domingo, 21 de outubro de 2012

Alcebíades tinha tudo pra não ser ninguém




Dilmércio Daleffe
“Bidinho” veio de uma família desprovida de oportunidades. Nasceu numa época em que os preconceitos afloravam. O menino era nordestino, negro, pobre e analfabeto. O seu destino tinha tudo pra dar errado, principalmente, numa sociedade racista, estúpida e hipócrita, cujo bom senso jamais prevalecia. Mas um dia saiu da lavoura e decidiu fazer valer sua vontade. Aos 27 anos começou a estudar. Aprendeu ler e escrever. Transformou-se num líder comunitário. Trabalhou dentro de um lixão e lá perdeu uma das filhas. Ela foi contaminada e, com pouco mais de um ano, acabou morrendo. Entrou para o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), fez mais de 20 cursos e hoje, é técnico em administração. Politizado, tentou pela sétima vez este ano ser eleito vereador em Campo Mourão. Não conseguiu. Mas está pronto para 2016.     
Alcebíades Barboza da Costa é um destemido e perseverante candidato a vereador. Tenta o legislativo de Campo Mourão há sete eleições ininterruptas, desde 1988. Sem recursos, torra a sola do sapato. Faz campanha a pé, sem nenhum tostão furado. Neste ano, a cena repetiu-se novamente, mas com uma diferença. “Bidinho”, como é conhecido na Vila Guarujá, incrementou uma caixa de som nas costas e, com ela, percorreu a cidade toda. Sim, ele foi um dos 160 candidatos. Trouxe nas costas o peso da responsabilidade em pedir votos. Mais uma vez, não conseguiu. Teve apenas 355 “confirma” ao seu favor. Mas ele não desiste. 
Aos 57 anos, “Bidinho” é um cara cheio de surpresas. E agradáveis. Inteligente, sabe exatamente o que deseja. Conhece as funções de um vereador e sabe diferenciar políticos de politiqueiros. Sua história começa ainda aos cinco anos de vida, lá em Colatina, no Espírito Santo. Era criança, brincava na rua quando o pai chegou bravo mandando os 11 filhos e a mulher arrumar as malas pra vir ao Paraná. Dias antes, o pai havia levado uma garrafada na cabeça e pretendia matar o autor da agressão. O sujeito já havia fugido com destino às terras vermelhas de Campina da Lagoa.
Num pau de arara vieram todos, incluindo os poucos animais da família. Alguns dias de viagem e chegaram a Londrina. Lá, o pai teve um surto psicótico, sendo amarrado pelos filhos pra se acalmar. Seguiram então a Maringá. Mas a situação só piorou. Expulsos daquele caminhão velho, ficaram com as malas à beira dos trilhos do trem. Estavam perdidos e o pai, quase louco. Um homem ajudou a família e foram morar numa propriedade rural. Anos depois mudaram-se para o Barreiro das Frutas, já em Campo Mourão. O pai aproveitava os domingos pra ir até Campina da Lagoa. Ele insistia em matar aquele homem.
Aos 21 anos, Alcebíades decidiu casar. Saiu da roça e veio à cidade. Parou na Vila Guarujá, bairro mais carente de Campo Mourão. Continua lá até hoje. Sem emprego, transformou-se num coletor no antigo lixão. Durante os dois anos dentro do local, perdeu uma das filhas, de menos de dois anos de idade. Ela morreu contaminada pelos detritos fétidos do lugar. “Bidinho” chora ao relembrar da pequena. Cansado do sofrimento, buscou o estudo. Aos 27 já sabia ler e escrever. Foi então que adentrou ao DER. Está lá até hoje. Durante o percurso, fez muitos cursos, inclusive de computação. Recentemente, concluiu o aprendizado em técnico de administração. Ele é perseverante e não desiste nunca.
Talvez seja por esta razão sua insistência em ser vereador. Como líder comunitário diz ter aprendido lições sobre os seres humanos. Lições de carinho e, principalmente, de amor ao próximo. “Sempre quis ajudar minha comunidade. É isso que faz com que tente ser vereador”, revela. A primeira eleição em que participou foi em 1988, quando teve 74 votos. Depois foi elevando a votação até 1996, com 447 votos. Há duas semanas, lacrou sua campanha com 355 votos. Ele não se esquece do apoio das pessoas e faz questão de agradecer a votação. 
“Bidinho” diz estar cansado de ver sua gente sofrer. Quer melhorias ao seu povo e, por isso acabou envolvendo-se em trabalhos sociais. Como vereador, gostaria de fazer projetos que beneficiassem comunidades carentes. Mas foi barrado pela falta de votos. Católico e com fé em Deus, leva uma vida simples ao lado da esposa, Maria. Juntos, tiveram cinco filhos, mas dois morreram. Residem numa casinha pequena e modesta, ainda sem forro. E pelo que se vê, isso é só um detalhe. Nada mais falta ao casal. Agora, os sonhos daquele menino quase sem futuro, almejam muito mais. Alcebíades quebrou as regras do destino e revelou-se o “cara”. Em tempo: o pai de “Bidinho” morreu sem nunca ter encontrado o sujeito a quem procurava.     

