domingo, 24 de março de 2013

E eu vou fazer xixi aonde?


Sem banheiros públicos na área central da cidade, a população vem sendo obrigada a virar-se como pode. Neste cenário, sobraram até para as portas e paredes da Catedral, as quais vem servindo como alvo aos desesperados.



Dilmércio Daleffe

Campo Mourão é um município do estado do Paraná localizado a 24º’02'38' de latitude sul e 52º22'40'' de longitude oeste do Meridiano de Greenwich, com altitude média de 630 metros acima do nível do mar. De acordo com o IBGE, a população é de pouco mais de 86 mil pessoas. O planejamento inicial da cidade foi traçado e estruturado a partir de um formato geométrico lembrando um tabuleiro de xadrez. São três praças centrais, construídas para o bem estar da população. Ou seja, uma cidade e suas praças voltadas às pessoas. Mas nem tudo vem funcionando conforme o desejo popular.

A maior parte das pessoas que freqüenta o centro de Campo Mourão já sai de casa preparada para não ir ao banheiro. A razão é muito simples. Lá, com raras exceções, não existem banheiros públicos. Nas praças do fórum, São José e Getúlio Vargas, tamanha é a ausência de sanitários, que não é raro identificar pessoas “desaguando” em obeliscos, árvores e até nas portas da Catedral. Com o problema, a educação perde-se no caminho, enquanto o cheiro da urina permanece intacto em cantos escondidos do passeio público.  

Taxista há dez anos, Ervino Dalazen, diz que o problema é muito sério. Com o carro parado em frente à praça Getúlio Vargas, presencia diariamente o desespero de pessoas idosas. “Os velhinhos nos perguntam onde podem fazer o xixi. Recomendamos o banheiro da biblioteca. Mas muitos deles não conseguem caminhar até lá. Um banheiro no local faz muita falta”, afirma. Ervino, inclusive, conviveu com um companheiro de trabalho que se via obrigado a fazer o santo xixi atrás de um obelisco da praça. Quando não o fazia, tinha o constrangimento em urinar dentro de uma garrafa pet, no próprio carro. “Ele não era relaxado. Apenas não tinha outra saída”, lembra.    

Pioneira de Campo Mourão, Maria Correia do Prado, de 73 anos, brinca com a situação. Segundo ela, só rezando mesmo pra não urinar nas calças. Bastante católica, ela visita a Catedral regularmente e diz que, quando a vontade aparece, usa o banheiro do terminal. “Eu utilizo aquele banheiro porque não pago para entrar. Mas as outras pessoas não sei como fazem”, disse. Ela também argumenta que a presença de um sanitário na praça é fundamental à população. “Não sei porque destruíram os antigos banheiros desta praça. 
Eles fizeram um projeto bonito, mas que não é bom”, garantiu.



Antes da revitalização da praça Getúlio Vargas, no ano de 2004, existiam dois banheiros no local, um aos homens e outro às mulheres. Mesmo assim, as condições eram tão precárias que antes mesmo de serem destruídos, já não funcionavam mais. Lá faltava de tudo, desde higiene a papel. Já na praça do fórum jamais existiram banheiros públicos. O que existe são apenas sanitários de uma lanchonete que abre somente à noite. Mesmo assim, quando há eventos no local, o proprietário cede os banheiros. Apenas como comparação, o município de Peabiru mantém na praça central banheiros higienizados diariamente. Além disso, um dos sanitários está adequado a portadores de deficiência física.

Aos 49 anos de idade, o aposentado Miguel Souza foi flagrado descansando num dos bancos da praça Getúlio Vargas. Se estivesse “apertado” em busca de um banheiro, teria que recorrer a uma lanchonete ou até uma empresa próxima. “É um problema sério a ser resolvido. Tem que haver sim um banheiro”, disse. A mesmo opinião possui o estudante Iuri Afonso, de 22 anos. Para ele, se der vontade de fazer xixi, será obrigado a agüentar ou, senão, adentrar em alguma loja e pedir o sanitário, na cara de pau. Um trabalhador local, que preferiu não ter o nome revelado, disse que é comum ver a cena de pessoas urinando ao redor da Catedral. Segundo ele, fazem xixi nas paredes e até nas portas da igreja. De qualquer forma, enquanto nada se faz, o jeito é vir ao centro da cidade com os “tanques” vazios.

Município diz que banheiros serão construídos
Para o vice-prefeito de Campo Mourão, Rodrigo Salvadori, a presença de banheiros nas praças Getúlio Vargas e São José é muito importante à população. Segundo ele, já existem estudos sobre a construção dos sanitários. “O problema ali será a tubulação e readequação do local. Mas em breve construiremos o espaço”, disse. Ele também descreveu como um erro a revitalização das praças, em 2004, sem os banheiros. 

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