Humanos, por Dilmércio Daleffe
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Papai Noel é assassinado em Moreira Sales
Adalto só queria ver a alegria das crianças. Ganhava apenas R$30 ao dia para vestir-se como Papai Noel na praça de Moreira Sales. Mas sua felicidade acabou na segunda-feira, depois que um assassino tirou sua vida. Definitivamente, o Natal não será o mesmo na comunidade.
Dilmércio Daleffe
Madrugada de segunda-feira, Avenida Belém, periferia de Moreira Sales. Na via sem pavimentação, ainda sob a poeira levantada pelos automóveis, um corpo esfaqueado era encontrado já sem vida. Adalto Querinas da Costa, aos 39 anos, acabava de ser assassinado por causa de míseros R$ 30. O crime aconteceu seis dias antes do Natal. Coincidentemente, a vítima era o Papai Noel oficial da cidade. Moreira Sales está de luto, comovida pela barbárie envolvendo um personagem mítico, principalmente, às crianças. Não bastasse a comoção dos adultos, horas mais tarde um carro fúnebre passa pelo centro da cidade anunciando não a morte de Adalto, mas sim a do Papai Noel.
Definitivamente, o Natal não será o mesmo na comunidade.
Adalto era uma figura do bem, querido pela vizinhança. Colaborava pelo bem estar do bairro – Vila Belém – e, de vez em quando, ajudava alguns moradores a pagar um talão de luz ou água. No começo do ano estimulou a população a guardar materiais recicláveis. A venda deles reverteu-se em dinheiro e, consequentemente, à compra de comida às crianças carentes. Uma atitude nobre. Trabalhador de uma serraria, passou a atuar como o Papai Noel oficial da prefeitura nos últimos três anos. Era apenas um bico. Ganhava cerca de R$ 30 ao dia. Mas, segundo sua viúva, Cícera, o dinheiro não contava. “Ele tinha satisfação no que fazia. Chegava em casa feliz, contando as histórias das crianças”, disse. Muitas foram as fotos ao lado da criançada. Mas uma delas não chegou a posar com ele: Moisés, o próprio filho de apenas um ano e meio. A foto estava marcada para o próximo domingo, dia do Natal.
Último ato
O último ato de Adalto como Papai Noel aconteceu no domingo. Ficou na praça da cidade vestido até a meia noite. Depois disso tirou a roupa vermelha e voltou para casa. Chegou contente, lembrando os pedidos das crianças. De acordo com a esposa, ele esquentou a janta e comeu ao lado dela, no cantinho da cama. Enquanto se alimentava, conversava sobre o Natal. O casal estava feliz. Ao lado, no berçinho, o filho Moisés dormia. Em seguida, ainda com o prato no colo, alguém bate palmas no portão. Era o tal “Cesinha”, o principal suspeito do crime. Cícera teria pedido que não fosse até lá, mas não adiantou. Lá fora uma discussão teve início. Adalto começou a correr em volta da casa, fugindo do impiedoso facão nas mãos do agressor. Saiu pelo portão em direção à rua, mas foi alcançado e morto por diversos golpes.
Segundo o sogro, “Cesinha” teria trabalhado um dia na serraria ao lado de Adalto. Pelo dia de serviço receberia R$30. O dinheiro foi entregue no outro dia para que a vítima entregasse a ele. No entanto, Adalto não teve tempo para apanhar a quantia. Foi morto à toa, numa fúria sem explicação por um provável usuário de drogas. O autor do homicídio ainda está foragido, Saiu há alguns dias da cadeia e já responde por outros assassinatos. Policiais o descrevem como um elemento de alta periculosidade. A PM o quer de qualquer maneira.
Para a viúva, o Natal nunca mais será comemorado. Ela agora só pensa em justiça. “Quero que ele pague por tudo o que fez”, disse. Assim como ela, grande parte da cidade se comoveu com o fato. As crianças foram comunicadas da morte do Papai Noel pelo carro de som. Já os adultos ficaram chocados pela barbárie do crime. Ainda ontem a primeira dama de Moreira Sales, Margareth Volpato, disse que não sabe se colocará outro personagem na praça. “O adalto era uma figura marcante. Era boa gente. As crianças aqui ainda estão questionando sobre a morte do Papai Noel. Está difícil”, explicou. Enquanto o município não se decide, a roupa usada por Adalto continua guardada. A praça da cidade também parece nostálgica. Segundo alguns aposentados, o lugar está realmente mais triste, faltando alguma coisa.
Dilmércio Daleffe
Madrugada de segunda-feira, Avenida Belém, periferia de Moreira Sales. Na via sem pavimentação, ainda sob a poeira levantada pelos automóveis, um corpo esfaqueado era encontrado já sem vida. Adalto Querinas da Costa, aos 39 anos, acabava de ser assassinado por causa de míseros R$ 30. O crime aconteceu seis dias antes do Natal. Coincidentemente, a vítima era o Papai Noel oficial da cidade. Moreira Sales está de luto, comovida pela barbárie envolvendo um personagem mítico, principalmente, às crianças. Não bastasse a comoção dos adultos, horas mais tarde um carro fúnebre passa pelo centro da cidade anunciando não a morte de Adalto, mas sim a do Papai Noel.
Definitivamente, o Natal não será o mesmo na comunidade.
