segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Trabalho policial refém de presos

Enquanto o número de policiais vem se mantendo insuficiente no Paraná, o índice de gente fazendo coisa errada só aumenta. A conseqüência é uma só: muitos detentos pra pouca polícia. A situação piora ainda mais porque a unidade civil da polícia está virando refém da custódia de presos. Hoje, pelo menos na região de Campo Mourão, 70% do tempo dos policiais é dedicado aos aprisionados. Restam outros 30% para o trabalho investigativo, aquele essencial para prender criminosos. A situação não vai nada bem. Em algumas delegacias, policiais chegam a servir como uma espécie de psicólogos. Têm que ouvir reclamações amorosas e até depressivas dos detentos.     


Dilmércio Daleffe
Wilian é um jovem preso por assalto. Está na cadeia de Engenheiro Beltrão numa cela onde caberiam seis pessoas. Mas divide o espaço com outros 23. Sem ventilação, passa o dia sob um calor de 30 graus. Improvisou alguns ventiladores para amenizar o drama. O problema é que já foi julgado e condenado a seis anos de detenção. Ele não deveria mais estar ali e sim, ser removido a uma penitenciária. Enquanto permanece, torna-se mais uma pedra no caminho da Polícia Civil. É que, ao invés de passar o dia investigando crimes contra a população, policiais perdem seu tempo com a guarda dos detentos. Acabam se envolvendo com problemas íntimos, médicos e até amorosos dos aprisionados. A situação das delegacias da região de Campo Mourão, definitivamente, não vai nada bem.  
A realidade é que, policiais que deveriam estar na rua investigando, ficam a mercê dos detentos. “Se der investigamos”, afirma o delegado chefe da delegacia de polícia de Engenheiro Beltrão, Reginaldo Caetano da Silva. Segundo ele, sua equipe passa a maior parte do tempo voltada aos aprisionados, restando à população o consolo e a paciência para poder desvendar determinados crimes. Segundo ele,  70% do tempo da polícia hoje é gasto com presos. Restam apenas 30% para cumprir o verdadeiro papel da investigação. “Se não tivéssemos que custodiar os detentos, aqui em Engenheiro Beltrão já teríamos elucidado todos os delitos”, explicou Silva.  
Hoje, a delegacia de Engenheiro Beltrão conta com 68 detentos. Destes, 19 não deveriam mais estar ali. Eles foram condenados e tinham que estar em presídios maiores. São apenas seis celas para acomodar todo mundo. Pela lei, apenas 12 pessoas poderiam permanecer encarcerados no local. Mas não é o que ocorre. De acordo com o delegado, a cada seis metros quadrados deveria haver somente um presidiário. “Cuidar dos presos fere a Constituição. Não temos esta missão. Hoje não se investiga como antigamente”, diz o delegado. Em 2011, em Beltrão, houve apenas uma fuga. Este ano foram duas tentativas sem êxito.   


A equipe da polícia não é grande. Além de Reginaldo somam-se quatro investigadores e mais dois profissionais cedidos pelo próprio município. Sem serem policiais, os dois trabalham como escrivães. À noite, sempre um membro da equipe colabora na vigilância dos detentos. Mesmo assim, segundo Reginaldo, trata-se de uma “guarda deficitária”. Mas se vale de consolo, ao fundo, três cães vira-latas ajudam na vigilância. É o que tem.
Pior ocorre em Barbosa Ferraz, onde um simples vigilante da prefeitura, desarmado, faz a guarda. Barbosa ainda registra um saldo negativo em fugas ao longo dos últimos dez anos. Numa delas, em 2004, um dos foragidos retornou às celas por livre e espontânea vontade. Na época ele disse que estava com fome. Atualmente o município conta com 18 presos, num local onde deveriam estar apenas oito. Além disso, oito deles também já estão condenados.        
       
