segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Boiadeira, segundo Zeca Dirceu

A Estrada Boiadeira completou cem anos em 2010. De lá para cá muita gente se elegeu às custas de promessas jamais cumpridas pela sua conclusão. Em entrevista à TRIBUNA, o deputado federal Zeca Dirceu afirmou que o atual governo se comprometeu em terminá-la. Nem mesmo as supostas denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes serão capazes de evitar a sua consolidação. Ele também deu uma cutucada em lideranças políticas da região que não buscam reivindicar maior agilidade na sua pavimentação.


Dilmércio Daleffe

Nem mesmo as supostas irregularidades envolvendo o Ministério dos Transportes vão evitar a pavimentação da Estrada Boiadeira, afirmou esta semana o deputado federal Zeca Dirceu. Em entrevista exclusiva à TRIBUNA, ele informou que a troca de ministros deve atrasar em até 90 dias a retomada das obras. Mesmo assim, a rodovia é uma prioridade ao governo federal, uma vez que está inserida ao Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. “Esta rodovia não é mais um pedido. É um direito que a região tem pelo mérito de seus empresários e agricultores”, afirmou.

Zeca disse não poder afirmar que a estrada foi palco de desvios de recursos públicos ao longo dos anos. Mas acredita que foi abandonada porque os governos das décadas anteriores a 90 não acreditavam na viabilidade do projeto. Hoje, mesmo com uma nova empresa vencedora da licitação e com recursos assegurados, as obras estão paralisadas, novamente, em virtude da suposta corrupção envolvendo membros do DNIT. Ele acredita que nos próximos meses o projeto comece a ser desenvolvido, principalmente, no trecho compreendido entre Tuneiras do Oeste e Cruzeiro do Oeste.

Estimativas indicam que a obra total ainda custe ao governo cerca de R$500 milhões. Mas pouco se fala de quanto já foi gasto e perdido ao longo dos últimos 40 anos. Trabalhos de terraplanagem foram completamente jogados fora. Dinheiro público que escorreu pela sarjeta. Zeca acredita que governos anteriores almejavam ceder a estrada à iniciativa privada, por isso o abandono. Mas desta vez, segundo ele, o governo está disposto a finalizar a BR-487. “A presidente ainda era ministra quando inseriu a Boiadeira ao Pac. Ela sabe de sua importância. Eu mesmo falei pessoalmente com ela”, disse.

Para o deputado, outro aspecto relevante no atraso das obras é a atuação do Tribunal de Contas da União – TCU. “Não é uma avaliação minha, mas de várias correntes, que o TCU exagera nas suas posições. Paralisa uma grande obra por um pequeno detalhe. Não vê que o atraso traz prejuízos muito maiores ao país”, explicou. Quanto a possibilidade de corrupção no Ministério dos Transportes, Zeca disse ser uma situação lamentável. Mesmo assim, o episódio não evitará a conclusão da rodovia. “Desta vez há vontade política e o Brasil tem recursos a disposição”, afirmou.

CUTUCÕES

Além de uma nova empresa e dinheiro assegurado para mais um trecho da Boaideira, Zeca lembrou que o projeto da estrada entre Cruzeiro do Oeste a Icaraíma está 90% concluído. Trata-se de uma etapa jamais desenvolvida anteriormente. “O governo decidiu investir no projeto. E se fez isso é porque vai concluir a rodovia”, disse. Mas para que isso ocorra, há necessidade de lideranças da região pressionarem o governo. O deputado disse que mesmo ainda quando era prefeito já pedia a conclusão da estrada. “Me surpreende outras lideranças políticas do Paraná e as que têm base eleitoral em Campo Mourão, Cianorte e Umuarama não fazerem isso. Parece que existem políticos que gostam de defender apenas bandeiras fáceis, ou sair na foto daquelas já resolvidas. Eu não sou covarde”, afirmou.

PERSONAGEM

Durvalino Costa veio de longe, do interior de São Paulo, com a idéia de ganhar dinheiro com a pavimentação da Boiadeira. Ele abriu uma borracharia na comunidade de Nova Brasília, as margens da rodovia há quase 25 anos. É bem verdade que ele viu os 33 primeiros quilômetros serem asfaltados. Mas isso foi insignificante para que o negócio da borracharia desse certo. Afinal, o restante da estrada não foi terminado. Em resumo, ele morreu há cerca de cinco anos, sem ganhar dinheiro e o pior, sem presenciar a rodovia ser concluída. Hoje, além de ser personagem na trágica história da estrada, seu túmulo está a poucos metros do asfalto da Boiadeira.

Questionado se conhecia a história de “seo” Durvalino, Zeca Dirceu disse que personagens como ele podem até virem a ser homenageados com a estrada concluída. Mas quem desrespeitou “seo” Durvalino? Enfaticamente o deputado garantiu que se houve desrespeito foi através de governos anteriores a década de 90, os mesmos que tanto prometeram embora jamais ousassem consolidar sua pavimentação. Hoje, segundo ele, os governos do PT vem respeitando a região, principalmente, por começar a viabilizar a conclusão da rodovia.

A HISTÓRIA

A Estrada Boiadeira, BR-487, completou em 2010 um século de vida desde a sua abertura, em 1910. No entanto, foi só a partir de 1950 quando a população iniciou o movimento para que ela fosse pavimentada. Desde então, já se passaram 60 anos e a rodovia, que liga Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste, continua esquecida pelas autoridades. Durante as quatro últimas décadas, ela foi “usada” e prometida por deputados, governadores, ministros e até presidentes. Muitos palanques eleitorais foram levantados a base da Boiadeira. Ao contrário de sua conclusão, o que se viu foram recursos do povo sendo perdidos pelo tempo, num já rotineiro cenário clássico de desperdício do dinheiro público.

O asfaltamento da estrada, uma das principais reivindicações da região, foi iniciado em 1986 pelo governo do estado. Porém a obra foi paralisada logo em seguida e, a erosão acabou destruindo aproximadamente 40% dos serviços de terraplanagem que já havia sido executado no trajeto. Ou seja, o dinheiro utilizado perdeu-se com o tempo. Aberta por volta de 1910, a Estrada Boiadeira, inicialmente, serviu para a condução de gado comprado no Mato Grosso para a engorda nas pastagens do Paraná.

Desde 1950, Campo Mourão e região reivindicam o seu asfaltamento. Além de beneficiar uma vasta região, a pavimentação entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão vai marcar a consolidação do Corredor Setentrional de Exportação. Ou seja, com o término do conjunto de pontes em Porto Camargo, boa parte da produção do Mato Grosso do Sul deverá ser canalizada pela Boiadeira até o Porto de Paranaguá. Campo Mourão e região só tem a ganhar com uma movimentação intensa de tráfego no trecho.

Em março de 2000, em visita a rodovia, o então ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, afirmou que a Estrada Boiadeira, trecho de 73 quilômetros entre Campo Mourão e Cruzeiro do Oeste – seria concluída até 2001. Não foi como continua sendo a principal promessa nos palanques e comícios de toda a região. Do total de 73 Km, apenas 33,5 deles estão completamente concluídos.

Números

• 73 Km é a extensão total da Estrada Boiadeira, que liga Campo Mourão a Cruzeiro do Oeste.
• 25 anos é o tempo que a obra da estrada está abandonada. A construção foi iniciada em 85, com serviços de terraplanagem
• 100 anos completou a estrada em 2010, contando a partir de sua abertura, para a passagem de gado.
• 60 anos é o tempo de espera para a sua pavimentação, desde que a população regional iniciou os movimentos em prol da Boiadeira

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