segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A infância perdida de Lucinéia

Antes mesmo de saber o que era errado, foi submetida aos pecados carnais. Vendida pela própria avó, ainda aos nove anos de idade, era obrigada a deitar-se com pedófilos. Aos treze anos teve o primeiro filho. Aos 17 já tinha três. Hoje, com 35 anos, teve nove. Na fúria de seu destino, viu o filho afundar-se no crack. Pegou hanseníase, viu demônios, mas acabou sendo salva por Deus. Lucinéia Aparecida da Conceição está viva e seguindo o caminho do bem.


Dilmércio Daleffe

Lucinéia jamais teve infância. Entregue a avó ainda recém nascida, vivenciou o inferno antes mesmo da morte. Obrigada a prostituir-se aos nove anos de idade, era submetida a programas sexuais com clientes pedófilos. Era vendida o dia todo pela própria família. A mulher que a herdou da filha era sombria, queria apenas dinheiro. Traiu o amor da neta pela sacanagem, orgia e depravação. A menina deixou as bonequinhas de lado para “brincar” com homens, todos doentes, que até então jamais havia visto. Os demônios que assombravam a avó eram fortes, o suficiente para fazer com que a menina dormisse e acordasse bêbada. Era mantida alcoolizada durante grande parte da infância. Até parece estória de novela, mas o fato aconteceu há 26 anos, na periferia de Campo Mourão. Lucinéia hoje possui 35 anos. Teve nove filhos, mantém seqüelas de uma hanseníase e, depois de superar toda uma vida de sofrimentos, descobriu que Deus existe.

O vento, o ar puro, as brincadeiras, a infância pararam aos nove anos. Foi aí que Lucinéia Aparecida da Conceição aprendeu jogos de adultos. Foi arremessada à cova dos leões pela própria avó, um ser já morto e enterrado. Encontrou-se com os próprios demônios. Era obrigada a deitar-se embriagada na companhia de pedófilos. Todos sujos, sem compaixão, despidos de caráter e sedentos pelo sexo infantil. Aos 13 anos já podia ser considerada como uma experiente mulher da vida. Aos 17 já era mãe de três. A jornada hostil ensinou a ter nojo de tudo. Não gostava do ser humano. Desprezava a todos. As pessoas não lhe faziam bem.


Conseguiu sair da prostituição e nunca mais ousou beber. Teve três maridos. “Nenhum valia nada”, disse ela. Dos nove filhos, quatro morreram. Mantém três em sua casa. Outros dois estão com a ex-sogra. Lucinéia é definitivamente uma mulher sofrida, uma vítima das circunstâncias patéticas do subdesenvolvimento social brasileiro. Nunca conheceu o pai. A mãe só conheceu depois dos nove anos. Mantém um convívio pacífico ainda hoje. Aprendeu a perdoar os erros. Nem a avó quer o mal. Veio de uma família bastante pobre. São sete irmãos. Mesmo em meio à decadência moral de sua infância, conseguiu ir até a sexta-série. Sabe ler e escrever. E já está bom para quem apenas borda para ganhar um dinheirinho. Casada pela quarta vez, diz ter encontrado um bom companheiro. Ele está no mercado informal. Não tem renda fixa. Mas juntos conseguem sustentar os três filhos. É somente mais um exemplo de tantas outras famílias do Brasil.


Há 15 anos, Lucinéia começou a ter dores na perna. Foi a um médico que diagnosticou uma trombose. Feridas começaram e, com elas, um mau cheiro insuportável. Numa outra consulta, veio a descoberta: era hanseníase, a terrível doença antigamente chamada de lepra. A cura foi alcançada, mas não a tempo de evitar seqüelas. Hoje, ela mantém alguns dedos atrofiados. As pernas mostram as cicatrizes de antigas feridas. Lucinéia tomou remédio e começou a curar-se. No entanto, segundo ela, a cura mesmo aconteceu somente quando descobriu a presença de Deus em sua vida. “Foi ele quem me salvou”, garante.

Se a vida já era cheia de surpresas e angústias, o destino prepararia mais uma desgraça. O filho mais velho afundou-se no crack. O pouco existente na casa modesta começou a desaparecer. Panelas com alimentos eram levadas para a compra da droga. O menino roubou até os sapatos da mãe, a ponto da mesma ir a igreja descalça para pedir ajuda. “Não tinha mais nada que pudesse fazer para salvar meu filho”, disse. Sem saber a quem mais recorrer, descobriu a casa de um pastor no Lar Paraná. Durante dois meses o garoto permaneceu no local. Ele queria ajuda e conseguiu. Passados quase oito meses, o menino deixou a droga e está trabalhando com carteira registrada. “Não tem nada impossível para Deus”, disse. Atualmente, Lucinéia anda em paz consigo mesma e agradece o pastor Adão por toda ajuda recebida.