Adalto era uma figura do bem, querido pela vizinhança. Colaborava pelo bem estar do bairro – Vila Belém – e, de vez em quando, ajudava alguns moradores a pagar um talão de luz ou água. No começo do ano estimulou a população a guardar materiais recicláveis. A venda deles reverteu-se em dinheiro e, consequentemente, à compra de comida às crianças carentes. Uma atitude nobre. Trabalhador de uma serraria, passou a atuar como o Papai Noel oficial da prefeitura nos últimos três anos. Era apenas um bico. Ganhava cerca de R$ 30 ao dia. Mas, segundo sua viúva, Cícera, o dinheiro não contava. “Ele tinha satisfação no que fazia. Chegava em casa feliz, contando as histórias das crianças”, disse. Muitas foram as fotos ao lado da criançada. Mas uma delas não chegou a posar com ele: Moisés, o próprio filho de apenas um ano e meio. A foto estava marcada para o próximo domingo, dia do Natal.
Último ato
O último ato de Adalto como Papai Noel aconteceu no domingo. Ficou na praça da cidade vestido até a meia noite. Depois disso tirou a roupa vermelha e voltou para casa. Chegou contente, lembrando os pedidos das crianças. De acordo com a esposa, ele esquentou a janta e comeu ao lado dela, no cantinho da cama. Enquanto se alimentava, conversava sobre o Natal. O casal estava feliz. Ao lado, no berçinho, o filho Moisés dormia. Em seguida, ainda com o prato no colo, alguém bate palmas no portão. Era o tal “Cesinha”, o principal suspeito do crime. Cícera teria pedido que não fosse até lá, mas não adiantou. Lá fora uma discussão teve início. Adalto começou a correr em volta da casa, fugindo do impiedoso facão nas mãos do agressor. Saiu pelo portão em direção à rua, mas foi alcançado e morto por diversos golpes.
Segundo o sogro, “Cesinha” teria trabalhado um dia na serraria ao lado de Adalto. Pelo dia de serviço receberia R$30. O dinheiro foi entregue no outro dia para que a vítima entregasse a ele. No entanto, Adalto não teve tempo para apanhar a quantia. Foi morto à toa, numa fúria sem explicação por um provável usuário de drogas. O autor do homicídio ainda está foragido, Saiu há alguns dias da cadeia e já responde por outros assassinatos. Policiais o descrevem como um elemento de alta periculosidade. A PM o quer de qualquer maneira.
Para a viúva, o Natal nunca mais será comemorado. Ela agora só pensa em justiça. “Quero que ele pague por tudo o que fez”, disse. Assim como ela, grande parte da cidade se comoveu com o fato. As crianças foram comunicadas da morte do Papai Noel pelo carro de som. Já os adultos ficaram chocados pela barbárie do crime. Ainda ontem a primeira dama de Moreira Sales, Margareth Volpato, disse que não sabe se colocará outro personagem na praça. “O adalto era uma figura marcante. Era boa gente. As crianças aqui ainda estão questionando sobre a morte do Papai Noel. Está difícil”, explicou. Enquanto o município não se decide, a roupa usada por Adalto continua guardada. A praça da cidade também parece nostálgica. Segundo alguns aposentados, o lugar está realmente mais triste, faltando alguma coisa.
Prefeitura de Nova Tebas exonera 98 de uma só vez
Dilmércio Daleffe
A voz de Karina, telefonista e recepcionista da prefeitura de Nova Tebas – 73 Km de Campo Mourão - foi ouvida pela última vez ontem. É que ela e outros 97 servidores municipais foram exonerados pela prefeita Heloísa Ivazek Jensen (PRTB). Juntos, todos foram apanhados de surpresa. Foi o pior presente de Natal já visto na pequena cidade de pouco mais de sete mil habitantes. De acordo com assessores, a decisão aconteceu após a prefeita ser recomendada pelo Ministério Público em demitir quem não tivesse concurso público. Ou seja, segundo o MP, “trata-se de cargos irregulares, o que fere os princípios da legalidade, moralidade e eficiência do interesse público”, assinou Ricardo Fonseca Basso, promotor de justiça.
A partir de hoje, 25% dos 398 servidores não trabalham mais. Com isso, grande parte dos departamentos públicos da cidade ficarão fechados, inclusive o próprio prédio da prefeitura. Uma placa já havia sido colocada na porta ontem: “fechado”. De acordo com Edson Camargo, assessor da prefeita, somente três concursados permanecerão trabalhando na sede municipal. “Por isso a placa. Como três vão atender a tudo”? questiona. Camargo também é um dos demitidos. Ele disse que o final de ano será triste, sem perspectivas. Todos os exonerados ganhavam salário entre R$545 e R$1,5 mil.
Segundo levantamento, ainda em 2010 a prefeita tentou realizar um concurso público. No entanto, a falta de alguns documentos impediram a sua realização. Agora, um novo processo seletivo já está com inscrições abertas. Acontecerá no próximo dia 08. São quase 200 vagas. Atuando no departamento de Esportes de Nova Tebas, Odair de Oliveira, 54 anos, também foi pego de surpresa. “Temos compromissos. Foi uma medida terrível”, afirma. Segundo ele, a preocupação maior é para quem sobrevive única e exclusivamente do salário municipal. “Fico pensando nos pais de família que dependem deste dinheiro”, disse.
Com a saída dos 98 servidores, alguns setores públicos ficarão comprometidos, afirma Camargo. Um deles é o único hospital da cidade. “Não tenho nenhuma dúvida. Ele vai ser fechado pela falta de pessoas para trabalhar”, diz. Além dele, Ciretran, o pátio de obras e até o departamento de Agricultura não conseguirão mais atuar. Ainda ontem, assessores informaram que a prefeita já entrou com recurso contra a recomendação do MP.