Segurança pública às moscas
Walter Pereira
A segurança pública em Farol está às moscas. A exemplo de outras cidades, a Polícia Militar enfrenta dificuldades que vão muito além da falta de pessoal. Lá, são os policiais cuidam de 15 presas na cadeia feminina. O pior é que atualmente apenas três soldados estão de serviço na cidade. Outros dois estão afastados. Segundo o comandante do destacamento, Nelcides Antonio da Silva, o trabalho da PM, de prevenção, é feito apenas ‘quando dá’. “O nosso foco tem sido somente a delegacia”, ressaltou.
Apesar de inúmeros anúncios, a transferência das presas e o fechamento da cadeia continuam uma incógnita. Outro problema, é que a cadeia funciona além da capacidade. São apenas 10 vagas, mas abriga 15 detentas. Algumas delas dormem como podem, nos corredores. A estrutura física do prédio também chama a atenção. O local praticamente não possui sistema de segurança algum. Reflexo da fragilidade são as constantes fugas no local. Apenas os muros altos e arames de serpentinas colaboram contra fugas.  A falta de segurança do prédio fez com que a polícia reduzisse até mesmo o tempo de banho de sol.
A reportagem da TRIBUNA esteve na carceragem no início dessa semana e constatou que apenas um policial faz a escala de serviço por dia. O pior é que o PM dividia o trabalho de cuidar das presas com as rondas na cidade. Uma missão praticamente impossível a qualquer ser humano. “A cidade está largada. A situação está crítica. Não cabe a Polícia Militar o serviço de carceragem”, disse Silva. Ele acrescentou que o trabalho da PM vem sendo feito como pode.
 Mamborê
A questão das carceragens superlotadas é um problema crônico que atinge praticamente todas as delegacias do Estado. Em Mamborê, por exemplo, não é diferente. Apesar da delegacia ser bem estruturada fisicamente, com sistemas de segurança, equipamentos de informática e três galerias com solários, a carceragem está superlotada. Com capacidade para 12 presos, abriga 42. Está funcionando quatro vezes acima da capacidade. Dos detentos, 23 estão condenados.
De acordo com o delegado Antonio Cesar Pereira dos Santos, alguns presos são de alta periculosidade, como assaltantes de ônibus, homicidas, latrocidas e traficantes. O efetivo policial no local é outro problema. São apenas três investigadores, mas dois estão afastados. Ou seja, atualmente apenas o delegado e um investigador fazem os trabalhos. Na quarta-feira, não havia nenhum investigador, apenas o delegado. A delegacia conta com um único escrivão contratado pelo Estado.
Santos informou que seria necessário, no mínimo, a contratação de mais dois investigadores e um escrivão. Na situação atual, ele disse que a Polícia Civil praticamente não tem como fazer investigação no município. “Mais da metade do nosso tempo é para custodiar presos”, informou. O delegado acrescentou que seis presos estão em regime semi-aberto. Ele está na expectativa de que pelo menos os condenados sejam transferidos à penitenciária de Cruzeiro do Oeste. Apesar de todos os problemas, Santos considera o clima no interior da carceragem tranquilo. Do lado de fora, o delegado mantém uma horta para alimentação dos próprios presos. O pátio da delegacia é também ocupado por vários veículos apreendidos. 
Delegacia de Campo Mourão mantém histórico de superlotação
Tayenne Carvalho
A cadeia de Campo Mourão tem como um dos maiores problemas a superlotação. Além disso, a falta de efetivo também é uma situação que dificulta o andamento das atividades. A situação está caótica, segundo afirmou o delegado chefe da 16ª Sub Divisão Policial José Aparecido Jacovós.
A cadeia de Campo Mourão tem capacidade para 70 pessoas. No entanto, somando os detentos do regime semi-aberto, são aproximadamente 220 presos. Destes, 50 já estão condenados. “Tiraram 33, mas continua superlotado”, explica o delegado. A situação compromete tanto as condições de quem está preso, quanto o trabalho dos policiais civis.


Quanto ao número baixo de efetivo, Jacovós explica que “acaba tendo um comprometimento da investigação, porque policiais que deveriam estar na rua, estão fazendo trabalho de escolta de presos, tanto na civil quanto na militar. O fato de ter de colocar policiais para cuidar, transportar e escoltar presos, compromete a investigação”.
Além disso, a carceragem tem uma estrutura precária. Os presos têm de ocupar as galerias e as celas não têm portas. Pela superlotação, não há espaço para todos. Segundo o advogado e presidente da Comissão dos Direitos Humanos, representada pela OAB de Campo Mourão, Andrey Legnani, a rede de esgoto na carceragem não é suficiente, ficando sua vazão comprometida. Além disso, os presos têm pouco volume de água nos encanamentos.

