Sidnéia da Luz morreu jovem, aos 32 anos de idade. Foi assassinada pelas mãos bárbaras de um criminoso impiedoso. Ainda nova conheceu as drogas. Passou a prostituir-se enquanto doava dois dos cinco filhos. Conheceu o crack e acabou pagando um preço alto demais pelo vício. Foi morta numa estrada rural e teve o corpo perfurado por inúmeros golpes. Ela não verá os filhos crescerem.
Dilmércio Daleffe
Sidnéia da Luz viveu pouco. Morreu aos 32 anos de idade vítima de um assassino impiedoso, possivelmente, sedento por vingança. Seu corpo foi encontrado jogado em uma estrada rural próximo ao Jardim Cidade Nova. Havia sido arrastado, deixando marcas de sangue por todo canto. Eram pouco mais de 23h do último dia 10 quando a polícia foi chamada. Sujo de lama, o corpo revelava indícios de uma imensa fúria e ódio, com cortes e facadas. Foram inúmeros os golpes. O seu algoz também passou com o veículo sobre ela. Ainda jovem, Sidnéia estava na estrada errada. Todos a avisaram. Mas ela não conseguia ouvir. Estava viciada em crack, perdida num caminho sem volta, obcecada por um vício letal. Era dependente de traficantes.
A jovem apresentava duas vidas. Uma saudável ao lado do companheiro – que pediu para não ter o nome revelado e, a outra, durante à noite, a base de programas sexuais e drogas. Era viciada desde a adolescência. Nunca conseguiu parar. Seus pais já eram mortos e a única irmã, afastou-se por conta da vida desregrada de Sidnéia. Mesmo assim, diante da distância, ainda havia o carinho, saudade e a compaixão. “Quero justiça pela minha irmã”, disse. A irmã – o nome não será revelado – reconheceu o corpo no Instituto Médico Legal no dia seguinte. Ela não acreditou na barbárie cometida contra Sidnéia. Ela desmoronou.
Sidnéia nasceu em 78, época das discotecas, do sucesso do grupo ABBA e no mesmo ano em que a cocaína começava a se tornar conhecida no Brasil. Por coincidência do destino, a mesma droga utilizada na produção do crack. Morta aos 32, deixou cinco filhos. Três moravam com ela e o companheiro, na área central da cidade. Outros dois ela doou. Muito abalado, o parceiro contou que a conhecia há oito anos. Moravam juntos, mesmo ele sabendo de seus vícios e rotinas noturnas. Diariamente, a moça acordava, lavava algumas roupas e saía sem dar detalhes. Voltava somente no outro dia. Passava a noite em locais desconhecidos, quase sempre usando drogas. Ele, um senhor com pelo menos o dobro de sua idade, é um cara bastante gentil, dócil e, pelo que se vê, cuidadoso com os filhos dela.
Foi vista pela última vez na tarde do dia em que foi assassinada, depois de colocar algumas roupas para secar num varal. Saiu dizendo que ia até a casa de uma amiga, no Jardim Cidade Nova. O companheiro nunca mais a viu. Pela manhã da terça ele escutou no rádio notícias que uma mulher havia sido encontrada morta. “Sabia que era ela. Mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer”, disse o amásio. Ele sabia que a parceira mantinha uma vida obscura. Mas preferia não comentar. Por muitas vezes também dava dinheiro a Sidnéia. “Ela dizia que era para comprar algumas coisas. Nunca disse que eram para as drogas”, explicou. Por duas vezes o companheiro a internou em clínicas contra a dependência. Mas a droga era sempre mais forte. “Ela queria parar. Mas não conseguia”, disse.
Usuária de entorpecentes, mostrava o lado atordoado pela química na relação com os filhos. Informações dão conta que não dava muita atenção aos três, de 6, 10 e 12 anos de idade. Quem mais cuidava era ele, que mantém a guarda dos menores. Na maior parte do tempo, Sidnéia ficava fora, distante dos filhos. Quando voltava, não demonstrava ternura. Era uma relação fria, reflexo de uma mãe doente, viciada no crack. O companheiro disse que sentia muita dó de Sidnéia. Era mais uma relação paternal do que amor de casal. De acordo com a polícia, a vítima tinha uma passagem por furto.
Bastante chocado, o companheiro chorou ao descrevê-la. Não tinha palavras para resumir o que sentia. Estava completamente em transe, ofuscado pela tragédia. Uma tragédia anunciada. “Tinha muito carinho por ela”, disse. Para ele, a causa do crime pode e deve estar ligada a um provável acerto de contas entre Sidnéia e o traficante. A vítima poderia estar devendo na “boca”. Na última semana, policiais de Campo Mourão prenderam um rapaz de 35 anos. Ele é o principal suspeito de ter assassinado Sidinéia. No momento da abordagem, estava com uma moto roubada.
Sidnéia foi enterrada no dia 11, num túmulo simples, com uma cerimônia rápida no cemitério municipal de Campo Mourão. Foi sepultada sem glórias, sem tiros de canhões e sem homenagens. Presentes muitos conhecidos, os filhos, a irmã e o companheiro. Morreu nova, com toda uma vida pela frente e com filhos por educar. Mas esbarrou em obstáculos criados por ela própria. Foi morta pela indiferença de criminosos impiedosos, os mesmos que preferem ratos a seres humanos. Que criam os doentes e depois os consomem. Ainda com o sobrenome de “Luz”, Sidnéia morreu na escuridão.
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