Dilmércio Daleffe
O desespero pela sobrevivência levou quase 80 indígenas da aldeia Ivaí – em Manoel Ribas - a migrar pelas ruas de Campo Mourão. Juntos, eles chegaram na noite da última quarta-feira carregando centenas de cestos produzidos por eles próprios. São 40 adultos e 40 crianças. O problema é que, com eles, chegou a chuva. Sem lugar para ficar, abrigaram-se em um terreno baldio em frente a rodoviária. Fizeram de um out-door uma espécie de barracão. Puxaram uma lona para os lados e lá permanecem. Eles estão pedindo ajuda.
Sem conseguir vender a produção, a fome chegou. Precisam de cobertas, colchões, comida e roupa de frio às crianças. Acabaram por descobrir que na cidade a lei da sobrevivência é a lei do cão. As condições que a reportagem evidenciou ontem são desumanas. Era meio dia quando dezenas de crianças se amontoavam a beira de uma pequena fogueira sob o out-door. O clima estava frio e os indiozinhos continuavam sem alimentação. Algumas seguravam colheres aguardando uma comida que, definitivamente, não chegava. Os mais velhos disseram que estavam sem dinheiro. Como chovia muito, não tinham condições de sair e vender os cestos. Uma indígena mais velha, Maria Aparecida Conceição, informou que devem permanecer na cidade por 15 dias, até vender os cestos.
No entanto, ontem, o material pode ter se estragado com a chuva. Parte dele não coube sob o out-door e ficou na chuva. Para armazená-los, alguns indígenas deixaram dezenas deles na própria rodoviária. Outra parte ficou abrigada sob marquises de empresas próximas ao terreno. A situação dos indígenas é bastante ruim. Durante a entrevista, até as poucas roupas das crianças estavam molhadas.
Com a intensidade da chuva que caiu durante à noite, o capim do terreno estava todo molhado. Com isso, a vida sob o “puxado” ficou mais precária ainda. Eles não tem nem ao menos como deitar-se. Questionada sobre o porque ter trazido as crianças para Campo Mourão, Maria informou que elas vem para colaborar na venda dos cestos. Ela não respondeu se os menores estudam. Mesmo assim pediu para que a população doe alimentos e roupas ao grupo, o quanto antes. Segundo informações, a tendência é que esfrie ainda mais nos próximos dias. Segundo um ditado judeu, quando se salva uma vida, salva-se o mundo.
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