domingo, 10 de março de 2013

Chichén Itzá ainda vive




Cidade sagrada pré-colombiana resiste ao tempo e ainda guarda mistérios 



Dilmércio Daleffe

Encravada na Península de Yucatán, no México, uma construção pré-colombiana chama atenção. Magia e mistérios são tão profundos que a cidade sagrada de Chichén Itzá já figura entre as sete novas maravilhas do mundo moderno – junto ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Trata-se de um ponto de encontro das civilizações Maia e Tolteca, classificada como Patrimônio da Humanidade desde 1988. Criada ainda no século VI pelos maias, o local vem recebendo visitação de quase cinco mil turistas ao dia. Somente no dia 21 de dezembro do último ano – data em que se esperava o final do mundo – Chichén Itzá reuniu cerca de 20 mil pessoas. Era tanta gente que a gerência do templo foi forçada a convocar a polícia mexicana. O objetivo foi manter a ordem, disse Luiz Muros, estudioso da civilização Maia.

O local vem sendo palco de pesquisas desde o início do século XX. Estudiosos americanos conseguiram, desde então, decifrar figuras esculpidas em pedras. Mas uma das maiores descobertas está na grande pirâmide. Lá, verificou-se uma mistura de cálculos astronômicos, culminando com ciclos lunares e solares. “Eles eram muito inteligentes. A partir da sombra da construção sabiam qual estação do ano e em que mês estavam”, disse Muros. Além disso, em seu interior foram verificados esculturas que delineavam parte de suas crenças no Deus Kukulcán – simbolizado por uma serpente. Templos e pirâmides eram construídos porque o calendário maia prescrevia que, a cada 52 anos, o número prefixado de degraus de uma obra arquitetônica deveria ser concluído.



A grande tomada pela construção da cidade sagrada teria acontecido por volta do ano 1000 D.C. A partir de então criou-se um estilo singular de arquitetura, único em todo planeta. Por todos os lados estão também figuras esculpidas sobre guerreiros maias, sempre através de um jaguar. Os Maias eram acima de tudo guerreiros. Não mediam mais que 1,4 metro de altura e, muito possivelmente, por esta razão, atacavam para se defender.

De acordo com Muros, Chichén Itzá foi um templo de muitos sacrifícios humanos. Fiéis ao Deus Kukulcán, os maias sacrificavam mulheres virgens, crianças, idosos e grandes atletas. Até hoje, uma grande furna – o Cenote - é visitada por turistas. Lá, virgens recebiam um banho com vapor e depois eram arremessadas com grandes pedras amarradas aos pés. No início do século XX, pesquisadores retiraram milhares de ossos sob as águas do local. No Templo dos Guerreiros, outra edificação intrigante, inimigos maias também eram sacrificados. Lá, ainda vivo, o inimigo tinha o peito aberto e o coração retirado. O cinema tentou retratar um pouco a civilização Maia através do filme Apocalypto. Uma de suas cenas mostra o ato dos sacrifícios.



No entanto, mesmo sendo inteligentes e astrônomos, os Maias acabaram sentenciando o fim da vida no local. De acordo com Muros, devastando toda a arborização da região, as consequências não demoraram a surgir. A falta de chuvas, reflexo direto da destruição, fez com que a civilização abandonasse o lugar, ainda no século XV. Mesmo assim, até hoje, a sombra de Kukulcán, o Deus Serpente dos Maias, passeia por Chichén-Itzá, durante os equinócios de primavera e de outono, quando noite e dia têm a mesma duração. É que, segundo pesquisadores, os ângulos dos terraços projetam uma sombra em ziguezague que termina em forma de cabeça de serpente, dando a sensação que a serpente desce as escadas.

A pirâmide distribui-se em quatro lados. Em cada um deles uma escadaria com 91 degraus, totalizando, portanto, 364 degraus, ou seja, os dias do ano. No lado noroeste da pirâmide verifica-se um fenômeno óptico a 22 de março e 22 de setembro (equinócios). A grande mentira que o mundo iria acabar recentemente aconteceu devido ao final do calendário Maia. Na verdade, foi a transição entre o fim de um ciclo e o início de outro.



Atualmente o templo transformou-se num parque internacional. Mas mesmo tentando conservar o local, centenas de descendentes maias exploram a cidade vendendo artesanatos internamente. Uma cena contraditória. Mas para estudiosos, como Muros, os nativos tem esse direito, principalmente, por serem remanescentes diretos da cultura Maia.

Serviço – Chichén Itzá fica cerca de 190 Km a leste da cidade de Cancum, no México.    

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