terça-feira, 19 de junho de 2012

Ladrão leva R$10, mas deixa R$4 pra pinga



Laurindo de Oliveira é um homem simples. Mora em uma casa modesta, mas própria, na periferia de Campo Mourão. Trabalha honestamente desde os seus nove anos com o único objetivo em zelar da família. Hoje, aos 60 anos de idade, é porteiro em um frigorífico. Não ganha nenhuma fortuna, apenas o suficiente para levar a vida ao lado da esposa e do filho. Mesmo assim, dias desses foi alvo fácil da bandidagem. Tinha apenas R$14 na carteira. O ladrão queria tudo, mas acabou levando só R$10. Laurindo pediu pra ficar com R$4 pra tomar uma “dosinha” antes de chegar em casa. O assaltante concordou e ainda pediu desculpas pelo constrangimento.

Eram pouco mais das 19h de domingo. A Avenida João Bento já estava escura. O movimento de carros e pessoas ali quase não mais existia. Sem o barulho das máquinas, apenas a galhada das árvores emitia som. E naquele cenário vazio estava Laurindo. Ele acabara de sair do trabalho. Voltava de bicicleta pra casa. Subia a avenida devagar, pensando na vida e na derrota do seu time, o Palmeiras. Foi então que um motoqueiro apareceu, o parou e deu voz de assalto. Laurindo notou que o ladrão estava com a mão na cintura e temeu que estivesse armado. Passou a ter calma, buscando não demonstrar nenhuma reação. Sabia que a tensão logo acabaria.

O assaltante, com a cara limpa – de cor branca e aparentando 40 anos de idade - pediu dinheiro. Disse que se não desse, ia chumbo. Laurindo informou que não tinha muito. Mostrou R$14, mas logo pediu pra ficar com R$4. Explicou ao sujeito que era pra tomar uma “branquinha” antes de dormir. O ladrão concordou e levou apenas R$10. Mas antes de ir embora, pediu desculpas ao trabalhador. “Ele se desculpou dizendo que fez o que fez porque esse era o seu trabalho, a sua lida”, lembrou Laurindo.

“Acredito que tenha ficado com remorso pra pedir desculpas. Ele viu que eu era inofensivo”, disse. A vítima chegou a pensar que se tratava de uma brincadeira. Depois do susto, Laurindo continuou suas pedaladas até chegar a um bar, já próximo a sua casa. Lá, puxou os R$4 da carteira e tomou a sua dose. Ele até pensou em prestar queixa contra o gatuno, mas como estava escuro, não conseguiu ver a placa da moto. Deixou a história no silêncio da avenida, sob o barulho das galhadas e sobre o asfalto frio daquele dia gelado. Laurindo hoje está R$10 mais pobre, mas vivo. E, para ele, isso basta.

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