terça-feira, 19 de julho de 2011

A mercê da saúde


A exemplo de outras nove cidades da região, Roncador está oficialmente sem hospital. O município que já se orgulhou em ter dois deles, agora vem sofrendo as mesmas conseqüências que marcaram o fechamento de outras 22 unidades ao longo dos últimos anos na Comcam. Para não deixar a população na mão, a vizinha Iretama vem atendendo os roncadorenses desde fevereiro deste ano. No entanto, ainda resta uma esperança. A prefeitura locou um antigo hospital, está fazendo as reformas solicitadas e, o mais rápido possível, tentará um novo credenciamento junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto isso não acontece, os filhos de Roncador continuarão a nascer em Iretama.

Dilmércio Daleffe

Vanessa Pereira da Costa acaba de ser mamãe. Ela possui apenas 15 anos de idade, uma menina que há pouco deixou as bonecas de lado. Mora em Roncador, mas foi obrigada a ter o pequeno João Victor na vizinha Iretama - pouco mais de 31 quilômetros de distância. Ao invés de um “roncadorense”, nasceu mais um filho de Iretama. Assim vem acontecendo desde fevereiro, quando o único hospital de Roncador perdeu o credenciamento, sendo forçado a paralisar quase todos os atendimentos, incluindo partos. Sogra de Vanessa, Terezinha Medeiros disse que a família teve gastos desnecessários com combustível e alimentação. “Não precisávamos gastar nada se o hospital daqui tivesse funcionando. Foi um transtorno que podia ser evitado”, disse. Assim como adorava suas bonequinhas, Vanessa agora amará seu filho. É a regra da vida. O fato de ter parido em outra cidade é mesmo esquisito, mas é só um detalhe. Afinal de contas, até a comida foi bem elogiada. Mas o que a mais nova mamãe não entende é o porque a população está submetida a distância. Até quando as gestantes de Roncador terão seus filhos em Iretama? Como um município de mais de 11 mil habitantes ficou sem uma unidade hospitalar?

A situação é um pouco difícil de explicar até mesmo pelos diretores da Saúde de lá. Num resumo geral, as instalações físicas do prédio alugado pelo município – o antigo hospital São Luis – não foram aceitas pelos olhos sempre vigilantes da Regional da Saúde. Disseram que a sala do necrotério tinha que mudar de local, que outra sala tinha que ser maior e assim por diante. Com as notificações, o hospital está realizando as reformas necessárias. “Acreditamos que em alguns meses tudo voltará ao normal. A crise está perto do fim”, diz Cristina Salomão, diretora de Saúde de Roncador. Desde que o problema teve início, a equipe do prefeito Agnaldo está sendo obrigada a fazer verdadeiros malabarismos para conseguir atender bem a comunidade.


Mas o histórico hospitalar da cidade é mais complicado do que parece. Até o ano de 2002, o município contava com dois hospitais particulares – o São Luis e a Policlínica São Carlos. Em 2003 o São Luis parou com os trabalhos. A Policlínica passou a atuar sozinha até 2007, quando também chegou a anunciar seu fechamento. Na época, o proprietário alegou que tinha prejuízos. Certamente foi verdade, uma vez que a tabela do Sistema Único de Saúde – SUS – não vem colaborando com a medicina do país, há muitos anos. Foi então que a prefeitura decidiu comprar as instalações da Policlínica.

Um ajuste de conduta firmado entre o município e o Ministério Público fez com que a Policlínica continuasse a atender, mesmo com a precariedade do prédio. Para isso, a prefeitura teria que promover adequações físicas, a fim de tornar a estrutura apta aos atendimentos. Uma ampla reforma seria necessária, praticamente do piso ao teto. Numa primeira avaliação concluiu-se que a obra custaria cerca de R$1 milhão. Uma emenda de R$250 mil, já aprovada, também acabou sendo bloqueada pelo governo federal. Em suma, o município não teria dinheiro para concluir a reforma. O jeito então foi locar o antigo hospital São Luis, levando pacientes, papelada e os demais problemas juntos. O ápice da crise hospitalar do município aconteceu no dia 26 de fevereiro deste ano, quando a cidade passou a ficar oficialmente sem nenhuma unidade médica.



Enquanto as reformas acontecem, a unidade vem servindo como um centro de triagem. Ou seja, é o primeiro atendimento à população. A partir dali os pacientes são encaminhados para baixa complexidade– atendimentos em Iretama, média – em Campo Mourão, ou alta complexidade – direcionamentos para Maringá, Londrina e Curitiba. Dados indicam que mensalmente o município faz encaminhamentos de 1,2 mil pessoas. Somente para Iretama são cerca de oito pacientes levados por dia, de ambulância ou de carro baixo. No começo do ano até o veículo funerário colaborou, mas somente uma única vez. “O importante é que o paciente foi levado a tempo”, lembrou Salomão. Ela explicou que as ambulâncias estavam em viajem.

Embora ainda não se saiba ao certo quando a cidade terá novamente seu hospital funcionando, equipamentos da pediatria e o centro de raio-x, estão parados, às moscas. Dinheiro público a mercê do tempo. Além disso, enfermeiros e médicos de Roncador estão atuando em Iretama, pagos pelos roncadorenses. Trata-se de uma situação adversa a qualquer município. Uma síndrome capaz de aleijar, no mínimo deixar marcas. De acordo com informações, a Saúde está gastando R$50 mil a mais, todo mês com a situação, cerca de R$300 mil até agosto.

Já o prédio do antigo hospital Policlínica São Carlos, pertencente ao município, está lacrado há mais de sete meses. Parte da mobília e alguns equipamentos continuam juntos aos “fantasmas” do local. Corredores solitários, lixo pelo chão e um vazio jamais visto. Em breve, tudo deve ser transformado em repartição pública. Só para ilustrar a história da menina Vanessa, do início da matéria, a prefeitura de Roncador informou que mensalmente 15 gestantes têm filhos na vizinha Iretama. Ou seja, 15 roncadorenses transformados em filhos de Iretama.

Regional explica situação

A situação de Roncador não é tão simples de ser resolvida, informa Nilma Ladeia de Carvalho Dias, Diretora da 11ª Regional de Saúde. De acordo com ela, além das reformas apresentadas no projeto, no caso do antigo hospital São Luis, o município ainda terá que buscar um novo credenciamento do SUS. “Primeiro terão que apresentar as reformas conforme o projeto. Uma vez aprovadas as obras através da vigilância sanitária, terão que correr atrás de novo credenciamento”, explicou.

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