Adalto só queria ver a alegria das crianças. Ganhava apenas R$30 ao dia para vestir-se como Papai Noel na praça de Moreira Sales. Mas sua felicidade acabou na segunda-feira, depois que um assassino tirou sua vida. Definitivamente, o Natal não será o mesmo na comunidade.
Dilmércio Daleffe
Madrugada de segunda-feira, Avenida Belém, periferia de Moreira Sales. Na via sem pavimentação, ainda sob a poeira levantada pelos automóveis, um corpo esfaqueado era encontrado já sem vida. Adalto Querinas da Costa, aos 39 anos, acabava de ser assassinado por causa de míseros R$ 30. O crime aconteceu seis dias antes do Natal. Coincidentemente, a vítima era o Papai Noel oficial da cidade. Moreira Sales está de luto, comovida pela barbárie envolvendo um personagem mítico, principalmente, às crianças. Não bastasse a comoção dos adultos, horas mais tarde um carro fúnebre passa pelo centro da cidade anunciando não a morte de Adalto, mas sim a do Papai Noel.
Definitivamente, o Natal não será o mesmo na comunidade.
Adalto era uma figura do bem, querido pela vizinhança. Colaborava pelo bem estar do bairro – Vila Belém – e, de vez em quando, ajudava alguns moradores a pagar um talão de luz ou água. No começo do ano estimulou a população a guardar materiais recicláveis. A venda deles reverteu-se em dinheiro e, consequentemente, à compra de comida às crianças carentes. Uma atitude nobre. Trabalhador de uma serraria, passou a atuar como o Papai Noel oficial da prefeitura nos últimos três anos. Era apenas um bico. Ganhava cerca de R$ 30 ao dia. Mas, segundo sua viúva, Cícera, o dinheiro não contava. “Ele tinha satisfação no que fazia. Chegava em casa feliz, contando as histórias das crianças”, disse. Muitas foram as fotos ao lado da criançada. Mas uma delas não chegou a posar com ele: Moisés, o próprio filho de apenas um ano e meio. A foto estava marcada para o próximo domingo, dia do Natal.
Último ato
O último ato de Adalto como Papai Noel aconteceu no domingo. Ficou na praça da cidade vestido até a meia noite. Depois disso tirou a roupa vermelha e voltou para casa. Chegou contente, lembrando os pedidos das crianças. De acordo com a esposa, ele esquentou a janta e comeu ao lado dela, no cantinho da cama. Enquanto se alimentava, conversava sobre o Natal. O casal estava feliz. Ao lado, no berçinho, o filho Moisés dormia. Em seguida, ainda com o prato no colo, alguém bate palmas no portão. Era o tal “Cesinha”, o principal suspeito do crime. Cícera teria pedido que não fosse até lá, mas não adiantou. Lá fora uma discussão teve início. Adalto começou a correr em volta da casa, fugindo do impiedoso facão nas mãos do agressor. Saiu pelo portão em direção à rua, mas foi alcançado e morto por diversos golpes.
Segundo o sogro, “Cesinha” teria trabalhado um dia na serraria ao lado de Adalto. Pelo dia de serviço receberia R$30. O dinheiro foi entregue no outro dia para que a vítima entregasse a ele. No entanto, Adalto não teve tempo para apanhar a quantia. Foi morto à toa, numa fúria sem explicação por um provável usuário de drogas. O autor do homicídio ainda está foragido, Saiu há alguns dias da cadeia e já responde por outros assassinatos. Policiais o descrevem como um elemento de alta periculosidade. A PM o quer de qualquer maneira.
Para a viúva, o Natal nunca mais será comemorado. Ela agora só pensa em justiça. “Quero que ele pague por tudo o que fez”, disse. Assim como ela, grande parte da cidade se comoveu com o fato. As crianças foram comunicadas da morte do Papai Noel pelo carro de som. Já os adultos ficaram chocados pela barbárie do crime. Ainda ontem a primeira dama de Moreira Sales, Margareth Volpato, disse que não sabe se colocará outro personagem na praça. “O adalto era uma figura marcante. Era boa gente. As crianças aqui ainda estão questionando sobre a morte do Papai Noel. Está difícil”, explicou. Enquanto o município não se decide, a roupa usada por Adalto continua guardada. A praça da cidade também parece nostálgica. Segundo alguns aposentados, o lugar está realmente mais triste, faltando alguma coisa.
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