domingo, 4 de agosto de 2013

Faltam médicos, sobram filas e não existe dinheiro

Em Mato Rico, dos sete dias da semana, em pelo menos quatro deles não existem médicos na cidade. Em Luiziana, são apenas três profissionais para uma população de mais de sete mil habitantes. Campo Mourão conta com 38 doutores concursados para atuar via Sistema Único de Saúde – SUS. Num resumo geral, todos os municípios da região necessitam de mais clínicos. Além disso, registra-se um déficit preocupante em especialistas. Mas o problema é que, segundo secretários de saúde, não existe dinheiro para novas contratações. Também sobram filas e uma imensidão de problemas. O que fazer? Seria a solução a vinda dos médicos da Presidente Dilma? 




Dilmércio Daleffe

O pintor autônomo Ademir França passa dias de amargura. Após ter sofrido um acidente de moto, teve um dos olhos gravemente lesionado. Depois de sair da Santa Casa, onde recebeu os primeiros socorros, foi encaminhado ao Posto 24 horas, em Campo Mourão. Lá, buscou um médico, um oftalmologista, para verificar a lesão. Segundo ele, o município dispõe do especialista. O que não consegue entender é porque já foi encaminhado a Londrina e, agora, a Curitiba. “Sei que não é descaso, mas porque não me operam aqui”? questiona ele. O caso de Ademir não é o único. Assim como ele, parte da população de toda região é carente de médicos, principalmente, especialistas. Secretários de Saúde também são unanimes sobre a questão: sim, faltam profissionais. Mas não é somente isso. Sem recursos, os municípios não dispõem de dinheiro para a contratação de novos médicos. Embora seja um serviço essencial, é caro. Como sempre, o círculo vicioso do problema acaba recaindo sobre a população mais carente, a mesma turma que não consegue mais ouvir a sigla SUS – Sistema Único de Saúde.



Com quase 90 mil habitantes, Campo Mourão mantém 38 médicos concursados para atender a população gratuitamente. Eles atuam em unidades de saúde espalhados pelos bairros. Mas ainda não é suficiente. Segundo a secretária Patrícia Chandoha, no mínimo, mais oito profissionais teriam que atuar na cidade, principalmente no chamado PSF – Programa Saúde da Família. Fora isso, falta ainda outra boa quantidade de especialistas. “Precisamos de hematologistas, neuropediatras, endocrinologistas e cardiologistas”, disse. Para ela, sim, há um déficit de especialistas. Isso sem contar com profissionais de procedimentos hospitalares, como, por exemplo, anestesistas. Hoje, Campo Mourão conta com apenas três anestesistas, quando o necessário seria pelo menos seis.

Chandoha acredita que alguns dos motivos os quais não se consegue mais médicos estão na falta de atrativos. Primeiro quanto aos salários e depois na questão cultural. Ou seja, grande parte dos profissionais descarta cidades pequenas pela precariedade. Faltam locais como cinema, teatros, bons restaurantes. Mas também existe a ausência de estrutura para se fazer uma medicina adequada. Para a secretária, o programa de médicos estrangeiros – tão falado ultimamente pelo governo Dilma -, tem seus prós e contras. Ela não abre mão de que os tais profissionais façam a prova de avaliação para atuar no Brasil – o Revalida. “Nós precisamos de mais médicos, sim. Mas temos que entender que as diferenças culturais entre Brasil e Cuba, por exemplo, são enormes. Nossas doenças são diferentes”, lembrou. De acordo com ela, caso contrário, serão médicos atuando sem conhecimento de causa.

Quatro dias da semana sem médicos

Mato Rico passa por um drama frequente. Com uma população de 3,7 mil pessoas, o município conta com apenas dois médicos: um de Roncador e outro de Campo Mourão. Lá, muitos profissionais de diversos ramos decidiram fixar residência, mas nunca um médico. Também, por este motivo, a cidade sofre com a falta de doutores. E ainda assim, se conseguisse mais, não teria condições para pagá-los. “Precisamos de pelo menos um pediatra e um ginecologista”, revelou o secretário de Saúde José Ivanczeczen. O município é um retrato fiel da medicina do país, onde faltam profissionais, sobram filas e não existe dinheiro.  



