segunda-feira, 28 de maio de 2012

O inacreditável animador de velórios


Dilmércio Daleffe
Em 1989 Luiz Carlos Vieira de Araújo, ainda aos 22 anos de idade, perdeu um de seus melhores amigos em Peabiru. Como a cidade era muito pequena, houve uma grande comoção entre a população, principalmente, em virtude das causas da morte – homicídio. Vendo a angústia da família durante o velório, Zizico, como Luiz é conhecido, passou a contar piadas nas rodinhas de amigos, longe do caixão. O objetivo era levantar o ânimo da galera, amenizando de certa forma a dor daquela família. “Foi o jeito que encontrei em diminuir o vazio das pessoas. E elas gostaram”, disse.
Desde então Zizico nunca mais parou. Transformou-se numa espécie de carpideira às avessas – aquelas mulheres que ganham pra chorar aos defuntos. Hoje, todos os velórios que vai ele lança suas infernais piadas. Sempre distante do caixão. Ele entende que, apesar de tentar ajudar os familiares dos mortos, ainda assim deve haver respeito com o falecido. Por isso ele sempre fica longe do caixão. “Nunca fui mal interpretado. As pessoas acabam entendendo que não faço isso à toa. É somente pra ajudar”, diz.
Aos 46 anos de idade, Zizico ganha a vida fazendo biscates. Durante a semana trabalha como ensacador num moinho. Nos finais de semana ganha o pão trabalhando como segurança em eventos. Para ele, não há um só dia ruim na vida. Luiz não consegue se lembrar quantas vezes compareceu a velórios. Em Peabiru, por exemplo, todo mundo passou a chamá-lo para animar os tristes. Certa vez ele se sentiu constrangido. Mas não pelas piadas. Conta que um candidato a vereador chateou os parentes do morto ao fazer campanha na capela mortuária. Ele teria já chegado distribuindo santinhos. “Isso sim é errado”, disse. Mesmo assim, o candidato acabou se elegendo.
Em março de 2007, Luiz perdeu a mãe. O velório não poderia ser diferente. Nos cantos, sempre longe do caixão, lá ia ele a contar as piadas. Não poupou nem mesmo os irmãos. “Ajudei muito naquele dia. Como já me conheciam, sabiam que o velório seria mais descontraído”, diz. Afinal de contas ele entende que, diante da morte, nada mais se pode fazer. “É a única certeza que temos na vida. Ela não marca hora”.
Mas teve um dia em que Zizico, ao invés de animar, chorou. Há alguns anos ele teria ajudado a carregar uma carga de adubos, conhecido como fosfato de arade. Trata-se de um composto químico que irrita os olhos, deixando-os lacrimejantes. Na mesma noite daquele carregamento visitou um velório. Nas rodinhas, já chegava chorando. Ninguém entendeu mais nada. “Disse que tava com um negócio no olho. Mas a turma pensou que eu tava mesmo era comovido com aquele morto”, brincou. Mesmo rindo, Zizico acabou inventando uma profissão. Ninguém sabe, mas ele estará sempre por perto. Fique esperto!  

Nenhum comentário:

Postar um comentário