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Coincidências do além

Existe ligação entre mortos e vivos? Como podem acontecer então histórias interessantes, que desafiam a imaginação?


Dilmércio Daleffe
Ninguém em sã consciência pode descrever a morte. Afinal, não existe quem tenha ido e voltado. Mas como é possível então o elo entre o real e o além? A comunicação é verídica? Ninguém sabe. O que existe são apenas coincidências, nada que se possa provar. Mesmo assim, são histórias desafiadoras, que mexem com o inconsciente de todos. Em Campo Mourão, alguns fatos têm chamado atenção, principalmente, por ligarem fatos a pessoas queridas, já mortas. Os nomes e famílias aqui narrados não serão identificados, a pedido das próprias pessoas. Mas as histórias são verdadeiras.
Ele morreu aos 82 anos de idade, em junho deste ano. João – nome fictício do aposentado – era um senhor que andava sempre pelo caminho do bem. Cuidava da família, brincava com as netas e vivia num estado zen. Acontece que nos últimos anos de vida, teimou em arrumar o relógio da parede, um aparelho grande e antigo que já não mais funcionava há pelo menos 20 anos. João mexia e remexia, sempre sem sucesso. Um dia desistiu do conserto. A vida passou e já, com problemas do coração, acabou morrendo. Definitivamente, uma perda descomunal.
Passada uma semana de sua morte, a família compareceu à Missa de Sétimo Dia do finado João. Todos uniram-se na dor do bom homem. Voltaram juntos então até a casa da avó, a viúva companheira. Lá chegando, todos se sentaram nos confortáveis sofás da sala. A avó fez um café. Outra tia foi ao banheiro. Outro lia ao jornal. Estavam na residência cerca de 12 pessoas. Algumas relembravam as histórias engraçadas do avô. Mas as vozes se calaram de uma vez. Foi quando o relógio voltou a funcionar, depois de 20 anos. O som alto e forte soou como uma mensagem. Um grito do além. O que pensar? Todos preferiram acreditar ser apenas uma coincidência. No entanto, há ainda quem tenha falado ser “arte” do avô brincalhão. “Ele deve ter feito uma brincadeira com a gente”, disse um dos netos. Depois disso, o aparelho funcionou apenas mais duas vezes. Hoje, continua na parede apenas como decoração.
O beija flor
Ele gostava de beijas-flor. Tanto é que quando morreu, no início deste ano, a família confeccionou um santinho com a foto do mesmo pássaro. As mensagens com o beija-flor foram sendo distribuídas a todas as pessoas que passaram pelo velório, uma a uma. A cerimônia adentrou a madrugada, quando permaneceram apenas os familiares do morto. O único amigo da família que ficou até o dia amanhecer foi Alberto – nome fictício.
Como testemunha do fato narrado, ele conta que estava com o santinho em mãos, vendo a figura do beija-flor, ao mesmo tempo em que conversava com os familiares. Eram cerca de quatro horas da manhã quando, parecendo um sopro, um beija-flor entrou na sala do funeral e pousou sobre o caixão. Segundo Alberto, foram menos de dois segundos, mas o bicho pousou e saiu, da mesma maneira como adentrou a sala. Apenas mais uma coincidência? Ninguém sabe. De verdade mesmo, apenas a vida e a morte. Cada um saberá mais tarde se a comunicação acontece de verdade. Mas apenas depois da partida de cada um. Antes disso, sem chance.     

