segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um homem além de seu tempo

Ele poderia ter modificado a história de Campo Mourão. Com sua imponente personalidade, certamente seria um deputado, possibilitando um desenvolvimento ainda maior à cidade. Mas quis o destino que nem ao menos conseguisse terminar a jornada de prefeito. Roberto Brzezinski hoje (25 de novembro de 2011) completaria 100 anos de idade. Morto num acidente automobilístico em 59, eternizou um legado repleto de ensinamentos. Deixou a forma de homem para transformar-se em mito, uma lenda a ser seguida.

Texto - Dilmércio Daleffe
Pesquisa – Jair Elias dos Santos Junior


Dono de uma personalidade singular, carregada ainda de ampla humildade e uma sabedoria única, Roberto Brzezinski foi impedido em concluir a sua gestão como prefeito de Campo Mourão em 1959. Em setembro daquele ano, um acidente na estrada próximo a Engenheiro Beltrão ceifou sua vida. Ele tinha apenas 47 anos de idade. Pouco para quem muito fez. Seu legado é lembrado até hoje, reflexo das atitudes e da seriedade com que levou a vida pública. Uma vez vivo, Brzezinski completaria 100 anos hoje. Certamente serve de exemplo a milhares de servidores públicos de todo o país, descontentes com suas funções.

Roberto estava em seu último ano à frente da prefeitura de Campo Mourão. Foi o terceiro gestor eleito pela população a ocupar o cargo. Enquanto prefeito, manifestou a vontade popular em várias frentes. Não possuía idéias isoladas. Realizava as necessidades de um povo. Dono de uma oratória invejável, recebia o apoio de pessoas que nem ele mesmo conhecia. Roberto era antes de tudo um educador. A própria educação recebida dos pais já o apresentava. Preocupado com o ensino, dedicava grande parte de suas realizações ao ensino da região.


Certa vez a diretora do Colégio Marechal Rondon, em Campo Mourão, foi até o gabinete de Roberto. Ele acabara de assumir o cargo. Ela então o indagou pedindo a construção imediata de duas novas salas de aula na unidade. O prefeito explicou que ela tivesse paciência, uma vez que acabara de assumir. Ao retornar ao colégio, a diretora teria avistado dois homens fazendo medições no terreno. Quando os interrogou, os operários disseram que o prefeito ordenou a construção de duas salas. Ou seja, antes mesmo da diretora chegar ao local, Roberto já havia tomado a iniciativa da construção.

Roberto nasceu em Almirante Tamandaré em 1911. Filho de Francisco Brzezinski e Maria Kaminski, casou-se com Tecla Mussak Brzezinski. Tiveram seis filhos: Francisco Irineu, Iracema, Iria, Iran Roberto e Irene. Foi voluntário da revolução de 30. Morou em Mallet e foi professor, diretor de escola e inspetor municipal de ensino. Ali, em 1941, tornou-se Juiz de Paz. Em 1948, veio para Campo Mourão, onde montou uma serraria e adquiriu uma propriedade rural. Desde 1952 até sua morte, viveu em Campo Mourão. Conhecido pela honestidade, caráter e seriedade lançou-se a vida pública, sendo eleito prefeito de Campo Mourão em 1955 com uma soma de votos que superava a somatória dos outros três candidatos. Sua vitória uniu a sigla PSD-UDN (Partido Social Democrático e União Democrática Nacional), aliança inédita em território brasileiro.


Filho mais velho de Roberto, Irineu ainda se emociona ao relembrar as boas histórias do pai. Primogênito, era ele quem o acompanhava até sua morte. Irineu tinha apenas 22 anos quando Roberto morreu. Mesmo assim, foi o suficiente para entender que a figura de pai era também a imagem de um sujeito revolucionário. “Aprendi muito. Me ensinou sobre honestidade, seriedade e respeito às pessoas”, afirma.

