domingo, 28 de julho de 2013

Macedone desenhou o próprio destino

Ele dormia sob viadutos e em praças centrais de São Paulo. Analfabeto, veio do nordeste sem expectativa alguma de melhores dias. Mas quis o destino que seu futuro fosse iluminado. E nas terras vermelhas do Paraná, Macedone trabalhou, lutou e venceu. Hoje, o homem simples, enriqueceu.

Dilmércio Daleffe




Macedone Ferreira da Silva é um legítimo brasileiro. Nasceu em Poção, no sertão pernambucano em 41. Passou sede, viveu na miséria e viu coisas que a maioria só vê pela tv. Cansado, deixou o pai para seguir ainda na década de 60, a exemplo de muitos nordestinos, à cidade de São Paulo. Mesmo jovem, comeu o pão que o diabo amassou. Dormia em praças e até debaixo de viadutos. Quando se alimentava, era um ovo por dia e olhe lá. Foi servente de pedreiro, vendeu pratos, sapatos e transformou-se num marreteiro. Ou seja, foi camelô nas ruas centrais da capital paulista. Ali, aprendeu a vender roupas. Mas acontece que conheceu pessoas erradas e, assim, acabou no inferno. Virou alcoólatra, afundou-se em dívidas e mal conseguia trabalhar. Um dia, ouviu falar de um tal Jesus Cristo. Apegou-se a ele e prosperou. Hoje, Macedone mora no Paraná. Constituiu família e criou o próprio “império”. De roupa em roupa, é dono de vários imóveis, propriedades rurais e responsável por três lojas em Campo Mourão e região. Macedone venceu.

Aos 72 anos de idade, Macedo – como é conhecido, pensa no passado e reflete a possibilidade de ter sido um bandido. Afinal de contas, ele tinha todas as chances de ter caminhado pela estrada errada. Num país preconceituoso, o sujeito é descendente de negros, nordestino, era pobre e ainda, analfabeto. Ou seja, tudo o levava à falta de oportunidades, a exclusão da sociedade, aos bueiros sedentos por sangue, principalmente, na cidade grande.

A história do menino teve início nas terras secas do nordeste brasileiro. Nasceu na cidade de Poção, Pernambuco, ainda em 41. Ali viu a mãe morrer quando tinha apenas sete anos. O lugar era tão castigado que tinham que buscar água a 16 quilômetros de onde moravam.  Passou a morar com o pai e outros dez irmãos. De pouco em pouco ficou sozinho. Os mais velhos foram para São Paulo tentar a vida. Descobriu uma habilidade que mudaria sua vida mais adiante: os negócios. Começou a negociar porcos, e deu bem. Mas o pai não gostou e achou melhor que deixasse a casa. Então foi morar com um amigo da família. Lá, especializou-se na arte em negociar. Mas um dia pensou mais alto, seguiu o caminho dos irmãos e foi para São Paulo.

Numa viagem de pau de arara até a capital, levou 18 dias. Lá chegando buscou os irmãos e foi acolhido. Mas a vida na cidade grande é difícil. Ainda mais sendo um imigrante nordestino. Um dia deixou a casa da irmã e buscou o próprio destino. Foi servente na construção civil por alguns anos. Sem grana, dormia em praças e sob viadutos da área central de São Paulo. Foi então que começou a vender roupas em pontos diferentes da cidade. Num local, iniciava as vendas às 5 da manhã e ficava até às 7. Depois disso tinha que desaparecer, senão o “rapa” o pegava.

Passou a frequentar feirinhas vendendo de tudo. “Já vendi sapato, prato, animais, roupa”. Com o tempo, ia até uma fábrica de confecções no alto da Mooca e enchia uma perua com roupas. Vendia tudo. Sua vida foi marcada por altos e baixos, inúmeras vezes. Quando estava fazendo seu “pé de meia”, surgiram os falsos amigos. Eles o apresentaram ao álcool. Desconhecendo um caminho sem volta, Macedone rumou rápido demais. E acabou pagando por isso. Perdeu todo o dinheiro, ficou sem produtos para vender e, mais cedo do que imaginava, descobriu jamais ter tido amigos. “O único amigo que existe chama-se Jesus Cristo”, disse.

Macedone voltou a dormir na rua. Estava como um trapo humano. Conta que nem acreditava mais em si. Perdeu as forças ao trabalho e já deixava a vida de lado. Mas um dia, algumas pessoas o acordaram numa das praças em que dormia. “Eles falavam em Deus e pediram para que eu tivesse uma experiência com Jesus Cristo. Foi o que me salvou”, lembra. Daquele dia em diante, Macedone abandonou o caminho que andava e deixou a bebida. Começou a trabalhar e ganhou dinheiro. Numa manhã normal entre tantas outras conheceu uma família na feira. Eram do Paraná, mais especificamente de Campina da Lagoa. A amizade fluiu e um dia o convidaram para que conhecesse a cidade.

Lá pelo ano de 1975, Macedone veio até Campina da Lagoa e apaixonou-se pelo local. Chegou apenas com uma sacola velha, cheia de roupas para vender. Ela, inclusive está guardada até hoje em sua casa – como uma espécie de prova. Em Juranda, montou uma lojinha, a qual perdurou por sete anos. Foi fechada apenas no início da década de 80, quando decidiu que sua nova casa seria Campo Mourão.

Na cidade, abriu sua primeira loja – existente até hoje – e, de peça em peça, cresceu. Anos depois conheceu Maria de Fátima, a esposa, com quem teve duas meninas. Reflexo do suor do trabalho, a família prosperou. Honestamente, conquistaram bens e imóveis, provando que apenas o esforço transforma a vida.

Aos 72 anos, Macedone e a mulher acabam de inaugurar mais uma loja de tecidos, em Iretama. Eles não param. E não da nem para acreditar que o homem simples, que jamais frequentou um dia sequer de escola, que dormia ao relento sob os viadutos sombrios, voou tão alto. É como um roteiro de cinema, uma história inacreditavelmente bem contada e que, ao invés de finais trágicos, teve um final feliz. O homem brilhantemente apto aos negócios, venceu sem nunca ter aprendido ler nem escrever.   

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