”, disse. Apesar de ser um usuário confesso de maconha, jamais roubou algo de sua casa. Os pais sempre davam um dinheirinho, R$5, às vezes R$10.


Carlos cresceu como um menino normal, comum a tantos outros de sua classe social. Era alegre e até pouco antes de morrer, brincava na chuva em companhia do sobrinho de oito anos. Aos 11 anos, passou a trabalhar como boleiro de uma academia de tênis na cidade, quando permaneceu até os 14. Era como uma espécie de ajudante geral do local. Mas com o esporte a sua frente, começou a treinar e se deu bem. Ficou bom com a raquete, chegando inclusive a faturar um troféu num campeonato. Se continuasse, poderia ter chances profissionais no esporte. Ainda nesta época, o menino estudava no Colégio Paulo Sexto. Não era nenhum “nerd”, mas passava de ano. O erro, segundo a família, foi mudar de escola. No Dom Bosco, já aos 13 anos de idade, conheceu quem não devia, sendo logo apresentado a maconha. Não parou mais.

Os pais começaram a desconfiar que algo não estava certo. Carlos chegava com os olhos vermelhos e sempre com muita fome. Reprovou a quinta série e iniciou alguns desentendimentos na escola. Logo foram até o Conselho Tutelar para uma conversa com a psicóloga. Lá tiveram informações suficientes para saber como lidar com o filho. Dias depois, todos da casa já sabiam que estava usando a droga. Sirlei começou a encontrar pontas de cigarro de maconha no quarto. Ela estava apavorada com a situação e insistia com o filho para que deixasse o hábito. Mas não adiantava. “Ele achava que era normal”, disse a mãe.

No final de 2010 se desentendeu com o zelador do colégio. Ele havia utilizado um extintor de incêndio, ocasionando prejuízos a unidade. Os pais o transferiram novamente para a antiga escola. Fora os desentendimentos com outros meninos e o consumo de maconha, Carlos nunca teve passagens pela polícia. Segundo os pais, ele também jamais se meteu em assaltos ou furtos até então. “Foi uma grande surpresa para nós. Não acreditamos até agora no que ele fez”, disse o pai muito emocionado.

Carlos era um menino franzino, mas alto para sua idade. Tinha 1,70 de altura e completou 15 anos no dia 28 de maio. Gostava de televisão, mas preferia o computador e o videogame. Ouvia rap, curtia o tênis e era palmeirense. Ninguém é perfeito. Vaidoso, tomava dois banhos ao dia e, ainda, se dava ao luxo de passar creme hidratante no corpo. Só saía perfumado e já mantinha algumas namoradinhas pela cidade. Com o vício, a irmã passou a segui-lo. Muitas vezes tinha que chamá-lo de volta para casa, principalmente, quando via que não estava com boas companhias. Um de seus hobbys era desenhar carros.

A ação

Sirlei, sempre devota a Deus, pedia: “Se fosse pra ele virar bandido, preferia que Deus tirasse sua vida”. Como uma espécie de predestinação, ou premonição, as preces da mãe foram ouvidas. Segundo a família, foi a primeira e única ação criminosa de Carlos. Ele levou dois tiros, um na barriga e outro no peito. Caiu morto. Segundos antes, apontava a arma ao peito do comerciante Moacir Tadeu Coelho. No entanto, quando viu os policiais adentrarem ao local, virou o revólver em direção aos PMS. Bandido que é bandido sabe que apontar a arma para polícia não se faz. Possivelmente, pela ingenuidade do garoto, ele morreu de graça, sem nunca ter sido um marginal, ou ser um novato, um aprendiz. A família não condena a atitude da polícia. Sabe que Carlos fez o que não devia. Mais que isso. Os pais tem certeza de que o filho foi motivado por alguém, uma terceira pessoa. De acordo com Sirlei, Carlos não conhecia Paulo, o outro assaltante morto.