Com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná, Nova Tebas tem na prefeitura a maior empregadora da cidade. O município não possui indústrias e ainda conta com um comércio inexpressivo, sem poder para absorver os 98 desempregados. Depois dos salários municipais, certamente a maior renda vem dos benefícios federais, como aposentadorias, pensões e bolsas família. Na região de Campo Mourão, Nova Tebas é uma das cidades mais carentes. São apenas duas avenidas com asfalto, algumas com paralelepípedos e a maior parte das vias sem pavimentação. Ainda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município mantém uma incidência de pobreza de 42,82%. Além disso, tem 18,2% de seus habitantes, ou seja, 1020 pessoas, que não sabem ler ou escrever.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O universo paralelo de Nilton
Dilmércio Daleffe
Rodovia Br-369, quilômetro 375. Ontem, às 16 horas, sob um céu nebuloso e ensolarado, um andarilho das estradas decidiu falar. Calado nos últimos 26 anos, ele não tinha ninguém mais com quem conversar. Aos 57 anos de idade, Nilton Cornélio Bernardes vive num universo só dele. Trata-se de um mundo paralelo onde tudo gira ao seu redor. Em resumo, é o dono e rei do seu próprio pedaço. Foi encontrado carregando uma pasta preta do tipo 007. Cansado, sentou sob a sombra de um barranco e tirou os sapatos. Os dois furados. Os pés estavam machucados. De manhã até à tarde, ele havia andado mais de 70 quilômetros. Definitivamente, Nilton é um cara sofrido.
Ali entre o gramado da BR e o barranco, Nilton sentou-se sobre o cimento da canaleta e falou da vida. Nasceu em São Jorge do Ivaí e depois de algum tempo casou-se com uma mulher que prefere nem mencionar o nome. Da união nasceram quatro filhos. Um deles já morreu. Outras três meninas, segundo ele, estão casadas. Todas bem. Mas quando lembra da ex-companheira, fica irritado, nervoso. Começou a gritar.
Nilton sentou-se novamente e, numa calma de dar inveja, relatou que trabalhava na construção civil. “Pedreiro igual eu ta pra nascer”, disse. Mas atualmente, vem se dedicando à cura das pessoas. Diz que consegue livrar o mal de qualquer um. Seja a doença que existir ele alcança a cura. Para isso basta encontrar as ervas necessárias em meio ao mato. “Não precisamos de dinheiro para salvar os doentes. A natureza está aí pra isso”, revela. A reportagem bem que tentou fazer com que abrisse a maleta 007 para mostrar os “medicamentos”, mas ele desconversou e não a abriu.
Nilton é um cara do bem. Fala muito em Deus e cultiva seus próprios espíritos. Afinal, são eles quem o acompanham em sua jornada. Além da maleta preta, carrega consigo outra bolsa com pertences pessoais. Mas o que o preocupa são os sapatos. Velhos e cansados da intensa caminhada, estão furados. Para agüentar ainda mais os quilômetros a seguir, os forrou com um papelão. O chulé é atormentador.
No seu universo paralelo, Nilton acredita ser dono de uma fazenda de mais de seis mil hectares no Mato Grosso. Lá ele cria gado. A propriedade está sendo administrada por um genro. Também diz ser engenheiro. Acreditava que o nome da presidente do Brasil fosse “França”. Ela teria tido, inclusive, uma conversa com ele, em particular é claro. Teria pedido conselhos para administrar o país. Coisas de Nilton.
Na verdade, Nilton é apenas mais um invisível. Um ser humano sem documentos e que jamais será visto pela sociedade. É mais cômodo não ver os problemas marginais. Não vota, não precisa de dinheiro e não vive na correria dos dias de hoje. Está longe do consumo. Isso tudo é bom, por um lado. Mas por outro, é terrível. Dorme ao relento, necessita de ajuda para comer e até para beber. Está sozinho no mundo. Vive na insegurança. O mundinho o qual ele é dono, tem seus prós e também seus contras. Mas foi ele quem o escolheu e assim morrerá sendo rei.
Nilton e a mala 007 |
Dilmércio Daleffe
Rodovia Br-369, quilômetro 375. Ontem, às 16 horas, sob um céu nebuloso e ensolarado, um andarilho das estradas decidiu falar. Calado nos últimos 26 anos, ele não tinha ninguém mais com quem conversar. Aos 57 anos de idade, Nilton Cornélio Bernardes vive num universo só dele. Trata-se de um mundo paralelo onde tudo gira ao seu redor. Em resumo, é o dono e rei do seu próprio pedaço. Foi encontrado carregando uma pasta preta do tipo 007. Cansado, sentou sob a sombra de um barranco e tirou os sapatos. Os dois furados. Os pés estavam machucados. De manhã até à tarde, ele havia andado mais de 70 quilômetros. Definitivamente, Nilton é um cara sofrido.
Ali entre o gramado da BR e o barranco, Nilton sentou-se sobre o cimento da canaleta e falou da vida. Nasceu em São Jorge do Ivaí e depois de algum tempo casou-se com uma mulher que prefere nem mencionar o nome. Da união nasceram quatro filhos. Um deles já morreu. Outras três meninas, segundo ele, estão casadas. Todas bem. Mas quando lembra da ex-companheira, fica irritado, nervoso. Começou a gritar.
Pés moídos depois da caminhada |
Nilton sentou-se novamente e, numa calma de dar inveja, relatou que trabalhava na construção civil. “Pedreiro igual eu ta pra nascer”, disse. Mas atualmente, vem se dedicando à cura das pessoas. Diz que consegue livrar o mal de qualquer um. Seja a doença que existir ele alcança a cura. Para isso basta encontrar as ervas necessárias em meio ao mato. “Não precisamos de dinheiro para salvar os doentes. A natureza está aí pra isso”, revela. A reportagem bem que tentou fazer com que abrisse a maleta 007 para mostrar os “medicamentos”, mas ele desconversou e não a abriu.
