segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quatro policiais e um destino



Dilmércio Daleffe
A segurança pública de Mariluz – 85 Km de Campo Mourão – definitivamente não vai nada bem. Embora as estatísticas confirmem se tratar de uma pacata cidade, lá é mais comum encontrar vereadores a policiais. Ao todo são apenas quatro policiais militares para um município com 10,2 mil habitantes. A Câmara conta com nove nobres edis. Trata-se de uma realidade absurda, uma vez que, para cada 2,5 mil habitantes existe apenas um policial nas ruas. A Organização das Nações Unidas (ONU) defende a equação de um profissional para cada grupo de 250 pessoas.

A decadência da segurança pública do pequeno município é explícita logo ao chegar a delegacia. Lá, quem recepcionou a equipe da TRIBUNA foi um dos 19 detentos. Não havia naquele momento absolutamente nenhum policial. A cidade é tão carente em segurança que, muitas das informações foram repassadas pelo próprio prefeito. Os atuais PMs são novos na cidade. Os antigos estão presos em Curitiba.

Eram pouco mais de 15h quando os presos tomavam sol no pátio da delegacia. Eles estavam acompanhados de familiares. Era dia de visita. Nos três cômodos que integram a recepção do prédio, ninguém. Nenhuma viva alma. Tivemos que bater na última porta fechada. Quem a abriu foi um dos presos. “O pessoal saiu, mas daqui a pouco eles voltam”, informou. Questionado se não poderia fugir, ele respondeu que não. “Aqui ninguém foge não senhor”. E não saem porque não querem mesmo. Nos fundos, onde tomam sol, o muro é baixo, conseguindo inclusive se apoiar sobre o portão. Aliás, o mesmo portão não é fechado, pelo menos a tarde. Um dos detentos chegou a abri-lo, saiu na calçada para dar informações a nossa equipe. Depois, voltou e o fechou.

A Polícia Civil, que deveria estar presente no prédio e, consequentemente, cuidar dos presos, lá não existe. O carcereiro não mora na cidade e aparece somente para o banho de sol dos detentos. A unidade está submetida à delegacia de Cruzeiro do Oeste. O único escrivão faz parte dos quadros da prefeitura e até a alimentação dos PMs é fornecida pelo município. “Aqui nós fazemos o boletim de ocorrência, investigamos, prendemos, encaminhamos e, quando da ainda cuidamos dos presos”, afirma o PM Gouveia. “Aqui tem mais vereadores do que policiais. E não é papel nosso zelar dos detentos”, lembrou.

Recém nomeado, o delegado de Cruzeiro do Oeste, Gustavo Tucci, disse que, legalmente, ainda não responde pela delegacia de Mariluz. “Não saiu a portaria me responsabilizando por aquela unidade, ainda”, afirmou. No entanto, ele sabe que a situação por lá anda caótica. “É um absurdo, um descaso”, diz. Segundo ele, logo que a portaria for assinada, ele deverá enviar pessoal da civil. Caso contrário, poderá haver transferência de todos os detentos e, conseqüentemente, parar o atendimento definitivo na cidade. Em resumo, hoje, a delegacia de Mariluz, oficialmente, não existe. Até parece um prédio fantasma assombrado pela ausência da Polícia Civil.

Uma cidade abençoada




A tranqüilidade de Mariluz pode ter o dedo do jovem prefeito Paulo Alves. Aos 40 anos de idade, ele despacha em uma sala da prefeitura cercado por imagens de santos. Na parede, Nossa Senhora Aparecida, na mesa, Santo Antônio. Católico fervoroso, ele pode estar fazendo a paz reinar na cidade. No cargo desde 2009, ele diz que já perdeu as contas de quantas vezes solicitou ajuda do estado para aumentar os muros e colocar cerca elétrica na delegacia. Mesmo assim, há pelo menos cinco anos não existem fugas no prédio.

Ele mesmo confirma ter nas mãos uma cidade pacífica, onde a população se dá ao luxo de jogar um inocente baralhinho no calçadão. O último assassinato ocorreu há um ano e meio e, de lá para cá, o trabalho da polícia tem se voltado praticamente a repreensão ao tráfico de drogas. Com um grande crucifixo no peito, Paulo também é ministro da igreja católica local e divide seu tempo entre a prefeitura e a ida quatro vezes por semana às missas. De volta a sua cadeira, Paulo diz que a cidade ficaria melhor com pelo menos oito policiais. “Mas a situação vai melhorar. O atual governador é nosso parceiro e vai nos ajudar”, disse. Para que isso ocorra, ele vem trabalhando e solicitando as melhorias. Afinal de contas, juventude para trabalhar é o que mais possui. “Também não sou casado. Por isso sobra mais tempo para me dedicar ao município e a igreja”, brinca ele.

A realidade em Mariluz

4 policiais existem em Mariluz

10,2 mil é a população local

1 policial para cada 250 pessoas é a equação da ONU

2009 foi o último ano em que ocorreram assassinatos na cidade

19 detentos possui a delegacia local

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