terça-feira, 31 de maio de 2011

Magia negra invade cemitérios clandestinos




Dilmércio Daleffe
Antigos cemitérios localizados ao redor de Campo Mourão acabaram se transformando em “palco” para a prática da magia negra. Considerados clandestinos, com o passar do tempo, eles foram deixados de lado. Hoje, o que se vê é abandono. Distantes dos olhos vigilantes do município, a turma do vermelho e preto foi à forra. Garrafas de cachaça, velas coloridas, roupas, vasos e mais uma infinidade de objetos estão jogados nos campos santos. É tanta quinquilharia que o cemitério do KM 123, próximo a Estrada Boiadeira, mais parece um velho armazém abandonado.

Cerca de 85 corpos ainda continuam no Km 123. Lá, o que se vê pouco se assemelha aos filmes de terror holywoodianos. Aqui o cenário é mais assustador. Com as lápides quebradas, túmulos sem manutenção e a falta de um zelador, o local dá medo. O capim seco já cobre o que restou das sepulturas, ficando difícil localizar os túmulos. Fora isso, muito material de magia negra está espalhado pelo espaço, não sendo poupados nem mesmo os mortos. Em muitas carneiras se encontram copos e garrafas de pinga. Espécies de gaiolas – vasos de barro foram localizados uns dentro dos outros e, ainda, virados para baixo – foram deixadas aos montes. Se existia algo preso sob eles, agora está solto. Até uma roupa em preto e vermelho, com capuz e tudo, foi deixada para trás.




Além do São Judas Tadeu, outros cinco campos santos serviram para abrigar os mortos da cidade. Um dos primeiros foi o do Km 123, depois vieram o de São Benedito, de Piquirivaí e o do Km 31, também na Boiadeira. O último, já desativado, estava próximo ao Jardim Industrial. Juntos, eles surgiram através da iniciativa das próprias comunidades locais, que sentiam necessidade em enterrar os parentes próximos de suas casas. Atualmente, somente o São Judas Tadeu é quem recebe corpos. Todos os demais foram impedidos de realizar sepultamentos.

De vez em quando, a prefeitura realiza remoções de corpos destes cemitérios para o São Judas Tadeu. A última delas aconteceu há poucos dias no Km 31. Lá, a cena não é muito diferente do vizinho Km 123. Também abandonado, o mato toma conta de tudo, embora ainda tenha marcas de uma quase recente roçada. São túmulos antigos, mal tratados pelo tempo e esquecidos por uma grande parte das famílias. Muitas delas nem moram mais no município. Uma capelinha em madeira ainda resiste e mantém uma espécie de altar com restos de velas, flores de mentira, alguns vasinhos e muita sujeira. Ali se comprova o abandono geral. Até as flores de plástico murcharam.




De acordo com informações, a idéia é que em alguns anos, todos os corpos destes cemitérios sejam transferidos definitivamente para o São Judas Tadeu. Ricardo Iatrenski, hoje com 63 anos de idade, possui 11 parentes enterrados no campo santo do Km 123. Segundo ele, era um local bastante visitado até a década de 80. No entanto, agora, tudo é desolação. Por causa da magia negra e vandalismo, ele solicitou esta semana a remoção de todos os parentes. “É muito saravá, gente destruindo tudo. Ninguém mais respeita o cemitério”, disse. Dias desses, ao fazer uma visita ao túmulo dos dois filhos ali enterrados, se deparou com potes de barro, sangue e uma faca. Até marcas de bala de revólver estão na cruz principal do cemitério.

Mas se o caminho é a extinção dos cemitérios considerados clandestinos, o que fazer para ampliar o velho São Judas Tadeu. Com superlotação, até algumas de suas ruas já estão sendo diminuídas para a abertura de outras covas. Embora não se saiba, ao certo, até quando vai a sua “vida” útil, já é sabido que as vagas estão diminuindo a cada dia. Hoje, cerca de 50 corpos são sepultados mensalmente no local. Muitos corpos para pouco espaço. E a morte não espera ninguém.

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