Dilmércio Daleffe
Mauro Abdão Espírito Santo, definitivamente, não é uma
pessoa comum. Trabalhador desde os 19 anos de idade, já foi lenhador, lavrador
e vendedor de guardanapos. Nasceu em 63 na cidade de Janiópolis. Mas anos
depois, acabou vindo a Campo Mourão. Num berço rural, foi criado sobre a terra
vermelha, entre os matagais e as plantações de feijão e algodão. São sete
irmãos. Mas Mauro cresceu diferente dos demais. Como já descrito, travou sua
luta pessoal em diversos setores da economia. Mas sempre trabalhou na dor.
Ainda com um ano e meio de vida, teve paralisia infantil. Com os movimentos das
pernas comprometidos, jamais foi vencido pela conformidade. Ao contrário,
desafiou os médicos, e ousou fazer o que ninguém acreditava. Mauro é sem dúvida
nenhuma, o “cara”.
Logo depois de apresentar os sintomas da doença, o menino
foi levado ao médico pela mãe. Lá, ela teria ouvido que a criança contraíra
paralisia. Por este motivo, Mauro passaria a ter dificuldades para andar, ver e
ouvir. Foi um choque para dona Cidália, a mãe. Enquanto crescia, o menino via
de longe seus amigos brincarem. Foi uma infância doída, distante das rodas de
crianças. Mas contrariando os médicos, não teve outros problemas. Ainda vivendo
na roça, Mauro estudou até a oitava série. Aprendeu ler e escrever, mas como
ele mesmo confessa, estudar nunca foi seu forte.
Mas aos 19 anos, Mauro desistiu de sua inércia. Vendo os
pais trabalharem no campo, decidiu iniciar sua própria batalha. Ajoelhado,
colaborava na colheita de algodão e feijão. Passou a ser um exemplo aos que
trabalhavam. Seus pais não acreditavam. A cena era um misto de vontade,
compaixão, esforço, vida. Ali, naquele momento, Mauro mostrou que sua jornada
seria como a dos demais. Não existia menos homem ou mais homem. Existiam apenas
seres humanos iguais.
Anos mais tarde conheceu Cláudia, com quem casou e teve dois
filhos, Carlos e Cristiano. A vida continuava dura. Mas ele sempre dava a volta
por cima. Até hoje, Mauro sorri e diz que sua realidade é repleta de
felicidade. Conseguiu o benefício da aposentadoria e as contas diminuíram. Talvez,
como sugere seu sobrenome, seja abençoado por forças divinas.
Há alguns anos, preocupado com as amizades dos dois filhos,
Mauro comprou duas máquinas de jardinagem para estimulá-los ao trabalho. De
pouco em pouco, os três foram conseguindo algumas casas para trabalhar. Hoje,
falta tempo para tanta procura. Juntos, chegam a fazer até cinco quintais por
dia. Todo o dinheiro vai para os meninos, como incentivo ao trabalho. Mauro,
apenas acompanha. Mas teimoso como é, quando menos se espera, lá está ele, de
joelhos, varrendo ou juntando a grama. “Eu quero ajudar. E faço como posso”,
diz.
Como o serviço deu certo, Mauro diz que agora precisa juntar
bastante dinheiro para adquirir uma camionete aos filhos. “Pode ser até um
carro velho. Não faz mal. Mas iria nos ajudar e muito”, acredita. A carona hoje
é dada por seu irmão. “Quem sabe a gente não seja abençoado por alguém que nos
ajude com o carro”, acredita.
Atualmente, Mauro está separado. Reside numa pequena casa
alugada no Lar Paraná e vive ao lado dos dois filhos. “Nós somos tão unidos
que, mesmo cada um tendo sua cama, dormimos juntos. Não tem amor maior na vida
que isso”, diz. Os meninos, inclusive, relatam as lições de vida que vem
aprendendo com o pai. Mesmo a vida sendo dura, na casa jamais faltou alguma
coisa.
Aos 49 anos de idade, Mauro teria muito do que reclamar da
vida. A começar com o drama pessoal travado desde a infância. Mas não. Do que
vivenciou até hoje, ele só agradece. Sabe que dificilmente será rico um dia.
Mas dinheiro não traria a maior riqueza conquistada: o amor dos dois filhos.
“Eu me orgulho muito do que sou. Como sou. Mas me orgulho ainda mais dos meus
dois meninos”. Num mundo tão congestionado, truculento e competitivo, Mauro
conquistou seu próprio universo. Nos jardins lapidados pelos filhos,
esqueceu-se dos espinhos para colher apenas as flores mais sedosas.
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