segunda-feira, 17 de outubro de 2011

João, o pastor que desafiou a Deus



Dilmércio Daleffe

João Marcos de Oliveira era um pastor. Orava, falava em nome de Deus e pedia aos fiéis que seguissem o caminho do bem. Sua missão durou sete anos em Goioerê. Mas um dia, ele foi vencido e, tudo o que pregava, voltou-se contra ele. Saiu da igreja e entrou no abismo das drogas. Usou maconha, álcool e se enterrou definitivamente nas pedras de crack. Esqueceu-se do criador. Conseguiu a incrível façanha de fumar R$800 em química tóxica numa só noite. Não contente, voltou ao traficante e ficou devendo mais dinheiro. A dívida foi cobrada. Numa noite, bandidos armados invadiram a casa da irmã, onde ele também morava. Sob ameaças de pistolas, levaram o que tinha de valor. Foi aí que caiu na real. Percebeu que seus atos começaram a fazer mal a outras pessoas. João voltou a crer em Deus.

A história de João é dolorida. Sente ainda as feridas abertas por ele próprio. Estava na estrada certa, mas foi convencido a seguir por um atalho, que quase o matou. Pastor de uma igreja evangélica em Goioerê, por sete anos, João era como o chefe do local. Com o tempo, contratou um tesoureiro. Sua vida era falar em nome de Deus a inúmeras pessoas. Escutava seus problemas, tentava ajudar, pedia a Deus por graças. Mas um dia, foi convidado a prestar contas de supostas irregularidades em sua igreja. Segundo ele, foi acusado por desvios nas finanças. “Jamais peguei nada. O problema é que acreditei demais em certas pessoas”, disse. Dias depois, veio o julgamento. O tesoureiro saiu ileso. João foi removido à outra função.

Cabisbaixo e com o moral em queda, decidiu se afastar de vez da igreja. Voltou a ser como no passado, um usuário de drogas. Antes de ser pastor, João era um viciado, mas conseguiu a libertação diante das palavras de Deus. Deprimido, caiu pela segunda vez no caminho tortuoso da dependência química. Parou por duas vezes em clínicas de recuperação por força da família. “Eu fiquei internado para deixar minha família mais tranqüila. Mas não acreditava na recuperação. Eu tinha vontade de continuar com as drogas”, disse.

João saiu da clínica, mas não havia se curado. Já em Campo Mourão, passou a trabalhar em uma empresa de alimentação. Seu chefe também era usuário de drogas. A situação só se agravou. A dependência aumentou. Chegava ao fim do mês sem dinheiro para pagar o aluguel, uma vez que a grana já havia sido distribuída às mãos de traficantes. João estava sozinho, num caminho errado escolhido por ele mesmo. Deus estava distante, não pensava mais nas palavras que antes defendia.

Sem dinheiro, passou a morar de favor na casa da irmã e do cunhado. Mas a dependência o levou a entrar em dívida com traficantes. Míseros R$50 fizeram com que seus credores invadissem a casa e semeassem o terror. Levaram o que tinha de valor e deixaram um rastro de medo. A dívida foi enfim, paga.

Ainda atordoado buscou ajuda, pela terceira vez, agora com um pastor de Campo Mourão. João acordou. Desistiu do atalho escolhido e voltou ao caminho correto. Hoje, faz quatro meses que está livre do vício. Decidiu ler novamente a Bíblia e agora, ao contrário de antes, quer parar. “Acreditava não ter cura. Mas agora sei que Deus é mais forte. Ele quer que eu pare”, disse. No abrigo do pastor Adão Adriano, João quer seguir seus passos e também colaborar para salvar vidas. João, o pastor que um dia desafiou Deus, está novamente de mãos dadas com ele.

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