sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A grandeza de Gregório Chornobay

Ele teve uma infância pobre e sem brinquedos. Construía seus carrinhos com latas de sardinha e sabugos de milho. Mas agora, já marmanjão, desafiou seus chefes para que a empresa em que trabalha doasse milhares de brinquedinhos às crianças carentes. Ele é Gregório Chornobay, um mecânico industrial que, aos 51 anos de idade, fez a diferença.


Dilmércio Daleffe

Ele salvou o Natal de pelo menos 600 crianças carentes. Mesmo trabalhando duro num serviço brutal, onde a graxa mistura-se ao corpo e às peças pesadas, provou ter um coração dos mais frágeis. Demonstrou ter a sensibilidade de um inocente. Aos 51 anos de idade, Gregório Bogdan Chornobay é um mero mecânico industrial. Mora numa casa simples rodeado pelos mais de 12 cães da raça Shitzu, a esposa e o filho de dez anos. Mourãoense nato, decidiu desafiar os patrões e fazer valer o espírito natalino. Gregório é definitivamente o “cara”.

A história do mecânico começa em novembro. Prestando serviços em uma empresa da cidade, ele observou a chegada de inúmeros sacos sujos, todos repletos de pequenas peças de plástico. O material estava ali para ser destruído e, consequentemente, incinerado. Viraria matéria prima. Ao verificar do que se tratava aquele colorido, descobriu que eram milhares de carrinhos, helicópteros e outros brinquedinhos, todos desmontados. Foi então que, comovido, pediu aos três chefes que não o destruíssem, mas sim, doassem às crianças carentes da cidade. Dois deles não deram muita bola. Mas o último entendeu o apelo e aceitou doar os brinquedos.

A partir daí, Gregório levou os sacos repletos de brinquedinhos até a assistente social do Programa Mesa Brasil, do SESC – projeto ligado ao sistema Fecomércio. Maria Eugênia Calixto vinha arrecadando brinquedos por toda a cidade com o objetivo em doá-los a entidades carentes de Campo Mourão e região. Para isso, ela encontra na figura de Marcos Batista de Souza – gerente executivo do Sesc – forças para dinamizar a programação. A chegada do mecânico até ela foi comovente. Ela não acreditava no que via. Era mais que um presente. Era a certeza de que o bem prevalecia. A confirmação de que o espírito do Natal ultrapassava barreiras. Era a garantia de que o sorriso de centenas de crianças pobres estava garantido. Deus existe.

Os brinquedinhos chegaram em grandes sacos sujos. Estavam desmontados e precisavam ser lavados. A partir daí começou uma mega operação. Uma equipe do SESC limpou uma a uma as peças. Depois foram secas e, somente após isso, iniciou-se a montagem das unidades. Crianças e idosos de programas da entidade colaboraram na produção dos brinquedos. Ao todo foram montados quase seis mil presentinhos. Cada dez deles passaram a fazer parte de um Kit e distribuídos aos menores carentes. Crianças pobres, despidas de luxo e sem perspectivas de receber presentes dos pais. Menores inocentes impedidos de sorrir pela condição econômica de suas famílias. Mesmo sendo simples brinquedos, a alegria chegou.

O cara

Gregório vive sujo de graxa. Ele é um profissional dedicado a consertar maquinários enormes da indústria mecânica. É descendente de ucranianos. Seus avós nasceram na Europa. Veio de uma família de seis irmãos. Dois já morreram. Sensibilizado pela sua atitude, ele explica que lutou pela doação dos brinquedos porque lembrou de sua infância sofrida. “Eu nunca tive brinquedos quando era pequeno. Me divertia fazendo carrinhos com latas de sardinha. As rodas fazia de partes do sabugo de milho”, disse. De acordo com ele, a família era muito carente. A renda vinha apenas do pai, um simples ferreiro nas décadas de 40 e 50.

No momento em que viu os brinquedos no interior da sacaria, não pensou em outra coisa senão nas crianças. “Lembro da infância e penso que outras milhares de crianças passam o que eu passei. Estou muito feliz com que fiz”, afirma. Pobre e sem presentes, Gregório ainda se lembra da vez que sua madrinha trouxe um carrinho de lata quando era menino. Com medo de que alguém lhe tirasse o brinquedo, o escondeu sob o assoalho da velha casa de madeira da família, lá pelos idos de 1970. De tão escondido, o esqueceu. Há 15 anos, quando a casa foi desmanchada, os pedreiros encontraram o carrinho, para espanto de Gregório.

Feliz em poder ter ajudado centenas de crianças, Gregório fez mais. Parte das peças ele levou para casa e, junto ao filho e a esposa, montou mais algumas centenas de brinquedos. Ás vésperas do Natal, ele foi de carro até algumas cidades da região, quando semeou os presentes a diversas crianças carentes, como ele mesmo era. Gregório é hoje um “marmanjão” de barba na cara e tudo. Mas quando fala no que fez, volta a ser criança. O passado que o diga.

BOX

O que é o Mesa Brasil?
É um programa de segurança alimentar e nutricional que trabalha no combate à fome e ao desperdício de alimentos, formando uma rede nacional de solidariedade. Atua como uma ponte entre empresas que têm alimentos para doar e instituições sociais. Existe no Paraná desde 2003. Um dos braços do programa é o projeto “Devolva a alegria ao seu brinquedo”. Ou seja, visando o final de ano, o Sesc colabora na arrecadação de brinquedos para doar a crianças carentes.

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