domingo, 6 de janeiro de 2013

Silva: que a justiça seja feita

 

 

Dilmércio Daleffe
Dia 23 de dezembro de 2012, três horas da tarde, esquina da Perimetral Tancredo Neves com a Rua Engenheiro Mercer, em Campo Mourão. O mecânico José Carlos da Silva, de 40 anos, avista um acidente e decide parar e prestar socorro. Minutos depois recebe voz de prisão por um policial militar. Enquanto o acidentado vai ao hospital, Silva vai para a cadeia. Alegando desacato à autoridade, ele é algemado e conduzido ao 11º Batalhão de Polícia Militar. Lá, segundo Silva, foi espancado por cerca de 20 minutos. Braço, perna e rosto ficaram marcados pela violência, devidamente registradas por fotografias. Em seguida foi encaminhado à delegacia, onde dormiu preso com outros nove detentos. Só saiu um dia depois, após pagar fiança de quase R$1,9 mil. Sentindo-se humilhado, Silva agora deseja justiça. “Eu jamais infringi a lei. Nunca tive contato com a polícia. Mas agora, estou fichado e espancado. Quero que me expliquem porque eu fui preso. Porque me bateram”, afirmou.

Arquivo Pessoal
Testemunhas negam versão da polícia

Silva é um experiente mecânico de carros. Até pouco tempo tinha sua própria oficina em Campinas, São Paulo. Mas no dia 10 de outubro, decidiu visitar parentes em Campo Mourão. E adorou a cidade. Não voltou mais, passando a ser empregado em uma conhecida empresa mourãoense. Mas às vésperas do Natal, parou seu veículo para ajudar um acidentado. Disse que chegou antes mesmo da viatura policial. Quando viu o homem deitado sobre o asfalto quente, tirou a própria camisa e a abanou para amenizar sua dor. Foi quando a PM chegou. Então teria pedido auxílio ao único soldado. “Perguntei a ele se poderíamos levantar as costas do acidentado para colocar algo evitando aquele asfalto”, disse. O policial, de maneira rude, teria dito para que ninguém tocasse na vítima, uma vez que os bombeiros já estariam a caminho.

Mas o sofrimento do homem era tanta que Silva voltou a insistir. Disse ao policial que o ajudasse, auxiliando em como socorrer o acidentado. O policial nada fez e então Silva comentou: “Sabemos que não podemos tocar na vítima, mas em São Paulo os PM´s nos auxiliam antes da chegada do socorro”. Na chegada de uma segunda viatura policial, o soldado deu voz de prisão a Silva, alegando desacato, agitação e embriaguês. No boletim de ocorrências formulado pela própria PM, foi descrito que Silva ameaçou o policial “dizendo que se fosse em São Paulo, de onde ele é natural, se resolveria de uma forma diferente, a exemplo dos ataques contra policiais militares e que mais tarde resolveria a situação. Ele ia procurar o policial ou a família do mesmo para acertar essa situação da pior forma possível”. O boletim ainda diz que vários populares teriam pedido a Silva que ficasse calado, mas ele teria incentivado a população contra o policial, que estava sozinho.

A reportagem encontrou cinco testemunhas do acidente. Elas presenciaram os momentos da conversa entre Silva e o policial, naquela tarde do dia 23. Todas, sem exceção, desmentiram a versão do boletim de ocorrências da PM. Informaram que em nenhum momento viram o policial ser ameaçado. “Vi o rapaz (Silva) comentando algumas coisas. Mas nunca em tom de ameaça”, disse uma pessoa. Outra já observou que o PM foi incapaz de exercer sua função, mesmo nos simples detalhes, como sinalizar o local do acidente. “Ele estava lá não sei por quê. Foi agressivo com as pessoas e nem sinalizou o local”, disse a testemunha. Outra mulher comentou que todos que lá estavam notaram o despreparo do PM. “O rapaz (Silva) não ameaçou ninguém”, afirmou. Nenhuma das testemunhas quis ter o nome revelado. Alegaram medo de retaliações.
Arquivo Pessoal
Silva teve lesões no braço, na perna e no rosto
Para o comando do 11º BPM, os fatos ainda são desconhecidos. “Não estamos sabendo desta denúncia. Realmente a desconheço”, afirmou o Major Valtrik. De acordo com ele, Silva deveria ter procurado o comando para formular a queixa contra o policial. “Nós sempre apuramos os fatos. Mas precisamos de uma declaração formal. Mesmo assim iremos tomar providências”, disse. A acusação de Silva cita apenas um único membro da corporação. Ele diz ainda acreditar na honra dos demais PM,s. A reportagem preferiu não citar o nome do policial acusado até que a PM investigue o caso. 

A denúncia
Após ser algemado, Silva teria sido levado para o 11º BPM. Lá, numa sala próxima a garagem das viaturas, permaneceu com as algemas. Segundo ele, ao contrário do boletim de ocorrências - informando sobre uma suposta recusa em fazer o teste - foi forçado a fazer o exame do bafômetro. “Fiz o teste por três vezes. Na primeira assoprei e, como não deu nada, levei um tapa na cara. Na segunda assoprei de novo e levei outra tapa. Na terceira assoprei com tanta força que quase perdi a respiração. Disse pra ele [ao policial] que não ia apontar embriaguês. Afinal, eu não bebo. Sou evangélico”, afirmou.

Silva disse que depois da terceira tentativa do bafômetro, o PM deixou o aparelho e começou a desferir golpes em seu corpo. Ainda algemado e com as mãos para trás, o policial o esmurrou na perna, no braço e no rosto. Os hematomas estão visíveis nas fotos que um amigo fez após deixar a delegacia. Ele também fez exame de corpo de delito. No boletim de ocorrências da PM, também diz que Silva teria feito novas ameaças, já dentro do quartel, tentando agredir os policiais. Lembrando que ele estava algemado. Então, Silva foi contido por “uso de força moderada”.

Silva alega ainda não saber os motivos pelos quais foi preso e apanhou. “Não sei quando foi que o desacatei. Quero justiça. Por isso estou colocando minha cara pra bater. Sei que posso ser perseguido. Mas ainda acredito na força da justiça e na honra dos comandantes da PM”, disse. Ele também nega qualquer ameaça contra o policial. “Jamais o ameacei. Quem é o louco de fazer ameaças contra um membro da polícia?”

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