Ele dormia sob
viadutos e em praças centrais de São Paulo. Analfabeto, veio do nordeste sem
expectativa alguma de melhores dias. Mas quis o destino que seu futuro fosse
iluminado. E nas terras vermelhas do Paraná, Macedone trabalhou, lutou e
venceu. Hoje, o homem simples, enriqueceu.
Dilmércio Daleffe
Macedone Ferreira da Silva é um legítimo brasileiro. Nasceu
em Poção, no sertão pernambucano em 41. Passou sede, viveu na miséria e viu
coisas que a maioria só vê pela tv. Cansado, deixou o pai para seguir ainda na
década de 60, a exemplo de muitos nordestinos, à cidade de São Paulo. Mesmo
jovem, comeu o pão que o diabo amassou. Dormia em praças e até debaixo de
viadutos. Quando se alimentava, era um ovo por dia e olhe lá. Foi servente de
pedreiro, vendeu pratos, sapatos e transformou-se num marreteiro. Ou seja, foi
camelô nas ruas centrais da capital paulista. Ali, aprendeu a vender roupas.
Mas acontece que conheceu pessoas erradas e, assim, acabou no inferno. Virou
alcoólatra, afundou-se em dívidas e mal conseguia trabalhar. Um dia, ouviu
falar de um tal Jesus Cristo. Apegou-se a ele e prosperou. Hoje, Macedone mora
no Paraná. Constituiu família e criou o próprio “império”. De roupa em roupa, é
dono de vários imóveis, propriedades rurais e responsável por três lojas em
Campo Mourão e região. Macedone venceu.
Aos 72 anos de idade, Macedo – como é conhecido, pensa no
passado e reflete a possibilidade de ter sido um bandido. Afinal de contas, ele
tinha todas as chances de ter caminhado pela estrada errada. Num país
preconceituoso, o sujeito é descendente de negros, nordestino, era pobre e
ainda, analfabeto. Ou seja, tudo o levava à falta de oportunidades, a exclusão
da sociedade, aos bueiros sedentos por sangue, principalmente, na cidade
grande.
A história do menino teve início nas terras secas do
nordeste brasileiro. Nasceu na cidade de Poção, Pernambuco, ainda em 41. Ali
viu a mãe morrer quando tinha apenas sete anos. O lugar era tão castigado que
tinham que buscar água a 16 quilômetros de onde moravam. Passou a morar com o pai e outros dez irmãos.
De pouco em pouco ficou sozinho. Os mais velhos foram para São Paulo tentar a
vida. Descobriu uma habilidade que mudaria sua vida mais adiante: os negócios.
Começou a negociar porcos, e deu bem. Mas o pai não gostou e achou melhor que
deixasse a casa. Então foi morar com um amigo da família. Lá, especializou-se
na arte em negociar. Mas um dia pensou mais alto, seguiu o caminho dos irmãos e
foi para São Paulo.
Numa viagem de pau de arara até a capital, levou 18 dias. Lá
chegando buscou os irmãos e foi acolhido. Mas a vida na cidade grande é
difícil. Ainda mais sendo um imigrante nordestino. Um dia deixou a casa da irmã
e buscou o próprio destino. Foi servente na construção civil por alguns anos.
Sem grana, dormia em praças e sob viadutos da área central de São Paulo. Foi
então que começou a vender roupas em pontos diferentes da cidade. Num local,
iniciava as vendas às 5 da manhã e ficava até às 7. Depois disso tinha que
desaparecer, senão o “rapa” o pegava.
Passou a frequentar feirinhas vendendo de tudo. “Já vendi
sapato, prato, animais, roupa”. Com o tempo, ia até uma fábrica de confecções
no alto da Mooca e enchia uma perua com roupas. Vendia tudo. Sua vida foi
marcada por altos e baixos, inúmeras vezes. Quando estava fazendo seu “pé de
meia”, surgiram os falsos amigos. Eles o apresentaram ao álcool. Desconhecendo
um caminho sem volta, Macedone rumou rápido demais. E acabou pagando por isso.
Perdeu todo o dinheiro, ficou sem produtos para vender e, mais cedo do que
imaginava, descobriu jamais ter tido amigos. “O único amigo que existe chama-se
Jesus Cristo”, disse.
Macedone voltou a dormir na rua. Estava como um trapo
humano. Conta que nem acreditava mais em si. Perdeu as forças ao trabalho e já
deixava a vida de lado. Mas um dia, algumas pessoas o acordaram numa das praças
em que dormia. “Eles falavam em Deus e pediram para que eu tivesse uma
experiência com Jesus Cristo. Foi o que me salvou”, lembra. Daquele dia em
diante, Macedone abandonou o caminho que andava e deixou a bebida. Começou a
trabalhar e ganhou dinheiro. Numa manhã normal entre tantas outras conheceu uma
família na feira. Eram do Paraná, mais especificamente de Campina da Lagoa. A
amizade fluiu e um dia o convidaram para que conhecesse a cidade.
Lá pelo ano de 1975, Macedone veio até Campina da Lagoa e
apaixonou-se pelo local. Chegou apenas com uma sacola velha, cheia de roupas
para vender. Ela, inclusive está guardada até hoje em sua casa – como uma
espécie de prova. Em Juranda, montou uma lojinha, a qual perdurou por sete
anos. Foi fechada apenas no início da década de 80, quando decidiu que sua nova
casa seria Campo Mourão.
Na cidade, abriu sua primeira loja – existente até hoje – e,
de peça em peça, cresceu. Anos depois conheceu Maria de Fátima, a esposa, com
quem teve duas meninas. Reflexo do suor do trabalho, a família prosperou.
Honestamente, conquistaram bens e imóveis, provando que apenas o esforço
transforma a vida.
Aos 72 anos, Macedone e a mulher acabam de inaugurar mais
uma loja de tecidos, em Iretama. Eles não param. E não da nem para acreditar
que o homem simples, que jamais frequentou um dia sequer de escola, que dormia
ao relento sob os viadutos sombrios, voou tão alto. É como um roteiro de cinema,
uma história inacreditavelmente bem contada e que, ao invés de finais trágicos,
teve um final feliz. O homem brilhantemente apto aos negócios, venceu sem nunca
ter aprendido ler nem escrever.
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