terça-feira, 31 de maio de 2011

100 anos, sem Boiadeira


Dilmércio Daleffe

A Estrada Boiadeira, BR-487, completou em 2010 um século de vida desde a sua abertura, em 1910. No entanto, foi só a partir de 1950 quando a população iniciou o movimento para que ela fosse pavimentada. Desde então, já se passaram 60 anos e a rodovia, que liga Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste, continua esquecida pelas autoridades. Durante as quatro últimas décadas, ela foi “usada” e prometida por deputados, governadores, ministros e até presidentes. Muitos palanques eleitorais foram levantados a base da Boiadeira. Ao contrário de sua conclusão, o que se viu foram recursos do povo sendo perdidos pelo tempo, num já rotineiro cenário clássico de desperdício do dinheiro público.
Durvalino Costa veio de longe, do interior de São Paulo, com a idéia de ganhar dinheiro com a pavimentação da Boiadeira. Ele abriu uma borracharia na comunidade de Nova Brasília, as margens da rodovia há quase 25 anos. É bem verdade que ele viu os 33 primeiros quilômetros serem asfaltados. Mas isso foi insignificante para que o negócio da borracharia desse certo. Afinal, o restante da estrada não foi terminado. Em resumo, ele morreu há cerca de quatro anos, sem ganhar dinheiro e o pior, sem presenciar a rodovia ser concluída. Hoje, além de ser personagem na trágica história da estrada, seu túmulo está a poucos metros do asfalto da Boiadeira.

O caso de seo José é apenas um dos tantos outros sonhos que acabaram se esvaindo pela demora da Boiadeira. Afinal de contas, é muito tempo de espera para uma importante rodovia. O asfaltamento da estrada, uma das principais reivindicações da região, foi iniciado em 1986 pelo governo do estado. Porém a obra foi paralisada logo em seguida e, a erosão acabou destruindo aproximadamente 40% dos serviços de terraplanagem que já havia sido executado no trajeto. Ou seja, o dinheiro utilizado perdeu-se com o tempo.
O sitiante Manoel Ozório de Oliveira mora há 45 anos as margens da Boiadeira. Quando chegou ao local, tudo era lama e poeira vermelha. Hoje, apesar de ter asfalto em frente a propriedade, teme não viver o suficiente para ver a estrada inteira concluída. “Tenho fé de viver até lá”, disse.




Estrada trará mais movimento
Aberta por volta de 1910, a Estrada Boiadeira, inicialmente, serviu para a condução de gado comprado no Mato Grosso para a engorda nas pastagens do Paraná. Desde 1950, Campo Mourão e região reivindicam o seu asfaltamento. Além de beneficiar uma vasta região, a pavimentação entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão vai marcar a consolidação do Corredor Setentrional de Exportação. Ou seja, com o término do conjunto de pontes em Porto Camargo, boa parte da produção do Mato Grosso do Sul deverá ser canalizada pela Boiadeira até o Porto de Paranaguá. Campo Mourão e região só tem a ganhar com uma movimentação intensa de tráfego no trecho.
Em março de 2000, em visita a rodovia, o então ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, afirmou que a Estrada Boiadeira, trecho de 73 quilômetros entre Campo Mourão e Cruzeiro do Oeste – seria concluída até 2001. Não foi como continua sendo a principal promessa nos palanques e comícios de toda a região. Este ano a estrada certamente voltará a ser prometida. Mas até quando?

Sem previsões para ser terminada
Do total de 73 Km, apenas 33,5 deles estão completamente concluídos. Outros dois lotes continuam sem expectativa de conclusão, mesmo com valores de R$4 milhões já terem sido liberados há mais de 10 anos. De acordo com Rolando Marreta, Chefe do Serviço de Engenharia do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o Paraná não pode parar. “Trata-se de um compromisso do governo com o estado. O mais breve possível vocês terão novidades sobre a Boiadeira”, afirmou.
Segundo ele, todo o projeto restante para a sua conclusão está sendo refeito, principalmente, em virtude da Reserva das Perobas, uma das mais importantes reservas florestais do estado que margeia a rodovia. Marreta também informou que os valores, assim como o prazo para a sua conclusão, definitivamente, ainda não existem. “Não podemos arriscar valores e muito menos um prazo”, destacou.

Demora contribuiu com danos ao meio ambiente
Uma ação do Ministério Público contra o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DER) está propondo a justiça uma indenização milionária, cerca de R$66 milhões, pelos danos causados ao meio ambiente devido a má conservação da estrada ao longo dos anos. No trecho de 73 quilômetros, entre Campo Mourão e Cruzeiro do Oeste, um laudo técnico indicou que o abandono da estrada ocasionou o assoreamento de rios e córregos que atravessam a via. Alguns estão deixando de existir. Além dos problemas ocasionados á água, vegetação e o solo também continuam sendo prejudicados. Mesmo se tratando de uma rodovia federal e de responsabilidade do extinto DNER, a ação foi movida contra o DER por ter sido ele o órgão que tomou a iniciativa da obra, ainda em 85. O laudo também aponta a falta de um projeto de retenção hídrica na estrada como sendo uma das principais causas de todo o problema ambiental.



Números
• 73 Km é a extensão total da Estrada Boiadeira, que liga Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste.
• 25 anos é o tempo que a obra da estrada está abandonada. A construção foi iniciada em 85, com serviços de terraplanagem
• 100 anos completa a estrada este ano, contando a partir de sua abertura, para a passagem de gado.
• 60 anos é o tempo de espera para a sua pavimentação, desde que a população regional iniciou os movimentos em prol da Boiadeira

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