segunda-feira, 12 de março de 2012

O homem que pedala demais

Adilso é um incansável. Pedala 42 Km diários pra ir e voltar do trabalho em Campo Mourão. Acabou descobrindo que, se trabalhasse na vizinha cidade de Peabiru, sua jornada seria mais curta.




Dilmércio Daleffe

Adilso Floriano dos Santos acorda diariamente dez pras seis da manhã. Ele mora no Moradias Avelino Piacentini, saída de Campo Mourão rumo a Maringá. Toma um cafezinho, coloca a roupa, despede-se da esposa e do filho e, depois, monta sobre a magrela. Após 15 quilômetros ele chega ao local de trabalho, numa fábrica de máquinas de solda, no Parque Industrial. Pasmem. São 15 quilômetros pra chegar e outros 15 pra voltar, tudo de bicicleta. Não satisfeito, quase sempre sai ao meio dia pra ir ao centro da cidade. São mais 12 quilômetros. Cansado da rotina, acabou descobrindo que, se trabalhasse em Peabiru, a distância seria menor. É, a cidade cresceu.

Trabalhar é preciso. Mas no caso de Adilso, a jornada é dura. Tantas são as pedaladas diárias que pessoa e bicicleta se misturam. Os amigos não conseguem imaginá-lo distante da magrela. Parecem ser um só corpo. Num resumo, Adilso anda cerca de 42 quilômetros diários. Definitivamente, não é pra qualquer um. O pior é que ele tem preparo físico de sobra. Não bastasse a canseira, pelo menos três vezes na semana sai do trabalho direto aos gramados da cidade. Ele é também um excelente goleiro. Mesmo depois das “peladas”, toma uma água e monta novamente sobre a magrela. Lá se vão mais alguns quilômetros até sua casa.



Adilso é o cara. Qualquer outro ser humano diria que a sua jornada é cruel. Mas para ele, nada é o bastante. Quase todos os sábados, ao invés de deixar a empresa e ir descansar, torna-se um garçom, e dos bons, senão um dos melhores. É um bico, mas que lhe garante outra boa fatia de renda no final do mês. Só que nas festas de casamento, ele deixa a bicicleta estacionada do lado de fora do salão. Com um sapato preto brilhando, impecável, quem anda agora é ele. Das 20h até por volta das cinco da manhã, Adilso percorre outros dez quilômetros atendendo os convidados. É a vida de um garçom.

Quem é ele?

Moreno, 1,75 de altura e magro de dar dó. Assim é Adilso. Junto às suas características físicas, soma-se um pai e um marido dedicado e, conforme já descrito, sempre disposto. Evangélico, crê em Deus fielmente. Até pouco tempo, Adilso não tinha casa própria. Agora tem. Foi o grande sonho conquistado. O homem lá de cima disse amém. Ele morava junto com a mãe, no Lar Paraná. Ali, a distância até o trabalho não chegava a míseros mil metros. Mas pela casa própria, todo esforço vale a pena. E sua alma não é pequena.

Adilso, ou “Cirilo”, como é apelidado, trabalha como bobinador há oito anos. Leva 40 minutos de sua casa até a empresa. Se fosse arriscar a vida como atleta do ciclismo, certamente se daria bem. Mas prefere ser apenas jogador de futebol. Um pobre goleiro. Diz ele que não teria que pedalar. A empresa já ofereceu vale transporte. Mas preferiu assim.

Durante o tempo em que percorre as ruas da cidade já evitou muitos acidentes, a maioria por descuidos de motoristas. “Se eu não freasse, já teria sido atropelado algumas vezes”, diz. Mas Adilso é pacífico. Sempre aguardou sua vez. Esperou por vários anos até receber o aviso da casa própria. Agora, está aguardando o dia em que conseguirá comprar um pequeno veículo. “Se Deus me abençoar um dia, terei meu carrinho”, garante. Adilso é assim. Temente a Deus, vai conquistando tudo o que precisa. Hoje pedala, amanhã defende o gol, outro dia carrega a bandeja. Mas no futuro, certamente alcançará todos os seus sonhos. Os desejos sempre são conquistados para quem tem paciência.

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