A reportagem da TRIBUNA teve acesso a uma testemunha que presenciou o momento em que esta terceira pessoa foi até a casa de Paulo para apanhá-lo na sexta-feira, cerca de 30 minutos antes da ação. Era um Monza escuro. A pessoa já estava acompanhada de Carlos. Paulo ainda dormia quando foi acordado. Enquanto se arrumava, o motorista do Monza tirou um revólver e começou a ensinar o menino a manuseá-lo. Pelos relatos, o menino jamais havia visto uma arma. Foi um presente que o apresentou a morte. Paulo teria saído de casa com um pão na boca, tamanha pressa que apresentava. Horas mais tarde, o rádio anunciava a morte dos dois. Paulo possuía uma extensa ficha criminal. Segundo a polícia, Carlos tinha apenas dois boletins de ocorrência. Um sobre o caso do extintor, outro por porte de maconha, como usuário.

A mãe de Carlos garantiu que jamais encontrou uma arma dentro de casa. “Com medo dele se meter em confusões, eu sempre revirava seu quarto em busca de droga. Ele nunca teve arma. Nem droga trazia”, afirmou. A última vez que Carlos foi visto pela família foi na quinta-feira, na hora do almoço. Ele comeu e disse que ia dar uma volta. Não voltou nem para dormir. Sirlei não teve paz naquela noite. Estava angustiada, sentia que algo não estava bem, afinal, o filho não costumava dormir fora. Carlos foi encontrado pela família somente na tarde de sexta, numa das gavetas do Instituto Médico Legal. A história dele, de seus 15 anos, estava encerrada. Viveu pouco, escolheu o caminho errado e se aventurou com gente que não estava acostumado. Poderia ter optado pelo bem, mas foi vencido pelo mal.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O silêncio de Raimundo


Dilmércio Daleffe

Desde os dez anos de idade, Raimundo já pegava na enxada. Lá na roça, em meio ao milharal, começava a calejar as pequenas mãos de criança. Nunca mais parou. Hoje, passados 52 anos, ele continua a enfrentar a árdua rotina do trabalho. Não conhece domingo, nem feriado. Às vezes não poupa nem a saúde. Raimundo sofre de labirintite. Frequentemente cai em meio a rua. Sempre se machuca. Ele é do tipo caladão, na sua. Até ontem, havia passado a vida quieto, sem nunca reclamar. Acreditava que tudo era obra do destino. Agora quebrou o silêncio e decidiu falar. Acredita que vive num país ruim, onde poucos têm chance. “Estou cansado de trabalhar. Mas preciso. Minha aposentadoria está difícil de sair”, diz. Ele é somente mais um entre tantos, sufocado pela falta de gentileza nacional.

Raimundo fala pouco, de preferência, só o que precisa. Ele é boa gente, daqueles que da pra ver na cara a honestidade. Batalhou a vida toda e hoje quase nada tem. Por causa da idade, 62, não consegue registro em carteira. “Ninguém quer pegar gente de idade”, lembra. Então o jeito foi improvisar com um carrinho pra coletar recicláveis. Há algum tempo vem acordando todos os dias, bem cedinho, em busca do material. Papel, ferro e lata são os alvos. Profissão digna pra quem foi excluído do mercado de trabalho. Mas ao mesmo tempo, segundo ele, humilhante a quem tem idade pra se aposentar.

A atividade faz com que deixe a humilde casinha de madeira desbotada de manhã e volte somente à tarde. Imagine uma coleta diária pra conseguir acumular apenas R$150 ao mês. “Nada vale nada”, afirma. Raimundo se refere aos valores pagos pelo quilo dos materiais. O quilo do papel vale R$0,20, da lata R$0,10 e do ferro R$0,15. Ele tem razão. Tudo junto, não tem valor algum. Num país cuja malandragem domina, pode-se chamar os preços de “sacanagem”, mesmo.

Mas quando surge um bico pra fazer cerca em algum sítio, ele não pensa duas vezes. Um trabalho que da prazer, principalmente, por estar na zona rural. É que as boas lembranças de sua vida o remetem aos ares do campo. Histórias de criança, de seus pais, da inocência de tempos que não voltam mais. Atualmente, nada falta a ele e a esposa, que está aposentada. Quando a grana não chega ao fim do mês, dá-se um jeito com os fiados.

