quinta-feira, 22 de março de 2012

Pedro mostrou a cara, mas a justiça não o viu

Pedro não queria muito. Desejava apenas apresentar-se às autoridades policiais para pagar pelo crime que cometeu há um ano. Tirou a vida de Marcos Boaventura, um jovem de 26 anos. No entanto, não foi preso. Descobriu que não havia mandado de prisão contra ele.
Pedro mostrou a cara, mas a justiça não o viu


Dilmércio Daleffe

Pedro Valentim Pereira é apenas um servente da construção civil. Um mourãoense como tantos outros. Um rapaz pobre, com pecados ainda por serem julgados. Mas ao longo dos seus 27 anos aprendeu a arrepender-se de seus atos. Esta semana, cansado da luta travada entre ele e sua consciência, decidiu apresentar-se às autoridades. Há mais de um ano matou outro de sua espécie. Um crime inaceitável entre os homens. Ficou um ano desaparecido. Acabou voltando para acertar suas contas. Mas foi impedido. Na delegacia, a polícia não pode prendê-lo. Não havia nenhum mandado de prisão. Foi então até o fórum onde deu a cara a bater. Horas depois saiu pela porta da frente. Também não havia nada que o detivesse. Pedro quer pagar pelo que fez, mas ainda não descobriu como fazê-lo.

O drama de Pedro teve início em fevereiro de 2011. Casado e com uma filha por criar, acabou perdendo a cabeça numa discussão familiar com Marcos Boaventura, um jovem de 26 anos que mantinha uma relação com a cunhada de Pedro. Relatos da família indicam que Marcos teria agredido a mulher. Com raiva, Pedro apanhou uma arma e matou o rapaz em frente a sua casa. O filho pequeno de Marcos teria presenciado a cena. Com medo em ser preso, Pedro fugiu da cidade rumo a Santa Catarina. Lá ficou por mais de um ano com a esposa e a filha. O que ele jamais imaginou é que a polícia nunca esteve a sua procura.

Mas com a consciência pesada e, ainda, carregando a cruz da culpa, Pedro tomou coragem e retornou a Campo Mourão. Chegou esta semana disposto a mostrar a cara e a pagar pelo que fez. Na quarta foi com a esposa até a delegacia de polícia. Foi encarcerado por algumas horas. Enquanto isso a esposa, Taís, voltava a sua casa em completo desespero, embora consciente da situação. Para sua surpresa, ainda no final daquele dia, Pedro bate à porta da residência. “Fui do inferno ao céu em algumas horas”, afirmou a esposa. Ela ainda não entende o que aconteceu, sabe apenas que o marido fez sua parte. “Ele fez o que tinha que fazer. Mas não queria que ficasse preso”, disse.

Na quinta-feira, o casal decidiu continuar a jornada e compareceu no fórum. Lá, Pedro aguardou por três horas sentado em um dos bancos do cartório criminal. Foi quando informaram que nada havia contra ele. O homem disposto a se entregar, acabou virando personagem. Queria poder olhar-se no espelho, mas o vidro se quebrou. A TRIBUNA também ouviu a ex-esposa de Marcos. Embora não estivesse mais casada com ele na época do crime, o seu filho presenciou a morte do pai. “O Pedro deve ficar preso sim”, disse ela. A família de Marcos deseja que a justiça seja feita.

Ontem, Pedro disse que se arrepende do que fez. Segundo ele foi um ato impensado, uma consequência desastrosa num momento de ira. “Pensei na minha filha e na minha esposa. Quero viver para sustentá-las. Por isso resolvi me apresentar”, disse. Com o coração “pesado”, ele voltou para tentar pagar pelo erro cometido. Uma forma de viver melhor e dedicar-se mais à família. “Fui até a polícia e ao fórum com minhas próprias pernas. Tenho muita fé e acredito que Deus irá me ajudar”, revelou. Ainda sem jeito, estranhando a situação em que se envolveu, disse pedir desculpas à família da vítima, Marcos. Falou muito em Deus e acredita um dia poder caminhar com a consciência tranquila.

Informações da 16ª Sub Divisão Policial de Campo Mourão indicam que na época do crime houve uma investigação quando chegou-se ao autor dos disparos, Pedro. Depois disso, o inquérito foi encaminhado à promotoria. Um ano depois do crime, o Ministério Público ainda não teria dado continuidade ao trâmite do processo. A reportagem tentou entrevistar a promotora criminal Lygia Camargo Grasso sobre a questão. No entanto, ela não pode colaborar porque estava atuando no julgamento do caso Stephanie. Mesmo assim, profissionais que trabalham no fórum explicaram que o fato se deve ao excesso de trabalho. São muitos processos ocasionando uma sobre carga. Pelo que se ouviu, as medidas já estão sendo tomadas. Enquanto nada acontece, Pedro continua a seguir sua vida. Ainda ontem, ele buscava uma vaga como servente na construção civil. Informou estar desempregado para garantir o sustento da família.

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