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Reginaldo, Márcia, a sogra, sete filhos e uma Kombi

Márcia e Reginaldo decidiram agir através de Deus. Hoje, todos os seus passos seguem os ensinamentos da Igreja Católica. Evitando métodos contraceptivos, a família cresceu. São sete crianças e uma a caminho. Para carregar a turma toda tiveram que comprar uma Kombi. 

Dilmércio Daleffe
Reginaldo e Márcia casaram-se em 93. Ano de conflitos e brigas entre o casal. Ele bebia muito, era quase alcoólatra. A esposa não admitia. Apesar de católicos, não seguiam todos os ensinamentos da igreja. Exemplo disso eram os métodos contraceptivos, os quais utilizavam. Em 94 a camisinha estourou. Um ano depois nasceu Marcelo, o primogênito. As brigas continuaram. Mesmo usando anticoncepcional, oito anos após, Márcia engravidou novamente, agora de Mariana. Foi à gota d´água. Buscando um caminho correto, sem brigas, o casal recorreu a Deus. E o encontrou. Passaram a praticar ortodoxamente as palavras do catolicismo. Deixaram os contraceptivos e Reginaldo abandonou a bebida. Ambos iniciaram um amor sem limites. A família então renasceu. Hoje, são sete filhos e mais Natália, a sogra. Uma casa de poucos cômodos, mas lotada de camas. Todos se amam e se respeitam. E para eles, isso é o que interessa. Como a família aumentou, o jeito foi comprar uma Kombi. E a sogra vai na frente.
Tudo deu certo na vida dos Fumagalli. Entre idas e vindas do destino, a família cresceu e o amor foi eternizado. Tudo em nome de Deus. Aliás, na casa, tudo gira ao redor dele. Desde a entrega do casal à Igreja Católica, as lições repassadas às crianças são puras. É visível a educação cristã. Conta Reginaldo que o renascimento do casal teve início depois que aboliram os métodos contraceptivos. “Tudo acontece segundo a vontade de Deus”, afirma. Foi assim, desta forma, a chegada de Marcelo, 17, Mariana, 9, Gabriel, 7, Eduarda e Emanuel, 6, Maria Clara, 4, e Miguel, 2. Ao todo são sete filhos, um mais adorável que o outro. Juntos, dentro da “Kombi da Alegria” – apelido do veículo – até parece um time de futebol.
Na casa simples em alvenaria, na Rua Guacho – Jardim Tropical, em Campo Mourão - tudo acontece em quantidade. No último mês foram 114 litros de leite, 12 litros de amaciante, 12 caixas de sabão em pó, 20 quilos de arroz e 25 de açúcar. É muita gente pra poucos recursos. Reginaldo é mecânico industrial. Márcia é dona de casa. A grana não da até o fim do mês. Mas daí entra a importante figura de Natália, a sogra. Com sua aposentadoria, ela da sobrevida aos recursos. Ela gosta. Se sente feliz assim. Afinal, quem não gostaria de viver entre sete criaturinhas, todas abençoadas por pais tão amáveis? Além disso tem a bagunça do dia a dia, as descobertas da infância, o amor refletido em cada olhar das crianças. Natália é feliz ali.

