segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por que Eduardo Simão morreu?

Foto de Eduardo ainda quando criança

Dilmércio Daleffe

Eduardo Augusto Simão, o “Negrete”, tinha só 23 anos e trabalhava diariamente ao lado do pai, na auto-elétrica da família. Nos poucos anos em que viveu, jamais teve passagens pela polícia. Era um cara do bem, dizem os pais. Ganhava o próprio dinheiro, gostava de namorar, saía com os amigos e adorava carros. Mas na noite do dia 27 de outubro, próximo a sua casa, foi perseguido e assassinado com seis tiros. A causa do crime ainda não foi bem explicada. Aparentemente foi uma morte à toa, reflexo da violência de jovens enfurecidos. No entanto, uma outra versão, agora por parte dos suspeitos do crime, indica que a vítima não era tão inocente assim. Seja qualquer uma das hipóteses, Eduardo faz parte das estatísticas da polícia. Existe apenas nas lembranças dos pais e dos amigos.

Eduardo era o filho único da relação entre Lourdes, a mãe, e José Maria, o pai. Os dois vivem dias de tortura. Uma angústia sem fim, capaz de aniquilar qualquer sentimento de alegria ou felicidade. Afinal, o único fruto do amor resultante do matrimônio, foi levado pelas mãos frias de um assassino. Para o casal, o mundo desmoronou. O pai não consegue falar sobre o assunto, está profundamente abalado. A mãe encontra na fé em Deus forças para continuar a viver. É ela, inclusive, quem está sólida na família. Pouco do que restou de suas energias vem passando ao companheiro. Ele não está bem.

A mãe, evangélica há 16 anos, nasceu na lavoura, no bairro dos Inácio – região entre Campo Mourão e Luiziana -, e por lá permaneceu até seus 17. Foi criada pelos irmãos e pelo pai. Não conheceu a mãe. Ela morreu quando tinha apenas um ano de vida. Então, como o pai trabalhava, era a irmã de sete anos quem a criava. Uma criança cuidando de uma criança. Mesmo assim, aprendeu a levar uma vida honesta e de trabalho. Um tempo depois veio morar na cidade e, aos 28 anos, casou-se com José Maria. Do relacionamento nasceu Eduardo. Nos últimos 14 anos vem trabalhando como doméstica. Com a grana já comprou até um carrinho. Dona Lourdes é uma mulher bastante firme e meiga. Nem o passado de trabalho fez com que envelhecesse. Diz ter 51 anos, mas acreditamos que não tenha mais que 40.

O pai
José Maria é também conhecido em Campo Mourão como “Negrete”. Trata-se de um experiente eletricista de veículos, sempre voltado ao trabalho. Um sujeito de 56 anos de idade extremamente simples, sem luxo. Anda o dia todo com a roupa suja do serviço. A sua vida é bastante normal, sem regalias. Junto à esposa, conseguiu comprar ao longo dos anos um terreninho onde está hoje a residência e a oficina da família. Tijolo a tijolo, o sonho da casa própria e do negócio foi acontecendo. Até o dia da morte de Eduardo, o pequeno imóvel tinha dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma pequena lavanderia. Hoje, a casa parece estar menor, com um quarto a menos. Se bem que o vazio aumentou, se agigantou, a ponto de corroer os pais.

Eduardo
Eduardo começou a trabalhar com o pai ainda aos 11 anos de idade. Via seu esforço e acabou se espelhando naqueles ensinamentos. Tornou-se como José, um bom eletricista de autos. Ao contrário de outros jovens, já havia escolhido a profissão. Talvez seja por este motivo a opção em não concluir o segundo grau. “Faltavam só três matérias para ele terminar”, lembrou a mãe.

O garoto tinha uma vida normal e, de acordo com a mãe, nunca envolveu-se com drogas. Gostava de sair com os colegas e, até mesmo, com clientes. Há três meses, havia terminado um relacionamento com uma garota, com quem ficou por quase um ano. “Ele gostava muito dela”, disse Lourdes. Eduardo puxou o pai até nos pequenos detalhes. Era magro e alto, não ligava para roupas novas e quase nunca se abria com os pais. Era muito reservado. O dinheiro que recebia guardava. Usava apenas quando trocava de carro. Ele adorava veículos. Antes possuía um Vectra. Mais recentemente trocou por uma Saveiro. Acabou morto dentro dela.