Tranquilidade na cadeia de Iretama
Clodoaldo Bonete
Prédio bem conservado, sem lotação na cadeia e refeições de qualidade. Embora não pareça, a descrição feita é de uma delegacia da Polícia Civil da região. Em Iretama, a cadeia tem capacidade para 12 presos, mas acomoda 14, apenas dois a mais. Ou seja, ao contrário da maioria de outras unidades, onde a população carcerária chega a quadruplicar. “A comida aqui é muito boa. Ninguém tem do que reclamar”, gritou um preso, sem mostrar o rosto, enquanto recebia uma marmita com arroz, feijão e carne. Um cozinheiro prepara a comida na cozinha da delegacia, onde até os policiais se alimentam. “Os policiais sempre comem aqui também, porque a comida é boa mesmo”, disse o mestre-cuca, que pediu para não ter o nome divulgado.
A delegacia de Iretama passou por reformas há pouco tempo. Além de pintura nas paredes, as celas foram todas reforçadas e não há registro de fugas na cidade desde 2009. São dois investigadores, dois escrivães e uma viatura. Eles se dividem nos plantões e tudo o que entra na cadeia para os presos é minuciosamente vistoriado.
Um dos escrivães, que não quis se identificar, disse que a equipe fica muito atenta nas horas das revistas. “Não entra nada que possa facilitar uma fuga. A Polícia Militar faz revistas nas celas, mas não tem encontrado nada”, disse ele. Como não há plantão à noite – apenas prisões em flagrantes são atendidas no período noturno -, o cuidado é redobrado. Isso para que os presos não se apoderem de serras ou outras instrumentos que possam danificar ou abrir buracos. Além disso, nos fundos da delegacia, uma cadela Rotweiller mantém a vigilância. 
A cadeia é composta por quatro celas, com três camas cada uma e banheiro com chuveiro. Diariamente, das 09h30 às 17 horas, os detentos passam no solário. No final da tarde são recolhidos. Em Iretama, a massa carcerária poderia ser ainda menor que sua capacidade, mas pelo menos três presos condenados ainda não foram levados para a penitenciária de Guarapuava. “Temos um outro preso também que cumpre pena no regime semiaberto. Ele trabalha durante o dia e passa as noites, feriados e finais de semana na cadeia. As visitas são liberadas nas quartas-feiras, das 14 às 17 horas. Por ser sede de comarca, Iretama recebe também presos de Roncador. Na cidade vizinha não há cadeia.
 Um destacamento no parquinho
Clodoaldo Bonete


Em Luiziana, o prédio que acolhe os policiais militares nem ao estado pertence. Trata-se de uma edificação antiga, mantida pela própria prefeitura num local onde deveria conter um parquinho infantil. Sim, ao invés de existirem crianças brincando, conforme diz a placa ainda resistente ao tempo, encontra-se a sede da PM. O local se resume a tranqüilidade. Sem muitas ocorrências, até as duas celas foram desativadas. Lá não existem presos, nem policiais civis. Quem comete crimes na cidade é encaminhado para a delegacia de Campo Mourão, sede da comarca. Segundo o sargento Almir Quichaba, que já comandou o destacamento de Luiziana, a delegacia da cidade nunca recebeu presos. Trabalho a menos.
Muitos presos, poucos policiais
Ana Carla Poliseli


Quinta-feira é dia de visita na delegacia de Peabiru. Se normalmente já há muito trabalho, durante a quinta, os quatro agentes ficam exclusivamente para cuidar da comida levada a carceragem e das visitas. “É que nestes dias, tem muito preso que tenta sair disfarçado. É preciso muita atenção”, conta o delegado Adriano Garcia Evangelista dos Santos, responsável pelas delegacias de Peabiru e Araruna.
A carceragem que deveria abrigar 16 presos possui três vezes esse número. Em três galerias, estão 52 pessoas. Uma das celas, de 12 m2, é destinada as seis mulheres sob custódia na delegacia. Com isso, cada homem ocupa aproximadamente um metro quadrado. Bem abaixo do recomendado que é de seis metros quadrados por pessoa. Além das galerias destinadas aos homens e mulheres, existe uma cela chamada segura e uma para adolescentes. Entre os que estão ‘amontoados’, 15 já poderiam estar em penitenciárias. Mas faltam vagas no sistema penal.
            Apesar da superlotação, há quase dois anos, não há fugas. Até então, a média de fugas era de três por ano. Para o aparente ‘milagre’ não há segredo. “Desde que eu assumi, fazemos revistas três vezes por semana e sempre sigilosas. Além disso, fizemos algumas obras para reforçar as instalações.” Em menos de dois anos, a população carcerária passou de 32 presos para 52. “Resultado das ações que desmantelam várias quadrilhas. Por isso mesmo, o Estado nunca vai conseguir que o sistema acompanhe o número de presos”, acrescenta Santos.
Sem espaço, a revista é mais complicada e os motivos para motins aparecem rapidamente. Todas as semanas, quatro horas são perdidas com a revista da alimentação levada por parentes.  “O agente não pode sair porque precisa ser babá de preso. A quinta-feira mesmo é um dia morto para investigação. Mas ainda assim, com todas as dificuldades, prendemos muita gente.”
Na delegacia, uma cela é dedicada às mulheres. Nas paredes, a pintura é rosa. “A gente não tem reclamação não”, comenta uma das detentas. Era dia de visita e ela deixou a reportagem para voltar sua atenção à família. Nos fundos, três presos trabalhavam na pintura do muro. A calçada que contorna a delegacia também foi obra dos internos. O delegado explicou que eles estão no programa de benefício de remissão. A cada três dias trabalhados, um dia da pena é reduzido. Para participar, é preciso ter bom comportamento.
O aparelho para ginástica também foi construído pelos detentos. Madeira e concreto formaram um alteres, muito disputado. Para quem fica confinado, algumas horas de força são exercício para o corpo e alívio para a cabeça. Segundo o delegado, o número e a qualidade das viaturas é exemplar. São quatro veículos novos. Com a Receita Federal, a delegacia recebeu doações de computadores, impressoras e fax.
 Araruna: reforma em andamento
Ana Carla Poliseli
Apesar dos presos de Araruna ficarem em Peabiru, a delegacia que ficou por mais de um ano fechada foi reaberta recentemente. As portas receberam novos batentes, o chão foi trocado e a pintura na parede deve ser feita em breve. “A gente tenta investir nesse primeiro atendimento à população. Para resolver os problemas e não traumatizar ainda mais quem já está fragilizado.

João e Helena, os brasileiros


João e Helena são companheiros. Trabalharam durante toda a vida e ainda continuam “duros”. São como um retrato fiel do brasileiro. Perderam as esperanças em promessas. Mas acreditam numa intervenção divina.


Dilmércio Daleffe
João tem 69 anos. Nasceu na roça lá pelos lados de Pitanga. Até os 12 plantava e colhia com os pais. Saiu cedo de casa e virou latoeiro de carros. Trabalhou a vida toda e acabou aposentado recebendo R$620 ao mês. Helena está com 59. Também cresceu entre as lavouras de milho e feijão. Depois de criar 12 filhos, ainda não se aposentou e é obrigada até hoje a manter pequenos bicos para ajudar na casa. João e Helena moram juntos, são companheiros há cinco anos. Quis o destino que se conhecessem em 2007, em Iretama. Diante das dificuldades, o casal é um retrato fiel da realidade brasileira. Vivem sem dinheiro, estão constantemente “duros” e, ainda, pagam aluguel. Pra piorar, parte da renda fica na farmácia. Ontem, o almoço se resumiu a arroz, feijão e quirera. João e Helena são legítimos brasileiros e moram bem pertinho, em Campo Mourão.
Uma velha e pequena casa de madeira na rua Egydio Cardoso Lima, número 52, no Jardim Gutierrez, abriga o casal. Ela é alugada e rende R$200 por mês ao dono. Da aposentadoria de João, outros R$200 também já estão comprometidos com um empréstimo. Ou seja, sobram apenas R$220 ao mês. Mas ainda tem a água, a luz, o mercado e a farmácia. Aí entram os bicos de Helena. Mesmo assim, antes de chegar o dia 15, a grana já era. O jeito então é apelar a vizinhos e a comunidade. O casal ganha um feijão aqui, um arroz ali, um café lá, e assim sobrevive. Chega ser uma humilhação a quem não consegue mais trabalhar. Matam um leão a cada dia. Ainda assim candidatos já passaram por lá, prometendo coisas, implorando votos. “Pode deixar que venham. Não acredito em política. Minha vida não vai melhorar em nada”, diz João.
Helena Sutil Donato mostra no rosto a vida sofrida deixada na roça. Foi um tempo difícil quando sacrificou a infância pelo trabalho. Já aos oito anos plantava de tudo. As mãos da menina ficaram calejadas aos dez. Nunca estudou. Ainda é analfabeta. Mesmo assim, criou 12 filhos. Acabou separada do marido há 20 anos. Lutou sozinha pela sobrevivência dos menores. Aprendeu a levantar cercas em propriedades rurais de Nova Tebas. Trabalho de homem. Vez em quando levava a filha de quatro meses dentro de um cesto até o campo. Numa manhã, enquanto a menina dormia, distanciou-se um pouco para apanhar água. Quando voltou, uma cascavel já estava sobre a criança. “Peguei a menina pelo cabelo e a arranquei duma vez do balaio”, disse. Dias depois, a cena repetiu-se, mas agora, com uma coral.
João Ketes atuou grande parte da vida como latoeiro. Jamais estudou. Consertava veículos até do Exército. Casou-se com uma moça de Roncador e lá viveram muito tempo. Mas há dez anos ela morreu vítima de câncer. Não tiveram filhos. Diz ele que o sangue dos dois era igual. “Ficamos com medo de ter um filho com problemas”, revelou. Um dia, em Iretama, João e Helena se conheceram. A vontade de se ver aumentou. Aí decidiram juntar os trapos. E eram poucos. Com problemas de saúde, João achou melhor morar em Campo Mourão. Estão na cidade desde 2007. Chegaram com algumas panelas e nada mais. Aos poucos foram ganhando móveis e mobília. Hoje vivem bem, mas ainda no aluguel, sem televisão e sem rádio.
O casal passa o dia na varanda da casa. Pensam na vida sobre um sofá velho, cujos pés acabaram substituídos por tijolos. O local fica em frente à mata do Rio do Campo. Nem parece que está na zona urbana. Afinal, vivem olhando o rio, capivaras, pássaros e o mato. Uma paz e tranqüilidade absurdas.
Sem dinheiro para o gás, Helena construiu um fogão a lenha. Na verdade o improvisou. Ainda sentada, de longe avista o “tanquinho” novo para lavar roupas. Presente de uma das filhas. “Tudo que tem dentro da casa foi ganhado. Não temos condições para comprar nada”, revela João. Segundo ele, “estão sempre duros”, como a maioria dos brasileiros. Não fosse a ajuda solidária da comunidade e dos filhos de Helena, o casal certamente passaria fome. Mas crentes em Deus, ainda acreditam numa intervenção divina. Afinal, é o que lhes resta. Sabem que promessas são como o vento, que vem e vai.           