Marcelo, o mais velho, já está na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Apesar de ser bem mais velho que os irmãos, ajuda no que pode. Excelente menino. Divide o quarto pequeno com outros três irmãos. Aprendeu com os pais que a maior riqueza é o carinho, o zelo pelos seus. Participa todos os sábados à noite da missa na Catedral. Todos vão juntos, de Kombi, é claro. Natália vai também. É um ritual sagrado. Pelas manhãs de domingo, uma celebração é feita em casa. Apenas a família participa. À tarde, vão de Kombi pra um passeio. É sempre assim. Os filhos em primeiro lugar.
Reginaldo e Márcia estão satisfeitos com o caminho escolhido. Seguem a vontade do criador e vivem pregando o bem. Levam uma vida sem regalias, sem luxo. Mas nunca, nada faltou a eles. Pelo contrário, a fartura sempre prevalece. Mas em breve, daqui a oito meses, uma nova visita chegará. Eles ainda não a conhecem, mas sentem que se trata se mais uma obra divina. Um novo presente de Deus. É que Márcia está grávida novamente. Serão oito filhos, oito criaturinhas abençoadas. Mais uma caminha. Mais um lugar na Kombi. Mais um neto para dona Natália. A vontade de Deus sempre prevalece.         

terça-feira, 2 de outubro de 2012

“Zé Tropical” não suportou a saudade




Dilmércio Daleffe
Desaparecido desde o último sábado, o garçom José Carlos Diniz, 50 anos, foi encontrado morto na manhã de ontem. “Zé Tropical”, como era mais conhecido, não suportou a perda do filho Marcos, morto no dia 21 de agosto do ano passado, num acidente de carro. Assim, como na tragédia anterior, Diniz morreu na mesma Estrada Boiadeira, a poucos metros do acidente do filho. Segundo amigos e familiares, era uma despedida já esperada, uma vez que “Zezinho” andava depressivo demais. Acabou entregando-se pela dor, pela angústia, pela insatisfação da saudade.
Voltar no tempo é impossível. Afinal, a cruz de cada um é carregada apenas em vida. Mas se vale como consolo, lembrar do “Zé Tropical” é muito fácil. “Zé” levou a vida na bandeja, sempre. Trabalhou em praticamente todos os restaurantes da cidade, desde a “Gaivota”, e foi uma cria do memorável Avelino Piacentini. Nasceu para servir e bem atender. Por sua nobreza, educação e respeito tinha moral com os convidados. Sua proximidade com as pessoas o levou a ser apelidado como “Batista” por alguns e “Edite” por outros. “Zezinho” era um verdadeiro cavalheiro, o mestre dos garçons de Campo Mourão e Maringá. Por sua nobreza conquistou o cargo para atender os noivos, e eles foram muitos.
Atendia com vontade. Servia com prazer. Diniz nasceu para ser garçom. Por isso era diferente. Piadista e irreverente fazia graça com todos. Era um imitador incansável de Nelson Tureck e Lula. Todos paravam para escutá-lo. Mas sua alegria foi terminando aos poucos. A data da tristeza foi em 21 de agosto de 2011, quando perdeu Marcos. Depois disso iniciou uma batalha pessoal contra o álcool e a depressão. “Zé” não conseguir vencer a saudade do filho. Sem dúvida nenhuma, os casamentos daqui por diante perderam um astro e, certamente, parte da alegria. O mestre se foi. As lágrimas e saudades, não.  
        

