segunda-feira, 4 de junho de 2012

As trevas de "Bicudo" ficaram no tempo


Dilmércio Daleffe
Ele chegou de bicicleta. Surgiu do nada, parecendo vendaval. Usava um boné vermelho, uma camiseta surrada e uma calça jeans. Veio com a intenção de falar sobre um grupo criado por ele cujo objetivo é manter jovens distantes das drogas. Fazia tempo que não aparecia em Campo Mourão. Mas ele veio. E acabou falando. Personalidade mais popular da cidade na década de 90, Pedro Máximo da Silva, ou simplesmente, “Bicudo”, acabou preso por um ano e três meses. Era suspeito da morte do jovem Windsor Teodoro de Oliveira, morto barbaramente aos 21 anos de idade. Trabalhava como caseiro da vítima e acabou sendo envolvido na trama. Mas foi inocentado durante um júri no ano de 97.
“Bicudo” hoje sorri no paraíso. Vive livre rodando o país sobre as rodas de uma bicicleta. Mas já passou pelo inferno. Segundo ele, durante o tempo em que permaneceu preso, apanhou muito, chegando a confessar o assassinato do jovem. “Era réu confesso porque não agüentava mais apanhar”, afirmou. Mas segundo ele, jamais cometeu o crime. Descreve o ex-patrão como a figura de um pai. “Quando comprava algo pra ele, comprava igual pra mim. Éramos companheiros. Rezo todos os dias pra que esteja bem”, disse.
O crime foi bastante popularizado, principalmente, porque a vítima era de família tradicional na cidade, os Teodoro. Ainda mais diante da barbárie em que aconteceu, uma decapitação. Se estivesse vivo, Windsor hoje teria 38 anos. “Bicudo” disse que foi uma trama bem montada, semelhante a um quebra cabeças. “Por mais que tente montar as peças, não se consegue”, afirmou. Mas olhando pra trás, revela não ter raiva de ninguém, muito menos dos “outros” que o arrolaram ao crime.
Após ser absolvido, Pedro foi embora à Curitiba. Passou a morar com a mãe e os irmãos. Lá, acabou se envolvendo com drogas, chegando ao fundo do poço com o crack. Segundo ele, conseguiu livrar-se daquele mundo tóxico. Foi então que juntou outros sete ex-dependentes químicos, passando a percorrer o Brasil sobre bicicletas. Por onde andam falam em rádios sobre o problema dos entorpecentes. “Sempre digo aos jovens que evitem a droga. Jamais experimentem. É um caminho quase sem volta”, disse.
Com a morte da mãe, há três anos, não teve mais destino, muito menos um porto seguro. Está à solta no mundo, livre em busca de algo ainda não encontrado. Somente este ano diz ter andado cerca de 2,6 mil quilômetros. Vez em quando faz pinturas e jardinagem para sobreviver. Na estrada tem ajuda de terceiros. Ganha comida e pouso. Agora está indo até a Argentina. Fiel a Deus, carrega no peito um pequeno crucifixo. Diz orar muito. “Só estou vivo ainda porque tenho muita fé. Senão já estaria morto”, disse. Assim vai vivendo “Bicudo”. Um cara que já atravessou o inferno, conheceu o mal, mas acabou sobrevivendo, absolvido dos pecados humanos. Enquanto roda o mundo, o mistério sobre a autoria do assassinato do jovem Windsor permanece.          

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