Mas os verdadeiros problemas da cidade continuam pelas suas esquinas. Lucinéias continuam prostituídas, drogas se espalhando entre crianças, pedófilos persuadindo menores. O mal não acaba.

Um homem além de seu tempo

Ele poderia ter modificado a história de Campo Mourão. Com sua imponente personalidade, certamente seria um deputado, possibilitando um desenvolvimento ainda maior à cidade. Mas quis o destino que nem ao menos conseguisse terminar a jornada de prefeito. Roberto Brzezinski hoje (25 de novembro de 2011) completaria 100 anos de idade. Morto num acidente automobilístico em 59, eternizou um legado repleto de ensinamentos. Deixou a forma de homem para transformar-se em mito, uma lenda a ser seguida.

Texto - Dilmércio Daleffe
Pesquisa – Jair Elias dos Santos Junior


Dono de uma personalidade singular, carregada ainda de ampla humildade e uma sabedoria única, Roberto Brzezinski foi impedido em concluir a sua gestão como prefeito de Campo Mourão em 1959. Em setembro daquele ano, um acidente na estrada próximo a Engenheiro Beltrão ceifou sua vida. Ele tinha apenas 47 anos de idade. Pouco para quem muito fez. Seu legado é lembrado até hoje, reflexo das atitudes e da seriedade com que levou a vida pública. Uma vez vivo, Brzezinski completaria 100 anos hoje. Certamente serve de exemplo a milhares de servidores públicos de todo o país, descontentes com suas funções.

Roberto estava em seu último ano à frente da prefeitura de Campo Mourão. Foi o terceiro gestor eleito pela população a ocupar o cargo. Enquanto prefeito, manifestou a vontade popular em várias frentes. Não possuía idéias isoladas. Realizava as necessidades de um povo. Dono de uma oratória invejável, recebia o apoio de pessoas que nem ele mesmo conhecia. Roberto era antes de tudo um educador. A própria educação recebida dos pais já o apresentava. Preocupado com o ensino, dedicava grande parte de suas realizações ao ensino da região.


Certa vez a diretora do Colégio Marechal Rondon, em Campo Mourão, foi até o gabinete de Roberto. Ele acabara de assumir o cargo. Ela então o indagou pedindo a construção imediata de duas novas salas de aula na unidade. O prefeito explicou que ela tivesse paciência, uma vez que acabara de assumir. Ao retornar ao colégio, a diretora teria avistado dois homens fazendo medições no terreno. Quando os interrogou, os operários disseram que o prefeito ordenou a construção de duas salas. Ou seja, antes mesmo da diretora chegar ao local, Roberto já havia tomado a iniciativa da construção.

Roberto nasceu em Almirante Tamandaré em 1911. Filho de Francisco Brzezinski e Maria Kaminski, casou-se com Tecla Mussak Brzezinski. Tiveram seis filhos: Francisco Irineu, Iracema, Iria, Iran Roberto e Irene. Foi voluntário da revolução de 30. Morou em Mallet e foi professor, diretor de escola e inspetor municipal de ensino. Ali, em 1941, tornou-se Juiz de Paz. Em 1948, veio para Campo Mourão, onde montou uma serraria e adquiriu uma propriedade rural. Desde 1952 até sua morte, viveu em Campo Mourão. Conhecido pela honestidade, caráter e seriedade lançou-se a vida pública, sendo eleito prefeito de Campo Mourão em 1955 com uma soma de votos que superava a somatória dos outros três candidatos. Sua vitória uniu a sigla PSD-UDN (Partido Social Democrático e União Democrática Nacional), aliança inédita em território brasileiro.


Filho mais velho de Roberto, Irineu ainda se emociona ao relembrar as boas histórias do pai. Primogênito, era ele quem o acompanhava até sua morte. Irineu tinha apenas 22 anos quando Roberto morreu. Mesmo assim, foi o suficiente para entender que a figura de pai era também a imagem de um sujeito revolucionário. “Aprendi muito. Me ensinou sobre honestidade, seriedade e respeito às pessoas”, afirma.

Irineu foi estudar em Curitiba. Queria ser advogado. Quando voltava a Campo Mourão, ajudava o pai em suas tarefas. Certa vez, Roberto pediu que o ajudasse na compra de pneus à frota dos jipes da prefeitura. Irineu então saiu pelo comércio e começou o levantamento de preços. Num dos estabelecimentos, o dono disse que se a compra fosse realizada ali, Irineu ainda sairia com uma comissão. À noite, o pai e prefeito quis ver o levantamento feito pelo filho. Irineu explicou que numa das lojas tinha até comissão. Roberto logo riscou aquela. “Ele disse que isso não podia acontecer. Era errado. Disse que nunca mais iria comprar naquela empresa”, lembra Irineu.