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Faltam investimentos em cemitérios

Restando um mês para o Dia de Finados, muitos cemitérios da região ainda revelam falta de cuidados. Alguns não tem muros. Outros nem ao menos calçamento. Os problemas não vem de agora, mas sim, de muito tempo. Quem acaba pagando pela falta de zelo é a própria população. Em dias de chuva, os cortejos em alguns campos santos são realizados sobre o barro e a Lama. Falta dinheiro ou respeito para que a solução apareça?
Luiziana
Cortejos sobre terra e barro
Dilmércio Daleffe


O cemitério municipal de Luiziana já teve dias piores. Há quatro anos, nem muros tinha. Hoje, no entanto, o quadro é diferente. Todo murado, o campo santo mantém uma tranquilidade invejável. São apenas dois funcionários, ambos pertencentes ao município. Mas nenhum é coveiro. Foram removidos de suas funções para cobrir a ausência dos dois antigos profissionais, demitidos há cinco meses.
O local está limpo, sem sujeira e sem mato. Mas a falta de calçamento é o grande obstáculo. Desde a entrada até as sepulturas é só terra. Nada de pavimento. Em dias de chuva as famílias têm que suportar o barro. Não há outra saída. Mesmo em meio aos túmulos apenas terra e alguns pedriscos. Nem grama existe. Possivelmente, por esta razão, possui aspecto de mal cuidado. Além disso, algumas dezenas de túmulos já não possuem identificação. Foram esquecidos por familiares.
De acordo com Darci de Souza, um dos responsáveis pelo local, vez em quando alguém deixa presentes indesejáveis. Velas pretas, vermelhas e amarelas, assim como cestos com pipocas, ou até cachaça, são encontrados com certa freqüência. Ele preferiu não dizer. Mas trata-se de macumba mesmo. Companheiro de Darci, José Nilson Gabriel diz não ter medo. “Trabalhar aqui é muito sossegado. Nunca vi nada de errado, não”, garante. Ele quer dizer que assombrações não existem. Pelo menos ali. “Assombrado mesmo é só debaixo daquelas árvores”, brinca. Nem 50% do cemitério foi ocupado. Há “vida” útil para muitos anos ainda. Ao contrário do cemitério de Campo Mourão, onde alguns mortos já andam sendo despejados. A TRIBUNA entrou em contato com a prefeitura para repercutir sobre a falta de calçamento. No entanto, ninguém retornou a ligação.   
Roncador
Sem muros e sem pavimentação
Ana Carla Poliseli


Entre os primeiros túmulos do cemitério de Roncador, calçamento e alguma grama. Na parte mais recente, apenas barro. Como o terreno não é plano, o registro das chuvas que caíram nos últimos dias está nos caminhos que a enxurrada deixou entre as sepulturas. Mas o aparente abandono não está apenas na falta de infraestrutura. Muitas covas estão afundando. Sobre o caixão foi colocado apenas terra. Em outras, os familiares dos ocupantes deixaram de fazer manutenção. Tijolos caídos e sem pintura são a última morada de muitos roncadorenses.
Apenas um coveiro é responsável pelo local e em alguns momentos ninguém está presente. O muro é apenas em frente. Dos lados, uma cerca de arame delimita o terreno. No lado direito, onde passa uma estrada de terra o arame já foi cortado e é possível entrar até de carro no campo santo. Mesmo com todos os problemas, o cemitério é limpo e não há problemas de falta de espaço, pelo contrário, um quarto do terreno ainda está sem túmulos.
Iretama
O cemitério municipal de Iretama se mostra bem cuidado e há pavimentação na maioria das ruas principais. Onde ainda não foi construída, ela é delimitada pelo meio fio, o que impede que a terra desça pela força da água das chuvas. Entre os túmulos, a grama faz o papel de pedregulhos, impedindo que os cortejos se estendam pela lama. No distrito de Águas de Jurema, antiga Água Fria, há um cemitério desativado. Os corpos permanecem no local, mas ninguém mais pode ser enterrado lá. A prefeitura mantém apenas a estrutura básica.
Farol
Sem calçamento, porém organizado
Clodoaldo Bonete


