segunda-feira, 23 de abril de 2012

Clemência para salvar a família

Dilmércio Daleffe
Aos 35 anos de idade, Roseli Aparecida Silva Souza vive um drama sem fim. Casada e com três filhos, ela mora no Conjunto Condor, mais precisamente na Rua Dom Pedro I. Nome sugestivo para quem acaba de dar um grito de liberdade, numa tentativa de independência moral. Vendo a própria família ser destruída pelo álcool e pelas drogas, decidiu entregar o filho de 17 anos à polícia. O denunciou para que não morresse. Ele foi detido esta semana após ser encontrado com maconha. Mas já está livre. Não bastasse o filho, o marido de Roseli entregou-se ao álcool. Segundo ela, o companheiro bebe há bastante tempo. O suficiente para promover destruição no lar, agressões físicas à esposa e a desunião de toda a família. Cansada de lutar sozinha, Roseli decidiu agir. Tirou forças do além e buscou ajuda. Quer colaboração da sociedade para internar filho e marido. Roseli é uma mulher sofrida. Tem as mãos calejadas de tanto trabalhar como doméstica. Deixou a infância de lado para labutar desde cedo. Já aos 13 fugiu de casa em busca de seu destino. Aos 16 casou na igreja. Um ano depois já encarava o mercado de trabalho. Com muito suor comprou a casa modesta em que vive ao lado dos filhos até hoje. É lá, no número 104, na Rua Dom Pedro I, em que semeou o amor pelas três crianças. Mas nem tudo são flores. O drama de Roseli é mais intenso que se imagina. Além do problema de dependência química do filho e do marido, as outras duas filhas, de 8 e 19 anos, possuem problemas mentais. Uma “mancha” no cérebro, como ela mesmo as define. Como a única renda vem do próprio trabalho – atua à noite como zeladora de uma empresa – as condições da casa vão de mal a pior. A moradia em alvenaria está praticamente se deteriorando. Pintura não existe mais. Os móveis que um dia foram novos, viraram cacos. Sofá rasgado, geladeira precária e fogão moído. Dá pena em ver as condições da família. Ainda mais porque uma criança e uma adolescente com problemas mentais lá residem. Quem socorrerá Roseli? Alguém se habilita? Roseli é uma mulher ainda bastante jovem. Mas as dificuldades que a vida lhe impôs fazem dela uma pessoa mais velha. Tudo é só sofrimento. Com vergonha de receber a equipe da TRIBUNA em sua casa, diante das precárias condições, a conversa se deu aos fundos, sob um puxadinho da lavanderia. Mas a mulher é guerreira. Contou as adversidades do seu dia a dia e não teve pena de si mesma em pedir ajuda. “Eu não tenho vergonha. Preciso mesmo de ajuda. Se conseguir recuperar meu marido e meu filho vou ser outra mulher”, disse. Roseli deseja recomeçar. Quer uma nova vida. Mas para isso precisa tratar os membros da casa. O filho de 17 anos caiu na desgraça em andar com pessoas erradas. A conseqüência foi uma só: o vício. Há um ano ele ainda estudava, mas bastou conhecer as más companhias para abandonar a escola. Já o marido sempre bebeu. Transformou-se num alcoólatra. Trata-se de uma doença, não de falta de caráter. Mas devido ao comportamento descontrolado e agressivo, Roseli o expulsou da casa. Numa das agressões teve o braço quebrado. Ela o denunciou. “Não quero mal a ele. Pelo contrário. Quero ajudá-lo”, afirmou. Angustiada pelas surpresas de sua estrada, Roseli pede clemência para não perder o filho. Foi por isso que ela mesma o denunciou à polícia. Afinal de contas, mãe que é mãe não é inocente, é sábia. Sabe que se o menino continuar no caminho errado, não durará. Aos 35 anos de idade, Roseli gritou pela primeira vez. Pediu socorro, piedade. Será que alguém em Campo Mourão ouvirá sua voz?

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