quarta-feira, 25 de julho de 2012

Rodoviárias: Estações da agonia

Prédios antigos com muitas infiltrações. Banheiros sujos e sem papel. Acomodações precárias sem um mínimo de conforto aos passageiros. Num resumo geral, este é o quadro dos terminais da região de Campo Mourão, pelo menos em sua maioria. E isso ainda quando existe uma rodoviária. Em algumas cidades, elas simplesmente não existem. São meros pontos nas calçadas, ou até improvisações em panificadoras. Se isso não bastasse, o que dizer então da insegurança dos terminais. Na maioria das estações visitadas a figura de um simples vigilante não foi encontrada. Em Barbosa Ferraz, por exemplo, a guarda vespertina é realizada por “Zezinho”, um simpático cão vira-latas adotado pelos dois únicos comerciantes da estação. Na região verificou-se de tudo um pouco. Cidades sem terminais e sem ônibus, como em Mato Rico. E até com rodoviárias, mas sem coletivos, como em Boa Esperança. Salvo raras exceções, os terminais estão transformando-se em estações da agonia.  
Por: Ana Carla Poliseli, Clodoaldo Bonete, Cíntia Synderski, Dilmércio Daleffe, Tayenne Carvalho e  Walter Pereira

Cães vadios, bares e falta de reformas marcam terminal de Campina da Lagoa

O mais novo terminal da região está em Luiziana. Inaugurado em 2008, o local era para servir como exemplo. Mas não foi bem isso que a reportagem encontrou. Além da sujeira nas paredes e, principalmente, nos banheiros, viu-se muito papel pelo chão. No banheiro masculino todas as lâmpadas estavam queimadas. Fora isso, o mau cheiro explicava o pedido na parede: “favor manter a porta fechada”. O local não tinha papel, a pia estava entupida e o chão imundo. Segundo informações quem faz a limpeza são duas mulheres, a dona da lanchonete e a vendedora de passagens. Pela ausência de vigilantes, são elas inclusive, quem fecham  a rodoviária. Segundo uma das trabalhadoras, a prefeitura foi avisada há mais de um mês sobre as lâmpadas. Mas, segundo declarou a assessoria do município, a prefeitura não havia sido informada sobre a necessidade da troca das lâmpadas. Sobre a pintura, o município informou que os serviços já estão programados. Mas tirando os problemas, os passageiros conseguem embarcar e desembarcar sem maiores transtornos.
Em 1982, durante o governo Ney Braga, uma série de municípios paranaenses foram beneficiados com um único modelo de rodoviária. Na região, muitos mantém o prédio até hoje, como Iretama, Fênix e Barbosa Ferraz. Embora seja uma edificação com 30 anos, o projeto ainda é bastante usual. O modelo, embora pequeno, beneficia os passageiros. A maioria engloba uma lanchonete, guichês de passagens, bancos e cadeiras, além de um saguão protegido com vidros. Nos dias de chuva e frio é que se nota sua utilidade. Além disso, a área de embarque e desembarque possui telhado até o coletivo.
Nos casos de Barbosa Ferraz e Fênix, as estruturas estão a pleno vapor. Mas pequenos detalhes geram a ira da população. Os banheiros, apesar de razoavelmente limpos, não possuem papel. Fora isso, algumas goteiras são visíveis no banheiro masculino de Fênix. Em Barbosa Ferraz até uma televisão foi colocada no saguão. Tudo para o conforto dos passageiros. Além disso o local também possui o serviço de guarda volumes ao preço de R$1. Mas como nem tudo são flores, mais uma vez a reclamação quanto ao cheiro dos banheiros foi evidenciada. Nos finais de semana o local não é limpo. Então até a segunda-feira, o cheiro acumulado é catastrófico.  
Lugar desolador
Para quem chega pela primeira vez à rodoviária de Campina da Lagoa, a imagem não é das melhores. O cenário é desolador: bêbados, música alta, bares, jogatina. Desde sua fundação em 1973, os comerciantes garantem que o local nunca passou por uma reforma. Para Maria Aurora Caetano o local é sujo e, quando chove, fica pior. O aposentado Pedro Barakat disse que de noite, é um perigo passar por ali. Segundo ele, o local se transforma em praça de bêbados e maconheiros. De uma forma geral, o terminal mostra insegurança, falta de estrutura e organização. De acordo com a prefeitura, na época em que a rodoviária foi construída cada bloco foi comprado pelos comerciantes, que passaram a ser os responsáveis pelo prédio.
Bêbados e mendigos
A rodoviária de Engenheiro Beltrão oferece local fechado aos passageiros. Em dias de frio, há bancos suficientes na sala de espera. Bares e lanchonetes oferecem o básico para ‘matar a fome’. À primeira vista parece perfeito. No entanto, o problema começa quando o passageiro dá a volta e precisa entrar nos banheiros. “Não é limpinho não. Além disso, eu sempre peço papel para as lojas que tem perto, porque sei que lá no banheiro não tem nada”, diz a pensionista Maria Circe. Como fica ao lado da praça, o terminal é usado como ‘casa’ dos mendigos. Nas paredes cobertas e colchonetes demonstram que alguma coisa não está certa. “Agora esse é um problema sem tamanho. Alguém tinha de ter uma solução. Bêbados e mendigos fazem sujeira nos banheiros e até nas paredes do lado de fora”, comentou um pioneiro da cidade que pediu para não ser identificado.
Vândalos
Em Peabiru, a principal reclamação dos usuários da rodoviária é a falta de um espaço fechado para aguardar a chegada dos ônibus. Embora haja uma área coberta com bancos destinada a esse fim, o espaço é aberto nas laterais, sujeito ao frio e a chuva. A solução seria simples e foi adotada em Engenheiro Beltrão: duas portas de vidro isolando a sala de espera. Tirando o frio, quem frequenta a estação também tem críticas ao estado do banheiro, principalmente o masculino. Trincos quebrados, piso encardido e falta de tampas nos vasos. O problema segundo Geraldo Firmino Luiz, há oito anos zelador dos banheiros, é que parte da população destrói o que deveria ser para todos. “A gente lava duas vezes por dia, mas não consegue vencer. Eles jogam o papel por todo o banheiro, usam as paredes como privada e quebram trincos e roubam válvulas de descarga. Falta educação e respeito com quem trabalha aqui”, lamenta.
Mamborê
“O terminal de Mamborê está precisando de uma boa reforma”, afirma Jaci dos Santos. Inaugurado em 2000, o prédio já passou por reformas anteriores. Mas as infiltrações persistem no imóvel. Estão por todo lado. Os banheiros também estão deteriorados. Um vigia da prefeitura cuida do local. Segundo Jaci, poucas pessoas utilizam a rodoviária. A movimentação de passageiros é escassa.
Insegurança
Em Janiópolis, o terminal rodoviário foi inaugurado há nove anos. Desde então passou por apenas uma reforma. No local, o principal problema tem sido as goteiras. A falta de segurança é outra preocupação. Elias Cristóvão da Silva, 75, que o diga. Ele já teve sua lanchonete arrombada por duas vezes. Foram mais de R$300 em prejuízos. “Já cobrei a prefeitura sobre a segurança, mas não providenciaram um vigia”, reclamou. Fora isso, a rodoviária de Janiópolis, tem uma boa aparência. Conta com banheiros públicos gratuitos, orelhão, duas lanchonetes e saguão com assentos. Tudo em perfeito estado de conservação e funcionamento. O prédio também foi pintado há cerca de 15 dias.
Moço, onde é a rodoviária?
Terminal de Altamira resume-se a duas cadeiras do lado de fora

