domingo, 21 de abril de 2013

A gratidão de Otacílio, Kaique, Mário e João



Dilmércio Daleffe
Gratidão, além de representar uma das mais belas palavras do dicionário da língua portuguesa, está diretamente ligada às vidas de Otacílio, João, Mário e Kaique. Pessoas simples, de cidades e idades diferentes, mas com um elo em comum. Juntos, participam de sessões de hemodiálise no Instituto do Rim de Campo Mourão. E é ali, no interior do prédio, onde o sentimento de ternura surgiu. Se já não bastasse a atenção do corpo clínico quanto à sua saúde, agora, os dialisados estão praticando exercícios físicos durante o tratamento. A iniciativa, aparentemente inédita no Paraná, partiu do nefrologista Dênis Rogério Aranha da Silva e, desde então, os 130 pacientes vem tendo um motivo a mais para viver. Afinal, carinho e dedicação não se encontram na lata do lixo. Não têm preço e quem as recebe não se esquece. E é apenas por esta razão que os pacientes agradecem. Além do que, nos dias de hoje, é cada vez mais rara a cena de gente que cuida de gente. Ainda mais de graça, apenas pelo voluntariado.
Dilmércio Daleffe/Tribuna do Interior

Kaique durante as sessões de hemodiálise  
Seu nome é Otacílio Pereira da Silva. Um “menino” alagoano que, aos 78 anos, aprendeu na dor a encontrar alegria. “Vou contar uma coisa pra você. Sou mais feliz aqui na clínica do que na minha casa”, afirmou. Seu sentimento de gratidão comove a mais experiente das enfermeiras. Ele explica que o carinho da turma é tão especial que não da nem vontade de ir embora. Aposentado, Otacílio é viúvo há três anos. Veio do interior de Alagoas na década de 60, ainda movido pelo “homem da vassoura” – se referindo a Jânio Quadros. Aqui no Paraná ganhou dinheiro com a colheita do algodão. Mais tarde se casou e teve nove filhos. “Sou muito feliz aqui. Nunca mais quis saber do nordeste”, disse. Mas com a idade, acabou sendo submetido à hemodiálise. Para ele isso não é ruim. Pelo contrário, é uma satisfação. Ainda mais com os exercícios que fortalecem suas pernas deixando-o ainda mais “moço”.
Kaique dos Santos Campina tem apenas 20 anos de idade e faz hemodiálise há cinco meses. Vem de Goioerê três vezes por semana e se diz contente com as atividades físicas. “Cada sessão dura cerca de quatro horas. Então, faço os exercícios até cansar e depois durmo um pouco”, disse. Para ele, a dedicação dos médicos, enfermeiras e agora dos professores de educação física é visível. “É muito bonito ver. Quando fizer o transplante, vou sentir saudades da turma. É um ambiente muito gostoso, de respeito. Vou sentir muita saudade sim”, afirmou.
Outro “jovem” é João Araújo da Silva. Aos 62 anos de vida está com as pernas cada vez mais fortes. Também não é pra menos. Ele é um dos primeiros a receber o treinamento. Com a ajuda dos estagiários, exercita mãos, braços e pernas com um baita sorriso no rosto. “Eu tinha problema com as quedas. Agora, depois de nove meses fazendo os exercícios, não caí mais. Só tenho que agradecer a esta turma”, disse. “Seo” João vem três vezes por semana de Fênix até Campo Mourão. Segundo ele, cansaço não existe. “Só sinto gratidão pelo que me fazem”, explicou.
Dilmércio Daleffe/Tribuna do Interior
Mario diz sentir-se bem com exercícios     
De Mamborê vem Mário Eleotério dos Santos. Está nas sessões há oito meses. Desde o início vem fazendo as atividades físicas. Para ele está sendo muito bom. “Sinto os resultados. Estou mais disposto. É bom me exercitar”, disse. Aos 33 anos de idade, Mário também agradece o compromisso dos profissionais.
No dicionário, gratidão significa uma emoção, que envolve um sentimento de dívida emotiva em direção de outra pessoa. É acompanhada ainda por um desejo de agradecimento, ou um favor que fizeram por você. Num contexto religioso, gratidão também pode referir-se a um sentimento de dívida em direção de uma divindade. Nesse contexto, é claro que Deus não poderia estar ausente. Se preferir, basta associar todo o trabalho aos anjos. Sim, anjos protegem, cuidam, zelam. E ainda dizem que eles não existem... 
Idéia na cabeça
Com a idéia na cabeça, Dênis buscou parcerias. Logo recebeu o abraço caloroso de dois professores, Paula e Marco Antônio Bertolacci. Além de casados, fazem parte do quadro docente do Centro Integrado de Ensino Superior (Cies), instituição que aderiu à parceria junto ao Instituto do Rim. Hoje, a metodologia empregada junto aos pacientes, conta com o voluntariado de vários estagiários do curso de Educação Física. Divididos em turnos, os acadêmicos não medem esforços para exercitar um a um dos insuficientes renais. E eles gostam. Sentem-se envoltos ao carinho, à dedicação e a preocupação dos profissionais. Por isso o sentimento da gratidão.   
Dênis explica que os exercícios são importantes para fortalecer, principalmente, as pernas. Segundo ele, os pacientes sofrem com ossos enfraquecidos, além da musculatura atrofiada. “O grande objetivo é proporcionar uma melhor qualidade de vida a cada um deles”, disse o nefrologista. Renais crônicos têm em comum dores nas pernas e perda de sono. Com os exercícios, os pacientes vem registrando melhora significativa. Outro dado preocupante é quanto às quedas. Com pernas frágeis, tombos são comuns.   

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