Quanto vale um
sonho? Para Cleuza, seu sonho não tem preço. Afinal, para ter sua habilitação,
fez até promessa em Aparecida do Norte. Já foram nove tentativas, nove
reprovações. Como auxiliar de cozinha, os amigos brincam dizendo ser melhor ela
pilotar apenas o fogão.
Dilmércio Daleffe
Sonhos existem para renovar esperanças. E desde os
primórdios, o ser humano é movido por seus desejos. Assim, cada pessoa, em seu
interior, imagina suas conquistas. E sonhar, além de bom, não custa nada. É
desta maneira que Cleuza – nome fictício da mulher que não quer ser
identificada – vem imaginando suas glórias. Há um ano, ela vem lutando para ter
o direito de dirigir o veículo da família. O único problema é passar pela prova
da baliza, no Detran. Nos últimos 12 meses, foram nove tentativas, todas
frustradas. Sua persistência é tão
grande que foi até Aparecida do Norte pedir. “Fui lá e fiz promessa. Ainda vou
tirar minha carteira de motorista”, disse.
Cleuza é uma auxiliar de cozinha de 43 anos de idade. Mulher
simples, batalha todos os dias para o sustento de sua família. Ela de um lado,
o marido de outro. E, juntos têm três filhos. Ao mesmo tempo em que trabalha, não
para de pensar na bendita carteira de motorista. “As vezes nem eu acredito que
já reprovei tantas vezes”, disse. Na verdade, ela já possui habilitação, mas de
moto. Quer agora a carteira de carro. Cleuza trava a batalha para poder ser
mais independente na vida, não depender tanto da ajuda do marido. “Se eu
tivesse a carteira poderia fazer minhas coisas sozinha, sem atrapalhar ele”,
explicou.
O maior dilema de Cleuza é adentrar aos portões do Detran e
se desesperar. Segundo ela, mesmo sabendo fazer as manobras, bate uma
ansiedade, uma pressão na prova. “Nas aulas perto do cemitério faço a baliza em
até dois minutos, sem bater em nada. Mas quando é pra valer, acabo errando”,
diz. Em uma das nove vezes ela até passou na baliza. Mas daí, acabou reprovando
na direção de rua. Parece até coisa do destino.
Preocupada com seu drama, foi parar em Aparecida do Norte.
Lá, pediu, orou e fez promessa pra quando passar nos testes. “Levei uma foto
minha ao lado do carro pra ser abençoada. Deus vai me ajudar”, revelou. Segundo
ela, quando isso acontecer, vai ter churrasco e fogos de artifício. Mas
enquanto o milagre não vem, o jeito é treinar mais e mais vezes. Falando nisso,
daqui uma semana, uma nova prova será realizada. Será a décima tentativa. Caso
não passe novamente, terá de pilotar apenas seu fogão. Cleuza continua a
sonhar.
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