Depois de passar a vida toda trabalhando, ele mantém apenas um sonho: se aposentar. As mãos calejadas já não suportam mais tanto sacrifício. Ele mesmo não acredita que ainda tenha que trabalhar mais algum tempo para isso. “O país não tem mais jeito. Tem que dar condição pro povo trabalhar e viver”, disse. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, ele já passou de tudo um pouco. Mas fome, jamais. “De fome a gente não morre. Do resto Deus cuida”, garante. Raimundo Oliveira Bahls tem três filhas, todas casadas. Faz tempo que não as vê. Natural de Mamborê, continua em Mamborê, à espera de tempos melhores.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O preço das mãos nazistas

Depois de 55 anos, após ter nascido de um parto complicado, quando perdeu parte da orelha e a mãe quase morreu, Zilda Fantin agora quer uma reparação do governo alemão. Vai lutar na justiça por danos morais. Pela infância traumática, humilhações e bullying sofridos, ela quer provar que o nazista, Josef Mengele, o “Anjo da Morte” dos campos de concentração, esteve em Mamborê na década de 50. Teria se passado por um médico conhecido como Josef Kanat, o mesmo que mutilou dezenas de pessoas na cidade.

Dilmércio Daleffe



Às vésperas de completar 55 anos de idade, a dona de casa Zilda Fantin repensa o passado e reflete sobre os diversos constrangimentos já enfrentados na vida. Foram muitos obstáculos, barreiras vencidas e uma humilhação constante, não superada até hoje. Ela foi uma das vítimas de um médico alemão que passou por Mamborê, ainda na década de 50. Um tal Josef Kanat, mas que na verdade, segundo ela e outras dezenas de pessoas da época, se tratava do nazista Josef Mengele. O carrasco alemão que mutilou e matou milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Pelo mal causado a ela e a família, Zilda agora vai entrar na justiça. Deseja e vai lutar por uma indenização contra o governo alemão. Quer receber por danos morais, pelas humilhações sofridas durante toda sua infância.

Zilda nasceu em 1956, mas não pelas mãos, e sim através do fórceps – instrumento utilizado na medicina obstetrícia para auxiliar a retirada de um feto - manuseado pelo suposto nazista, quando ele atuou em Mamborê. Daquele trágico parto, restaram as conseqüências. Zilda perdeu parte da orelha. Iris, a sua mãe, teve o útero e outras partes do corpo dilacerados pela técnica rudimentar. O pai de Zilda assistiu ao parto. Assustado com os gritos da esposa, elevou a voz a Kanat, mas foi logo repreendido ao ser apontado por uma Beretta – pistola italiana comumente utilizada pelos alemães. De acordo com relatos, o suposto médico carregava a arma na cintura, mesmo durante as operações.

“Por causa da minha orelha sofri muitas humilhações durante a infância. Era o chamado bulling de hoje”, explica Zilda. Segundo ela, a possível reparação é também pela mãe, que passou quase quatro anos se recuperando pelos danos causados no parto. “Acredito que tenho este direito e vou lutar por ele”, diz. Na última semana, ela contratou uma advogada que já deu início aos procedimentos legais da ação.



Nas últimas décadas muito se falou sobre o tal Kanat em Mamborê. No entanto, até agora, ninguém havia constatado a sua verdadeira passagem pela cidade. Muita gente o conheceu, mas fotos não existem. A reportagem da TRIBUNA teve acesso exclusivo sobre os primeiros relatos de óbitos da cidade. No livro número um do Cartório de Registro Civil de Mamborê, mais precisamente na folha número 48, consta uma morte assinada pelo médico Josef Kanat. Trata-se de uma jovem de apenas 19 anos de idade, Sieglind Erica Pierburg, morta por hemorragia. Pode ser um dos poucos, se não for o único, registro oficial de Kanat na cidade.