Nilton é um cara do bem. Fala muito em Deus e cultiva seus próprios espíritos. Afinal, são eles quem o acompanham em sua jornada. Além da maleta preta, carrega consigo outra bolsa com pertences pessoais. Mas o que o preocupa são os sapatos. Velhos e cansados da intensa caminhada, estão furados. Para agüentar ainda mais os quilômetros a seguir, os forrou com um papelão. O chulé é atormentador.
No seu universo paralelo, Nilton acredita ser dono de uma fazenda de mais de seis mil hectares no Mato Grosso. Lá ele cria gado. A propriedade está sendo administrada por um genro. Também diz ser engenheiro. Acreditava que o nome da presidente do Brasil fosse “França”. Ela teria tido, inclusive, uma conversa com ele, em particular é claro. Teria pedido conselhos para administrar o país. Coisas de Nilton.
Na verdade, Nilton é apenas mais um invisível. Um ser humano sem documentos e que jamais será visto pela sociedade. É mais cômodo não ver os problemas marginais. Não vota, não precisa de dinheiro e não vive na correria dos dias de hoje. Está longe do consumo. Isso tudo é bom, por um lado. Mas por outro, é terrível. Dorme ao relento, necessita de ajuda para comer e até para beber. Está sozinho no mundo. Vive na insegurança. O mundinho o qual ele é dono, tem seus prós e também seus contras. Mas foi ele quem o escolheu e assim morrerá sendo rei.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Os heróis estão entre nós
Há duas semanas um incêndio interrompeu a vida do menino Luiz, de apenas 12 anos. Ele morreu vítima do fogo em Campo Mourão. Mas sua irmã, Viviane, foi salva devido a ajuda imediata de dois jovens, Diony e Igor. Sem medo e despidos da covardia, arrombaram a casa para salvar a moça. A comunidade perdeu o menino. Mas ganhou dois heróis.
Dilmércio Daleffe
Diony Peterlini tem 24 anos e trabalha num banco como vigilante. Igor Gabriel de Souza é apenas um estudante de 15 anos. Seus sonhos são diferentes, assim como o dia a dia de cada um. Em comum somente a vizinhança. Moram próximos, na Vila Rio Grande, em Campo Mourão. Mas um ato heróico os mantém unidos. Juntos, eles salvaram uma jovem de 24 anos. Não fosse a bravura dos garotos, Viviane agora estaria morta, queimada dentro da própria casa. O fato aconteceu há duas semanas quando vitimou o menino Luiz, irmão da moça salva. Quis o destino que Diony e Igor chegassem em casa segundos antes do incêndio. Eram quase 23 horas. Um havia retornado do futebol. Outro do trabalho. Mesmo cansados, deixaram a acomodação da juventude de lado e partiram sobre a porta do imóvel em chamas. Salvaram uma vida.
Diony é um garoto sem maldades. Está escrito na cara dele. Evangélico, trabalha há um ano como vigilante de banco em Campo Mourão. Atua armado, mas ainda não precisou utilizar a pistola. Queria ser jogador de futebol. Até tentou anos antes, quando jogou como lateral na Adap e no Sport. Mas as chances de promoção são difíceis. Definitivamente, o sol não brilha para todos nos gramados. Então ele desistiu. Fez um curso para vigia. Foi aprovado e agora trabalha na área. Mesmo depois da jornada, vez em quando, joga uma pelada com os amigos. No dia 23 de novembro, dia do incêndio, ele jogou. Ao voltar para casa, encontrou o vizinho e colega Igor. Conversaram algumas palavras e, quando adentraram os portões de seus lares, viram as chamas.
Aos 15 anos de idade, Igor é somente um menino. Estuda a sétima série no Colégio Estadual e trabalha na sorveteria do tio. Lá, faz de tudo um pouco. Fabrica os picolés, entrega encomendas e também atende no balcão. É um menino de ouro. Com uma conversa fácil e um sorriso de graça, ele tem o sonho em ser um dia, arquiteto. Mas antes disso, não para de pensar no incêndio daquele dia. Ele lembra que trabalhou até as 22 horas do dia 23. Quando chegou próximo a sua casa, viu Diony chegar de moto. Conversaram um pouco. Minutos depois disso, perceberam fogo na casa ao lado. A partir daí, uma vida foi salva.
A bravura
Ainda dentro de sua casa, Diony arremessou um objeto na janela do imóvel em chamas. Até então, ele não sabia se os irmãos estavam lá. “Pensei que pudessem estar dormindo. Joguei pra ver se eles acordavam. E deu certo”, disse. Nesse momento, Viviane começou a gritar. Diony e Igor se encontraram no caminho até o incêndio e, juntos, iniciaram uma tentativa de arrombamento da porta. Mas um cadeado na parte interna impedia a sua abertura. O jeito então foi chutá-la. Depois socá-la. Nada adiantava. Enquanto isso, os gritos aumentavam. Uma das tábuas então começou a soltar-se e foi aí que os dois conseguiram puxar Viviane. Já fora da casa, antes de desmaiar, ela pedia por Luiz.
Igor e Diony voltaram e tentaram encontrar o menino. Mas as explosões e as labaredas impediam que adentrassem ao imóvel. Pela mesma fresta em que salvaram Viviane, avistaram Luiz. Quando alcançaram seu braço, o puxaram. “Acho que ele ficou mais tempo porque tentou encontrar seus dois cachorrinhos. Eles morreram no incêndio”, disse Diony. O menino foi salvo, mas com o corpo completamente comprometido pelas chamas. De acordo com os dois heróis, a pele derretia. “Foi muito comovente vê-lo daquela maneira. Ele sofreu muito”, lembra Diony. A história do pequeno Luiz terminaria horas mais tarde. Ele não suportou os ferimentos e morreu.
