sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Na guerra contra o mal, Micheli foi morta

Drogado e vivendo na prostituição desde os dez anos de idade com o nome de “Micheli”, o garoto MDSP está salvo. Ele foi acolhido por um pastor que lhe mostrou o caminho do bem. Sem mãe e com o irmão preso, ele agora deseja ter o amor do pai de volta.


Dilmércio Daleffe

Ele nasceu de uma família completamente desestruturada. Cresceu vendo o pai cair diante do vício do álcool. A mãe, jamais conheceu e o irmão mais velho está preso. Veio de São Paulo ainda criança e já, aos dez anos de idade, vestia-se como mulher para se prostituir nas esquinas escuras de Campo Mourão. Sua vida sempre foi uma decadência moral. Passou a usar drogas pesadas e, tantas foram às vezes, que começou a desenhar uma dívida impagável com traficantes. Seus programas tornaram-se obrigatórios apenas para quitar a conta com os bandidos. Até os 17 anos conheceu gente sem caráter, maníacos, viciados e toda a escória restante da sociedade. Mas na guerra entre o bem e o mal, ele acabou se salvando. Anjos apareceram e desafiaram as armas do diabo. Hoje, “Micheli”, como era conhecido, está livre. Parou com as drogas, faz orações diariamente e não quer mais saber de homens. “Sei que fiz coisas que não queria. Mas no futuro quero construir uma família ao lado de uma mulher”, disse.

Na verdade, “Micheli” era apenas um nome de guerra. Era utilizado anteriormente, quando ainda estava perdido, sem um caminho claro. Já se passou mais de um ano desde que abandonou as drogas. Mesmo assim, ainda não tem o amor de seu pai. Ele continua a beber. No próximo mês, MDSP – iniciais do menino – completa 18 anos. Pouco para quem muito viveu. A sua história é somente mais um retrato do fardo pesado das ruas da cidade. Enquanto a maioria da população dorme tranqüila, outra parte dela fica acordada. Prefere conviver na escuridão e desafiar as leis dos homens.



O menino tem traços de uma criança mal tratada, olhos grandes e negros, mas ainda uma adolescência a flor da pele. Gosta de brincar e vive sorrindo, mesmo do passado. Cresceu com a doença do vício e fez mal a ele próprio. Em casa, apanhava e jamais teve uma palavra de carinho. Um conforto fraternal. O lado homossexual era o grande dilema com o pai, pedreiro de profissão. Por inúmeras vezes sofreu calado diante aos espancamentos. Mas tudo tem limite. A última vez que ia apanhar, decidiu bater. Encarou o pai e bateu, muito. A partir daí, a relação entre os dois praticamente acabou.

MDSP sempre buscou saber informações sobre a mãe. O pai evita o assunto. Hoje, o menino não sabe nem ao menos se ela está viva. Sua única pista é que ela morava em São Paulo. Veio para Campo Mourão com o pai e o irmão mais velho – ele está preso por roubo. Ao lado do primogênito roubava a casa dos próprios amigos. Não tinha limites, muito menos bom senso. Enquanto estava sob a tortura do mundo químico das drogas, o garoto tatuou em uma das mãos a frase “Deus é fiel”. Nem ele sabe ao certo porque escreveu tal mensagem. No entanto, já podia ser um indício da guerra entre o bem e o mal que se iniciava.

Retomada pela vida

Há pouco mais de um ano, “Micheli” caminhava próxima a sua casa. Estava a caminho de uma “boca” para comprar cocaína. Usava um mini shorts, uma camiseta colada ao corpo e rebolava como uma mocinha. Na calçada, recebeu um convite de um pastor. Na verdade tratava-se de uma passagem com destino à vida. Era a sua redenção, sua libertação. Adão Adriano, pastor da Assembléia de Deus, pediu que fosse a sua casa para receber uma oração. “Eu sabia que aquele garoto estava perdido nas drogas. Por isso quis ajudá-lo”, disse. MDSP aceitou, sem compromisso. Nunca mais saiu do abrigo da Igreja. Foi lá que recebeu orações, se desintoxicou e hoje recorda o passado com arrependimentos.



“Quero seguir o caminho do bem. Sempre orar e estar do lado de Deus”, disse o garoto. Praticamente convertido, ele também fala do lado homossexual, o qual diz ter deixado, esquecido. Num futuro, acredita construir uma família ao lado de uma bela mulher, ter filhos e seguir um destino justo, longe dos demônios que o assombraram. Quanto ao pai e ao irmão, quer trazê-los junto à igreja e também afastar o mal de suas vidas. Às vésperas dos seus 18 anos, “Micheli” foi morta, não existe mais. Nasceu MDSP.

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