Zilda conta que a jovem em questão era a namorada de Kanat, vinda do estado de São Paulo, também sem quase nada falar português. Ela teria sido forçada a submeter-se a um aborto. O médico teria a matado em plena mesa de cirurgia. O corpo foi sepultado no cemitério de Mamborê, numa cova rasa e sem identificação. Os restos mortais da jovem não estão mais no local, desapareceram. Para verificar se Kanat era mesmo médico, a TRIBUNA fez uma pesquisa junto ao Conselho Regional de Medicina do Paraná. De acordo com informações, o primeiro registro de um médico pelo órgão no estado aconteceu em 1958. Portanto, dois anos depois que ele apareceu em Mamborê. Mesmo assim, se não fosse o suposto nazista, porque seu nome não apareceria mais tarde na relação de médicos radicados no estado? Trata-se de mais um mistério que intriga a população de Mamborê até hoje.

Para evidenciar as mãos criminosas de Kanat pela cidade não faltam vítimas. Aos 92 anos de idade, Antônio Lino guarda no corpo as marcas de uma operação traumática. Sem nenhuma espécie de anestesia, ele se deitou na cama para que o alemão retirasse o apêndice. Foi com uma faca comum. “Ainda lembro das dores. Assim que terminou mandou que fosse embora, andando”, afirma o aposentado. Seo Antônio mora hoje na Casa Lar, um abrigo para senhores e senhoras sem família da cidade. Ele não se mostra nem um pouco contente em relembrar do rosto do suposto nazista, o qual deixou um buraco em sua barriga.


Zilda ainda se emociona em lembrar os pesadelos pelos quais sua mãe, Íris, passou. Foram horas de angústia durante o parto. “Ela sempre falou sobre aquele dia, nunca conseguiu superar”, disse. Íris era também a companheira inseparável de Zilda. As duas moravam juntas. Mas a mãe morreu em 2009 vítima de um câncer. Desde então, a filha vive sozinha em uma casa na área central de Mamborê. A saudade é tanta que ela até já fez o próprio túmulo, ao lado dos seus pais. “Está tudo pronto. Quando chegar minha vez, estarei ao lado dos meus queridos pais. Espero que demore um pouco”, brinca ela.

Quem foi Mengele?

Josef Mengele foi um médico alemão que atuou também durante o regime nazista. O apelido de Mengele era Beppo, mas ele era conhecido como Todesengel, "O Anjo da Morte", no campo de concentração. Mengele foi oficial médico chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, que era parte do complexo Auschwitz-Birkenau. No fim da Segunda Guerra, Josef Mengele fugiu da Alemanha passando por alguns países, até encontrar acolhida na Argentina, onde permaneceu algum tempo. No Brasil, pouco se fala de sua passagem pelo Paraná. De acordo com relatos, ele teria morado no interior de São Paulo. Em suas experiências com seres humanos em Auschwitz, injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, deixou pessoas em tanques de água gelada para testar suas resistências, amputou membros de prisioneiros e coletou milhares de órgãos em seu laboratório

Fidelidade até depois da morte



Dilmércio Daleffe

Não se sabe ao certo de onde ele veio. Muito menos como era chamado. No entanto, uma coisa é certa: acabou adotando o cemitério municipal de Mamborê como sua nova casa. Ele é “Rambo”, um cão vira latas, simpático, de cor branca e bastante manso. Chegou ao local há cerca de quatro meses, desde que o dono morreu e ali foi sepultado. A partir de então, dorme no campo santo e até briga quando outros cães tentam adentrar pelos portões. É hoje o verdadeiro guardião do cemitério.

“Rambo” é um bom cachorro, tranqüilo e possui admiração pelas pessoas. Ele não gosta é de cães curiosos que perambulam pelos arredores. De acordo com Sidinei Ramos, coveiro local, o animal está todo machucado devido às intensas brigas travadas com outros de sua espécie. Ontem, ele apresentava uma ferida e ainda mancava. Várias cicatrizes estampam sua cabeça. O coveiro afirma que “Rambo” mudou-se ao cemitério desde a morte de seu dono. “Não sei ao certo quem era o responsável por ele. Sei que morava no Morro do Lagarto”, disse. Mas o fato é que o cão não quer se separar do amigo morto, provando mais uma vez a adoração que os caninos mantém pelos homens.



