A novela em que se transformou a Estrada Boiadeira, ao longo dos últimos 62 anos, agora está com um capítulo a menos. Isso porque restam pouco mais de sete quilômetros para serem concluídos no trecho do lote 3 – que liga os municípios de Tuneiras a Cruzeiro do Oeste. As obras foram iniciadas em fevereiro de 2012 e, 11 dos 18 quilômetros, já estão terminados. O local acabou se transformando num verdadeiro canteiro de obras. São cerca de 300 homens na finalização do trecho. Enquanto uma equipe desenvolve a pavimentação, outra faz o plantio de grama nas encostas. Além disso são dezenas de caminhões trazendo e retirando terra de alguns pontos. Segundo informações, a meta é entregar o lote até maio deste ano.
Obras de pavimentação do lote 3 da Estrada Boiadeira tiveram início em fevereiro de 2012. Trecho será entregue em maio. |
Encarregado das obras de asfaltamento e terraplanagem, Genival de Oliveira Nunes disse que os trabalhos só não estão mais adiantados devido às chuvas de dezembro e janeiro. “Alguns pontos de terraplanagem chegaram a ser afetados com as recentes chuvas. Por isso é que a grama já vem sendo colocada”, disse. De acordo com ele, o lote 3 terá a mesma qualidade do já concluído lote 1 – que começa em Campo Mourão. Para suportar o tráfego pesado, a malha asfáltica possui 10 centímetros de espessura de CBUQ – Cimento Betuminoso Usinado à Quente. No entanto, a conclusão do lote 3 de nada adiantará, uma vez que o lote 2, entre Campo Mourão e Tuneiras do Oeste, continua sem pavimentação, à espera de uma licitação, ou quem sabe, de uma intervenção divina.
Do total de 73 Km envolvendo três lotes, apenas o de número um - 33,5 Km - que começa em Campo Mourão - está completamente concluído. O lote de número dois, entre Campo Mourão e Tuneiras do Oeste, com cerca de 22 Km, está abandonado e sem previsão oficial para ser terminado. Já o lote três, entre Tuneiras e Cruzeiro do Oeste, com 18 Km de extensão, será entregue em maio deste ano. Todo o percurso, de Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste, consiste numa reta só, o que diminuirá a distância, por exemplo a Umuarama. Se hoje um motorista mourãoense demora até uma hora e meia até Umuarama, depois de concluída a Boiadeira, a mesma viagem demorará cerca de 50 minutos.
Estrada trará mais movimento
Uma única reta de 73 Km escoará grande parte da safra de outros estados |
Aberta por volta de 1910, a Estrada Boiadeira, inicialmente, serviu para a condução de gado comprado no Mato Grosso para a engorda nas pastagens do Paraná. Além de beneficiar uma vasta região, a pavimentação entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão vai marcar a consolidação do Corredor Setentrional de Exportação. Ou seja, com o término do conjunto de pontes em Porto Camargo, boa parte da produção do Mato Grosso do Sul deve ser canalizada pela Boiadeira até o Porto de Paranaguá. Campo Mourão e região só tem a ganhar com uma movimentação intensa de tráfego no trecho.
Abandono contribuiu com danos ao meio ambiente
Trajeto do lote 2, entre Campo Mourão e Tuneiras do Oeste. Parte da terra acabou em rios. |
Uma ação do Ministério Público contra o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DER) está propondo a justiça uma indenização milionária, cerca de R$66 milhões, pelos danos causados ao meio ambiente devido a má conservação da estrada ao longo dos anos. No trecho de 73 quilômetros, entre Campo Mourão e Cruzeiro do Oeste, um laudo técnico indicou que o abandono da estrada ocasionou o assoreamento de rios e córregos que atravessam a via. Alguns estão deixando de existir. Além dos problemas ocasionados á água, vegetação e o solo também continuam sendo prejudicados. Mesmo se tratando de uma rodovia federal e de responsabilidade do extinto DNER, a ação foi movida contra o DER por ter sido ele o órgão que tomou a iniciativa da obra, ainda em 85. O laudo também aponta a falta de um projeto de retenção hídrica na estrada como sendo uma das principais causas de todo o problema ambiental.
Uma novela sem fim
A Estrada Boiadeira, BR-487, completou em 2010 um século de vida desde a sua abertura, em 1910. No entanto, foi só a partir de 1950 quando a população iniciou o movimento para que ela fosse pavimentada. Desde então, já se passaram 62 anos e a rodovia, que liga Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste, continua indefinida. Durante as quatro últimas décadas, ela foi “usada” e prometida por deputados, governadores, ministros e até presidentes. Muitos palanques eleitorais foram levantados a base da Boiadeira. Ao contrário de sua conclusão, o que se viu foram recursos sendo perdidos pelo tempo, num já rotineiro cenário clássico de desperdício do dinheiro público.
Durvalino Costa veio de longe, do interior de São Paulo, com a idéia de ganhar dinheiro com a pavimentação da Boiadeira. Ele abriu uma borracharia na comunidade de Nova Brasília, as margens da rodovia há mais de 25 anos. É bem verdade que ele viu os 33 primeiros quilômetros serem asfaltados. Mas isso foi insignificante para que o negócio da borracharia desse certo. Afinal, o restante da estrada não foi terminado. Em resumo, ele morreu há seis anos, sem ganhar dinheiro e o pior, sem presenciar a rodovia ser concluída. Hoje, além de ser personagem na trágica história da estrada, seu túmulo está a poucos metros do asfalto da Boiadeira.
O caso de Durvalino é apenas um dos tantos outros sonhos que acabaram se esvaindo pela demora da Boiadeira. Afinal de contas, é muito tempo de espera para uma importante rodovia. O asfaltamento da estrada, uma das principais reivindicações da região, foi iniciado em 1986 pelo governo do estado. Porém a obra foi paralisada logo em seguida e, a erosão acabou destruindo aproximadamente 40% dos serviços de terraplanagem que já havia sido executado no trajeto. Ou seja, o dinheiro utilizado perdeu-se no ralo.
Aos 55 anos de idade, Antônio Ferreira da Silva é um atual operário da Estrada Boiadeira. Sobre o chão quente e debaixo do sol escaldante, quase insuportável, ele colabora para diminuir a temperatura dos pneus das máquinas que fazem o asfalto. Morador do bairro Cidade Nova, em Campo Mourão, ele já ouvia há 40 anos, as reclamações da comunidade pela conclusão da estrada. “Parece que agora o negócio vai sair. Pelo menos estou vendo uma parte dela ser construída”, disse.
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