            O campo santo de Farol encontra-se bem organizado. Embora não tenha calçamento, o acesso principal, do portão ao Cruzeiro, é gramado. O responsável pelo local, Marcos Terra, mantém a grama aparada e não permite que lixo se acumule entre as sepulturas. “Sempre faço a limpeza, juntando papel, e principalmente folhas que caem das árvores”, afirma. Terra é o coveiro do cemitério, mas não tem muito serviço em Farol: “Faço em média, de dois a quatro enterros por mês, mas tem mês que ninguém morre”, comenta ele.
            O cemitério é todo cercado, mas apenas a parte frontal é feita de tijolo. “O restante é de arame farpado.” Terra, que é marceneiro, prestou concurso de coveiro há dois anos e meio e assumiu a função. “Esse cemitério tem mais de 30 anos. Foi construído quando Farol ainda era distrito de Campo Mourão”, diz. Segundo ele, há registros de 648 pessoas sepultadas no local.

Campo Mourão
Superlotação é problema rotineiro
Tayenne Carvalho


Sem previsão de novo cemitério, o São Judas Tadeu continua recebendo sepultamentos, mesmo passando por problemas de falta de espaço. Por este motivo, foi realizado um levantamento dos túmulos abandonados para disponibilizar novas vagas. Ou seja, sobrou para os mortos. Muitos deles foram removidos, numa espécie de “despejo”. Além disso, a falta de calçamento entre os túmulos e problemas com muros espelham o local ao descaso.   
Para a remoção dos túmulos abandonados, o secretário de Obras, José Marim, diz acreditar que passará de mil notificações para regularização. Elas são feitas através de publicação no Órgão Oficial do Município e tem prazo de 90 dias para a regularização das sepulturas. Mas isto está sendo feito aos poucos e a população está sendo avisada. “Estão reavendo alguns espaços e o cemitério continua recebendo sepultamentos normalmente”, afirma ele.
            O aposentado Alfredo Eleotério da Luz aprova essa ação. “Tem muita gente que não cuida e está faltando terreno. Tem muitos túmulos abandonados”, diz. O aposentado João Damas Ferreira está regularizando o túmulo do pai, que faleceu há dois anos e meio. Estava apenas no cimento e agora está encobrindo com azulejos. “Se todos fizessem igual a gente faz, as coisas iam melhorando. Ia ficar bonito. Desses túmulos, a massa fica caindo, estraga, não tem jeito nem de lavar”, lamenta. “É uma coisa que fica pela metade”, comenta.
“Agora não está tão grave. Pelo menos estão avisando e chamando para a regularização. Antes não faziam isso”, afirma Alfredo. Em 1998, segundo ele, chegaram a vender terra onde estava enterrado parente seu. “Fui para justiça e ganhei. Mas é uma falta de respeito muito grande. Agora divulgaram bem e estão atualizando as escrituras também”, afirmou.
O cemitério municipal tem 20.511 sepultamentos registrados oficialmente. O primeiro foi em 1958. Segundo o administrador, Paulo Rogério Souza Leite, em Campo Mourão são realizados aproximadamente dois sepultamentos por dia. Neste mês já foram 56 e no ano, 498. Porém ele explica que estes são os números oficiais. Têm mais sepultamentos realizados que não apresentaram o atestado de óbito e, por este motivo, não constam no sistema.
O São Judas Tadeu vinha sofrendo problemas também com o muro que havia caído e com a água da chuva que acabava acumulando e piorando a estrutura. “Os muros não têm fundação, são muito fracos, aí cai. E as ruas, se arrumassem, ficava bonito. Não ficava terra. Quando chove, pisa aqui, pisa ali, suja tudo de lama”, diz Alfredo. Segundo o secretário Marin, as obras no cemitério municipal devem terminar em até 20 dias. “As galerias pluviais já estão prontas. São três entradas da rua até o cemitério. Agora faltam os muros, que já estão sendo finalizados”.
Já o Cemitério Parque que está sendo construído no Jardim Cidade Nova, ainda não tem data para inauguração. Este novo cemitério é particular e o município fará a pavimentação da via Engenheiro Mercer até o portão de entrada, além da iluminação pública no local. Marin afirma que já foi lançado no orçamento e que será feito a partir do próximo ano.
Cemitérios desativados
Alguns cemitérios do município guardam hoje apenas lembranças. Na estrada Boiadeira são dois. Um no Km 123 e outro no Km 31. Os dois já estão desativados há muito tempo. Eles surgiram por iniciativa das comunidades que moravam no local e hoje estão completamente abandonados. Oficialmente são denominados como clandestinos. Restos mortais inclusive começam a ser transferidos para o São Judas Tadeu. Mas o problema é que muitas famílias foram embora. Possivelmente, dezenas de corpos continuarão por lá. O mesmo acontece com o cemitério de Piquirivaí, desativado há aproximadamente dez anos.