Sidinei é coveiro há oito anos e, até então, jamais havia presenciado um ato de amizade como este. “É incrível, mas quando fecho os portões, Rambo faz questão de ficar lá dentro. No outro dia, quando venho abrir, ele está de prontidão”, revela. Como o animal é dócil, o coveiro passou a alimentá-lo diariamente com ração. O apelido também foi seu. Segundo ele, o cão passou a ser o protetor, uma espécie de guardião do campo santo. Manso com os homens, uma fera com outros cachorros e fiel até depois da morte de seu estimado dono.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mané Garrincha, Pelé e outras histórias do futebol



Dilmércio Daleffe

Ele foi jogador profissional nas décadas de 60 e 70, época de ouro do futebol brasileiro. Jogou como titular do Vasco e, por sorte do destino, teve o prazer de conviver com o gênio Mané Garrincha. Foi por pouco tempo, num período já no fim da carreira do craque, quando se recuperava de uma lesão. Mesmo assim, guardou para sempre as histórias daquele senhor de pernas tortas. Hoje, aos 64 anos, Alvaro Monteiro de Matos deixou o esporte e o mantém vivo apenas da TV. Nem mesmo nas peladas do fim de semana atua mais. É um cara de sorte. Poderia estar como outros amigos seus, também ex-jogadores, esmolando ajuda dos mais influentes. Mas não. Alvaro está bem. Carrega as lembranças de jogos inesquecíveis quando marcou os grandes como Gerson, Jairzinho e o Rei Pelé.

Pode-se dizer que receber Alvaro para um bate papo foi um imenso prazer. Afinal, trata-se de um ex-combatente dos campos repleto de boas histórias por contar. Já grisalho, mora atualmente em Guarapuava. É pai, avô e atualmente leva uma vida tranqüila à frente de uma revenda de aquecedores a gás. Certamente, se dependesse dos salários daquele tempo, estaria necessitando ajuda dos amigos. Muitos ex-jogadores estão apenas sobrevivendo. Não se prepararam. Moram de favor na casa dos outros. Há alguns dias, foi até Curitiba rever o companheiro de Vasco, Joel Santana. Só foi recebido depois de deixar bem claro que não queria pedir nada. Infelizmente, jogadores que se deram bem recebem inúmeros pedidos de ajuda de outros, que se ferraram na vida. Assim é o belo espetáculo do futebol brasileiro.

Alvaro nasceu na Bahia e ainda cedo chegou ao Rio de Janeiro onde conquistou a vaga de titular do Vasco da Gama. Apesar de não ser alto, era zagueiro. Uma espécie de Gamarra – aquele zagueiro paraguaio inteligente e que não fazia faltas. Jogava elegantemente. Por isso passou a ser o capitão da equipe e também o cobrador oficial de penalidades. Alvaro era o cara. Tinha 20 anos quando olhou para o lado e viu aquele senhor de pernas tortas vestindo a mesma camisa. Era o ano de 66, um período que Garrincha já pensava em parar. Havia deixado o Botafogo e passou a se recuperar de uma lesão em São Januário. Enquanto se tratava, vestia a camisa do Vasco em partidas amistosas por todo o país. Um dinheirinho que o ajudava a se manter. Certas vezes, de tão humilde, Mané recebia o "bicho" - gratificação pelas vitórias - e o doava por inteiro aos roupeiros do clube.


