Em Mato Rico, dos sete dias da semana, em pelo menos
quatro deles não existem médicos na cidade. Em Luiziana, são apenas três
profissionais para uma população de mais de sete mil habitantes. Campo Mourão
conta com 38 doutores concursados para atuar via Sistema Único de Saúde – SUS.
Num resumo geral, todos os municípios da região necessitam de mais clínicos. Além
disso, registra-se um déficit preocupante em especialistas. Mas o problema é
que, segundo secretários de saúde, não existe dinheiro para novas contratações.
Também sobram filas e uma imensidão de problemas. O que fazer? Seria a solução
a vinda dos médicos da Presidente Dilma?
Dilmércio Daleffe
O pintor autônomo Ademir França passa dias de amargura. Após
ter sofrido um acidente de moto, teve um dos olhos gravemente lesionado. Depois
de sair da Santa Casa, onde recebeu os primeiros socorros, foi encaminhado ao
Posto 24 horas, em Campo Mourão. Lá, buscou um médico, um oftalmologista, para
verificar a lesão. Segundo ele, o município dispõe do especialista. O que não
consegue entender é porque já foi encaminhado a Londrina e, agora, a Curitiba.
“Sei que não é descaso, mas porque não me operam aqui”? questiona ele. O caso
de Ademir não é o único. Assim como ele, parte da população de toda região é
carente de médicos, principalmente, especialistas. Secretários de Saúde também
são unanimes sobre a questão: sim, faltam profissionais. Mas não é somente
isso. Sem recursos, os municípios não dispõem de dinheiro para a contratação de
novos médicos. Embora seja um serviço essencial, é caro. Como sempre, o círculo
vicioso do problema acaba recaindo sobre a população mais carente, a mesma
turma que não consegue mais ouvir a sigla SUS – Sistema Único de Saúde.
Com quase 90 mil habitantes, Campo Mourão mantém 38 médicos
concursados para atender a população gratuitamente. Eles atuam em unidades de
saúde espalhados pelos bairros. Mas ainda não é suficiente. Segundo a
secretária Patrícia Chandoha, no mínimo, mais oito profissionais teriam que
atuar na cidade, principalmente no chamado PSF – Programa Saúde da Família.
Fora isso, falta ainda outra boa quantidade de especialistas. “Precisamos de
hematologistas, neuropediatras, endocrinologistas e cardiologistas”, disse.
Para ela, sim, há um déficit de especialistas. Isso sem contar com
profissionais de procedimentos hospitalares, como, por exemplo, anestesistas.
Hoje, Campo Mourão conta com apenas três anestesistas, quando o necessário
seria pelo menos seis.
Chandoha acredita que alguns dos motivos os quais não se
consegue mais médicos estão na falta de atrativos. Primeiro quanto aos salários
e depois na questão cultural. Ou seja, grande parte dos profissionais descarta
cidades pequenas pela precariedade. Faltam locais como cinema, teatros, bons
restaurantes. Mas também existe a ausência de estrutura para se fazer uma
medicina adequada. Para a secretária, o programa de médicos estrangeiros – tão falado
ultimamente pelo governo Dilma -, tem seus prós e contras. Ela não abre mão de
que os tais profissionais façam a prova de avaliação para atuar no Brasil – o
Revalida. “Nós precisamos de mais médicos, sim. Mas temos que entender que as
diferenças culturais entre Brasil e Cuba, por exemplo, são enormes. Nossas
doenças são diferentes”, lembrou. De acordo com ela, caso contrário, serão
médicos atuando sem conhecimento de causa.
Quatro dias
da semana sem médicos
Mato Rico passa por um drama frequente. Com uma população de
3,7 mil pessoas, o município conta com apenas dois médicos: um de Roncador e
outro de Campo Mourão. Lá, muitos profissionais de diversos ramos decidiram
fixar residência, mas nunca um médico. Também, por este motivo, a cidade sofre
com a falta de doutores. E ainda assim, se conseguisse mais, não teria
condições para pagá-los. “Precisamos de pelo menos um pediatra e um
ginecologista”, revelou o secretário de Saúde José Ivanczeczen. O município é
um retrato fiel da medicina do país, onde faltam profissionais, sobram filas e
não existe dinheiro.
A ausência destes doutores faz com que a cidade não tenha
médicos em quatro dos sete dias da semana. “Temos muitas reclamações. Para
piorar não temos hospital e nossa estrutura é pequena”, disse o secretário.
