segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os heróis estão entre nós

Há duas semanas um incêndio interrompeu a vida do menino Luiz, de apenas 12 anos. Ele morreu vítima do fogo em Campo Mourão. Mas sua irmã, Viviane, foi salva devido a ajuda imediata de dois jovens, Diony e Igor. Sem medo e despidos da covardia, arrombaram a casa para salvar a moça. A comunidade perdeu o menino. Mas ganhou dois heróis.



Dilmércio Daleffe

Diony Peterlini tem 24 anos e trabalha num banco como vigilante. Igor Gabriel de Souza é apenas um estudante de 15 anos. Seus sonhos são diferentes, assim como o dia a dia de cada um. Em comum somente a vizinhança. Moram próximos, na Vila Rio Grande, em Campo Mourão. Mas um ato heróico os mantém unidos. Juntos, eles salvaram uma jovem de 24 anos. Não fosse a bravura dos garotos, Viviane agora estaria morta, queimada dentro da própria casa. O fato aconteceu há duas semanas quando vitimou o menino Luiz, irmão da moça salva. Quis o destino que Diony e Igor chegassem em casa segundos antes do incêndio. Eram quase 23 horas. Um havia retornado do futebol. Outro do trabalho. Mesmo cansados, deixaram a acomodação da juventude de lado e partiram sobre a porta do imóvel em chamas. Salvaram uma vida.

Diony é um garoto sem maldades. Está escrito na cara dele. Evangélico, trabalha há um ano como vigilante de banco em Campo Mourão. Atua armado, mas ainda não precisou utilizar a pistola. Queria ser jogador de futebol. Até tentou anos antes, quando jogou como lateral na Adap e no Sport. Mas as chances de promoção são difíceis. Definitivamente, o sol não brilha para todos nos gramados. Então ele desistiu. Fez um curso para vigia. Foi aprovado e agora trabalha na área. Mesmo depois da jornada, vez em quando, joga uma pelada com os amigos. No dia 23 de novembro, dia do incêndio, ele jogou. Ao voltar para casa, encontrou o vizinho e colega Igor. Conversaram algumas palavras e, quando adentraram os portões de seus lares, viram as chamas.

Aos 15 anos de idade, Igor é somente um menino. Estuda a sétima série no Colégio Estadual e trabalha na sorveteria do tio. Lá, faz de tudo um pouco. Fabrica os picolés, entrega encomendas e também atende no balcão. É um menino de ouro. Com uma conversa fácil e um sorriso de graça, ele tem o sonho em ser um dia, arquiteto. Mas antes disso, não para de pensar no incêndio daquele dia. Ele lembra que trabalhou até as 22 horas do dia 23. Quando chegou próximo a sua casa, viu Diony chegar de moto. Conversaram um pouco. Minutos depois disso, perceberam fogo na casa ao lado. A partir daí, uma vida foi salva.

A bravura

Ainda dentro de sua casa, Diony arremessou um objeto na janela do imóvel em chamas. Até então, ele não sabia se os irmãos estavam lá. “Pensei que pudessem estar dormindo. Joguei pra ver se eles acordavam. E deu certo”, disse. Nesse momento, Viviane começou a gritar. Diony e Igor se encontraram no caminho até o incêndio e, juntos, iniciaram uma tentativa de arrombamento da porta. Mas um cadeado na parte interna impedia a sua abertura. O jeito então foi chutá-la. Depois socá-la. Nada adiantava. Enquanto isso, os gritos aumentavam. Uma das tábuas então começou a soltar-se e foi aí que os dois conseguiram puxar Viviane. Já fora da casa, antes de desmaiar, ela pedia por Luiz.

Igor e Diony voltaram e tentaram encontrar o menino. Mas as explosões e as labaredas impediam que adentrassem ao imóvel. Pela mesma fresta em que salvaram Viviane, avistaram Luiz. Quando alcançaram seu braço, o puxaram. “Acho que ele ficou mais tempo porque tentou encontrar seus dois cachorrinhos. Eles morreram no incêndio”, disse Diony. O menino foi salvo, mas com o corpo completamente comprometido pelas chamas. De acordo com os dois heróis, a pele derretia. “Foi muito comovente vê-lo daquela maneira. Ele sofreu muito”, lembra Diony. A história do pequeno Luiz terminaria horas mais tarde. Ele não suportou os ferimentos e morreu.

Diony não consegue apagar de sua memória o que vivenciou. Tirou forças não sabe de onde para salvar os irmãos. “Acho que a coragem é uma coisa própria de Deus. Não tem explicação”, argumenta. Segundo ele, foi um ato impensado, impulsivo. Mesmo assim, faria tudo novamente, se precisasse. Já Igor, com um largo sorriso de menino, não sabe a grandeza de seu ato. Por ser novo, a ficha ainda não caiu. Pela sua inocência, ele até da risada. Acha que não fez nada de mais. Mas salvou uma vida. E quanto vale uma vida?

Diante do fato, os dois já se reencontraram com Viviane. Ela os agradeceu muito e chorou, comovida pela atitude dos heróis. Apesar de salvarem a irmã, ainda acreditam que podiam ter salvo Luiz, mas quis o destino que ele não sobrevivesse. Igor era amigo da vítima e acredita tratar-se de um anjo. “Ele era mais que um anjo. Tinha alguma coisa diferente nele. Todos gostavam muito dele”, afirmou. Embora a história não tenha um completo final feliz, os laços de Diony, Igor e Viviane estarão unidos para sempre. O destino dos três se cruzaram. Um anjo se foi, mas os heróis continuam entre nós.

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