Roberto adorava futebol. Sempre que ia a capital levava o filho para ver as partidas no estádio. Torcia para o Coritiba. Quando estudava no Colégio Paranaense, Roberto jogava como titular pelo time. Era goleiro e, segundo testemunhas, era muito bom na posição. Em suas recordações, Irineu lembra que o pai dava liberdade de diálogo com os filhos. Era um líder nato. Enquanto prefeito, Roberto reunia todas as manhãs moradores de várias regiões que compunham Campo Mourão. Numa casinha, sentados em frente a rua, todos tomavam chimarrão e, ao mesmo tempo, expunham os problemas de cada comunidade. Roberto atendia uma a uma das reivindicações. Afinal, era um cara que sabia escutar. Ou melhor, os líderes devem saber ouvir.

Durante seu mandato, Roberto construiu a Praça Getúlio Vargas e promoveu a igualdade social. Construiu escolas, abriu estradas para diversos distritos e ergueu o Estádio Municipal. Mais tarde o homenagearam colocando seu nome ao estádio. Instalou a Coletoria Estadual e o Serviço de Metereologia e criou a primeira Banda Municipal. Fundou a Biblioteca Municipal. Sua morte antes de terminar o mandato, e na condição de líder regional, o favorito nas futuras eleições para mandato legislativo, comoveu o noroeste e o Paraná. Virou nome de rua, de escola e até de um distrito chamado Vila “Roberto Brzezinski”. Em 1993, por iniciativa do deputado estadual Namir Piacentini, foi lhe concedido o título de Cidadão Benemérito do Paraná, honraria entregue em 2005.

O dia da morte

No dia 21 de setembro de 1959, Roberto Brzezinski, Harrison José Borges e Alberto Bueno Ribeiro, coletor estadual, deixaram Campo Mourão com destino a Maringá. Iriam fazer parte da comitiva do governador Moysés Lupion que visitava Maringá. Saíram de Campo Mourão num veiculo jeep. Em Engenheiro Beltrão, trocaram de veiculo e mais dois passageiros seguiram na comitiva. Joaquim Bueno Godoy, prefeito de Engenheiro Beltrão e Aldevino Santigo, candidato a prefeito daquela cidade. Cinco quilômetros depois de Engenheiro Beltrão, nas proximidades da fazenda Chapadão, o acidente que mudaria a história política de Campo Mourão. A intensa poeira da estrada fez com que o motorista do carro, Aldevino Santiago, colidisse com um caminhão transportando bebidas. O choque se deu no momento que o carro foi ultrapassar um ônibus. Com a poeira, o motorista perdeu a visão do caminhão que vinha no sentido Maringá-Campo Mourão. O impacto foi tão grande que o veículo praticamente se desmanchou.

Foi ali, naquela estrada de chão, entre grades de bebidas e vidros quebrados, ferros retorcidos e a poeira vermelha, que o corpo de uma das maiores personalidades já vistas por Campo Mourão repousava já sem vida. Naquele momento, Roberto Brzezinski deixava a forma de homem, e passava a figura de lenda. Seus ensinamentos, sua honestidade continuaram sendo seguidos por alguns, principalmente, pelos filhos e netos. O legado de toda uma vida não acabou. Continua vivo em cada um dos servidores que agem de boa fé e fazem da vida pública uma missão honrosa em favor da coletividade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por que Eduardo Simão morreu?

Foto de Eduardo ainda quando criança

Dilmércio Daleffe

Eduardo Augusto Simão, o “Negrete”, tinha só 23 anos e trabalhava diariamente ao lado do pai, na auto-elétrica da família. Nos poucos anos em que viveu, jamais teve passagens pela polícia. Era um cara do bem, dizem os pais. Ganhava o próprio dinheiro, gostava de namorar, saía com os amigos e adorava carros. Mas na noite do dia 27 de outubro, próximo a sua casa, foi perseguido e assassinado com seis tiros. A causa do crime ainda não foi bem explicada. Aparentemente foi uma morte à toa, reflexo da violência de jovens enfurecidos. No entanto, uma outra versão, agora por parte dos suspeitos do crime, indica que a vítima não era tão inocente assim. Seja qualquer uma das hipóteses, Eduardo faz parte das estatísticas da polícia. Existe apenas nas lembranças dos pais e dos amigos.

Eduardo era o filho único da relação entre Lourdes, a mãe, e José Maria, o pai. Os dois vivem dias de tortura. Uma angústia sem fim, capaz de aniquilar qualquer sentimento de alegria ou felicidade. Afinal, o único fruto do amor resultante do matrimônio, foi levado pelas mãos frias de um assassino. Para o casal, o mundo desmoronou. O pai não consegue falar sobre o assunto, está profundamente abalado. A mãe encontra na fé em Deus forças para continuar a viver. É ela, inclusive, quem está sólida na família. Pouco do que restou de suas energias vem passando ao companheiro. Ele não está bem.