As cidades da região de Campo Mourão poderiam ser divididas em duas: as com e as sem rodoviárias. Em Corumbataí do Sul, por exemplo, o terminal resume-se a uma panificadora. Lá, a população se da ao luxo de pagar a passagem junto ao pãozinho. João Gonçalves de Melo foi encontrado em meio a rua Tocantins, número 170, em frente a uma padaria, na área central de Corumbataí do Sul. Ele não estava lá a toa, não. Esperava um ônibus com destino a Barbosa Ferraz. Acontece que a cidade não tem rodoviária. Quem vende os bilhetes é Rose Paulo, a dona da padaria. Assim, os passageiros passaram a embarcar e desembarcar no seu próprio comércio. A situação é tão peculiar que as passagens são pagas junto aos pãezinhos. “Há dois meses passei a vender os bilhetes. Ganho porcentagem. Além disso, o meu movimento aumentou um pouco. Estou contente”, disse. Até o banheiro da panificadora passou a ser utilizado pelos passageiros. 
Corumbataí é uma das menores cidades da região e, por este motivo, ainda não possui um terminal. Tanto é verdade que, segundo Rose, vez em quando o ônibus passa vazio, sem ninguém. Mas com ou sem terminal, João continuará a desembarcar na padaria todos os domingos de sua vida. É que nesse dia ele vem de Barbosa para visitar a mãe. Para ir e voltar não gasta mais de R$7. Preço de pinga.  
Situação semelhante acontece em Altamira do Paraná. Lá, a antiga rodoviária foi desativada há quase dez anos. Hoje, os passageiros são forçados a embarcar na área central, exatamente em frente ao local onde os bilhetes são vendidos. Quatro cadeiras ficam do lado de fora, na calçada. Outras oito no interior do guichê. Até um banheiro existe para seus usuários. Edson Cardoso dos Santos é o responsável pela venda das passagens. Segundo ele, a cidade necessita sim de um novo terminal. Em dias de chuva, os passageiros acabam se molhando.    
Em Araruna quando se pergunta onde fica a rodoviária, a resposta é sempre a mesma: ‘Depende, para onde você vai?’ Pode parecer estranho, mas os passageiros com destino a cidades da região precisam comprar o bilhete em uma porta ao lado de um bar. Para cidades mais distantes, a passagem é comprada direto numa lanchonete, uma quadra depois. Até dois anos atrás, a cidade contava com um espaço próprio, na saída para Peabiru. Hoje o local está cedido para a Polícia Militar e o Conselho Tutelar. “Essa situação é péssima. A gente espera em pé. No meio da rua”, ressalta a aposentada Maria Aparecida Gonçalves Leal.
Sem terminal e sem ônibus
O pior acontece em Mato Rico, onde não existe terminal e muito menos empresas de transporte de passageiros. Com pouco mais de três mil habitantes, a cidade está isolada do restante da região devido à estrada ainda de terra. Roncador, a 22 quilômetros é o município mais próximo. Por esse motivo, nenhuma empresa de ônibus tem interesse em manter linha na cidade. O morador que deseja viajar e não dispõe de carro depende de um ônibus particular, que mantém linha para Roncador e Pitanga. Mas os horários são escassos: para Pitanga, sai às 07h30 e para Roncador, às 8 horas, com retorno às 15h25 e 12h30, respectivamente.
“O problema aqui é que nenhuma empresa tem interesse em manter linha, pela falta de rodovia de acesso”, disse Ivan Ortiz, Secretário de Finanças do município. Em média, segundo ele, os ônibus particulares que atendem as necessidades dos moradores, transportam pelo menos 20 pessoas diariamente para Roncador e Pitanga. “A maioria viaja com fins de comércio para Pitanga ou Roncador”, afirma
A falta de ônibus passando pela cidade, levou Genilton Pereira dos Santos, 53 anos, a transformar seu carro em um táxi. Ele faz de duas a quatro corridas por dia. Uma viagem para Roncador, ele cobra R$ 55,00. Mas a maioria das solicitações é de moradores da área rural que precisam vir a cidade, principalmente para consultas médicas. “São muitas pessoas que me procuram porque precisam vir consultar no médico.
Um terminal sem ônibus
Em Boa Esperança os moradores vivem um dilema. Contam com uma rodoviária, linha de ônibus, mas não podem utilizar o serviço. A empresa responsável pela concessão da linha não envia ônibus há cerca de cinco anos dentro da cidade. Segundo usuários, o motivo é o baixo número de passageiros. E quem precisa viajar depende de carona ou de carro próprio. “É um absurdo o que acontece na nossa cidade”, reclamou o caminhoneiro Orlando Paiva Braga. Ele até disse que se a empresa liberasse a linha, compraria um microônibus para o transporte dos passageiros. Apesar do imbróglio, a cidade conta com um pequeno terminal rodoviário. O local tem banheiros e lanchonete.
Pequenos, mas organizados
Rodoviária de Juranda: Zelo, organização e até lustres com estilo 