Já em 67, o Grêmio Oeste – antigo clube de Guarapuava – emprestou alguns jogadores do Vasco para um amistoso contra o Cascavel. Nesta partida Garrincha veio ao Paraná e, ao lado de Alvaro, atuou mal e foi vaiado. A direção do clube até pagou um bom hotel ao gênio da bola, mas ele quis ficar numa república junto aos demais jogadores. Durante a noite, Garrincha sumiu. Conta Alvaro que desapareceu na boemia da cidade. Bebeu todas e foi trazido pelos companheiros bastante mal ao alojamento, lá pelas 5 da manhã. Como ninguém é de ferro, Mané foi ao campo, mas jogou horrivelmente, sendo vaiado pelos torcedores. “Lembro que ele deu um trabalho danado naquela noite”, recorda Alvaro. Alguns dias depois, o amistoso entre as duas equipes se repetiu, mas agora na cidade de Cascavel. Garrincha jogou desta vez para o Cascavel. Só que a equipe da “Serpente” havia sido mais esperta e cuidou para que não saísse do hotel à noite. Como resultado, Mané arrebentou, deixando os torcedores perplexos com sua atuação.

Pelé
Foi nesta presença ao Paraná quando Alvaro conheceu Guarapuava e encontrou a mulher de sua vida. Está casado até hoje. “Saí da Bahia, do calor do Rio e vim parar no frio de Guarapuava”, diz. Enquanto jogador, além do Vasco, atuou no Vitória do Espírito Santo, no Grêmio Oeste de Guarapuava, no Colorado e no Ferroviário de Curitiba e no Comercial de Campo Grande. Aliás, foi numa atuação com o Comercial, em 1973, quando Alvaro teve a satisfação de marcar o Rei do Futebol, o grande Pelé. O jogo foi na capital do Mato Grosso do Sul, e o Santos perdeu por 1 a zero. Emocionado, Alvaro resumiu Edson Arantes do Nascimento simplesmente como “espetacular”. “Era diferenciado dos demais. Sabia o que ia fazer antes da bola chegar aos seus pés. Além de tudo, era bastante forte”, disse.



Com o tempo, Alvaro aprendeu a curtir a vida. Não dispensa um bom churrasco – principalmente na casa do genro, que é pra ele sofrer com a bagunça das visitas -, um bom restaurante e, mais recentemente, um excelente vinho. Toda segunda se reúne com os amigos numa noite gastronômica. Leva a vida com prazer. Mas antes disso, encerrou sua trajetória no futebol na década passada. Foi treinador e depois dirigente do Batel de Guarapuava. Levou a equipe à primeira divisão do estado. Mas ele cansou, parou com tudo e decidiu viver a vida.

Dor de barriga
Jogando na década de 70 pelo antigo Colorado – hoje Paraná Clube – Alvaro passou quase 30 dias numa turnê por países africanos. Era uma época esquisita quando jogadores brasileiros tinham que cortar os cabelos – os black powers – para entrar no continente africano. Em Gana, ele jamais esquecerá do dia em que cantava o hino nacional, quando uma dor de barriga começou a incomodá-lo. Olhou para trás, mas os portões dos vestiários já haviam sido trancados. Ninguém mais tinha acesso a eles. Era uma precaução dos organizadores para evitar confusões por parte da torcida. Como já estava inscrito na partida, teve que começar jogando. Mas a dor aumentou e ele não pode fazer mais nada. Na saída de bola, os africanos lançaram a bola em sua direção. Quando abriu a perna... já era tarde demais. O que tentava segurar, acabou saindo.

De nada adiantou os gestos em que pedia ao treinador para trocá-lo. "Eu gritava pra ele, tô cagado. Mas não adiantava", lembra. O professor queria ganhar o jogo e ele continuou em campo. Estava completamente cagado. Correu, chutou, caiu sem nunca ter se limpado. As assaduras ele jamais esquecerá. Mas o pior aconteceu no intervalo do jogo. Aliviado, pensou logo em correr aos vestiários para se lavar. Mas quem disse que os banheiros foram abertos? Sentou-se no banco dos reservas, junto aos outros companheiros. Mas sentindo o cheiro, todos saíram. Fizeram a reunião em meio ao campo. Alvaro ficou lá, sozinho, cagado e sem nada poder fazer. Acredite, mas Alvaro foi obrigado a voltar ao segundo tempo. O treinador não quis nem saber. Histórias do futebol.