Pela manhã da quarta-feira, no dia em que morreu, Eduardo acordou e foi trabalhar. Almoçou na companhia do pai, retornou a oficina à tarde e, já de noite, encontrou a mãe em casa. Ele estava muito feliz. O jovem tomou banho e saiu sem dizer onde ia. Segundo a mãe, ele nunca dizia. No entanto, um amigo confidenciou a Lourdes que esteve com Eduardo naquela noite numa feirinha em Peabiru. Os dois teriam retornado de madrugada. Depois disso, “Negrete” deixou o rapaz em sua casa e foi até um barzinho da cidade. A partir daí, ninguém mais sabe o que pode ter acontecido.

No meio policial existem duas versões para a causa de sua morte. A primeira diz que o rapaz envolveu-se em uma briga, que teria acontecido há quase três meses. O desentendimento seria motivado por ciúmes de uma garota, possivelmente, sua ex-namorada. O ataque de ciúmes de Eduardo teria sido tão grande a ponto de jogar o carro sobre outro jovem – irmão de um dos suspeitos do crime. De acordo com o advogado de um dos presos, André Carraro, este foi o motivo da morte. Não existe outro.

A segunda versão indica que “Negrete” pode ter emprestado sua Saveiro a um amigo. Nesta saída, o colega teria “fechado” um motoqueiro. Minutos depois e ainda enfurecido, o condutor da moto reuniu alguns amigos e encontrou a Saveiro, que já estava em posse de “Negrete”. Mas ele não sabia o que estava acontecendo. Passou a ser ameaçado desnecessariamente. Temendo algumas medidas mais enérgicas do grupo, “Negrete” deixou o local bastante decepcionado. Acredita-se que o mesmo grupo planejou sua morte.

Fé diante da dor
“Estou me apegando a Deus para ter forças. Para suportar os dias que virão”, diz Lourdes. Ela deseja justiça. Mas não a justiça dos homens e sim, a divina. “Deus vai colocar a mão sobre o assassino. Ele pagará sua dívida lá em cima”, diz a mãe, emocionada. Segundo informações da polícia, são quatro os envolvidos em sua morte. Três já estão presos. Por coincidência, três ex-clientes da vítima. O quarto elemento, que teria feito os disparos, continua foragido. Mas há quem diga que o tal elemento nem exista. Dos três presos, dois confirmaram participação no crime.

Dona Lourdes acredita que o filho morreu de graça, sem dever nada a ninguém. A perda é tão grande que foi obrigada a doar todos os pertences do filho, quase que instantaneamente a sua morte. A idéia é sofrer o mínimo possível. O crime mais uma vez abalou a sociedade. Trata-se da morte de um jovem que trabalhava diariamente ao lado do pai. Que já tinha uma profissão, mas que pode ter se envolvido com gente do mal. Algumas pessoas ainda garantem que “Negrete” repassava drogas. Mas infelizmente, ele não pode mais defender-se. Transformou-se em estatística. Eduardo Augusto Simão morreu aos 23 anos de idade e foi a 16º vítima de assassinatos em 2011 em Campo Mourão.


O Crime

Eduardo Augusto Simão, 23 anos de idade, foi alvejado por pelo menos seis tiros de pistola 9 mm. Ele foi atingido na cabeça, rosto e pescoço. Um dia após o crime a polícia civil já havia prendido três acusados pela ação. “Negrete” teria sido perseguido por duas pessoas em uma motocicleta. Próximo a sua casa, na área central, foi alcançado e morto dentro do próprio carro. Conforme a polícia, a vítima começou a ser perseguido na Avenida Manoel Mendes de Camargo. No local do crime foram encontradas dez cápsulas de pistola. A vítima não tinha antecedentes criminais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário