segunda-feira, 27 de junho de 2011

Lixões de ontem. Aterros de hoje



Até o início dos anos 80, o país nem discutia sobre a questão dos aterros sanitários. Lixões a céu aberto, com a desumana disputa por alimentos entre animais e pessoas eram comuns. Mas os novos rumos do Brasil o levaram a um crescimento, principalmente, no respeito ambiental. Hoje, lixões foram condenados. Mesmo assim ainda existem maus exemplos na região de Campo Mourão, como em Nova Tebas onde o lixão municipal criou um cenário de horror à beira da rodovia. Mas também podem ser vistos bons resultados, como em Terra Boa, onde os resíduos são “exportados” corretamente à Cianorte.

Dilmércio Daleffe

Ninguém deseja manter o lixo próximo de sua casa. As prefeituras, também não. Mais fácil seria jogar os detritos domésticos em um terreno qualquer, de preferência longe dos olhos da população e encerrar o caso. Assim, vez em quando, remexer a terra e dar uma “garibada” no problema. Há 20 anos, esta era a realidade da maioria das cidades brasileiras. Mas uma legislação apareceu e começou a modificar a situação. A cruz começou a ser lavada. Hoje, no entanto, alguns municípios insistem em manter o lixo “escondido” dos eleitores, embora a céu aberto, ameaçando a saúde pública e agravando a degradação ambiental. Ao mesmo tempo, outras prefeituras solucionaram o problema definitivamente apenas, exportando o seu lixo.


Lixo é lixo e ponto final. Ninguém em sã consciência gostaria de lidar com ele. Trata-se de um sub-produto humano, de restos de tudo o que, em tese, não serve mais para nada. Por isso mesmo começou ser um dos maiores problemas dos tempos modernos. A medida em que a população aumenta, ele cresce. Em 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aperfeiçoou a versão de aterros sanitários, principalmente, por entender que lixões a céu aberto comprometem a qualidade de vida das populações. Para isso, o órgão considerou as dificuldades que os municípios de pequeno porte enfrentam na implantação e operação de aterro sanitário de resíduos sólidos. A obra não é barata, e necessita de inúmeros procedimentos ambientais. Ou seja, requer tempo, dinheiro e muita burocracia. Em resumo, dilema aos nobres prefeitos.



Por estes e outros motivos, municípios como Terra Boa – 52 quilômetros de Campo Mourão – decidiram por uma iniciativa inédita do estado. Lá, o lixo não é mais um problema, simplesmente, porque eles deram um fim, literalmente, nos resíduos sólidos. Há dois anos, a prefeitura decidiu “exportar” os detritos domésticos a um aterro padrão em Cianorte. Lixo mesmo na cidade só é visto nas lixeiras das casas e em nenhum outro local. O caminhão passa, apanha as sacolinhas e depois desaparece. É como se fosse virtual. Depois disso percorre 23 quilômetros até o destino final, no aterro da Sanepar, em Cianorte. Pelo trabalho, a população paga a bagatela de R$70 a tonelada, cerca de R$10 a R$12 mil por mês.

“Ainda é barato frente ao que teríamos que pagar se mantivéssemos um aterro aqui”, afirma Claudemir Batista de Souza, secretário Administrativo de Terra Boa. Segundo ele, somente para construir um local destinado ao lixo seriam necessários R$600 mil. Ele explica que, além de ter menos custos, hoje, ainda se livra dos burocráticos processos do Instituto Ambiental do Paraná (Iap). “Definitivamente, não compensa”, disse. Até pouco tempo, Terra Boa recolhia cerca de 9 toneladas de lixo ao dia. Após um trabalho de conscientização popular, quando ensinou-se a importância da coleta seletiva de recicláveis, o lixo despencou para cinco toneladas ao dia.

Não é exagero dizer que Terra Boa é bastante organizada quanto ao lixo. Além dos resíduos serem “exportados” – solucionando de vez o antigo problema – um carro passa duas vezes por semana em toda a cidade recolhendo os recicláveis. Quase todo mundo colabora. O material é levado para uma cooperativa de coletores onde fazem a separação para depois vender o produto. Hoje não se vêem mais pessoas com carrinhos recolhendo papelão pelas ruas. É que eles foram organizados pelo município. São seis pessoas, cada uma recebe quase R$600 por mês. Um deles é o seo Cirilo José de Jesus. Aos 78 anos de idade ele se orgulha em participar do grupo. Aposentado, ele se diz contente com o novo emprego. “Podia ficar em casa. Mas a minha natureza não deixa eu ficar parado”, diz.




Exemplo a não ser seguido

Mas nem todos os municípios têm boas idéias para estancar a ferida do lixo. Distante 72 quilômetros de Campo Mourão, Nova Tebas, por exemplo, mantém um verdadeiro criadouro de moscas e varejeiras, um lixão a céu aberto. Lá, às margens da rodovia BR-487, sem nenhum cuidado e proteção, a prefeitura continua a semear os resíduos. Quase que diariamente, caminhões da prefeitura semeiam detritos de toda a natureza. É todo o lixo da cidade, desde orgânicos, passando por restos de merenda escolar, até remédios veterinários. Uma prática comum durante muitos anos. Muita gente continua sobrevivendo do local.

Mas de acordo com informações repassadas pela própria prefeitura, ninguém, oficialmente dizendo, tem orgulho da situação. Boas notícias também acabam de chegar. É que recursos estão a caminho para que o município inicie a construção de um aterro regulamentado, seguindo as normas ambientais. A obra deve ser iniciada na próxima semana. Talvez esta seja a saída definitiva para o cenário irreal confeccionado durante vários anos às margens da BR-487 pelos prefeitos anteriores de Nova Tebas.

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