A mãe, evangélica há 16 anos, nasceu na lavoura, no bairro dos Inácio – região entre Campo Mourão e Luiziana -, e por lá permaneceu até seus 17. Foi criada pelos irmãos e pelo pai. Não conheceu a mãe. Ela morreu quando tinha apenas um ano de vida. Então, como o pai trabalhava, era a irmã de sete anos quem a criava. Uma criança cuidando de uma criança. Mesmo assim, aprendeu a levar uma vida honesta e de trabalho. Um tempo depois veio morar na cidade e, aos 28 anos, casou-se com José Maria. Do relacionamento nasceu Eduardo. Nos últimos 14 anos vem trabalhando como doméstica. Com a grana já comprou até um carrinho. Dona Lourdes é uma mulher bastante firme e meiga. Nem o passado de trabalho fez com que envelhecesse. Diz ter 51 anos, mas acreditamos que não tenha mais que 40.

O pai
José Maria é também conhecido em Campo Mourão como “Negrete”. Trata-se de um experiente eletricista de veículos, sempre voltado ao trabalho. Um sujeito de 56 anos de idade extremamente simples, sem luxo. Anda o dia todo com a roupa suja do serviço. A sua vida é bastante normal, sem regalias. Junto à esposa, conseguiu comprar ao longo dos anos um terreninho onde está hoje a residência e a oficina da família. Tijolo a tijolo, o sonho da casa própria e do negócio foi acontecendo. Até o dia da morte de Eduardo, o pequeno imóvel tinha dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma pequena lavanderia. Hoje, a casa parece estar menor, com um quarto a menos. Se bem que o vazio aumentou, se agigantou, a ponto de corroer os pais.

Eduardo
Eduardo começou a trabalhar com o pai ainda aos 11 anos de idade. Via seu esforço e acabou se espelhando naqueles ensinamentos. Tornou-se como José, um bom eletricista de autos. Ao contrário de outros jovens, já havia escolhido a profissão. Talvez seja por este motivo a opção em não concluir o segundo grau. “Faltavam só três matérias para ele terminar”, lembrou a mãe.

O garoto tinha uma vida normal e, de acordo com a mãe, nunca envolveu-se com drogas. Gostava de sair com os colegas e, até mesmo, com clientes. Há três meses, havia terminado um relacionamento com uma garota, com quem ficou por quase um ano. “Ele gostava muito dela”, disse Lourdes. Eduardo puxou o pai até nos pequenos detalhes. Era magro e alto, não ligava para roupas novas e quase nunca se abria com os pais. Era muito reservado. O dinheiro que recebia guardava. Usava apenas quando trocava de carro. Ele adorava veículos. Antes possuía um Vectra. Mais recentemente trocou por uma Saveiro. Acabou morto dentro dela.

Pela manhã da quarta-feira, no dia em que morreu, Eduardo acordou e foi trabalhar. Almoçou na companhia do pai, retornou a oficina à tarde e, já de noite, encontrou a mãe em casa. Ele estava muito feliz. O jovem tomou banho e saiu sem dizer onde ia. Segundo a mãe, ele nunca dizia. No entanto, um amigo confidenciou a Lourdes que esteve com Eduardo naquela noite numa feirinha em Peabiru. Os dois teriam retornado de madrugada. Depois disso, “Negrete” deixou o rapaz em sua casa e foi até um barzinho da cidade. A partir daí, ninguém mais sabe o que pode ter acontecido.

No meio policial existem duas versões para a causa de sua morte. A primeira diz que o rapaz envolveu-se em uma briga, que teria acontecido há quase três meses. O desentendimento seria motivado por ciúmes de uma garota, possivelmente, sua ex-namorada. O ataque de ciúmes de Eduardo teria sido tão grande a ponto de jogar o carro sobre outro jovem – irmão de um dos suspeitos do crime. De acordo com o advogado de um dos presos, André Carraro, este foi o motivo da morte. Não existe outro.

A segunda versão indica que “Negrete” pode ter emprestado sua Saveiro a um amigo. Nesta saída, o colega teria “fechado” um motoqueiro. Minutos depois e ainda enfurecido, o condutor da moto reuniu alguns amigos e encontrou a Saveiro, que já estava em posse de “Negrete”. Mas ele não sabia o que estava acontecendo. Passou a ser ameaçado desnecessariamente. Temendo algumas medidas mais enérgicas do grupo, “Negrete” deixou o local bastante decepcionado. Acredita-se que o mesmo grupo planejou sua morte.

