Cidade sagrada pré-colombiana
resiste ao tempo e ainda guarda mistérios
Dilmércio
Daleffe
Encravada
na Península de Yucatán, no México, uma construção pré-colombiana chama
atenção. Magia e mistérios são tão profundos que a cidade sagrada de Chichén
Itzá já figura entre as sete novas maravilhas do mundo moderno – junto ao
Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Trata-se de um ponto de encontro das
civilizações Maia e Tolteca, classificada como Patrimônio da Humanidade desde
1988. Criada ainda no século VI pelos maias, o local vem recebendo visitação de
quase cinco mil turistas ao dia. Somente no dia 21 de dezembro do último ano –
data em que se esperava o final do mundo – Chichén Itzá reuniu cerca de 20 mil
pessoas. Era tanta gente que a gerência do templo foi forçada a convocar a
polícia mexicana. O objetivo foi manter a ordem, disse Luiz Muros, estudioso da
civilização Maia.
O local
vem sendo palco de pesquisas desde o início do século XX. Estudiosos americanos
conseguiram, desde então, decifrar figuras esculpidas em pedras. Mas uma das
maiores descobertas está na grande pirâmide. Lá, verificou-se uma mistura de
cálculos astronômicos, culminando com ciclos lunares e solares. “Eles eram
muito inteligentes. A partir da sombra da construção sabiam qual estação do ano
e em que mês estavam”, disse Muros. Além disso, em seu interior foram
verificados esculturas que delineavam parte de suas crenças no Deus Kukulcán –
simbolizado por uma serpente. Templos e
pirâmides eram construídos porque o calendário maia prescrevia que, a cada 52
anos, o número prefixado de degraus de uma obra arquitetônica deveria ser
concluído.
A grande
tomada pela construção da cidade sagrada teria acontecido por volta do ano 1000
D.C. A partir de então criou-se um estilo singular de arquitetura, único em
todo planeta. Por todos os lados estão também figuras esculpidas sobre
guerreiros maias, sempre através de um jaguar. Os Maias
eram acima de tudo guerreiros. Não mediam mais que 1,4 metro de altura e, muito
possivelmente, por esta razão, atacavam para se defender.
De acordo com Muros, Chichén Itzá
foi um templo de muitos sacrifícios humanos. Fiéis ao Deus Kukulcán, os maias sacrificavam
mulheres virgens, crianças, idosos e grandes atletas. Até hoje, uma grande
furna – o Cenote - é visitada por turistas. Lá, virgens recebiam um banho com
vapor e depois eram arremessadas com grandes pedras amarradas aos pés. No
início do século XX, pesquisadores retiraram milhares de ossos sob as águas do
local. No Templo dos Guerreiros, outra edificação intrigante, inimigos maias
também eram sacrificados. Lá, ainda vivo, o inimigo tinha o peito aberto e o
coração retirado. O cinema tentou retratar um pouco a civilização Maia através
do filme Apocalypto. Uma de suas cenas mostra o ato dos sacrifícios.
No entanto, mesmo sendo
inteligentes e astrônomos, os Maias acabaram sentenciando o fim da vida no
local. De acordo com Muros, devastando toda a arborização da região, as
consequências não demoraram a surgir. A falta de chuvas, reflexo direto da
destruição, fez com que a civilização abandonasse o lugar, ainda no século XV. Mesmo
assim, até hoje, a sombra de Kukulcán, o Deus Serpente dos Maias, passeia por
Chichén-Itzá, durante os equinócios de primavera e de outono, quando noite e
dia têm a mesma duração. É que, segundo pesquisadores, os ângulos dos terraços projetam uma
sombra em ziguezague que termina em forma de cabeça de serpente, dando a
sensação que a serpente desce as escadas.
A pirâmide
distribui-se em quatro lados. Em cada um deles uma escadaria com 91 degraus, totalizando, portanto, 364 degraus, ou seja,
os dias do ano. No lado
noroeste da pirâmide verifica-se um fenômeno óptico a 22 de março e 22 de
setembro (equinócios). A grande mentira que o mundo iria acabar recentemente
aconteceu devido ao final do calendário Maia. Na verdade, foi a transição entre
o fim de um ciclo e o início de outro.
Atualmente
o templo transformou-se num parque internacional. Mas mesmo tentando conservar
o local, centenas de descendentes maias exploram a cidade vendendo artesanatos
internamente. Uma cena contraditória. Mas para estudiosos, como Muros, os
nativos tem esse direito, principalmente, por serem remanescentes diretos da
cultura Maia.
Serviço –
Chichén Itzá fica cerca de 190 Km a leste da cidade de Cancum, no México.
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