terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Prefeitura de Nova Tebas exonera 98 de uma só vez
Dilmércio Daleffe
A voz de Karina, telefonista e recepcionista da prefeitura de Nova Tebas – 73 Km de Campo Mourão - foi ouvida pela última vez ontem. É que ela e outros 97 servidores municipais foram exonerados pela prefeita Heloísa Ivazek Jensen (PRTB). Juntos, todos foram apanhados de surpresa. Foi o pior presente de Natal já visto na pequena cidade de pouco mais de sete mil habitantes. De acordo com assessores, a decisão aconteceu após a prefeita ser recomendada pelo Ministério Público em demitir quem não tivesse concurso público. Ou seja, segundo o MP, “trata-se de cargos irregulares, o que fere os princípios da legalidade, moralidade e eficiência do interesse público”, assinou Ricardo Fonseca Basso, promotor de justiça.
A partir de hoje, 25% dos 398 servidores não trabalham mais. Com isso, grande parte dos departamentos públicos da cidade ficarão fechados, inclusive o próprio prédio da prefeitura. Uma placa já havia sido colocada na porta ontem: “fechado”. De acordo com Edson Camargo, assessor da prefeita, somente três concursados permanecerão trabalhando na sede municipal. “Por isso a placa. Como três vão atender a tudo”? questiona. Camargo também é um dos demitidos. Ele disse que o final de ano será triste, sem perspectivas. Todos os exonerados ganhavam salário entre R$545 e R$1,5 mil.
Segundo levantamento, ainda em 2010 a prefeita tentou realizar um concurso público. No entanto, a falta de alguns documentos impediram a sua realização. Agora, um novo processo seletivo já está com inscrições abertas. Acontecerá no próximo dia 08. São quase 200 vagas. Atuando no departamento de Esportes de Nova Tebas, Odair de Oliveira, 54 anos, também foi pego de surpresa. “Temos compromissos. Foi uma medida terrível”, afirma. Segundo ele, a preocupação maior é para quem sobrevive única e exclusivamente do salário municipal. “Fico pensando nos pais de família que dependem deste dinheiro”, disse.
Com a saída dos 98 servidores, alguns setores públicos ficarão comprometidos, afirma Camargo. Um deles é o único hospital da cidade. “Não tenho nenhuma dúvida. Ele vai ser fechado pela falta de pessoas para trabalhar”, diz. Além dele, Ciretran, o pátio de obras e até o departamento de Agricultura não conseguirão mais atuar. Ainda ontem, assessores informaram que a prefeita já entrou com recurso contra a recomendação do MP.
Com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná, Nova Tebas tem na prefeitura a maior empregadora da cidade. O município não possui indústrias e ainda conta com um comércio inexpressivo, sem poder para absorver os 98 desempregados. Depois dos salários municipais, certamente a maior renda vem dos benefícios federais, como aposentadorias, pensões e bolsas família. Na região de Campo Mourão, Nova Tebas é uma das cidades mais carentes. São apenas duas avenidas com asfalto, algumas com paralelepípedos e a maior parte das vias sem pavimentação. Ainda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município mantém uma incidência de pobreza de 42,82%. Além disso, tem 18,2% de seus habitantes, ou seja, 1020 pessoas, que não sabem ler ou escrever.
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