Diony não consegue apagar de sua memória o que vivenciou. Tirou forças não sabe de onde para salvar os irmãos. “Acho que a coragem é uma coisa própria de Deus. Não tem explicação”, argumenta. Segundo ele, foi um ato impensado, impulsivo. Mesmo assim, faria tudo novamente, se precisasse. Já Igor, com um largo sorriso de menino, não sabe a grandeza de seu ato. Por ser novo, a ficha ainda não caiu. Pela sua inocência, ele até da risada. Acha que não fez nada de mais. Mas salvou uma vida. E quanto vale uma vida?
Diante do fato, os dois já se reencontraram com Viviane. Ela os agradeceu muito e chorou, comovida pela atitude dos heróis. Apesar de salvarem a irmã, ainda acreditam que podiam ter salvo Luiz, mas quis o destino que ele não sobrevivesse. Igor era amigo da vítima e acredita tratar-se de um anjo. “Ele era mais que um anjo. Tinha alguma coisa diferente nele. Todos gostavam muito dele”, afirmou. Embora a história não tenha um completo final feliz, os laços de Diony, Igor e Viviane estarão unidos para sempre. O destino dos três se cruzaram. Um anjo se foi, mas os heróis continuam entre nós.
Dilmércio Daleffe
Diony Peterlini tem 24 anos e trabalha num banco como vigilante. Igor Gabriel de Souza é apenas um estudante de 15 anos. Seus sonhos são diferentes, assim como o dia a dia de cada um. Em comum somente a vizinhança. Moram próximos, na Vila Rio Grande, em Campo Mourão. Mas um ato heróico os mantém unidos. Juntos, eles salvaram uma jovem de 24 anos. Não fosse a bravura dos garotos, Viviane agora estaria morta, queimada dentro da própria casa. O fato aconteceu há duas semanas quando vitimou o menino Luiz, irmão da moça salva. Quis o destino que Diony e Igor chegassem em casa segundos antes do incêndio. Eram quase 23 horas. Um havia retornado do futebol. Outro do trabalho. Mesmo cansados, deixaram a acomodação da juventude de lado e partiram sobre a porta do imóvel em chamas. Salvaram uma vida.
Diony é um garoto sem maldades. Está escrito na cara dele. Evangélico, trabalha há um ano como vigilante de banco em Campo Mourão. Atua armado, mas ainda não precisou utilizar a pistola. Queria ser jogador de futebol. Até tentou anos antes, quando jogou como lateral na Adap e no Sport. Mas as chances de promoção são difíceis. Definitivamente, o sol não brilha para todos nos gramados. Então ele desistiu. Fez um curso para vigia. Foi aprovado e agora trabalha na área. Mesmo depois da jornada, vez em quando, joga uma pelada com os amigos. No dia 23 de novembro, dia do incêndio, ele jogou. Ao voltar para casa, encontrou o vizinho e colega Igor. Conversaram algumas palavras e, quando adentraram os portões de seus lares, viram as chamas.
Aos 15 anos de idade, Igor é somente um menino. Estuda a sétima série no Colégio Estadual e trabalha na sorveteria do tio. Lá, faz de tudo um pouco. Fabrica os picolés, entrega encomendas e também atende no balcão. É um menino de ouro. Com uma conversa fácil e um sorriso de graça, ele tem o sonho em ser um dia, arquiteto. Mas antes disso, não para de pensar no incêndio daquele dia. Ele lembra que trabalhou até as 22 horas do dia 23. Quando chegou próximo a sua casa, viu Diony chegar de moto. Conversaram um pouco. Minutos depois disso, perceberam fogo na casa ao lado. A partir daí, uma vida foi salva.
A bravura
Ainda dentro de sua casa, Diony arremessou um objeto na janela do imóvel em chamas. Até então, ele não sabia se os irmãos estavam lá. “Pensei que pudessem estar dormindo. Joguei pra ver se eles acordavam. E deu certo”, disse. Nesse momento, Viviane começou a gritar. Diony e Igor se encontraram no caminho até o incêndio e, juntos, iniciaram uma tentativa de arrombamento da porta. Mas um cadeado na parte interna impedia a sua abertura. O jeito então foi chutá-la. Depois socá-la. Nada adiantava. Enquanto isso, os gritos aumentavam. Uma das tábuas então começou a soltar-se e foi aí que os dois conseguiram puxar Viviane. Já fora da casa, antes de desmaiar, ela pedia por Luiz.
Igor e Diony voltaram e tentaram encontrar o menino. Mas as explosões e as labaredas impediam que adentrassem ao imóvel. Pela mesma fresta em que salvaram Viviane, avistaram Luiz. Quando alcançaram seu braço, o puxaram. “Acho que ele ficou mais tempo porque tentou encontrar seus dois cachorrinhos. Eles morreram no incêndio”, disse Diony. O menino foi salvo, mas com o corpo completamente comprometido pelas chamas. De acordo com os dois heróis, a pele derretia. “Foi muito comovente vê-lo daquela maneira. Ele sofreu muito”, lembra Diony. A história do pequeno Luiz terminaria horas mais tarde. Ele não suportou os ferimentos e morreu.
Diony não consegue apagar de sua memória o que vivenciou. Tirou forças não sabe de onde para salvar os irmãos. “Acho que a coragem é uma coisa própria de Deus. Não tem explicação”, argumenta. Segundo ele, foi um ato impensado, impulsivo. Mesmo assim, faria tudo novamente, se precisasse. Já Igor, com um largo sorriso de menino, não sabe a grandeza de seu ato. Por ser novo, a ficha ainda não caiu. Pela sua inocência, ele até da risada. Acha que não fez nada de mais. Mas salvou uma vida. E quanto vale uma vida?