Segundo ele, o município acaba virando refém da classe, uma vez que ganham o
que pedem. “Hoje, pagamos muito bem nossos médicos. A cada quatro horas de
plantão eles recebem R$580”, afirmou. Em tempo: Um dos principais motivos para
que clínicos não cheguem a Mato Rico é a falta de uma estrada pavimentada. São
cerca de 22 km de terra. (DD)
Pequenas
cidades, grandes problemas
Em Luiziana, a realidade não é diferente. Lá, a cidade
mantém três médicos contratados para uma população de pouco mais de sete mil
habitantes. É pouco, como confirma a secretária municipal Tereza Pol. “Aqui
temos apenas um médico residente na cidade. Os outros vem de Campo Mourão e
Iretama. São necessários mais quatro”, disse. Mas, a exemplo do restante do
Brasil, não existe dinheiro para garantir a permanência dos mesmos.
Trabalhando precariamente, a situação não poderia ser outra
senão as inúmeras reclamações da população. “É, se tivéssemos mais médicos
acredito que os problemas seriam menores, diminuindo as reclamações”,
salientou. Em Luiziana, não existem médicos de plantão durante à noite e nem
nos finais de semana.
Corumbataí do Sul é outra cidade que, definitivamente, não
consegue atrair médicos para lá residirem. Hoje, são apenas quatro doutores
atuando no centro de saúde, mas nenhum deles morando no município. De acordo
com o secretário Maicon Fabrício de Oliveira Jardim Carneiro, a situação não
está prefeita, mas vem satisfazendo a população. “Temos médicos todos os dias.
Casos mais complicados são encaminhados a outras cidades. O problema é a falta
de resolutividade”, disse.
A cidade não conta com hospital e mantém apenas um centro de
saúde. Carneiro também explica que, mesmo contratando outros especialistas, não
haveria disponibilidade financeira. Embora com uma medicina básica, o
secretário diz que a população não costuma se queixar da situação.
Frente ao caos em que se encontra a saúde brasileira, em muitos
casos, o que colabora para acalmar os ânimos da população é a conversa franca e
amiga de médicos. E, ainda, o malabarismo, a coragem e a força de vontade de
secretários e enfermeiras. De certa forma, a maioria é bem intencionada. Não
fosse isso, o sistema público de saúde já teria explodido há tempos. (DD)
Programa
“Mais Médicos” recruta 1.753 profissionais
Da assessoria
O Ministério da Saúde divulgou esta semana
a lista de municípios selecionados para receberem profissionais brasileiros
inscritos no Programa Mais Médicos. Na seleção do primeiro mês, foram
selecionadas, em 626 municípios, 1.753 vagas. Destas, 51,3% estão em municípios
de maior vulnerabilidade social do interior e 48,6% nas periferias de capitais
e regiões metropolitanas.
“Estamos muito satisfeitos com esses
profissionais que demonstraram interesse de atuar nas regiões mais carentes do
Brasil, mas sabemos que ainda temos uma grande demanda para atender. Com o Mais
Médicos, confirmamos que faltam muitos profissionais no interior do país e nas
periferias de grandes cidades. Nesta primeira seleção, focada nos brasileiros,
ainda ficamos com um déficit de 13.647 vagas”, destacou o ministro da Saúde,
Alexandre Padilha.
“O Mais Médicos foi criado com o
objetivo de ampliar o atendimento à população na atenção básica e, com essa
ação, estamos garantindo que o profissional será alocado exatamente nas regiões
onde faltam médicos”, disse Padilha. Dos 626 municípios selecionados nesta
primeira etapa, 375 estão em regiões com 20% ou mais de sua população em
situação de extrema pobreza, 159 em regiões metropolitanas, 68 estão em um
grupo de 100 cidades com mais de 80 mil habitantes de maior vulnerabilidade
social e 24 são capitais. Na distribuição dos profissionais foram atendidos
ainda 23 distritos sanitários indígenas.
Como definido desde o lançamento do
Mais Médicos, os brasileiros têm prioridade no preenchimentos dos postos
apontados. Os remanescentes serão oferecidos primeiramente aos brasileiros
graduados no exterior e em seguida aos estrangeiros. Os médicos do programa
receberão bolsa federal de R$ 10 mil, paga pelo Ministério da Saúde, mais ajuda
de custo, e farão especialização em Atenção Básica durante os três anos do
programa.
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