Fé diante da dor
“Estou me apegando a Deus para ter forças. Para suportar os dias que virão”, diz Lourdes. Ela deseja justiça. Mas não a justiça dos homens e sim, a divina. “Deus vai colocar a mão sobre o assassino. Ele pagará sua dívida lá em cima”, diz a mãe, emocionada. Segundo informações da polícia, são quatro os envolvidos em sua morte. Três já estão presos. Por coincidência, três ex-clientes da vítima. O quarto elemento, que teria feito os disparos, continua foragido. Mas há quem diga que o tal elemento nem exista. Dos três presos, dois confirmaram participação no crime.

Dona Lourdes acredita que o filho morreu de graça, sem dever nada a ninguém. A perda é tão grande que foi obrigada a doar todos os pertences do filho, quase que instantaneamente a sua morte. A idéia é sofrer o mínimo possível. O crime mais uma vez abalou a sociedade. Trata-se da morte de um jovem que trabalhava diariamente ao lado do pai. Que já tinha uma profissão, mas que pode ter se envolvido com gente do mal. Algumas pessoas ainda garantem que “Negrete” repassava drogas. Mas infelizmente, ele não pode mais defender-se. Transformou-se em estatística. Eduardo Augusto Simão morreu aos 23 anos de idade e foi a 16º vítima de assassinatos em 2011 em Campo Mourão.


O Crime

Eduardo Augusto Simão, 23 anos de idade, foi alvejado por pelo menos seis tiros de pistola 9 mm. Ele foi atingido na cabeça, rosto e pescoço. Um dia após o crime a polícia civil já havia prendido três acusados pela ação. “Negrete” teria sido perseguido por duas pessoas em uma motocicleta. Próximo a sua casa, na área central, foi alcançado e morto dentro do próprio carro. Conforme a polícia, a vítima começou a ser perseguido na Avenida Manoel Mendes de Camargo. No local do crime foram encontradas dez cápsulas de pistola. A vítima não tinha antecedentes criminais.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reis, o herói sem dinheiro

Ele só queria vender seus picolés em paz. Mas dois gatunos atravessaram seu caminho e se deram mal. Um foi preso e outro perdeu a bicicleta. Antônio Luis dos Reis virou herói, mas voltou pra casa sem grana.


Dilmércio Daleffe

Ele não é banqueiro, nem empresário e muito menos fazendeiro. Ao contrário dos abonados, anda sempre duro, com os bolsos vazios. Vez em quando tem as calças repletas de moedas, reflexo dos trocados que a profissão exige. Aos 60 anos de idade, Antônio Luis dos Reis é apenas um sorveteiro. Um mero trabalhador do mercado informal já assaltado duas vezes. Recebe de R$20 a R$30 por dia carregando o carrinho de sorvetes pelas ruas de Campo Mourão. Mas, no último sábado, deixou de ser um vendedor de picolés como tantos outros da cidade. Ele fez algo inusitado. Ao ser roubado por dois meliantes, agarrou um deles e entrou em luta corporal. Perdeu o dinheiro, mas ficou com a bicicleta de um dos gaiatos.

Reis pode ser considerado como uma espécie de herói. Afinal, tirou de circulação um ladrão capaz de roubar até mesmo idosos. Mesmo com 35 anos a mais que o gatuno, não teve medo e partiu sobre ele. O sorveteiro conta que vendia picolés no bairro Maria Barleta. Era um final de sábado comum a tantos outros, quando dois jovens morenos, com idade média de 25 anos, o pararam pedindo dois sorvetes. Compraram e pagaram. Reis continuou seu destino e, alguns metros depois, foi novamente interpelado por um deles, só que agora, de bicicleta. “O rapaz pediu mais um picolé. Quando fui dar o troco, ele arrancou todo o dinheiro da minha mão”, explicou. Sem medo, partiu pra cima do ladrão segurando-o pela camiseta. Os dois foram ao chão e a luta teve início. Numa manobra corporal, o meliante tirou a camiseta e conseguiu escapar. Levou toda a grana, cerca de R$20. O dinheiro era quase nada, mas certamente o lucro de um dia inteiro do sorveteiro. Somente aquele dia Reis havia andado quase 15 quilômetros.


Esta é a segunda vez que Reis é assaltado em Campo Mourão. Segundo ele, a situação não anda nada boa pelas ruas da cidade. Ainda em 2010, vendia algodão doce quando outro elemento passou a mão na sua grana. Mesmo assim, diz que não irá mudar. Continuará pobre, mas honesto. “Não gosto de ladrão. Na minha família não temos ladrões”, diz. Reis mora com a irmã, Merita, num ranchinho de favela na Vila São Francisco de Assis. Na verdade é um casebre mais precário que habitualmente se vê por aí. Sem forro, apertado e com a fiação à vista, é um local quase inóspito. Mas a situação vai melhorar. Os dois juntaram a grana do sorvete e do algodão doce – ela também vende – e estão fazendo outra casa maior. Mesmo sem janelas e portas, Reis está dormindo no imóvel. É que ele mal cabe no casebre da irmã. E se entrar um ladrão à noite, ele estará preparado. “Como já disse, não gosto de ladrão. Se um deles entrar aqui, tem enxada e pá”, brinca.

