domingo, 17 de março de 2013

De joelhos, Mauro conquistou seu próprio universo





Dilmércio Daleffe

Mauro Abdão Espírito Santo, definitivamente, não é uma pessoa comum. Trabalhador desde os 19 anos de idade, já foi lenhador, lavrador e vendedor de guardanapos. Nasceu em 63 na cidade de Janiópolis. Mas anos depois, acabou vindo a Campo Mourão. Num berço rural, foi criado sobre a terra vermelha, entre os matagais e as plantações de feijão e algodão. São sete irmãos. Mas Mauro cresceu diferente dos demais. Como já descrito, travou sua luta pessoal em diversos setores da economia. Mas sempre trabalhou na dor. Ainda com um ano e meio de vida, teve paralisia infantil. Com os movimentos das pernas comprometidos, jamais foi vencido pela conformidade. Ao contrário, desafiou os médicos, e ousou fazer o que ninguém acreditava. Mauro é sem dúvida nenhuma, o “cara”.

Logo depois de apresentar os sintomas da doença, o menino foi levado ao médico pela mãe. Lá, ela teria ouvido que a criança contraíra paralisia. Por este motivo, Mauro passaria a ter dificuldades para andar, ver e ouvir. Foi um choque para dona Cidália, a mãe. Enquanto crescia, o menino via de longe seus amigos brincarem. Foi uma infância doída, distante das rodas de crianças. Mas contrariando os médicos, não teve outros problemas. Ainda vivendo na roça, Mauro estudou até a oitava série. Aprendeu ler e escrever, mas como ele mesmo confessa, estudar nunca foi seu forte.

Mas aos 19 anos, Mauro desistiu de sua inércia. Vendo os pais trabalharem no campo, decidiu iniciar sua própria batalha. Ajoelhado, colaborava na colheita de algodão e feijão. Passou a ser um exemplo aos que trabalhavam. Seus pais não acreditavam. A cena era um misto de vontade, compaixão, esforço, vida. Ali, naquele momento, Mauro mostrou que sua jornada seria como a dos demais. Não existia menos homem ou mais homem. Existiam apenas seres humanos iguais.



Anos mais tarde conheceu Cláudia, com quem casou e teve dois filhos, Carlos e Cristiano. A vida continuava dura. Mas ele sempre dava a volta por cima. Até hoje, Mauro sorri e diz que sua realidade é repleta de felicidade. Conseguiu o benefício da aposentadoria e as contas diminuíram. Talvez, como sugere seu sobrenome, seja abençoado por forças divinas.

Há alguns anos, preocupado com as amizades dos dois filhos, Mauro comprou duas máquinas de jardinagem para estimulá-los ao trabalho. De pouco em pouco, os três foram conseguindo algumas casas para trabalhar. Hoje, falta tempo para tanta procura. Juntos, chegam a fazer até cinco quintais por dia. Todo o dinheiro vai para os meninos, como incentivo ao trabalho. Mauro, apenas acompanha. Mas teimoso como é, quando menos se espera, lá está ele, de joelhos, varrendo ou juntando a grama. “Eu quero ajudar. E faço como posso”, diz.

Como o serviço deu certo, Mauro diz que agora precisa juntar bastante dinheiro para adquirir uma camionete aos filhos. “Pode ser até um carro velho. Não faz mal. Mas iria nos ajudar e muito”, acredita. A carona hoje é dada por seu irmão. “Quem sabe a gente não seja abençoado por alguém que nos ajude com o carro”, acredita.

Atualmente, Mauro está separado. Reside numa pequena casa alugada no Lar Paraná e vive ao lado dos dois filhos. “Nós somos tão unidos que, mesmo cada um tendo sua cama, dormimos juntos. Não tem amor maior na vida que isso”, diz. Os meninos, inclusive, relatam as lições de vida que vem aprendendo com o pai. Mesmo a vida sendo dura, na casa jamais faltou alguma coisa.

Aos 49 anos de idade, Mauro teria muito do que reclamar da vida. A começar com o drama pessoal travado desde a infância. Mas não. Do que vivenciou até hoje, ele só agradece. Sabe que dificilmente será rico um dia. Mas dinheiro não traria a maior riqueza conquistada: o amor dos dois filhos. “Eu me orgulho muito do que sou. Como sou. Mas me orgulho ainda mais dos meus dois meninos”. Num mundo tão congestionado, truculento e competitivo, Mauro conquistou seu próprio universo. Nos jardins lapidados pelos filhos, esqueceu-se dos espinhos para colher apenas as flores mais sedosas.  
     

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