segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Órfãs de Ivan, o Terrível, enterrarão suas filhas


Dilmércio Daleffe

Maristela Pacheco vivia, até ontem, a angústia em não saber se a filha, Iara, estava viva. Ela havia desaparecido em janeiro de 2010. Na época a mãe, desesperada, chegou a prometer ajoelhar-se aos pés do delegado, caso elucidasse o mistério. Meses depois a polícia descobriu duas ossadas em uma fossa aos fundos de uma escola de Campo Mourão. Dados preliminares indicavam se tratar de Iara e de outra desaparecida, Dmitria Vieira. A busca e a conseqüente agonia chegaram ao fim. É que o laudo da perícia científica da polícia, em Curitiba, confirmou se tratar das duas jovens. Como prometido, dona Maristela foi até o delegado chefe da 16ª Sub Divisão Policial, José Aparecido Jacovós, e ajoelhou-se a seus pés.

Depois de chorarem diante da brutalidade do assassinato das duas jovens Iara e Dimitria, as famílias vinham adoecendo pelo constrangimento e humilhação em não poderem enterrá-las. Descobertas numa fossa aos fundos do Colégio Estadual Vinicius de Moraes, em Campo Mourão, no último ano, as duas ossadas já haviam sido enviadas à perícia, em Curitiba. Mesmo assim, os familiares não entendiam o porquê de tanta demora. Passados mais de um ano, coincidentemente, bastou uma única matéria sobre o caso em rede nacional para que os restos mortais fossem identificados. Maristela Pacheco, mãe de Iara, já até construiu o túmulo da filha. Na próxima semana, finalmente, poderá realizar o ritual de velório e sepultamento.

O drama vivido por dona Maristela teve início em janeiro de 2010, quando a filha saiu de casa com míseros R$50 para comprar pão. Ela nunca mais voltou. Depois disso, descobriu que restos mortais da melhor amiga da filha, Dimitria, que também estava desaparecida, haviam sido encontrados no colégio onde estudava. Dias depois veio a confirmação: outra ossada, desta vez, com pertences de Iara, também foi achada. A partir daí o mundo de Maristela partiu-se ao meio. A mulher que sempre lutou pelo bem estar da família, desmoronou.

Maristela tem hoje 52 anos. Ainda é nova, mas o fato a envelheceu décadas. Trata-se de uma mulher que a vida não poupou das dificuldades. Enfrentou diversos obstáculos culminando agora com o drama em não conseguir sepultar a filha. Nascida em Roncador, em 59, perdeu a mãe no próprio parto. O pai ela jamais conheceu. Foi criada pela parteira, que também morreu anos depois de seu nascimento. Trabalhou como bóia fria para sustentar a família e não teve tempo de estudar. Até hoje, é analfabeta. Casou-se, mas o marido, na época taxista, foi assassinado em Cascavel. Mais recentemente, perdeu parte da visão, reflexo do diabetes. Descobriu quase ao mesmo tempo o início de hanseníase e um câncer de pele. Definitivamente, a vida não foi gentil para dona Maristela.

Ontem, o seu mundinho parece ter desabado novamente. Ao mesmo tempo em que lutava pelo resultado dos exames, não queria receber a confirmação de que se tratava mesmo da filha. “Eu precisava saber se era a Iara. Mas quando fiquei sabendo que era mesmo, não quis acreditar. No fundo ainda tinha esperanças de que ela estivesse viva por aí”, disse. Na próxima semana, assim que o IML fornecer os restos mortais da filha, ela fará um breve velório e, depois, o seu sepultamento. É pouco perto do carinho e amor que tinha pela menina. Sobre o algoz que tirou sua filha, Ivan, ela deseja que ele apodreça na cadeia. “Quero vê-lo definhar lá dentro, até morrer. O castigo maior virá de Deus”, afirmou.

Dimitria

Marieta Ferreira mostra no rosto as marcas do sofrimento. Aos 58 anos de idade, ela também aguardava a conclusão dos exames da criminalística de Curitiba. Dmitria, a neta, tinha apenas 16 anos quando desapareceu, ainda em 2008. Além da tragédia da perda, também o drama da demora. “Não tenho nem palavras. Não está sendo fácil. Precisamos somente fazer o sepultamento para que ela descanse em paz”, afirma.

O caso da aposentada é um pouco pior. Se ela ainda vivia a angústia da perda da neta através das mãos sujas de “Ivan”, encontra noutro neto de quase três anos, a alegria em viver. Pasmem, o netinho é filho do mesmo “Ivan”, fruto de um relacionamento com a filha de Marieta. Ou seja, ao mesmo tempo em que o suposto assassino tirou uma neta, lhe deu outro. Trata-se de uma tragédia do destino não mencionada nem mesmo nos melhores roteiros de cinema. Marieta disse ontem que também pretende realizar o sepultamento da neta.

“Ivan, o Terrível”


Ainda ontem, a TRIBUNA teve acesso ao impiedoso assassino das duas jovens. Ao contrário dos criminosos do tipo 171 – aqueles que tentam driblar as investigações – Ivan confessou novamente os dois crimes. “Nem precisava fazer os exames. Eu mesmo já havia confirmado as duas mortes”, disse. Frio, ele disse que sente remorso diante dos fatos e, que um dia, espera que as famílias o perdoem. “Deus perdoa todo mundo. Porque não me perdoaria também”, questionou. Sobre a morte de Dmitria, Ivan disse que a matou para se defender. Explicou que, após consumir drogas, ela teria ficado sem controle, nervosa e extremamente violenta. “Matei ela por isso”, disse. Ainda hoje, Ivan terá a primeira audiência no Fórum.