Reis vem de uma família de 14 irmãos – 10 homens e quatro mulheres – todos nascidos e criados em Minas Gerais. Os pais vieram ao Paraná ainda na década de 60 em busca de dinheiro e novas oportunidades. “Diziam que aqui juntavam dinheiro com rodo”, diz Merita, olhando ironicamente para o casebre. O pai vendeu a propriedade da família em Minas e comprou outra na região de Campo Mourão, em Quinta do Sol. Com o tempo, cada um dos filhos foi criando o próprio destino e, aos poucos, desaparecendo. Dos 14 irmãos, restam apenas seis. Oito já morreram. De todos eles, apenas Reis é quem teve um pouco de estudo. Fez até a quinta série, o suficiente para ler e escrever. Nem Merita foi alfabetizada.

Casou por três vezes e se separou outras duas. A última mulher morreu há quatro anos, quando morava em Cascavel. Nunca teve filhos. É estéril. Ao longo dos anos, Reis trabalhou de tudo um pouco. Atuou como cobrador em diversas empresas de ônibus do estado. Foi lubrificador, lavador de automóveis e saqueiro. A vida, definitivamente, não foi nada gentil a ele. Sempre muito trabalho e pouca rentabilidade. Mas agora, aos 60 anos, ele diz estar cansado. Há dois anos vem trabalhando como sorveteiro pelas ruas da cidade. É uma jornada difícil, com muita caminhada e no máximo R$30 ao dia. Profissão digna, mas dura pra quem tem mais de 50. O herói agora precisa de ajuda. Além de doente – toma diariamente um medicamento para evitar convulsões – necessita de materiais de construção para concluir a casinha com Merita. A casa já está em pé, com telhado e tudo. Também já tem parte do piso. Mas irá precisar de outras coisas. Além disso, necessita de ajuda para aposentar-se. A colaboração pode ser feita a partir do contato com Merita (9855-9737).


Após lutar com um dos bandidos e o mesmo ter fugido com a grana – cerca de R$20 - o outro elemento dirigiu-se até o sorveteiro na tentativa de resgatar a bicicleta. Reis encarou o segundo meliante e não permitiu que a pegasse. “Disse a ele que se quisesse pegar, um de nós iria morrer. Ele então ficou com medo”, afirmou. Minutos depois a polícia chegou e levou o comparsa. Um ladrão a menos nas ruas. Um herói a mais na cidade. Cansado e ainda abalado psicologicamente, ele foi até a delegacia e prestou queixa da situação. Num gesto de solidariedade, também teve ajuda de um terceiro, que o levou até a sorveteria que trabalhava. No entanto, disse ter voltado para casa sem a grana do dia. “Trabalhei e andei aquele dia todo, mas não levei quase nada. Perdi o dinheiro pra um ladrão”, disse.

Um Pm contra 25 alunos



Dilmércio Daleffe

Eles saíram para assistir uma simples aula prática na noite da última quinta-feira. Na verdade, uma feira de profissões organizada pela Universidade Estadual do Paraná – Fecilcam. Eram 25 alunos do Colégio Darci Costa, 20 rapazes e cinco moças, todos com idade entre 17 e 20 anos. Foi uma atividade divertida. Gostaram do que viram. Mas no retorno à escola, um aluno perturbado e sem a descência moral dos companheiros, decidiu xingar dois policiais militares que passavam ao lado do coletivo. Até aí, o que havia sido um passeio legal, transformou-se em humilhação, violência e dor. Com exceção das meninas, outros garotos afirmam ter apanhado dos Pm´s.

Todos os estudantes são unânimes em dizer porque os soldados pararam o coletivo. É que um dos colegas – o nome não será divulgado – colocou a cabeça fora do veículo e xingou os Pm´s. A viatura voltou e interrompeu a volta à escola. “O piá que xingou os soldados está errado. Concordamos com a polícia. Mas eles não podiam fazer o que acabou acontecendo”, explicou um dos alunos. O fato teria ocorrido por volta das 22h. Depois do veículo ter sido obrigado a parar, um dos soldados – o nome não será revelado até que o caso seja apurado – adentrou ao ônibus com arma em punho. Aos berros teria ofendido e xingado os garotos. Somente depois de chutes e golpes de cassetetes é que o mesmo policial perguntou quem teria sido o responsável pela ofensa.