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O dia após a tragédia

Espaço atingido foi totalmente devastado


Dilmércio Daleffe
O dia 13 de agosto jamais será esquecido pelos proprietários da Auto Peças Cometa, grupo tradicional de Campo Mourão. Após o incêndio, começam agora os trabalhos para readequar o espaço destruído. O local servia como estoque para diversos equipamentos, além de rolamentos e amortecedores. Ainda não há uma estimativa dos prejuízos. Mesmo assim, dos males o menor. A empresa é assegurada e ninguém se feriu. De acordo com o empresário Denir Daleffe, um dos sócios do grupo, as causas ainda são desconhecidas.  
Labaredas chegaram a 20 metros de altura


Depois do susto, Daleffe disse que, mesmo diante da tragédia, viu-se a união dos funcionários em prol de uma mesma causa: combater o fogo. Ele também elogia a bravura do Capitão do Corpo de Bombeiros de Campo Mourão Leandro Calegari e sua equipe. “Temos só que agradecer aos bombeiros”, afirmou. Calegari, inclusive, foi o último a deixar o local. Por volta das 22h, enquanto familiares retiravam a água do prédio, ele continuava entre as cinzas ajudando no combate a pequenos focos. Auxiliava, revirava os entulhos e jogava água. Foi um incansável. Ainda ontem, o grupo recebeu mensagens e telefonemas de muitas pessoas se solidarizando com a empresa. Algumas ofereceram ajuda. Daleffe também elogia a figura do presidente da Coamo, José Aroldo Galassini, que enviou apoio através de caminhões pipa.
Local destruído
O local atingido pelo fogo mantinha milhares de peças para automóveis. Com labaredas que chegaram até 20 metros de altura, o cenário não poderia ser outro senão de destruição. Ao amanhecer foi possível verificar os danos. A cobertura foi completamente devastada, ficando os ferros retorcidos pelo calor. Por pouco o incêndio não se propagou a outros departamentos.
Mesmo diante do imprevisível susto, a empresa arregaçou as mangas e voltou ao trabalho ontem pela manhã. Muito possivelmente reflexo da pujança de seus fundadores. Idealistas de uma empresa com 50 anos de atividades em Campo Mourão, os Daleffe não descasaram. Permaneceram entre as cinzas até as 23h da última segunda-feira. Foram embora apenas depois de retirarem a água do prédio. Foi apenas mais um susto para quem já derrotou diversos obstáculos pelo caminho de cinco décadas.            

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Onde está Nilton?



Onde está Nilton?


