Ele já nasceu com raízes na política. Veio de São Bento do Sul, Santa Catarina e, em Campo Mourão, foi vereador entre os anos de 83 e 88. Com jeitão bastante original, caiu nas graças do povo, sendo o primeiro prefeito de Luiziana, ainda em 89. Populista, deixou a pequena cidade para ganhar uma cadeira em 94, como deputado estadual. Um feito histórico para um ex-prefeito de pouco mais de quatro mil habitantes. Em 2005 quis mais. Buscou a prefeitura de Campo Mourão. E a conquistou por dois mandatos consecutivos. Em meio a escândalos e processos, Nelson José Tureck termina um ciclo frente ao município sob vaias de alguns e aplausos de outros. Sua maneira carismática em lidar com a população o afastou de inimizades. Sem considerar-se um político profissional, acredita vencer eleições pela forma com a qual respeita seu eleitorado. “Vivo sorrindo. Sempre fui assim. As pessoas gostam disso”, disse. Quanto ao futuro, diz que o povo escolherá seu destino. “A minha vida sempre quem decide é o povo”, respondeu ao ser questionado se pretende retornar à prefeitura.

Tureck certamente termina o pleito como um dos prefeitos mais singulares da história. Afinal, trata-se de um sujeito imitado e com histórias sem fim por contar. Contabilista de profissão, iniciou como vereador ainda pelo PDS. Mas mudou de partido outras tantas vezes – PDS, PMDB, PDT, PFL, PSDB e PSD. Tem estilo próprio, sorridente, contador de piadas e metido a cantor. Nos eventos por onde anda, faz questão de cumprimentar a todos, desde as autoridades, até o mendigo na rua. Gosta de cerveja, ainda joga uma pelada com os amigos e acredita ser o sorriso a causa de sua boa saúde. Mas se ele ainda deixa a prefeitura dando risada, no futuro algo pretende o incomodar: processos. E eles não foram poucos.

Um dos mais conhecidos foi o episódio da “Sacolinha da Tim” em 2008, quando a prefeitura teria feito compras sem licitação. O prefeito e ex-secretários chegaram a ser condenados a devolver dinheiro aos cofres públicos. Além de Tureck, foram condenados o ex-secretário Munir Abdel Karin Dawud Dayer e o diretor Geral da Secretaria de Obras, Vanderlei Veiga Ribeiro. Na época Munir foi preso em flagrante acusado de corrupção passiva e peculato. Ele teria se apropriado de R$ 19 mil do empresário Elpídio Kock, que havia vencido uma licitação da prefeitura para entregar materiais de construção.

A prisão foi feita pelo serviço de inteligência da Polícia Militar e contou com a participação de dois promotores de justiça. Tureck disse que não sabia do esquema e negou qualquer participação. “Ele era secretário e tinha autonomia. Eu não posso estar olhando que peça ele comprou ou deixou de comprar. O prefeito não pode estar junto, não tem condições”, falou o prefeito. Tureck lamentou o fato. Segundo ele, “jamais podia ter ocorrido”. “Eu me lembro que na época uma pessoa chegou a me avisar que estavam armando um flagrante para um secretário meu. Eu disse que façam porque eu proíbo que peguem um saco de cimento ou um saco de cal sem licitação”, comentou.

O prefeito responde ainda a vários outros processos. Entre eles, da Tyson, do transporte escolar, que segundo ele é o mais barato do Paraná, e processos envolvendo convênios com o Banco do Brasil, entre outros. “Se um advogado quiser ele coloca 50 processos em você e você tem que responder. Estão todos em julgamento, mas acredito na justiça”, disse.

Avaliação do mandato

Tureck disse que deixa a prefeitura realizado. Durante os oito anos de governo, falou que conseguiu colocar Campo Mourão nos trilhos. “Viemos com uma das missões mais difíceis, com um projeto que era o de transformar a cidade em pólo de alimentos. Está aí a Tyson. São mais de dois mil empregos diretos. Nós não podemos admitir jamais que Campo Mourão, uma região tão rica, diminua o número de habitantes como estava acontecendo quando eu cheguei à prefeitura”, frisou.

O prefeito destacou que valeu a pena acreditar no projeto de transformar a cidade em pólo de alimentos. Além da Tyson, ele lembrou da Consolata, empresa alimentícia que tritura diariamente em torno de 380 toneladas de trigo e empacota 32 produtos que vão aos mercados e panificadoras do país. “Se não tem emprego não existe distribuição de renda. Posso dizer que nesses oito anos realizei o meu sonho. Se fosse para morrer hoje eu morreria feliz”, comemorou.

O que faltou

Apesar das vitórias, o prefeito reconheceu que ainda deixou a desejar. Segundo ele, faltou deixar as avenidas da cidade mais bonitas, serviços de recapes, outro abatedouro na cidade, e um aeroporto. “Eu queria ter feito mais, queria ter deixado a cidade mais bonita”, observou.

De virtude para a cidade, Tureck falou que deixa o progresso. Conforme ele, a implantação do projeto de empregos na cidade, consolidou o município. “Campo Mourão virou a cidade das oportunidades. Está chamando a atenção do Estado do Paraná e do Brasil”, enfatizou.

Carisma

Tureck deixa a prefeitura como a figura de um político populista e simpático. O fato de sempre estar bem humorado, o prefeito explicou que “quem sorri vive mais”. Foram atitudes como esta, que o fez um dos políticos mais carismáticos da história da cidade. “A gente tem que ser alegre e feliz com as pessoas. Eu nunca persegui ninguém que deixou de votar em mim. Eu respeito isso. Se não vota hoje pode votar amanhã”, resumiu.

Apesar de uma oposição bastante agressiva, ele disse que deixa a prefeitura sem mágoas de ninguém.  “Você nunca vai ver o Nelson Tureck guardar mágoa de ninguém. Se o Tauillo [Tezelli, ex-prefeito] está num evento eu chego até ele e o cumprimento. O Sidnei Jardim [vereador] que fala e fala, deixa ele. Se Deus fez para falar deixe que fale. Deixa ele, vou fazer o que”, disse.

Observatório Social

A administração Nelson Tureck também foi marcada por diversos imbróglios envolvendo o Observatório Social. Por diversas vezes fez o prefeito responder a questionamentos da entidade perante á justiça. Apesar de tudo, o prefeito defende a atuação do órgão. No entanto, segundo ele, em Campo Mourão, o observatório estava agindo politicamente contra sua administração. “Em vez de me ajudar estava atrapalhando. Nunca me defenderam”, disse.

Em relação aos questionamentos que a prefeitura deixou de responder ao órgão, o prefeito falou que os que não eram de cunho político todos foram respondidos. “Quando via que era politicagem não respondia. E também falta tempo e isso custa dinheiro”, resumiu. “O Observatório é importante para ajudar os prefeitos na hora das licitações. Mas ser usado para política, não aceito. Agora com o Elói que é um grande homem as coisas estão mudando. Todas as prefeituras tinham que ter observatório social”, emendou.