“Primeiro eles humilharam e bateram. Depois é que perguntaram quem foi o autor dos xingos”, lembrou outro estudante. Indignada, Sirlei Martins, mãe de um dos meninos agredidos, disse que deseja punição ao soldado. “É um crime contra a humanidade. Esse homem não tem condição de lidar com a população”, afirmou. Ainda ontem, ela e outros pais registraram queixa crime contra a ação dos dois soldados. Os agredidos também fizeram exame de corpo de delito. O menor J.A. teve que ir ao hospital. De acordo com ele, levou dois golpes de cassetete e um chute nas costas. “Ele fez exames e está tomando medicamentos”, disse a tia, Sirlei Padilha. Segundo ela, trata-se de um abuso de autoridade. “Esse Pm tem que ser punido”, afirmou. Diante de todas as críticas de pais e alunos, somente um dos PM´s é que teria se exaltado. O outro apenas acompanhou a situação. Mesmo assim, não teria feito nada para impedir o suposto abuso de poder.

Mesmo não sendo agredidas fisicamente, as cinco meninas se disseram bastante chocadas com a situação. Uma delas informou que também foi ameaçada. “Ele disse que só não iria bater na gente porque não tinha certeza que os xingos partiram de nós”, explicou. Depois de descobrir o autor das ofensas, os policiais levaram o aluno com a viatura até a 16ª Sub Divisão Policial de Campo Mourão. Ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado.

“Abordagem foi legal”, afirma subcomandante

A TRIBUNA conversou na tarde de ontem com o major Virgulino Alves da Silveira, subcomandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão, sobre a suposta abordagem da PM ao grupo de estudantes. De acordo com ele, a abordagem foi legal. No entanto, explica que não poderia ter ocorrido abuso de poder. A acusação está sendo investigada pelo comando da corporação. Silveira lamentou o caso, considerado por ele como grave. O major, que preferiu não identificar o policial, explicou que o PM está há mais de dez anos na corporação e até então não havia contra ele registro de reclamações ou envolvimento em qualquer outro tipo de situação que configurasse abuso de poder. “O policial está sujeito a lei como todas as pessoas. Se ele eventualmente exorbitou no cumprimento do dever vai responder por seu ato”, disse.

Segundo o subcomandante, o rapaz teria ofendido os policiais com palavrões de baixo calão. “Os xingaram de porcos e sujos. Jamais deveria acontecer uma situação dessa”, critica. Silveira comenta que o próprio pai do menino, um adolescente de 17 anos, teria condenado o comportamento do filho. O garoto foi encaminhado à delegacia e assinou termo circunstanciado por desacato a autoridade. O fato aconteceu na rua Souza Naves, no jardim Albuquerque, por volta das 22 horas. Silveira acrescenta que a PM apurará o caso com imparcialidade e ouvirá ambas as partes para tomar as providências cabíveis. “O fato de o rapaz ter tirado a cabeça para fora do ônibus e xingado o policial é uma falta de educação. Ele estava na escola exatamente aonde se recebe educação e, junto dele estava ainda uma professora. Ele deveria no mínimo ter respeito às autoridades”, completou.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O inferno de um homem

Ele estava praticamente morto, sem saída. Alcoólatra, morando na rua e viciado em crack, não conseguia ver o futuro. Sentado numa cadeira num boteco de Campo Mourão, seu pensamento estava longe. Mas quando acordou, percebeu uma mão estendida. Era o seu salvador. Deixou o próprio inferno e seguiu rumo a sua felicidade. Ele está salvo e voltou à vida.


Dilmércio Daleffe

Nos últimos dez anos, ele esqueceu-se de viver. Trocou a mulher e o filho pelo álcool e, rumou asfalto afora como andarilho. Deixou a barba crescer, roubou e viveu no mais alto grau da decadência humana ao comer restos em sacos de lixo. Foi humilhado, tratado como animal até parar na cadeia. Ficou seis meses pagando pela fúria da malandragem. Em liberdade, descobriu que o álcool era mais forte que ele. Foi apresentado ao crack e enterrou-se de vez em seu próprio inferno. Sentado em uma cadeira num boteco de Campo Mourão, ele não tinha a mais ninguém para pedir socorro. Estava no fundo do poço. Mas chegou um homem e o salvou.

Seu apelido é “Gordo”. Não quis ter o nome revelado. Aos 36 anos de idade, já passou de tudo um pouco. Sua trajetória pode ser resumida em três etapas, a começar em 2001. Ou seja, teve três vidas. A primeira quando ainda estava casado em Boa Esperança. Da união teve um filhinho, hoje com 14 anos. Tinha uma rotina comum. Era operador de máquinas agrícolas. Trabalhava, tomava umas com os amigos e voltava para casa. Mas a freqüência nos bares começou a aumentar. As brigas com a mulher, também. Um dia, foi obrigado a sair do lar. Tentou voltar, mas a companheira já havia se cansado. Esta era a vida antes de 2001.

