Aos 40 anos de idade, Ercílio Costa ainda mantém um sonho: ser coveiro. Recentemente ele estudou e prestou concurso público para uma única vaga no cemitério. Não passou. Mas sua persistência é imensa. Ele não desistiu do cargo.
Dilmércio Daleffe
Ercílio Costa tem um desejo: ser coveiro. Um simples profissional do cemitério São Judas Tadeu, em Campo Mourão. Para isso estudou e fez o último concurso público da prefeitura. Existia apenas uma vaga de coveiro. E ele foi o único candidato inscrito. Mesmo assim não passou. É que zerou em matemática, impossibilitando a conquista da vaga. Ele só não entende porque precisa saber dos números para exercer a função. Afinal de contas, basta não ter medo, preparar o cimento e dedicar-se ao campo santo. Ficou decepcionado. Ercílio não vai desistir. No próximo teste irá participar novamente. “Quero a vaga a qualquer custo”, afirmou.
Aos 40 anos de idade, Ercílio é um homem digno. Sua honestidade é visível e o caminho traçado por ele, certamente é do bem. Nasceu em Assis Chateaubriand, numa família de cinco irmãos. Chegou a Campo Mourão aos dez anos. O pai veio para trabalhar como caseiro em um sítio. E foi assim, na roça, quando permaneceu até seus 27 anos. Traz consigo até hoje a mesma inocência daquela época. Nota-se a pureza do sujeito. Ainda não tem casa própria e vive junto à esposa e aos filhos.
Por coincidência do destino, na hora em que Ercílio chegou à entrevista no cemitério, um cortejo prestava suas últimas homenagens ao morto. Até ele achou esquisito. “É coincidência demais”, disse. Ele revelou não ter medo da profissão. Não acredita em assombrações. Pelo contrário. Diz que tem receio é dos vivos, uma vez que os falecidos não incomodam. Mas a história de Ercílio vai além. Seu sacrifício em querer a vaga de coveiro tem uma razão. E das boas.
Querendo oferecer uma vida melhor à família, Ercílio deseja fazer a faculdade de Educação Física. Mas para isso tem que ser coveiro. Ele explica que trabalha numa indústria da cidade já há mais de um ano. Ganha cerca de R$900, acorda às quatro da manhã e chega em casa exausto. Ou seja, não tem ânimo para freqüentar um curso superior à noite. Segundo ele, se passasse no concurso da prefeitura o salário seria praticamente o mesmo, mas com uma diferença: trabalharia menos, sobrando tempo e mais disposição.
A idéia de ser coveiro surgiu no concurso anterior. Ele descobriu que não havia candidatos à vaga. Então se inscreveu agora. “Eu venho lutando para melhorar de vida. Você não tem idéia”, disse. Ercílio batalhou em 2011 a ponto de concluir o segundo grau. Fez o terceiro ano mesmo exausto da rotina do trabalho. “Enquanto existe um sonho, vivemos em função dele. Mas quando o sonho acaba, parece que a vida deixa de ter graça”, afirmou. E é somente por esta razão a luta travada entre ele e sua persistência. O sonho de Ercílio ainda vive.
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