Ossadas encontradas em fossa são de Dimitria e Iara
Walter Pereira




Exames de DNA do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba, confirmaram que as ossadas encontradas na fossa do colégio estadual Vinícius de Moraes, em agosto do ano passado, são mesmo das jovens Dimitria Laura Vieira Gênero, 16 e Iara Pacheco de Oliveira, 20. O caso ficou conhecido nacionalmente como “Ivan o Terrível”. A confirmação permitirá que o assassino vá a julgamento. O autor do crime, o próprio zelador do colégio, Raimundo Gregório da Silva, 52, mais conhecido como Ivan, confessou na época, à polícia, ter matado e queimado os corpos das vítimas. Ele está detido na 16ª Subdivisão Policial de Campo Mourão. No entanto, seu julgamento ainda não ocorreu porque o DNA dos ossos encontrados não havia sido confirmado.

De acordo com o delegado chefe da 16ª SDP, José Aparecido Jacovós, o laudo estava pronto há 10 dias, mas chegou somente ontem à delegacia local. “Nós já tínhamos certeza que se tratava das duas meninas desaparecidas até porque tínhamos a confissão de Raimundo. Encontramos as roupas das vítimas escondidas no forro do colégio e documentos delas na casa dele”, frisa.

Jacovós comenta que agora, com a confirmação do laudo, será possível a família enterrar os ossos e ter a certidão de óbito, que até então não havia como fazer. “Agora temos certeza que este maníaco será condenado pelo Tribunal do Júri.” A pena de Ivan pode chegar até 60 anos de prisão. Ele deverá responder por duplo homicídio qualificado. As ossadas deverão ser entregues ao IML local e, posteriormente, às famílias em até uma semana para o sepultamento. O delegado acredita que no máximo até o fim de janeiro do próximo ano, Ivan seja julgado. As ossadas de cada uma das vítimas serão identificadas através de um exame biométrico. Existia também a hipótese de um terceiro corpo, mas os exames detectaram apenas o das duas estudantes.

Conforme o Instituto de Criminalística, a demora para conclusão dos exames ocorreu porque estava muito difícil confirmar o DNA das ossadas. O material precisou passar por várias análises. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), foram feitas 16 tentativas para chegar ao resultado final e gastos R$ 13 mil nos testes de DNA. Ao todo foram dez meses de trabalho.De acordo com o responsável pelo setor de DNA do Instituto de Criminalística, Hemerson Bertassoni Alves, os ossos das meninas foram encaminhados para análise em outubro do ano passado, mas por falta de recursos para compra de reagentes, os exames tiveram início só em dezembro.

O DNA presente nos ossos das vítimas estava degradado, porque foi ubmetido ao calor e à umidade, quando o material foi incinerado e enterrado. “Foram utilizadas quatro técnicas diferentes de extração, todas validadas por protocolos internacionais. Esgotamos o material ósseo para a obtenção dos perfis genéticos”, explica.

Relembre o caso

Dimitria desapareceu em julho de 2008, já Iara estava, desde janeiro de 2010. As ossadas foram encontradas no dia 13 de agosto do ano passado dentro de uma fossa, nos fundos do colégio, no Cohapar, região do Lar Paraná. Raimundo trabalhava e morava no mesmo local onde as jovens estudavam. Ele tinha namorado uma tia de Dimitria. O que chamou a atenção da polícia foi o suspeito ter se aproximado da família dela, depois dos desaparecimentos. Segundo a polícia, o zelador passava recado sobre a situação das meninas. Dizia que recebia mensagens de Dimitria pelo celular e que ela estava morando na Espanha.

Diante dos indícios, a polícia conseguiu um mandado de busca e apreensão na casa dele. No local, foram encontrados vários filmes e revistas pornográficas e um celular em que tinha arquivada uma das mensagens que Dimitria supostamente teria enviado à família. Ao perceber uma fossa aterrada no quintal da casa do zelador, dentro da escola, a polícia também pediu que a terra fosse retirada do local. Durante o processo, foram encontrados ossos de dois corpos, que haviam sido incinerados. Também foram achados os pertences das meninas no forro do prédio da escola.O zelador informou ter atraído as duas vítimas até sua casa.

Após matá-las a golpes de marreta, ele as enterrou na horta da escola e, depois de um mês, as desenterrou, incinerou os ossos, e os jogou na fossa. A prisãoO acusado foi preso ainda na noite do dia 13, em Sarandi, região metropolitana de Maringá, quando chegava à residência de um dos filhos para pegar uma marmita. O zelador estava escondido em um matagal desde o início da manhã de sexta, quando policiais civis foram até a sua residência, nos fundos do colégio e encontraram roupas, celular e objetos das adolescentes.

2 comentários:

  1. Vinicius de moraes eh vinicius de moraes, estudei com o filho do ivan, vivi todo o caso

    ResponderExcluir
  2. Realmente um caso muito triste. Não acredito no que ele disse que a Iara usava drogas, pra mim foi invenção dele. Sei que as duas estão em um lugar melhor, ao Lado de Deus.

    ResponderExcluir