A partir daí, “Gordo” ficou desnorteado, sem rumo. Como já vinha bebendo, acreditou que o caminho seria sair da cidade. Buscar novas oportunidades. E assim o fez. Pegou a estrada a pé e deixou a vida o levar, de bar em bar. Percorreu todo o estado durante dez anos. Virou andarilho, daqueles que não se preocupam em ter onde dormir, com o que comer, mas, apenas com o que beber. Sempre foi trabalhador. Nas cidades por onde passava, fazia bicos, como roçar uma data. A grana servia apenas para comprar uma cachaça. Era o seu combustível. Dormia em praças, sob as marquises de lojas e prédios públicos. Tomava banho em rios, postos de gasolina. A comida ganhava. Quando não, comia restos no lixo. Ele era um verdadeiro invisível, uma pessoa jamais vista pela sociedade. Definitivamente, um “Zé Ninguém”. Se tivesse morrido, estaria na cova rasa dos indigentes. Ninguém se importaria. Esta foi a sua segunda vida.

O.S. são as iniciais de seu nome. Mesmo com um passado de sofrimento bastante recente, prefere pensar apenas no futuro. Ele é natural de uma pequena cidade do Rio Grande do Sul chamada Victor Graeff. Uma colonização alemã, uma cidade bem organizada. Foi criado mais ao Norte, em Passo Fundo. Nas fazendas daquela região, andava ao lado do pai e da mãe. Eram funcionários de grandes agricultores. Teve uma infância rica em aprendizados, todos corretos, sinceros e o mais importante, inocentes. Não conhecia o lado desprezível do ser humano. Aos 17 anos, mudou-se para Mamborê, no Paraná, com a família e a irmã. Os pais continuaram na agricultura. Aos 21 conheceu uma moça de Boa Esperança e foi com ela que se casou.

Sua terceira vida começou a pouco tempo, mais precisamente em agosto deste ano. Alcoólatra e viciado em crack, ele não tinha ninguém a ajudá-lo. Sentado em um boteco de Campo Mourão, pensava na porcaria de sua vida quando um homem estendeu a mão. Ele aceitou na hora. Adão Adriano é um pastor com um abrigo no Lar Paraná destinado a pessoas que necessitam de ajuda. Na verdade, trata-se de um salva vidas. “Gordo” seguiu o pastor e ficou abrigado em sua casa por 40 dias. Foi o suficiente para que repensasse seu destino. Parou com a bebida. Pegou nojo pela droga e toda a malandragem aprendida nas ruas, passou a desprezar. Tornou-se um cara do bem, um homem digno. Em sua terceira vida, ele possui apenas três meses. Acabou de nascer. Os anjos disseram amém.

O.S. já estava desistindo da vida. Antes de salvar-se já havia buscado ajuda em 12 clínicas de recuperação no Paraná – Maringá, Cascavel, Marechal Cândido Rondon, Campo Mourão, Ubiratã e até Curitiba. O jeito largado a que submeteu-se afetava até seus pais. “Nunca vou me esquecer quando meu pai disse que eu não era mais seu filho”, lembrou. Não era sempre, mas quando dava, “Gordo” visitava os pais em Mamborê. O casal pedia, implorava que tomasse um rumo na vida, mas não havia jeito.

Nas ruas, aprendeu ser malandro. Mentia, corrompia as pessoas. Numa única tarde, levantou R$200 apenas pedindo dinheiro. Inventou uma mentira qualquer. Todos acreditaram. A grana foi gasta em álcool. Outra vez chegou ao limite da perversidade e adentrou uma residência para roubar. Acabou preso e pagou seis meses de cadeia. De tanto aprontar, o mal passou a persegui-lo. Estava tomando uma sozinho em Janiópolis, há alguns anos, quando dois elementos armados o colocaram no porta malas de um Gol. Levaram a um matagal. Lá disseram que iriam matá-lo. Pedindo a Deus que não o fizessem, acabou conseguindo fugir. Sua sacanagem era tanta que lembrava da casa de Deus apenas para pedir dinheiro aos padres e pastores. Não importava a religião. Todos ajudavam. Ele saía rindo. Mais uma mentira.

Mas hoje tudo é passado. E ele não gosta de relembrar o que viveu. Prefere crer no futuro. Agora está novamente casado. É servente de pedreiro e leva uma vida correta. Passou a conviver com o filho do primeiro casamento e adotou Deus como seu guia. Também quer ajudar pessoas com problemas como os que teve. Definitivamente, “Gordo” nasceu mais uma vez. Possui apenas três meses de vida, mas parece ter vindo com força total. Deixou o inferno criado por ele mesmo por uma escolha espiritual leve, longe dos demônios. O.S. é somente mais um exemplo de que nem tudo está perdido, de que o mundo ainda não acabou. Ele é a prova de que o homem pode mudar, transformar-se para o mal ou para o bem. Mas descobriu que o bem acaba prevalecendo.