Diante do fato, os dois já se reencontraram com Viviane. Ela os agradeceu muito e chorou, comovida pela atitude dos heróis. Apesar de salvarem a irmã, ainda acreditam que podiam ter salvo Luiz, mas quis o destino que ele não sobrevivesse. Igor era amigo da vítima e acredita tratar-se de um anjo. “Ele era mais que um anjo. Tinha alguma coisa diferente nele. Todos gostavam muito dele”, afirmou. Embora a história não tenha um completo final feliz, os laços de Diony, Igor e Viviane estarão unidos para sempre. O destino dos três se cruzaram. Um anjo se foi, mas os heróis continuam entre nós.
A honestidade cruza o caminho de Cezar
Dilmércio Daleffe
Dois homens, dois cavalheiros honestos e duas histórias que se cruzaram. O primeiro é Luiz Carlos Preiszner, funcionário público da prefeitura de Campo Mourão. Leva uma boa vida quando comparado a outra grande fatia da população. Aos 40 anos de idade é casado e possui dois meninos. O segundo personagem é Cezar de Oliveira. Coincidentemente, também é servidor municipal, só que da prefeitura de Luiziana. Ele é casado, possui 39 anos e tem um filho. Até ontem, os dois personagens desta história jamais haviam se visto. Não se conheciam. Um não tinha noção da existência do outro. Mas o destino os apresentou, e da melhor forma possível: através da honestidade.
Preiszner saiu da prefeitura e aproveitou o horário do almoço para pagar algumas contas na agência do Banco Itaú, em Campo Mourão. Enquanto usava o caixa eletrônico, pensava nas tarefas a fazer. Tinha que levar os filhos à escola, tirar outros extratos, passar em duas lojas e, ainda, voltar ao trabalho sem se atrasar. Com a cabeça atordoada, deixou a carteira sobre a bancada do caixa. Ali ficaram todos seus documentos e mais R$600. Duas horas depois, já na prefeitura, sentiu falta da carteira. O desespero surgiu. Refez então todo o percurso, desde o banco até a última loja. Nada encontrou. Começou então a fazer o boletim de ocorrência (bo) da polícia através da Internet. Em meio ao documento, veio uma ligação: uma pessoa encontrou a carteira e gostaria de devolvê-la.
Quem encontrou a carteira de Preiszner foi Cezar. Trata-se de um “gentleman”, um funcionário público dotado de honestidade e, por isso, uma verdadeiro cidadão brasileiro. Espelhar-se na sua atitude é dever de todos. Conta ele que também estava no Itaú pagando contas, quando viu a carteira sem dono. Sem pestanejar, a apanhou já imaginando o que faria. Imediatamente, saiu da agência e dirigiu-se até o Jornal TRIBUNA. Lá, explicou que estava em posse de uma carteira e gostaria de devolvê-la ao dono. A equipe do jornal localizou o “distraído” Preiszner que logo compareceu à sede do diário. Um grande abraço seguido de agradecimentos marcou o encontro dos dois. O destino finalmente os apresentou, selando uma possível amizade futura.
“Gostaria de agradecer você e dar alguma coisa pela sua atitude”, disse Preiszner. Cezar, dotado mais uma vez de humildade, lembrou que o ato não incluí recompensas. “Você não me deve nada”, afirmou. O servidor de Luiziana recebe cerca de R$1,5 mil mensais. O dinheiro encontrado é quase 50% de sua renda. No entanto, em momento algum pensou em ficar com ele. Há 13 anos, Cezar perdeu sua carteira, também com dinheiro e documentos. Mas não teve a sorte em ter encontrado alguém como ele. Dias depois achou apenas os documentos.
Preiszner também contou que já passou por uma história semelhante. Há quase dois anos, estava na agência do Bradesco, em Campo Mourão, quando encontrou uma carteira recheada com dinheiro, cheques e documentos. Da mesma forma com que agiu Cezar, ele não pensou em ficar com a grana. “Entreguei a carteira para um vigilante do banco. Se ele entregou ao dono, eu já não sei”, disse. A partir de agora, Preiszner e Cezar têm suas vidas ligadas. A realidade dos dias de hoje é dura. Existe mais sacanagem a honestidade. Mas como simples mortais, os dois deixam lições que servem para todos, incluindo vereadores a presidentes.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Os sonhos de Luiz foram queimados
Ele queria ser apenas um veterinário. Adorava animais e queria ver a recuperação da mãe, Marli, viciada em álcool. Menino de 12 anos, Luiz viu coisas demais para uma criança. Aturou as barbaridades de sua genitora, sendo forçado a roubar e assistir o sexo da mãe com outros parceiros. Parou num orfanato. Adotado pela própria irmã, acabou morto depois de ter o corpo queimado no incêndio de sua casa. Luiz nasceu para sofrer. Era um anjo, só não tinha as asas.
Dilmércio Daleffe
Rua Porto Alegre, Vila Rio Grande, Campo Mourão. Uma rua tranqüila, sem movimento de carros. Aos fundos, uma mata. Tanto de dia, como de noite, uma calma absurda. Ali, entre os números 415 e 401, existia uma casinha de madeira azul. Desbotada pelo tempo, ela abrigava dois irmãos, Viviane, de 24 anos, e Luiz, de 12. O imóvel era pequeno, apenas quatro peças. Mas o suficiente para duas pessoas que se amavam. Juntos, os dois passaram pelos mesmos dramas e tragédias. Mal conheceram o pai e, ao mesmo tempo, viram a mãe perder-se no álcool. As conseqüências logo surgiram. Acabaram em orfanatos, cada um, a seu tempo. Fora do abrigo, Viviane conseguiu emprego e conquistou a adoção do irmão. Com muito esforço, montou a casinha. Mas na noite do dia 23 de novembro, todos os sonhos da guerreira Viviane foram destruídos. Um incêndio queimou a casa. Ela e o irmão dormiam e não viram o fogo. Vizinhos adentraram ao imóvel e salvaram a moça. O pequeno Luiz também saiu vivo, mas acabou morrendo diante das queimaduras. Segundo testemunhas, teve 90% do corpo queimado.