Dilmércio Daleffe

Uma reportagem do Blog "Por Onde Ele Anda", colaborou para encontrar uma das filhas de Nilton Cornélio Bernardes, o homem da pasta 007. Nilton tornou-se andarilho das estradas depois de deixar sua casa já, há alguns anos. Desde então vive num mundo só seu. Uma de suas filhas entrou em contato e pediu informações sobre o pai. Segundo ela, há tempos ninguém o vê. Mas agora a família precisa encontrá-lo. Seu paradeiro pode ser enviado para esta mesma postagem.

Nilton foi entrevistado em dezembro de 2011 na BR-369, quilômetro 375, entre Campo Mourão e Ubiratã, no Paraná. No entanto, no início de janeiro, ele foi visto em Engenheiro Beltrão, na rodovia com direção à Maringá. Aos 57 anos de idade, Nilton Cornélio Bernardes vive num universo só dele. Trata-se de um mundo paralelo onde tudo gira ao seu redor. Em resumo, é o dono e rei do seu próprio pedaço. Há oito meses foi encontrado carregando uma pasta preta do tipo 007. Cansado, sentou sob a sombra de um barranco e tirou os sapatos. Os dois furados. Os pés estavam machucados. Nilton é um homem sofrido.

Ali entre o gramado da BR e o barranco, Nilton sentou-se sobre o cimento da canaleta e falou da vida. Nasceu em São Jorge do Ivaí e depois de algum tempo casou-se com uma mulher que prefere nem mencionar o nome. Da união nasceram quatro filhos. Na reportagem ele teria revelado fatos que, segundo a filha, não aconteceram. Foram inventados por ele mesmo. Quem tiver informações sobre Nilton entrar em contato com o blog. A família agradece.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Josnnatan: a voz de ouro da OAB

Um telefonema. Uma voz. Uma surpresa. Quem liga para a OAB, regional de Campo Mourão acaba por escutar um sonoro, grave e agradável vozeirão. Mas afinal, quem está por trás da linha?

Dilmércio Daleffe
Quem liga pela primeira vez ao escritório regional da Ordem dos Advogados do Brasil de Campo Mourão (OAB) se espanta. É que do outro lado da linha uma voz firme e grave responde “bom dia” ou “boa tarde”. A agradável surpresa soa como um vozeirão descomunal. Aos desavisados, a entonação até desconcentra. Mas em alguns casos, mulheres chegam a ligar, apenas com o objetivo em escutar aquela entonação. Afinal, quem é o sujeito por trás desta voz? Quem é o dono da tão conhecida voz da OAB?
Do outro lado da linha quem atende aos telefonemas é Josnnatan Vaz Santos, um jovem de 27 anos de idade. Para espanto de todos, é ainda um menino de corpo franzino, bastante tímido e, certamente, de alma pura. É visível sua integridade. Quem não o conhece chega a pensar numa pessoa mais velha, alta, grande. Mas não é nada disso. Josnnatan é somente mais um rapaz latino americano, honesto e trabalhador. Está na regional há oito anos. Começou aos 20 como atendente. Hoje é auxiliar administrativo e acaba fazendo de tudo um pouco, como por exemplo, atender às ligações.
Josnnatan nasceu e se criou em Campo Mourão. O pai mineiro conheceu a mãe paranaense também por aqui. O rapaz vem de uma família de cinco filhos. Ele é o mais novo. Os outros quatro estão por aí, cada um na sua. Mas segundo Josnnatan, com vozeirão é só ele mesmo. “Nunca reparei se meus irmãos têm uma voz parecida. Acho que não”, disse. Ainda solteiro e morando com os pais, ele confessa que já houve casos de cantadas ao telefone. “Já aconteceram algumas vezes. Mas em tom de brincadeira”, disse.  
Josnnatan acaba de se formar no curso a distância de Tecnologia em Processos Gerenciais, através do Cesumar. Conta que agora pode atuar em departamentos administrativos de grandes empresas. Mas enquanto isso não acontece, continua feliz junto a OAB. “Aprendi muito. Devo isso ao pessoal daqui”, conta. Tímido, ele acaba confessando que escuta elogios quanto a voz. Um vozeirão, diga-se de passagem. Até para dar entrevista aparece a grave entonação. “O pessoal elogia mesmo”, admite. Definitivamente, Josnnatan é um cara de sorte. Se não der certo na OAB ou na faculdade recém concluída, ainda terá várias opções de emprego na comunicação. Rádio e Tv apenas como exemplos. Se o destino for ainda mais cruel, poderá tentar a vida artística como cantor. Vai saber...