Dilmércio Daleffe
Sim, ele tinha defeitos. Mas quem não os têm? Um humor nem
sempre para cima. Uma cara quase nunca boa. Era feito de carne, osso e alma,
como todos nós. Mas ele deixou a vida. Darci Deitos morreu na última
terça-feira, dia 08 de outubro. Era considerado como uma espécie de segundo pai
para muitos dos amigos de seus filhos. Chegava mansinho, chamando de “guri”. “Como
vai? O que tem feito?”. Perguntava sobre a vida, queria saber dos planos
futuros. Dava conselhos. Coisas da vida.
É bem certo que a maioria dos humanos se vai fechando todas
as páginas do livro de suas vidas. Mas Darci deixou seu livro aberto. As
páginas escritas por ele estão lá, arreganhadas, pra todo mundo ver. Quem o conheceu
sabe que foi uma figura sem igual. Politizado, buscou ainda cedo um sentido
maior a sua jornada. Assim, encontrou na vida pública espaço para a política.
Foi deputado estadual e depois deputado federal constituinte. Atuou ao lado de
grandes políticos. Era do velho MDB.
Sempre paralelamente à política, foi empresário hoteleiro.
Jamais abandonou Campo Mourão. Aqui fez sua parte. O tempo passava, mas seu
espírito continuava jovem. Tanto é que Darci acompanhava a vida dos filhos.
Fazia questão, quando podia, de estar presente nas festas dos amigos de seus
filhos. Metido a cozinhar também mantinha alguns rituais. Somente os mais
chegados degustaram suas iguarias. E elas eram boas.
Sérgio Kffuri, amigo de velha data, lembra de histórias
memoráveis do amigo. Lembra do velho fusca branco o qual iam até Engenheiro
Beltrão namorar as mocinhas. Darci tinha um ciúme doentio daquele carro. Certa
vez levou quatro amigos até a cidade. O objetivo era adentrar um bailinho. Mas
não permitiram a entrada dos mourãoenses. Então, Darci decidiu acabar com a
festa. Foi até o poste e desligou a chave geral. Depois disso, o jeito foi
correr até o carro e fugir da cidade. Desesperados, os cinco amigos já dentro
do fusca, começaram a sentir um cheiro de merda. Com ciúmes do fusquinha, Darci
fez um a um sair do carro pra ver quem havia pisado no coco de cachorro.
Ninguém pisou em nada. Darci então olhou a sola do próprio sapato e viu um
tolete de merda. Com raiva tirou os sapatos e os atirou pela janela do carro.
Esquecendo-se que o restante da bosta continuava na pedaleira do fusca, meteu o
pezão sem sapato no acelerador e veio embora.
Outra vez, em Curitiba, Darci voltava de uma festa ao lado
de Max – seu filho – e outros amigos. Parou o carro ainda na rua, no
Champagnat. Era madrugada e, naquela avenida, quase ninguém. Mas acontece que
existem coisas que só aconteciam com Darci. E aquele dia não foi diferente. Ao
sair do carro, a chave caiu de sua mão. Ela poderia ter caído dentro do carro,
ou até, no asfalto. Mas não. As chaves caíram dentro de um bueiro. E daí? Eram
as chaves da casa, do carro, de tudo. Então, uma única alma foi avistada ao
longe, andando sentido ao carro. Era um rapaz, de 18 ou 19 anos. Darci não
pensou duas vezes: “Max, vai lá e oferece um dinheiro aquele malaco. Fala pra
ele vir pegar a chave”, disse. O sujeito aceitou o desafio e depois de alguns
minutos conseguiu retirar a tampa de concreto. Mas a cena inesquecível foi ver
pai e filho segurando as pernas daquele malaco. Como num filme, de madrugada, o
sujeito estava dependurado para apanhar a chave, e conseguiu.
Muitas outras histórias envolvendo Darci continuam sendo
contadas. E elas serão eternizadas. Graças a Deus, pudemos conhecê-lo. Mas o
seu jeito sistemático, às vezes ranzinza, nunca será esquecido. Darci era do
bem e queria o melhor a sua sociedade, a sua cidade, ao seu povo. Como já dito,
suas páginas não foram fechadas. O livro de sua vida está aberto a todos. E
como foi bom lê-lo...
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