Máquinas, enfermeiros, medicamentos, camas, soro. É neste ambiente hospitalar que uma professora vem alfabetizando renais crônicos do Instituto do Rim de Campo Mourão.
DIlmercio Daleffe
Pedrina dos Santos Nunes, de 43 anos de idade, sai às 5h da manhã de sua casa, em Luiziana, pelo menos três vezes por semana, para submeter-se as sessões de hemodiálise no Instituto do Rim, em Campo Mourão. Lá, além do tratamento de saúde, do carinho de médicos e dos enfermeiros, ela encontrou a atenção de uma professora: Salete Rosnoski Nantes. Até março deste ano, Pedrina era analfabeta. Hoje, já sabe ler e escrever. O aprendizado aconteceu entre máquinas e tubos, na própria cama em que passa quase quatro horas deitada realizando a diálise. A clínica transformou-se em uma sala de aula.
Bóia fria desde criança, Pedrina plantava, capinava e roçava sob o sol forte. Sua vida nunca foi fácil. Filha de um pai antigo, daqueles que pregava que a mulher não precisava estudar, foi logo tirada da escola, sendo impedida de alcançar um dos direitos básicos de todo cidadão: saber ler e escrever. Foi numa outra difícil jornada – das sessões de hemodiálise – quando descobriu que poderia ser igual às outras pessoas. Através de uma simples prancheta, Pedrina alçou um vôo jamais imaginado. “Ano que vem volto para a escola para aprender mais”, afirmou.
Salete, a professora, faz parte do Paraná Alfabetizado, um programa cujo principal objetivo é levar a alfabetização a locais distintos, para pessoas excluídas da educação no estado. Ela chegou ao Instituto do Rim através do médico Dênis Rogério Aranha da Silva, que buscou informações para levar o projeto à clínica. Hoje, segundo a gerente administrativa do Instituto, Ana de Fátima Moraes da Silva, o sucesso do programa é unânime entre os pacientes. “Vamos fazer de tudo para que a professora continue conosco. Além de ser uma grande distração aos renais crônicos, o resultado é muito especial”, disse.
Há um ano e meio, Benedita de Paula Ferreira, de 64 anos de idade, vem realizando sessões de hemodiálise. Ela acorda às 4h da manhã e viaja de Terra Boa até Campo Mourão três vezes por semana para permanecer quatro horas em diálise. No seu caso, a professora colaborou para que revisasse seus conhecimentos, uma vez que já sabia ler e escrever. “Não é fácil ficar quatro horas em uma cama. As aulas me distraem. É muito bom”, disse.
Também de Terra Boa, o estudante Marcos Vinícius, de apenas 23 anos de idade já é um veterano em matéria de diálise. Ele também já sabia ler e escrever, mas as aulas serviram como uma espécie de revisão. “Eu nunca imaginei encontrar uma professora aqui dentro. Tem sido bom para todos nós”, informou. Maria Madalena Guerreiro Moreira, 39 anos, é de Campo Mourão e também enfatizou a importância de Salete na clínica. “Ela é nossa amiga. Nos dá força e estímulo”, disse.
Para a professora, além das aulas o mais importante é estimulá-los a continuar na luta em que enfrentam. “É uma alegria para mim vê-los aprender. É uma satisfação pessoal”, revelou. Segundo ela, a idéia é continuar no programa no próximo ano, principalmente, em decorrência do sucesso obtido em 2009. Resultado das aulas, os pacientes receberam há uma semana os certificados do curso. Todos, sem exceção, conseguiram ler o que havia sido escrito em seus diplomas.
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