domingo, 11 de agosto de 2013

Indignação e revolta às margens da Usina Mourão

O que fazer para acabar com a poluição das margens da Usina Mourão? Quem são os verdadeiros poluidores: proprietários ou pescadores? E o município, está fazendo sua parte? Como se vê, muitas perguntas, poucas soluções.




Dilmércio Daleffe

A médica Maísa Campos Fernandes de Moraes acaba de adquirir um terreno às margens da Usina Mourão. Mas ela está revoltada. Passou dois dias fazendo uma limpeza no local e, de lá, retirou três sacos repletos de lixo. Sujeira deixada por pescadores de final de semana. Garrafas de cerveja, pinga e conhaque, vidros de perfume e remédios, latas de refrigerante e sardinhas, pets de todos os tamanhos, além de um colchão de molas completamente enterrado. “Estou indignada com o que vi”, disse. Maior foi apenas sua surpresa. É que durante a limpeza, viu como a natureza é mais forte que o homem. No interior de uma das dezenas de garrafas, já quase soterrada, uma planta conseguiu adaptar-se e nasceu forte e verde. Em outro local, outro vasilhame de cerveja acabou engolido por uma árvore. O vidro até hoje intacto, abraçado pela natureza.  

“Estou perplexa com o desrespeito do homem. E, ao mesmo tempo, surpresa com o que a natureza pode fazer”, disse Maísa. Ela é médica em Curitiba e comprou o terreno com o intuito de vir a morar em Campo Mourão nos próximos anos. Segundo a médica, beleza natural como a do Parque dificilmente se vê. “Quantas cidades do mundo gostariam de ter um lugar como esse e não têm”, argumenta. Somente em sua propriedade foram retirados três sacos de 100 litros repletos de lixo. Todo material foi jogado em local adequado na cidade. Embora distante de Campo Mourão, ela faz um apelo para que pescadores que leiam esta reportagem não continuem a poluir a usina. “Que pelo menos levem toda sujeira de volta à cidade. De nada adianta retirar os materiais das margens do lago e sair jogando pela estrada. Ninguém tem o direito de poluir”, disse. Mas mal sabe Maísa que seu trabalho apenas começou. Depois que o nível da água baixar, terá mais lixo a retirar.

Planta nasceu e se desenvolveu no interior da garrafa


Mas quem são os verdadeiros responsáveis pelo lixo depositado no lago? Pescadores de final de semana ou os proprietários de lotes? No caso do terreno da médica, certamente pescadores, uma vez que ali nunca foi habitado. Mas para o Gerente do Parque Estadual Lago Azul, Rubens Lei Pereira de Souza, tanto donos de imóveis quanto pescadores tem culpa. Para ele, falta conscientização ambiental de ambas as partes. “Vemos que pescadores deixam sujeira, sim. Mas os proprietários também poluem com queimadas. É necessário um projeto de conscientização ecológica para que o local não seja destruído”, disse.

Garrafa jogada acabou engolida por uma árvore


Mas se pescadores e proprietários falham, para Rubens, a prefeitura também leva sua culpa. De acordo com o gerente, mesmo pagando-se IPTU no local, faltam mais locais para que a população deposite seu lixo. E quando existe, o município demora a coletar. “Cobramos inúmeras vezes uma posição da prefeitura quanto à coleta. Falta a elaboração de um projeto para que o lixo seja recolhido regularmente”, afirmou. Em tempo: Segundo Rubens, 90% do lixo da usina é reciclável e nada se faz para o mesmo ser reaproveitado. A ideia dele é que, como na cidade, o município passe de chácara em chácara recolhendo o material.

A palavra do município

Procurado, o secretário municipal de Obras e Meio Ambiente, José Marin, disse que o gerente do Parque está equivocado. “Nós fazemos a coleta regularmente, sim. No verão o caminhão passa duas vezes por semana, enquanto que, em outros meses, uma vez na semana”, disse. Ele explica que o município colocou recipientes em dois locais, um próximo à conhecida Associação Banestado e outro na saída da estrada do DER, já quase na rodovia BR-487. “Cada proprietário de terreno deve depositar seu lixo ali, ou até trazer de volta à cidade. Mas a prefeitura não tem responsabilidade sobre outras áreas rurais”, afirmou. Quanto ao lixo deixado por pescadores, Marin alega não poder fazer muita coisa, uma vez que as margens da represa são de responsabilidade do Parque Estadual Lago Azul. “Estamos abertos ao diálogo e sempre dispostos a melhorar a coleta se for preciso”, salientou.

Cartilha voltada a pescadores está em desenvolvimento


Para se combater a inexistência de uma conscientização ambiental, uma cartilha voltada a pescadores de final de semana está sendo desenvolvida pelo Parque Estadual Lago Azul. Nela, estarão informações essenciais para que a poluição seja minimizada. “Vamos orientá-los sobre legislação, lixo, reciclagem e pesca. Até o final do ano estaremos distribuindo ao redor do Parque”, informou Rubens. A iniciativa é positiva e de suma importância. Mas em se tratando de brasileiros, não será surpresa se a cartilha passar a ser um item poluidor a mais, ao lado das garrafas, pets e latas.    

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