A ausência destes doutores faz com que a cidade não tenha médicos em quatro dos sete dias da semana. “Temos muitas reclamações. Para piorar não temos hospital e nossa estrutura é pequena”, disse o secretário. Segundo ele, o município acaba virando refém da classe, uma vez que ganham o que pedem. “Hoje, pagamos muito bem nossos médicos. A cada quatro horas de plantão eles recebem R$580”, afirmou. Em tempo: Um dos principais motivos para que clínicos não cheguem a Mato Rico é a falta de uma estrada pavimentada. São cerca de 22 km de terra. (DD)

Pequenas cidades, grandes problemas

Em Luiziana, a realidade não é diferente. Lá, a cidade mantém três médicos contratados para uma população de pouco mais de sete mil habitantes. É pouco, como confirma a secretária municipal Tereza Pol. “Aqui temos apenas um médico residente na cidade. Os outros vem de Campo Mourão e Iretama. São necessários mais quatro”, disse. Mas, a exemplo do restante do Brasil, não existe dinheiro para garantir a permanência dos mesmos.



Trabalhando precariamente, a situação não poderia ser outra senão as inúmeras reclamações da população. “É, se tivéssemos mais médicos acredito que os problemas seriam menores, diminuindo as reclamações”, salientou. Em Luiziana, não existem médicos de plantão durante à noite e nem nos finais de semana.

Corumbataí do Sul é outra cidade que, definitivamente, não consegue atrair médicos para lá residirem. Hoje, são apenas quatro doutores atuando no centro de saúde, mas nenhum deles morando no município. De acordo com o secretário Maicon Fabrício de Oliveira Jardim Carneiro, a situação não está prefeita, mas vem satisfazendo a população. “Temos médicos todos os dias. Casos mais complicados são encaminhados a outras cidades. O problema é a falta de resolutividade”, disse.
A cidade não conta com hospital e mantém apenas um centro de saúde. Carneiro também explica que, mesmo contratando outros especialistas, não haveria disponibilidade financeira. Embora com uma medicina básica, o secretário diz que a população não costuma se queixar da situação.

Frente ao caos em que se encontra a saúde brasileira, em muitos casos, o que colabora para acalmar os ânimos da população é a conversa franca e amiga de médicos. E, ainda, o malabarismo, a coragem e a força de vontade de secretários e enfermeiras. De certa forma, a maioria é bem intencionada. Não fosse isso, o sistema público de saúde já teria explodido há tempos. (DD)


Programa “Mais Médicos” recruta 1.753 profissionais

Da assessoria

O Ministério da Saúde divulgou esta semana a lista de municípios selecionados para receberem profissionais brasileiros inscritos no Programa Mais Médicos. Na seleção do primeiro mês, foram selecionadas, em 626 municípios, 1.753 vagas. Destas, 51,3% estão em municípios de maior vulnerabilidade social do interior e 48,6% nas periferias de capitais e regiões metropolitanas.

“Estamos muito satisfeitos com esses profissionais que demonstraram interesse de atuar nas regiões mais carentes do Brasil, mas sabemos que ainda temos uma grande demanda para atender. Com o Mais Médicos, confirmamos que faltam muitos profissionais no interior do país e nas periferias de grandes cidades. Nesta primeira seleção, focada nos brasileiros, ainda ficamos com um déficit de 13.647 vagas”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

“O Mais Médicos foi criado com o objetivo de ampliar o atendimento à população na atenção básica e, com essa ação, estamos garantindo que o profissional será alocado exatamente nas regiões onde faltam médicos”, disse Padilha. Dos 626 municípios selecionados nesta primeira etapa, 375 estão em regiões com 20% ou mais de sua população em situação de extrema pobreza, 159 em regiões metropolitanas, 68 estão em um grupo de 100 cidades com mais de 80 mil habitantes de maior vulnerabilidade social e 24 são capitais. Na distribuição dos profissionais foram atendidos ainda 23 distritos sanitários indígenas.

Como definido desde o lançamento do Mais Médicos, os brasileiros têm prioridade no preenchimentos dos postos apontados. Os remanescentes serão oferecidos primeiramente aos brasileiros graduados no exterior e em seguida aos estrangeiros. Os médicos do programa receberão bolsa federal de R$ 10 mil, paga pelo Ministério da Saúde, mais ajuda de custo, e farão especialização em Atenção Básica durante os três anos do programa.



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