Em Juranda a população não tem do que reclamar. O terminal é impecável. Saguão coberto, com assentos aos usuários, todo pavimentado e paredes azulejadas. Até lustres enfeitam a construção. Estrutura melhor impossível. Mesmo com 15 anos, o prédio foi reformado no início deste ano. Conta até com restaurante. No local ainda funciona a Associação Comercial do município. A limpeza é visível. Os banheiros, tanto feminino quanto masculino são até cheirosos. Nenhuma folha ou lenço no chão. Para assegurar a conservação, a prefeitura deixa um vigia toda noite no terminal.
O terminal de Quinta do Sol resume-se a três portas: lanchonete, lojinha de artesanatos e guichê. Nada mais. Ônibus baixos param em frente às três. Coletivos maiores ficam na rua. Em dias de chuva os passageiros têm que se virar. Fora isso apenas um único banco acomoda os seus usuários. A lanchonete também oferece algumas cadeiras. Os banheiros são cuidados há 20 anos pelo dono do bar, José Alexandre Oliveira Neto. Eles estavam em ótimo estado.  
Em Iretama o terminal recebeu melhorias. “Ficou muito melhor”, elogia o agricultor Antonio de Oliveira. Entre as principais reformas estão cadeiras confortáveis, reformas de banheiro, inclusive com espaço exclusivo para pessoas com deficiências. Até a pintura é nova. “Hoje está muito melhor, bem mais arrumada. Trabalho há seis anos aqui e era muito complicado. As pessoas sofriam”, destaca o responsável pela lanchonete que não quis ter o nome divulgado.
O prédio ganhou nova pintura, piso de azulejo, melhorias nos banheiros e vidros novos nas portas do terminal de Roncador. A lanchonete também foi reformada. Os taxistas agradecem: “Trabalho há 20 anos de taxista nesta rodoviária e nunca tinha visto uma reforma dessa. Ficou muito bom mesmo. Os bancos nem davam para sentar, diz o taxista José Leite da Silva Filho.
Em Farol pode-se dizer que a rodoviária está bem “equipada”. Inaugurada no final de 2002, o terminal oferece banheiros públicos e telefone público. Isso sem falar em outros confortos, como cobertura e saguão de espera com assentos. A limpeza e conservação do espaço também chamam atenção. Apesar de uma estação “apertada”- o prédio divide espaço com o Detran, Correios e Sindicato Rural do município -, os moradores dizem não ter do que reclamar. Um vigia da prefeitura cuida da segurança no local durante a noite.
Campo Mourão tem estação como exemplo
O Terminal Rodoviário Estanislau Gurginski, em Campo Mourão, foi inaugurado há 12 anos. O prédio é público, mas a administração é feita por uma empresa terceirizada. A estrutura, em dois andares está bem mantida, com locais cobertos para a espera e embarque. Os bancos são bem conservados e até televisão existe para quem está aguardando. Duas lanchonetes encontram-se no piso superior. Os banheiros estão em boas condições, mas é a única cidade da região em que o uso é cobrado: R$0,50. A tarifa isenta crianças, pessoas acima de 60 anos, deficientes físicos e pessoas que não tem condições para pagar. De acordo com a gerência, o valor é cobrado para manter a limpeza e os produtos usados.  

Um comentário:

  1. Se aqui na nossa região é assim, convido o amigo a fazer uma visita um pouquinho mais pra frente, na região de cianorte, Paranavaí até Loanda. O amigo vai se assustar um poukinho mais. Eta paranazão velho de guerra!!!!!!!

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