Luiz Fernando dos Santos era um anjo, só não tinha as asas. Talvez por este motivo tenha retornado ao paraíso antes do tempo. Ele morreu como um inocente. Uma vítima da fatalidade, de um provável curto circuito, de um acaso do destino. Dormia quando o fogo o pegou de surpresa. Teve quase todo o corpinho franzino queimado. Uma vizinha, desesperada na tentativa em ajudá-lo, viu a camiseta colada ao corpo. A arrancou. Junto veio toda a sua pele. Luiz foi levado à uma casa até a chegada do socorro. Vizinhos colocaram um ventilador para amenizar seu sofrimento. Mas ele não parava de andar. Gritava e chorava. Dizia que precisava de ajuda. Ia morrer. Não queria ficar sozinho e estava com medo. Horas mais tarde, morreu.
O menino sempre teve uma vida difícil. Nasceu de um ventre dependente de álcool e morreu sofrendo de queimaduras. As gentilezas da vida, definitivamente, jamais lhes foram apresentadas. Parece até que o menino nasceu para sofrer. Cresceu vendo a mãe beber. Ela era alcoólatra. Segundo relatos de Viviane, a mãe, Marli, bebia até três litros de cachaça por dia. As conseqüências de seus atos foram extremamente desastrosas ao filho Luiz. Ainda criança, ele era obrigado a assistir as relações sexuais da própria mãe. Também teria sido abusado sexualmente. Enquanto ficava na rua com Marli, era obrigado a roubar.
O alcoolismo da mãe fez com que ela perdesse a guarda da filha mais velha, Viviane, que foi entregue a um lar em Campo Mourão ainda aos dois anos de idade. A filha do meio, Fabiane, ficou com a avó. Já Luiz ficou com a genitora até os sete anos em Cascavel. Passou maus bocados vendo as barbaridades da mãe. Sem aceitar ajuda de outros familiares, a mãe passava noites e noites na rua. Luiz ia junto. Não tinha onde ficar. Um dia ela também perdeu o menino. A justiça determinou que fosse a um orfanato. Veio então para Campo Mourão. Distante da mãe e das irmãs, Luiz jamais conheceu o pai. Ele estava sozinho.
Fora do abrigo e já sob as asas da irmã, Luiz passou a ter um sentimento que, até então ouvia dizer que era a tal felicidade. Tinha finalmente um lar. Brincava, sorria e era bastante descontraído. Mesmo tendo uma infância destruída pela doença da mãe, gostava de desenhar e não era tímido. Passou a estudar a tarde no Colégio Estadual. Queria ser veterinário. Adorava animais. Tinha dois cãezinhos na casa. Morreu sem saber da morte de seus dois companheirinhos, esfacelados pelo fogo. Pelas manhãs freqüentava o centro de integração. À noite aguardava a irmã chegar do trabalho. Ela atuava como agente da dengue na prefeitura de Campo Mourão. Mais recentemente, passou a tomar um forte medicamento controlado. Foi encostada do trabalho. Evangélicos, os dois dormiam cedo. Possivelmente, devido ao remédio, Viviane não conseguiu acordar com o incêndio.
Ela e o irmão foram retirados da casa com a ajuda heróica de dois vizinhos. Um deles é Dione Peterlene, um jovem de apenas 24 anos que voltava de uma partida de futebol à noite. Vizinho de Viviane, ele chegou e avistou as chamas no interior da casa. Sabendo que os irmãos dormiam cedo, não pensou duas vezes e arrombou a porta. Retirou os dois, mas não a tempo de evitar as queimaduras de Luiz.
Apesar do drama da mãe, Luiz e Viviane adoravam Marli. Eles a viram pela última vez em 2010, quando a trouxeram até Campo Mourão. Ambos tinham o desejo em ajudá-la. Mas ela não parava de beber. Durante os 30 dias em que ela permaneceu com os dois, deixou os três litros de álcool para tomar apenas uma única dose diária. “Eu dava R$0,50 todo dia pra que ela comprasse uma dose. Foi um avanço. Achamos que ia melhorar. Mas ela preferiu ir embora”, lembra Viviane. A moça agora está sendo ajudada por membros da Igreja Batista, mais especificamente, pela família do reverendo Dickerson. De acordo com ela, o passo agora é recomeçar sua vida. Para isso necessita ter uma nova casa.
Na última semana, a mãe foi informada sobre a morte do filho. Ela queria estar por perto, mas a doença do álcool a debilitou completamente. Aos 43 anos de idade, está em uma cama sem conseguir andar. Tem cirrose. A tragédia de Luiz, de Viviane, e de Fabiane, é somente uma conseqüência da “condenação” de sua mãe. Luiz morreu cedo, como um inocente, sem pecados. Apontar culpados agora não o trarão de volta.
Para ajudar Viviane basta ligar para o número 3523-7384, com Arlete.