Irineu foi estudar em Curitiba. Queria ser advogado. Quando voltava a Campo Mourão, ajudava o pai em suas tarefas. Certa vez, Roberto pediu que o ajudasse na compra de pneus à frota dos jipes da prefeitura. Irineu então saiu pelo comércio e começou o levantamento de preços. Num dos estabelecimentos, o dono disse que se a compra fosse realizada ali, Irineu ainda sairia com uma comissão. À noite, o pai e prefeito quis ver o levantamento feito pelo filho. Irineu explicou que numa das lojas tinha até comissão. Roberto logo riscou aquela. “Ele disse que isso não podia acontecer. Era errado. Disse que nunca mais iria comprar naquela empresa”, lembra Irineu.

Roberto adorava futebol. Sempre que ia a capital levava o filho para ver as partidas no estádio. Torcia para o Coritiba. Quando estudava no Colégio Paranaense, Roberto jogava como titular pelo time. Era goleiro e, segundo testemunhas, era muito bom na posição. Em suas recordações, Irineu lembra que o pai dava liberdade de diálogo com os filhos. Era um líder nato. Enquanto prefeito, Roberto reunia todas as manhãs moradores de várias regiões que compunham Campo Mourão. Numa casinha, sentados em frente a rua, todos tomavam chimarrão e, ao mesmo tempo, expunham os problemas de cada comunidade. Roberto atendia uma a uma das reivindicações. Afinal, era um cara que sabia escutar. Ou melhor, os líderes devem saber ouvir.

Durante seu mandato, Roberto construiu a Praça Getúlio Vargas e promoveu a igualdade social. Construiu escolas, abriu estradas para diversos distritos e ergueu o Estádio Municipal. Mais tarde o homenagearam colocando seu nome ao estádio. Instalou a Coletoria Estadual e o Serviço de Metereologia e criou a primeira Banda Municipal. Fundou a Biblioteca Municipal. Sua morte antes de terminar o mandato, e na condição de líder regional, o favorito nas futuras eleições para mandato legislativo, comoveu o noroeste e o Paraná. Virou nome de rua, de escola e até de um distrito chamado Vila “Roberto Brzezinski”. Em 1993, por iniciativa do deputado estadual Namir Piacentini, foi lhe concedido o título de Cidadão Benemérito do Paraná, honraria entregue em 2005.

O dia da morte

No dia 21 de setembro de 1959, Roberto Brzezinski, Harrison José Borges e Alberto Bueno Ribeiro, coletor estadual, deixaram Campo Mourão com destino a Maringá. Iriam fazer parte da comitiva do governador Moysés Lupion que visitava Maringá. Saíram de Campo Mourão num veiculo jeep. Em Engenheiro Beltrão, trocaram de veiculo e mais dois passageiros seguiram na comitiva. Joaquim Bueno Godoy, prefeito de Engenheiro Beltrão e Aldevino Santigo, candidato a prefeito daquela cidade. Cinco quilômetros depois de Engenheiro Beltrão, nas proximidades da fazenda Chapadão, o acidente que mudaria a história política de Campo Mourão. A intensa poeira da estrada fez com que o motorista do carro, Aldevino Santiago, colidisse com um caminhão transportando bebidas. O choque se deu no momento que o carro foi ultrapassar um ônibus. Com a poeira, o motorista perdeu a visão do caminhão que vinha no sentido Maringá-Campo Mourão. O impacto foi tão grande que o veículo praticamente se desmanchou.

Foi ali, naquela estrada de chão, entre grades de bebidas e vidros quebrados, ferros retorcidos e a poeira vermelha, que o corpo de uma das maiores personalidades já vistas por Campo Mourão repousava já sem vida. Naquele momento, Roberto Brzezinski deixava a forma de homem, e passava a figura de lenda. Seus ensinamentos, sua honestidade continuaram sendo seguidos por alguns, principalmente, pelos filhos e netos. O legado de toda uma vida não acabou. Continua vivo em cada um dos servidores que agem de boa fé e fazem da vida pública uma missão honrosa em favor da coletividade.

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