segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um teto pelo amor de Deus


O ditado já diz: quem casa quer casa. Só que, em Campo Mourão, são pelo menos sete mil os casados ainda sem uma moradia própria. Para suprir a demanda, o próximo gestor municipal deverá se desdobrar para minimizar o déficit habitacional. Uma das saídas está na parceria junto a Companhia de Habitação do Estado do Paraná (Cohapar). Além disso, ainda existem os projetos junto ao governo federal para receber unidades do “Minha Casa Minha Vida”. Os desafios são grandes.   
Dilmércio Daleffe
Aos 74 anos de idade, Jandira da Cruz não enxerga mais. Aposentada, já fez de tudo um pouco. Trabalhou na roça colhendo algodão e café. Na cidade, foi empregada doméstica. A vida não foi nada gentil com a mulher. Deficiente visual, hoje passa o dia deitada num sofá, completamente dependente da filha e dos netos. Não tem escolhas. O dinheiro honesto já ganho em toda sua jornada não foi suficiente ao menos para adquirir uma casa. O jeito então foi acabar no aluguel. Numa meia água - um imóvel com duas peças e banheiro – ela reside com o companheiro, Sebastião, a filha Aderli e outros seis netos. Nove pessoas que se amontoam em dois cômodos. Ela gostaria de ter uma casa maior, que fosse sua. A vida seria menos difícil.  
Mas o drama da aposentada infelizmente não é raro em Campo Mourão. Embora não se tenha números oficiais, é sabido a existência de um grande contingente de famílias que necessitam de um teto. Mas parece que as coisas não andam bem. Se por um lado a população vem aumentando ano a ano, a construção de casas populares não segue o mesmo ritmo. Segundo levantamento realizado junto ao escritório da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), até a década de 80 foram oferecidas em Campo Mourão 1694 residências. Dez anos à frente o número caiu para 1045. Do ano 2000 até os dias atuais, foram construídas apenas 252 unidades. Os dados referem-se apenas a atuação da Cohapar. Outros loteamentos existentes via empreiteiras não estão computados.
De acordo com o gerente regional da Cohapar em Campo Mourão, Ricardo Widerski, uma pesquisa desenvolvida em 2000 apontou um déficit habitacional de quatro mil unidades na cidade. Ou seja, quatro mil famílias que necessitavam de uma casa própria. Atualmente, segundo o secretário municipal de Assistência Social, Samuel Kozelisnki, o déficit é de cerca de 7 mil moradias, conforme levantamento do Plano Local de Habitação de Interesse Social. Widerski também lembra que a construção de novas moradias, pelo menos junto a Cohapar, exige uma parceria entre o governo e o município. A prefeitura participa com o terreno e o estado com a construção. Nos últimos anos, conforme os números, esta parceria não vem acontecendo.
Aderli Aparecida Machado tem 37 anos de idade e é filha de dona Jandira. Ela mantém sob o pequeno teto da aposentada seis filhos. No único quarto da casa alugada existe apenas uma cama de casal onde dorme Jandira, três netos pequenos, além da própria Aderli. No chão, ao lado da cama, um velho colchão abriga outras duas crianças. Sebastião, pai de Aderli, e o neto mais velho dormem no chão do outro cômodo, onde é a cozinha e a sala ao mesmo tempo. Um improviso desumano e desleal ainda sob uma infinidade de goteiras. A casa é bastante úmida. Seus membros estão impedidos de exerceram suas individualidades. Eles precisam de um imóvel maior e, de preferência, próprio.

“Eu já tentei algumas vezes conseguir uma casa, mas até hoje ninguém me chamou”, argumenta Aderli. Ela explica que deixou seus dados no Centro de Referência e Assistência Social (Cras), órgão vinculado ao município. De acordo com ela, foram três pedidos, um a cada ano. Mesmo assim, jamais obteve retorno. Hoje, ela deixou de trabalhar para cuidar da mãe, que está cega. A família sobrevive com as aposentadorias de dona Jandira e de “seo” Sebastião.
Quem casa quer casa
José Diniz só não é um cidadão comum porque, possivelmente, seja um dos melhores e mais experientes garçons do Paraná. Mas assim como todo bom brasileiro, vive na dificuldade. O maior tormento de sua vida é, definitivamente, depender do aluguel. Aos 50 anos de idade, jamais conquistou o sonho da casa própria. Recentemente, inscreveu-se para ter direito a residir no Moradias Avelino Piacentini. Mas não deu certo. “Eu tinha certeza que iria sair do aluguel. Mas vou continuar como sempre estive, pagando aluguel aos outros”, lamenta.
Para atender a demanda de famílias ainda sem casa própria, o município foi beneficiado por aproximadamente mil moradias, todas através do projeto “Minha Casa Minha Vida”, explica Samuel Kozelinski. Segundo ele as unidades estão inseridas nos conjuntos São Francisco e José Richa, exclusivos para os moradores da favela São Francisco de Assis. Outro núcleo habitacional é o Avelino Piacentini, destinado a famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos.
 Kozelinski explica que o município tem buscado mais financiamentos junto ao governo Federal porque contempla maior rapidez. “Nos conjuntos com a Cohapar a contrapartida do município é alta. Já, no MCMV, via construtoras, a contrapartida é bem menor”, lembra. É apenas por este motivo que o município tem feito parcerias para construção de novas moradias via construtoras, diz. No entanto, Kozelinski ressalta ainda que a prefeitura busca melhores condições de negociação com a Cohapar. “Havendo vantagens para ambos, município, Cohapar e mutuários, com certeza o município fará os convênios”, afirmou.



Possivelmente os investimentos para equilibrar a balança deverão ser bem maiores que os demonstrados em 2010. De acordo com dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o município de Campo Mourão investiu pouco mais de R$61 mil em habitação no ano de 2010. De todos os setores, este recebeu o menor investimento. Ainda segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo de 2010 Campo Mourão apresentava 7,4 mil residências alugadas. O número é maior que o registrado em Araucária, por exemplo, com 6,2 mil imóveis locados. Detalhe: Araucária possuía 119 mil habitantes contra uma população de 87 mil de Campo Mourão. Algo está errado. Cabe ao próximo prefeito o desafio em encontrar as soluções. O garçom José Diniz que o diga.
Números
7,4 mil casas alugadas possui Campo Mourão
1000 unidades construídas pelo Minha Casa Minha Vida
R$61 mil foi o investimento da prefeitura em habitação em 2010
252 casas foram construídas pela Cohapar entre 2000 a 2012

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