Restando um mês para o Dia de Finados, muitos cemitérios da região ainda revelam falta de cuidados. Alguns não tem muros. Outros nem ao menos calçamento. Os problemas não vem de agora, mas sim, de muito tempo. Quem acaba pagando pela falta de zelo é a própria população. Em dias de chuva, os cortejos em alguns campos santos são realizados sobre o barro e a Lama. Falta dinheiro ou respeito para que a solução apareça?
Luiziana
Cortejos sobre terra e barro
Dilmércio Daleffe
O cemitério municipal de Luiziana já teve dias piores. Há quatro anos, nem muros tinha. Hoje, no entanto, o quadro é diferente. Todo murado, o campo santo mantém uma tranquilidade invejável. São apenas dois funcionários, ambos pertencentes ao município. Mas nenhum é coveiro. Foram removidos de suas funções para cobrir a ausência dos dois antigos profissionais, demitidos há cinco meses.
O local está limpo, sem sujeira e sem mato. Mas a falta de calçamento é o grande obstáculo. Desde a entrada até as sepulturas é só terra. Nada de pavimento. Em dias de chuva as famílias têm que suportar o barro. Não há outra saída. Mesmo em meio aos túmulos apenas terra e alguns pedriscos. Nem grama existe. Possivelmente, por esta razão, possui aspecto de mal cuidado. Além disso, algumas dezenas de túmulos já não possuem identificação. Foram esquecidos por familiares.
De acordo com Darci de Souza, um dos responsáveis pelo local, vez em quando alguém deixa presentes indesejáveis. Velas pretas, vermelhas e amarelas, assim como cestos com pipocas, ou até cachaça, são encontrados com certa freqüência. Ele preferiu não dizer. Mas trata-se de macumba mesmo. Companheiro de Darci, José Nilson Gabriel diz não ter medo. “Trabalhar aqui é muito sossegado. Nunca vi nada de errado, não”, garante. Ele quer dizer que assombrações não existem. Pelo menos ali. “Assombrado mesmo é só debaixo daquelas árvores”, brinca. Nem 50% do cemitério foi ocupado. Há “vida” útil para muitos anos ainda. Ao contrário do cemitério de Campo Mourão, onde alguns mortos já andam sendo despejados. A TRIBUNA entrou em contato com a prefeitura para repercutir sobre a falta de calçamento. No entanto, ninguém retornou a ligação.
Roncador
Sem muros e sem pavimentação
Ana Carla Poliseli
Entre os primeiros túmulos do cemitério de Roncador, calçamento e alguma grama. Na parte mais recente, apenas barro. Como o terreno não é plano, o registro das chuvas que caíram nos últimos dias está nos caminhos que a enxurrada deixou entre as sepulturas. Mas o aparente abandono não está apenas na falta de infraestrutura. Muitas covas estão afundando. Sobre o caixão foi colocado apenas terra. Em outras, os familiares dos ocupantes deixaram de fazer manutenção. Tijolos caídos e sem pintura são a última morada de muitos roncadorenses.
Apenas um coveiro é responsável pelo local e em alguns momentos ninguém está presente. O muro é apenas em frente. Dos lados, uma cerca de arame delimita o terreno. No lado direito, onde passa uma estrada de terra o arame já foi cortado e é possível entrar até de carro no campo santo. Mesmo com todos os problemas, o cemitério é limpo e não há problemas de falta de espaço, pelo contrário, um quarto do terreno ainda está sem túmulos.
Iretama
O cemitério municipal de Iretama se mostra bem cuidado e há pavimentação na maioria das ruas principais. Onde ainda não foi construída, ela é delimitada pelo meio fio, o que impede que a terra desça pela força da água das chuvas. Entre os túmulos, a grama faz o papel de pedregulhos, impedindo que os cortejos se estendam pela lama. No distrito de Águas de Jurema, antiga Água Fria, há um cemitério desativado. Os corpos permanecem no local, mas ninguém mais pode ser enterrado lá. A prefeitura mantém apenas a estrutura básica.
Farol
Sem calçamento, porém organizado
Clodoaldo Bonete
O campo santo de Farol encontra-se bem organizado. Embora não tenha calçamento, o acesso principal, do portão ao Cruzeiro, é gramado. O responsável pelo local, Marcos Terra, mantém a grama aparada e não permite que lixo se acumule entre as sepulturas. “Sempre faço a limpeza, juntando papel, e principalmente folhas que caem das árvores”, afirma. Terra é o coveiro do cemitério, mas não tem muito serviço em Farol: “Faço em média, de dois a quatro enterros por mês, mas tem mês que ninguém morre”, comenta ele.
O cemitério é todo cercado, mas apenas a parte frontal é feita de tijolo. “O restante é de arame farpado.” Terra, que é marceneiro, prestou concurso de coveiro há dois anos e meio e assumiu a função. “Esse cemitério tem mais de 30 anos. Foi construído quando Farol ainda era distrito de Campo Mourão”, diz. Segundo ele, há registros de 648 pessoas sepultadas no local.