Araruna e Peabiru
Respeito e organização
Walter Pereira


A população de Araruna e Peabiru não tem do que reclamar quanto aos seus cemitérios. De modo geral, os campos santos estão bem conservados. Em Araruna, por exemplo, a maioria das passarelas entre os túmulos são forradas por grama. De acordo com o administrador, Isaac Fialho, 7,8 mil pessoas estão sepultadas ali, que existe desde 1943. Na época o município nem era emancipado. Há pouco tempo a prefeitura ampliou uma ala nova para atender a demanda. No município são sepultadas mensalmente uma média de nove pessoas. Apesar de muitos campos santos serem alvos do vandalismo, no município, graças ao apoio da Polícia Militar (PM), raramente são registrados casos de invasores.
Em Peabiru a cena se repete. O cemitério também está bem conservado. Comparado a cemitérios de outras cidade do mesmo porte, pode-se dizer que a cidade está bem servida quando o assunto é campo santo. Segundo Antonio Gato Filho, fiscal do Departamento da Fazenda do município, o local foi fundado em 1954. O número de pessoas sepultadas ultrapassa oito mil. Na cidade, são registrados mensalmente 10 sepultamentos. A prefeitura abriu recentemente uma nova ala para enterros, o que propiciou espaço para pelo menos mais 720 sepulturas.
O cemitério do município é desprovido de malha asfáltica. No entanto, em toda sua extensão, as passagens são cobertas por pedriscos. Filho disse que a prefeitura tem um projeto para asfaltar o local futuramente. Um dos principais problemas enfrentados no local, são as enxurradas.

"Zé Tropical" está desaparecido



Dilmércio Daleffe
Um dos mais experientes garçons de Campo Mourão, José Carlos Diniz, 51 anos, está desaparecido desde a manhã do último sábado. Ele saiu de casa por volta das sete horas trajando camisa cinza, calça em tons verde e boné vermelho. Sua última aparição foi próxima ao estádio Roberto Brezezinski. A família pede notícias sobre seu paradeiro através do telefone 9985-0314, com Vanessa Cristina Alvin.
Diniz, que é mais conhecido como “Zé Tropical”, não anda bem desde a morte do filho Marcos, há um ano. Não suportando a perda, vem travando uma luta desleal contra a depressão e o álcool. Para amigos de bar, chegou a se despedir ainda na sexta-feira. Disse que faria uma viagem. A outros colegas, não escondia a vontade em tirar a própria vida. “Ele não vinha conseguindo administrar a morte do filho”, revelou um companheiro de profissão.
“Zé Tropical” é, certamente, um dos garçons mais conhecidos da cidade e região. Desenvolve dentro da profissão um cargo nobre: atender os noivos. Dono de uma elegância ímpar dentro dos salões, sempre manteve ética e postura nos buffets e restaurantes por onde trabalhou. Para quem o conhece fica impossível esquecer o jeito piadista e bem humorado. Durante todo final de semana familiares e amigos percorreram estradas e bares da cidade em busca de pistas que levassem até ele. Mas até o final desta edição nada havia sido encontrado. Diniz continua desaparecido. Segundo a família, ele não levou dinheiro, muito menos sua carteira.