Dilmércio Daleffe
Rua Porto Alegre, Vila Rio Grande, Campo Mourão. Uma rua tranqüila, sem movimento de carros. Aos fundos, uma mata. Tanto de dia, como de noite, uma calma absurda. Ali, entre os números 415 e 401, existia uma casinha de madeira azul. Desbotada pelo tempo, ela abrigava dois irmãos, Viviane, de 24 anos, e Luiz, de 12. O imóvel era pequeno, apenas quatro peças. Mas o suficiente para duas pessoas que se amavam. Juntos, os dois passaram pelos mesmos dramas e tragédias. Mal conheceram o pai e, ao mesmo tempo, viram a mãe perder-se no álcool. As conseqüências logo surgiram. Acabaram em orfanatos, cada um, a seu tempo. Fora do abrigo, Viviane conseguiu emprego e conquistou a adoção do irmão. Com muito esforço, montou a casinha. Mas na noite do dia 23 de novembro, todos os sonhos da guerreira Viviane foram destruídos. Um incêndio queimou a casa. Ela e o irmão dormiam e não viram o fogo. Vizinhos adentraram ao imóvel e salvaram a moça. O pequeno Luiz também saiu vivo, mas acabou morrendo diante das queimaduras. Segundo testemunhas, teve 90% do corpo queimado.
Luiz Fernando dos Santos era um anjo, só não tinha as asas. Talvez por este motivo tenha retornado ao paraíso antes do tempo. Ele morreu como um inocente. Uma vítima da fatalidade, de um provável curto circuito, de um acaso do destino. Dormia quando o fogo o pegou de surpresa. Teve quase todo o corpinho franzino queimado. Uma vizinha, desesperada na tentativa em ajudá-lo, viu a camiseta colada ao corpo. A arrancou. Junto veio toda a sua pele. Luiz foi levado à uma casa até a chegada do socorro. Vizinhos colocaram um ventilador para amenizar seu sofrimento. Mas ele não parava de andar. Gritava e chorava. Dizia que precisava de ajuda. Ia morrer. Não queria ficar sozinho e estava com medo. Horas mais tarde, morreu.
O menino sempre teve uma vida difícil. Nasceu de um ventre dependente de álcool e morreu sofrendo de queimaduras. As gentilezas da vida, definitivamente, jamais lhes foram apresentadas. Parece até que o menino nasceu para sofrer. Cresceu vendo a mãe beber. Ela era alcoólatra. Segundo relatos de Viviane, a mãe, Marli, bebia até três litros de cachaça por dia. As conseqüências de seus atos foram extremamente desastrosas ao filho Luiz. Ainda criança, ele era obrigado a assistir as relações sexuais da própria mãe. Também teria sido abusado sexualmente. Enquanto ficava na rua com Marli, era obrigado a roubar.
O alcoolismo da mãe fez com que ela perdesse a guarda da filha mais velha, Viviane, que foi entregue a um lar em Campo Mourão ainda aos dois anos de idade. A filha do meio, Fabiane, ficou com a avó. Já Luiz ficou com a genitora até os sete anos em Cascavel. Passou maus bocados vendo as barbaridades da mãe. Sem aceitar ajuda de outros familiares, a mãe passava noites e noites na rua. Luiz ia junto. Não tinha onde ficar. Um dia ela também perdeu o menino. A justiça determinou que fosse a um orfanato. Veio então para Campo Mourão. Distante da mãe e das irmãs, Luiz jamais conheceu o pai. Ele estava sozinho.
Fora do abrigo e já sob as asas da irmã, Luiz passou a ter um sentimento que, até então ouvia dizer que era a tal felicidade. Tinha finalmente um lar. Brincava, sorria e era bastante descontraído. Mesmo tendo uma infância destruída pela doença da mãe, gostava de desenhar e não era tímido. Passou a estudar a tarde no Colégio Estadual. Queria ser veterinário. Adorava animais. Tinha dois cãezinhos na casa. Morreu sem saber da morte de seus dois companheirinhos, esfacelados pelo fogo. Pelas manhãs freqüentava o centro de integração. À noite aguardava a irmã chegar do trabalho. Ela atuava como agente da dengue na prefeitura de Campo Mourão. Mais recentemente, passou a tomar um forte medicamento controlado. Foi encostada do trabalho. Evangélicos, os dois dormiam cedo. Possivelmente, devido ao remédio, Viviane não conseguiu acordar com o incêndio.
Ela e o irmão foram retirados da casa com a ajuda heróica de dois vizinhos. Um deles é Dione Peterlene, um jovem de apenas 24 anos que voltava de uma partida de futebol à noite. Vizinho de Viviane, ele chegou e avistou as chamas no interior da casa. Sabendo que os irmãos dormiam cedo, não pensou duas vezes e arrombou a porta. Retirou os dois, mas não a tempo de evitar as queimaduras de Luiz.
Apesar do drama da mãe, Luiz e Viviane adoravam Marli. Eles a viram pela última vez em 2010, quando a trouxeram até Campo Mourão. Ambos tinham o desejo em ajudá-la. Mas ela não parava de beber. Durante os 30 dias em que ela permaneceu com os dois, deixou os três litros de álcool para tomar apenas uma única dose diária. “Eu dava R$0,50 todo dia pra que ela comprasse uma dose. Foi um avanço. Achamos que ia melhorar. Mas ela preferiu ir embora”, lembra Viviane. A moça agora está sendo ajudada por membros da Igreja Batista, mais especificamente, pela família do reverendo Dickerson. De acordo com ela, o passo agora é recomeçar sua vida. Para isso necessita ter uma nova casa.
Na última semana, a mãe foi informada sobre a morte do filho. Ela queria estar por perto, mas a doença do álcool a debilitou completamente. Aos 43 anos de idade, está em uma cama sem conseguir andar. Tem cirrose. A tragédia de Luiz, de Viviane, e de Fabiane, é somente uma conseqüência da “condenação” de sua mãe. Luiz morreu cedo, como um inocente, sem pecados. Apontar culpados agora não o trarão de volta.
Para ajudar Viviane basta ligar para o número 3523-7384, com Arlete.
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