Campo Mourão
Superlotação é problema rotineiro
Tayenne Carvalho
Sem previsão de novo cemitério, o São Judas Tadeu continua recebendo sepultamentos, mesmo passando por problemas de falta de espaço. Por este motivo, foi realizado um levantamento dos túmulos abandonados para disponibilizar novas vagas. Ou seja, sobrou para os mortos. Muitos deles foram removidos, numa espécie de “despejo”. Além disso, a falta de calçamento entre os túmulos e problemas com muros espelham o local ao descaso.
Para a remoção dos túmulos abandonados, o secretário de Obras, José Marim, diz acreditar que passará de mil notificações para regularização. Elas são feitas através de publicação no Órgão Oficial do Município e tem prazo de 90 dias para a regularização das sepulturas. Mas isto está sendo feito aos poucos e a população está sendo avisada. “Estão reavendo alguns espaços e o cemitério continua recebendo sepultamentos normalmente”, afirma ele.
O aposentado Alfredo Eleotério da Luz aprova essa ação. “Tem muita gente que não cuida e está faltando terreno. Tem muitos túmulos abandonados”, diz. O aposentado João Damas Ferreira está regularizando o túmulo do pai, que faleceu há dois anos e meio. Estava apenas no cimento e agora está encobrindo com azulejos. “Se todos fizessem igual a gente faz, as coisas iam melhorando. Ia ficar bonito. Desses túmulos, a massa fica caindo, estraga, não tem jeito nem de lavar”, lamenta. “É uma coisa que fica pela metade”, comenta.
“Agora não está tão grave. Pelo menos estão avisando e chamando para a regularização. Antes não faziam isso”, afirma Alfredo. Em 1998, segundo ele, chegaram a vender terra onde estava enterrado parente seu. “Fui para justiça e ganhei. Mas é uma falta de respeito muito grande. Agora divulgaram bem e estão atualizando as escrituras também”, afirmou.
O cemitério municipal tem 20.511 sepultamentos registrados oficialmente. O primeiro foi em 1958. Segundo o administrador, Paulo Rogério Souza Leite, em Campo Mourão são realizados aproximadamente dois sepultamentos por dia. Neste mês já foram 56 e no ano, 498. Porém ele explica que estes são os números oficiais. Têm mais sepultamentos realizados que não apresentaram o atestado de óbito e, por este motivo, não constam no sistema.
O São Judas Tadeu vinha sofrendo problemas também com o muro que havia caído e com a água da chuva que acabava acumulando e piorando a estrutura. “Os muros não têm fundação, são muito fracos, aí cai. E as ruas, se arrumassem, ficava bonito. Não ficava terra. Quando chove, pisa aqui, pisa ali, suja tudo de lama”, diz Alfredo. Segundo o secretário Marin, as obras no cemitério municipal devem terminar em até 20 dias. “As galerias pluviais já estão prontas. São três entradas da rua até o cemitério. Agora faltam os muros, que já estão sendo finalizados”.
Já o Cemitério Parque que está sendo construído no Jardim Cidade Nova, ainda não tem data para inauguração. Este novo cemitério é particular e o município fará a pavimentação da via Engenheiro Mercer até o portão de entrada, além da iluminação pública no local. Marin afirma que já foi lançado no orçamento e que será feito a partir do próximo ano.
Cemitérios desativados
Alguns cemitérios do município guardam hoje apenas lembranças. Na estrada Boiadeira são dois. Um no Km 123 e outro no Km 31. Os dois já estão desativados há muito tempo. Eles surgiram por iniciativa das comunidades que moravam no local e hoje estão completamente abandonados. Oficialmente são denominados como clandestinos. Restos mortais inclusive começam a ser transferidos para o São Judas Tadeu. Mas o problema é que muitas famílias foram embora. Possivelmente, dezenas de corpos continuarão por lá. O mesmo acontece com o cemitério de Piquirivaí, desativado há aproximadamente dez anos.
Araruna e Peabiru
Respeito e organização
Walter Pereira
A população de Araruna e Peabiru não tem do que reclamar quanto aos seus cemitérios. De modo geral, os campos santos estão bem conservados. Em Araruna, por exemplo, a maioria das passarelas entre os túmulos são forradas por grama. De acordo com o administrador, Isaac Fialho, 7,8 mil pessoas estão sepultadas ali, que existe desde 1943. Na época o município nem era emancipado. Há pouco tempo a prefeitura ampliou uma ala nova para atender a demanda. No município são sepultadas mensalmente uma média de nove pessoas. Apesar de muitos campos santos serem alvos do vandalismo, no município, graças ao apoio da Polícia Militar (PM), raramente são registrados casos de invasores.
Em Peabiru a cena se repete. O cemitério também está bem conservado. Comparado a cemitérios de outras cidade do mesmo porte, pode-se dizer que a cidade está bem servida quando o assunto é campo santo. Segundo Antonio Gato Filho, fiscal do Departamento da Fazenda do município, o local foi fundado em 1954. O número de pessoas sepultadas ultrapassa oito mil. Na cidade, são registrados mensalmente 10 sepultamentos. A prefeitura abriu recentemente uma nova ala para enterros, o que propiciou espaço para pelo menos mais 720 sepulturas.
O cemitério do município é desprovido de malha asfáltica. No entanto, em toda sua extensão, as passagens são cobertas por pedriscos. Filho disse que a prefeitura tem um projeto para asfaltar o local futuramente. Um dos principais problemas enfrentados no local, são as enxurradas.
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