quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Índios estão importando água

Há um ano vivendo numa aldeia na comunidade do Barreiro das Frutas - 12 quilômetros do centro de Campo Mourão - os indígenas de Verá Tupã’y estão quase sem água. Com a estiagem dos últimos dias, duas das três minas d’água estão impraticáveis. A situação os levou a tomar banho e lavar as roupas no rio. Galões estão sendo “importados” de outra propriedade. Os 25 índios, incluindo dez crianças, estão implorando ajuda.



Dilmércio Daleffe

Descendentes dos Tupi-Guaranis, os indígenas da única aldeia de Campo Mourão – Verá Tupã’y - começam a preocupar-se com a estiagem da região. Com a terra seca, as três minas d’água já estão quase impraticáveis. A solução encontrada agora é levar galões de outra propriedade até os 25 índios. A situação é tão desesperadora que roupas já não estão sendo mais lavadas com a água potável. Banhos passaram a ser no rio. “Sem água não há vida”, diz o cacique Emiliano Medina.

Medina é um legítimo indígena. Responsável pela aldeia, ele incorporou todo o aprendizado de seus ancestrais para cuidar de seu povo. Os defende como um leão. Talvez seja por isso que está fazendo o curso de direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Com sua transferência para Campo Mourão, trancou a matrícula. Mas pretende concluí-lo. Quer no futuro defender as causas indígenas. Ele sabe o que quer.


Bastante preocupado com o cenário de aflição de sua gente, Medina diz que pretende procurar o prefeito Nelson Tureck na próxima semana. Ele deseja buscar uma saída definitiva ao problema. “Desde que chegamos aqui notamos dificuldades quanto a água. Vamos buscar ajuda”, afirmou. Na aldeia vivem quatro famílias, ou seja, 25 pessoas, incluindo dez crianças.
Ainda ontem, o cacique percorreu as minas e as mostrou à reportagem da TRIBUNA. Somente uma delas ainda é utilizada, embora a água não tenha mais a qualidade de antes. Após andar pela aldeia, Medina reuniu-se com parte dos indígenas no Oyguasy – uma espécie de templo sagrado onde são realizadas as orações. Trata-se de uma construção em madeira cujo teto é feito de sapê. Ali, os índios também armazenam a água recém chegada em galões. O líquido vem sendo utilizado apenas para matar a sede e, ao mesmo tempo, fazer a comida.

Aos 42 anos, a indígena Maria Eunice nunca tinha passado por uma situação como esta. “Não temos água suficiente para o que precisamos. O jeito é economizar para não faltar”, diz. Casada e com um filho na aldeia, ela disse estar lavando a roupa da família no rio. João Mário da Silva também se diz preocupado. Aos 55 anos, ele viu quase tudo o que plantou se perder devido à falta de chuva. Segundo ele, os pés de laranja, palmito e mandioca morreram pela estiagem.




Os indígenas chegaram a Campo Mourão há praticamente um ano. Vieram motivados pelo resgate cultural do Caminho do Peabiru. Desde então compraram dois alqueires no Barreiro das Frutas e lá levantaram suas casas. Mal sabiam eles que, juntamente com o propósito de suas raízes, também sofreriam. No final do ano, mais especificamente há duas semanas, perderam quase toda a criação de galinhas. Segundo Medina, elas foram intoxicadas. Agora, estão sentindo na pele a possibilidade de ficarem sem água. Definitivamente, o ano não foi bom aos índios. Se não encontrarem ajuda municipal e ainda, o tempo não colaborar nas próximas semanas, não terão outra alternativa senão apelar à dança da chuva.

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