Dilmércio Daleffe
Drogas e violência doméstica. Essas foram possivelmente as maiores causas de mortes entre mulheres, não só em Campo Mourão, mas em toda região da Comcam em 2012. De acordo com o Instituto Médico Legal (IML), sete delas morreram na cidade e outras 21 foram assassinadas nos municípios vizinhos. A violência foi semeada de todas as formas. Algumas perderam a vida com pistolas e facas. Outras a base de pedradas. Pelas portas geladas do IML também passaram corpos queimados e enforcados.
Para a delegada Maria Nysa Moreira Nanni, a maior incidência dos homicídios envolvendo mulheres está diretamente ligada a entorpecentes. Somente em Campo Mourão, segundo ela, quatro vítimas estavam envolvidas com o tráfico de drogas – usuárias e traficantes. Outras duas morreram em decorrência da violência doméstica. “É difícil precisar a porcentagem de homicídios envolvendo mulheres por causa dos entorpecentes. Mas aqui, dois terços foram por isso”, afirma.
Crimes
Janeiro de 2012, rua Eulália Carneiro de Campos, Jardim Alvorada, Campo Mourão. Ainda amanhecia quando um homem armado adentrou os fundos de um bar disparando contra Adelson Duarte de Lima. O senhor de 64 anos de idade, dono do bar, dormia num puxado improvisado – ligado ao seu estabelecimento – enquanto era alvejado com um tiro na região da costela. Sua filha, Bruna Duarte da Silva, 18 anos, já estava acordada e esquentava leite para a mamadeira da filha de apenas sete meses. Ela correu para não ser atingida, mas não adiantou. O autor do disparo a alcançou e acertou sua cabeça e o braço direito. Bruna morreu na hora, no meio da rua. Segundo informações da polícia, um papelote de cocaína teria sido encontrado junto ao corpo da menina. Vizinhos disseram que ela era usuária, embora se tratasse de uma jovem tranqüila, voltada à maternidade.
Outra vítima de 2012 foi Sara Jéssica Aguero que, aos 14 anos, também foi alvo dos criminosos. Menina alegre, extrovertida, falava Guarani, Português e Espanhol. Aplicada e com gosto pela leitura, sempre foi uma das melhores em sala de aula. Mas a menina entregou-se as más companhias. A garota carinhosa e meiga buscou a convivência errada. Mudou o visual, cortou o cabelo e, os inocentes desenhos de antes, transformaram-se em caveiras. No dia 15 de fevereiro a menina foi assassinada no Parque das Torres. Pagou por algo que não fez.
Sara havia ido ao interior do parque na companhia de outra menor, Letícia. Lá, segundo levantamento da polícia, uma discussão entre outros jovens culminou no assassinato das duas adolescentes. Sara e Letícia foram mortas a pedradas. Aos 14 anos, os sonhos de Sara foram proibidos, interrompidos sem piedade. A menina feliz e sorridente teve sua morte decretada pelas mãos de um assassino sem igual. Na desilusão do caminho escolhido, Sara morreu inocente, como um anjo sem pecados. A guerra entre o bem e o mal, definitivamente, está longe de terminar.
Mortes de mulheres no Brasil
De acordo com o Mapa da Violência do Brasil, entre 1980 e 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres, sendo 43,5 mil somente na última década. O número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.297, o que representa um aumento de 217,6% – mais que triplicando – nos quantitativos de mulheres vítimas de assassinato. Também pode-se observar que o crescimento efetivo acontece até o ano de 1996, período em que as taxas de homicídio feminino duplicam de forma exata. A partir daquele ano, as taxas permanecem estabilizadas em torno de 4,5 homicídios para cada grupo de 100 mil mulheres. No primeiro ano de vigência efetiva da lei Maria da Penha4, em 2007, as taxas experimentam um leve decréscimo, voltando imediatamente aos patamares anteriores.
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